A Kind Soul — MOPE para Amelie Davenport

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A Kind Soul — MOPE para Amelie Davenport

Mensagem por 143 - ExStaff Dom 11 Ago 2019, 18:29


A Kind Soul

A morte sempre fora frequente na vida de um semideus, em especial por existirem filhos da morte. O acampamento havia perdido um dos seus, tradicionalmente, ele seria cremado com uma mortalha no acampamento. Entretanto a mãe havia reinvidicado o direito de enterrar o próprio filho.

Entretanto, levar o corpo até Nova York não seria tão fácil. E Amelie seria obrigada a participar disso.

Diretrizes

— Desenvolva seu texto conforme o descrito acima e mostrando um pouco da sua rotina;

— Quíron solicitará que você acompanhe Argos no transporte até NY, justifique a escolha dele e depois diga o que te levou a aceitar;

— Defina um problema durante o trajeto e solucione-o, seja criativa;

— Vocês chegarão um pouco atrasados no cemitério e encontrarão a mãe do campista esperando na porta de onde está acontecendo a recepção dos familiares.

— Da porta, você poderá notar muitas cadeiras vazias. Enquanto os responsáveis levam o caixão, a mãe dele perguntará se você se importaria de ficar e acompanhá-la, já que era amiga do filho dela (você não era, mas ela não sabe disso);

— Caso aceite, ela te contará sobre como a família dela, extremamente tradicional, a renegou quando ela engravidou sem estar casada;

— A cerimônia ocorrerá normalmente e o pastor pedirá que a mãe suba para dizer algumas palavras sobre seu filho, mas ela começará a chorar e pedirá que você faça isso por ela.

— No palco, você vê que num espaço onde caberiam, facilmente, quatro dúzias de pessoas há apenas pouco mais de uma.

— Ao fim da cerimônia, a mãe lhe agradecerá pelas palavras e você retornará com Argos para o acampamento;

— Você continuará com sua rotina normalmente e quando for dormir, encontrará com seu pai em seu sonho, onde ele te parabeniza pela sua atitude de hoje;

— Você terá liberdade de conversar com ele dentro to sonho, então seja criativa e aproveite a oportunidade.

Condições on game

Amelie Davenport — Nível 2
HP: 110/110
MP: 110/110

Informações adicionais

— Local: Nova York;

— Horário: 10:30;

— Tempo: Nublado;

— Poderes, equipamentos e mascotes deverão ser colocados em spoiler ao final do post, para fins de organização. Observações como "poderes até tal nível serão desconsideradas";

— Prazo para postagem: 11/09/2019







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Re: A Kind Soul — MOPE para Amelie Davenport

Mensagem por Amelie Davenport Qui 12 Set 2019, 22:33


A KIND SOUL
NÃO SE PODE FUGIR DA MORTE

A rotina no acampamento era algo reconfortante para Amelie, passava seus dias entre treinos, leituras e cozinhava de vez em quando. Havia lido mais de 10 livros sobre mitologia grega e acabou por descobrir que “mito” era apenas uma forma de acepção figurada – já que deuses realmente existiam e seus filhos semidivinos não eram contos advindos da Idade Heroica.

Desde que se descobriu semideusa – apesar de seu anterior ceticismo – muita coisa mudou em sua vida, não sendo apenas a rotina.

Ela abandonou a escola, após o ataque sofrido por copiadores que a caçavam por algum motivo desconhecido, passando a morar no acampamento na companhia de outros semideuses e criaturas. Descobriu que seu pai era Tânatos, a personificação da morte, e toda vez que pensava nisso não podia deixar de constatar o quão irônico era. “A morte me deu a vida”, essa frase permeava sua mente constantemente. E o que antes era luta por esporte, hoje era por sobrevivência.

Era domingo, 7 horas da manhã, ainda estava deitada de barriga para cima em seu beliche, seu cabelo estava disperso sobre o travesseiro e ela não estava com vontade alguma de levantar-se. Cogitava tirar mais um cochilo quando um som melancólico e musical irrompeu por seu chalé, sentiu um arrepio passar por seus ossos e levantou-se num ímpeto.

Saiu rapidamente e encontrou-se com diversos semideuses que tiveram a mesma recepção no pátio de frente as acomodações, o som ouvido era de uma corneta tocada toda vez que um semideus morria, era uma forma honrosa de dizer que ele voltara para casa e tinha cumprido sua missão.

Alguns semideuses olharam de soslaio para a filha de Tânatos, como se a acusassem do ato. A verdade é que ninguém entende de fato a morte, a consideram como uma tragédia, mas ela não o é. Eles cochichavam e ela apenas reconheceu um nome entre as conversas: Peter, filho de Hermes.

– Não se sente culpada? – Uma voz tirou a semideusa do estado pensativo que estava.

Amelie virou-se e encontrou uma moça loira com expressão amargurada, seus olhos estavam vermelhos e inchados, como se tivesse chorado muito.

Não fui eu que ceifei a vida dessa pessoa! – Disse Amelie com a voz clara encarando-a – E mesmo se tivesse o feito, a morte nunca é a causa, ela é apenas o resultado.

– Ora... – Se empertigou a moça, mas foi impedida por Quíron.

Algum problema? – Falou o Centauro se interpondo entre elas.

Nenhum! – Replicou Amelie com a expressão suave.

– Que bom! – Falou Quíron com a voz forte – Louie, vá descansar, depois conversaremos.

– Sim, senhor! – Disse a moça cansadamente e deu as costas a eles.

– Me encontre em meu escritório em cinco minutos, Amelie! – Disse o Centauro e após a morena assentir ele saiu caminhando.

☠


– Imagino que Ana tenha ido até você para reclamar sobre a morte do seu companheiro... – Falava Quíron em pé, apoiado em seu cajado olhava para as enormes janelas de seu escritório que se estendiam horizontalmente e tinham uma vista privilegiada do acampamento.

Não importa! – Falou Amelie – As pessoas não entendem e eu não as culpo.

– Você conheceu alguém que morreu ou esteve próxima de algo assim? – Perguntou o instrutor distante.

Minha avó, minha melhor amiga... E já estive em uma situação delicada que a morte se tornou atraente... – Amelie comentou com a voz fraca.

Quíron olhou-a aturdido por um minuto, mas seu olhar se suavizou e ele assentiu entendendo-a. – Imagino... Não é fácil lidar com isