Lunar Lilly — MNI para Charlotte Foster

A filha de Selene estava cansada depois de mais um dia de treinos intensos. O banho quente ajudou-a a relaxar, mas não fez muito efeito em relação a sua inquietação. Charlotte tentava se adaptar a sua nova vida, mas a quantidade de pessoas e seres que nunca imaginaria ver a deixava atordoada. Não gostava de estar em ambientes com muita gente, sentia que poderia ter uma crise de ansiedade a qualquer momento. Havia melhorado muito nos últimos anos, obrigada a encaixar-se no ambiente escolar e com a ajuda de tratamentos. No entanto, todos os acontecimentos recentes pareciam ter feito seus avanços desaparecerem, e só de pensar em que teria que ir para o pavilhão lotado se quisesse jantar já a deixava assustada.

Sabendo, no entanto, que não teria outra escolha, Charlotte colocou suas roupas e dirigiu-se para o local em que as refeições eram servidas. Logo estava sentada ao lado de seus meio-irmãos, tentando ao máximo ignorar as outras pessoas a sua volta. Comeu o mais rápido possível, querendo sair logo dali. Enquanto voltava para seu chalé, querendo apenas deitar-se e tentar relaxar, foi parada por uma garota desconhecida por si.

‒ Com licença  ‒ abordou a jovem.  ‒ Sou curandeira, preciso de alguém que possa me fazer um favor.

Charlotte se viu pega de surpresa pela interação, não esperando que alguém fosse recorrer a si, principalmente para lhe pedir um favor. Conversar com estranhos era sempre um desafio para si, e sentiu-se irritada por ter seu desejo de correr para sua cama interrompido, justamente porque já se visualizava aceitando o pedido. Não queria ser egoísta e negar ajuda.

‒ O que foi?  ‒ murmurou meio a contragosto, tentando não soar rude pela sua irritação e nervosismo.

Adendos:

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Ouviu a explicação da curandeira, entendendo por que a jovem lhe abordara. Quis perguntar se ela não poderia recorrer a um de seus meio-irmãos, visto que não era a única descendente da Lua ali, mas podia imaginar sua inquiridora respondendo negativamente e insistindo para que Charlotte a ajudasse, simplesmente porque não queria repetir a mesma conversação com outra pessoa; e a filha de Selene apenas queria que aquela interação acabasse logo. Assentiu, dando a resposta que a curandeira queria ouvir.

— Ótimo! — Exclamou. — Creio que não será difícil de achar, a flor que você deve procurar é branca e possui manchas azuladas brilhantes nela. Ela recebe luz diretamente da lua. — A curandeira já se virava em direção à floresta, gesticulando com as mãos para que Charlotte a seguisse. Assim que terminou de falar, retirou uma pazinha e um vaso de uma bolsa que carregava consigo, estendendo os objetos para a semideusa que a acompanhava. — Pegue, você vai precisar disso.

Charlotte pegou os objetos, um pouco perdida pela pequena reviravolta na sua programação para o resto do dia, mas continuou seguindo a jovem desconhecida que a guiava para a floresta.

Adendos:

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Enquanto caminhavam em direção à floresta, a curandeira colocou-se a falar animadamente sobre as descobertas que estava fazendo em relação àquela planta. Charlotte não prestou muita atenção, pegando apenas frases soltas como "estancar sangramentos" e "exposição a lua". Sendo sincera, a semideusa não estava muito interessada no assunto. O caminho desconhecido que fazia naquele momento parecia-lhe muito mais interessante para se prestar atenção. Seria a primeira vez que adentraria a floresta.

Ao chegarem na orla, a curandeira a instrui para que a procure em sua enfermaria quando conseguir a flor. Depois de agradecer mais uma vez pela ajuda, vira-se e vai embora, deixando a filha de Selene sozinha.

Charlotte solta um suspiro, encarando a vegetação densa a sua frente. Parecia que a floresta lhe dizia não ser bem-vinda ali, contudo, seguiu em frente. Os galhos e raízes dificultavam sua locomoção, por vezes a arranhando com espinhos pontiagudos. Era sufocante, muito mais do que considerou que poderia ser, e a jovem só queria sair daquele lugar enquanto procurava em vão a flor que lhe fora descrita. Estava prestes a desistir e rumar para o aconchego de seu chalé, se perguntando por que raios havia se submetido àquela situação, quando um brilho azul atraiu seu olhar. Andou para o brilho fraco, desviando de galhos que pareciam querer lhe acertar. Mais à frente, uma flor azul e branca recebia a luz da lua aos pés de uma árvore maior.

Alívio tomou conta da jovem, a qual se aproximou ainda mais, agachando-se ao lado da planta. Contudo, assim que esticou sua mão, segurando a pazinha que lhe fora entregue, sentiu algo apertar-se contra seu membro.

— Essas flores são minhas!

Adendos:

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Charlotte encarou surpresa enquanto a figura feminina saía de dentro da árvore, os olhos verdes a fuzilando. Não esperava encontrar outro ser na floresta, torcia para que não, principalmente uma criatura tão irritada quanto a que estava em sua frente. — O que pensa que está fazendo? — Ouviu-a perguntar. A figura tinha aparência jovem, cabelos amadeirados e era mais baixa que a filha de Selene. Contudo, não deixava de ser intimidadora. A semideusa recordou-se do que aprendera sobre espíritos da floresta, questionando-se se seria esse o caso. Uma dríade? Era a primeira vez que Charlotte se encontrava em uma situação como aquela e não sabia o que fazer. Deveria apenas pedir desculpas e ir embora ou deveria tentar pegar a flor mesmo assim?

— Vocês semideuses não respeitam a floresta, estão sempre destruindo a natureza para benefício próprio. — A criatura não parecia nada contente, e Charlotte começou a se preocupar ainda mais com o rumo que ela inesperada interação poderia tomar. Precisava contornar a situação.

— Me desculpe, não sabia que essas flores tinham dono — disse Charlotte enquanto se afastava. Procurava se explicar e esclarecer o mal entendido para que, quem sabe, a dríade desmanchasse o olhar raivoso sobre si. — Preciso de uma para fazer alguns estudos sobre suas propriedades medicinais. Não tinha intenção de desrespeitar a floresta.

Adendos:

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A jovem filha da Lua encontrava-se mais uma vez sem saber o que fazer naquele curto intervalo de tempo. Observou a figura feminina se afastar, enquanto ainda processava o que estava acontecendo. Seus olhos voltaram-se para as flores atrás de si, as palavras da dríade mandando que não tocasse nelas ecoando em sua mente. Ela também tinha deixado a entender que já conhecia a enfermeira que lhe abordara anteriormente. Estava claro para Charlotte que a outra campista não havia lhe contado tudo, optando por não tomar nenhuma decisão sem base. No momento, sua maior preocupação era o que a dríade iria fazer. Então levantou-se na intenção de segui-la.

Adendos:

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Seguir a dríade logo se demonstrou uma tarefa mais complicada do que Charlotte inicialmente imaginou que seria. Ainda nos primeiros metros, a semideusa conseguia enxergar a figura esguia através das árvores e caminhar — ou tentar correr — em sua direção. Contudo, a criatura não demorou em desaparecer entre a vegetação da floresta. A filha da lua tentou seguir pegadas que pudessem estar marcadas na terra, mas os pés da outra eram leves e não deixavam rastros; a escuridão cada vez mais densa era outro empecilho para a semideusa.

Assim que percebeu que perseguir a dríade não daria certo, Charlotte parou, olhando ao redor e pensando em algo que pudesse fazer. Sabia para onde o espírito da floresta possivelmente estava indo, visto o rumo da conversa que tiveram — não precisou pensar muito para chegar à conclusão de que a enfermeira que lhe pedira o favor de pegar a flor teria uma visita inesperada. A questão era, então, sair da floresta e ir até a enfermaria, mas Charlotte não conhecia aquela área. Tentou se recordar do caminho que havia feito para chegar até ali, porém tudo lhe parecia terrivelmente igual. Talvez se continuasse caminhando, encontraria algo conhecido... Então colocou-se a andar novamente.

Charlotte não sabia exatamente quanto tempo havia passado, mas, depois de alguns minutos de caminhada, começou a ouvir o som de água corrente. Se achasse o Riacho Zéfiro, era muito provável que conseguisse sair da floresta, então resolveu seguir o som, apostando no melhor; e quando finalmente encontrou o corpo d'água, um suspiro de alívio deixou seus lábios. Seus olhos escanearam ao redor, reconhecendo a área mesmo com a noite encobrindo-o. Dali, sabia para onde seguir.

Chegando à orla da floresta e saindo para o espaço aberto, dirigiu-se para a enfermaria, torcendo para que não tivesse demorado demais.

Adendos:

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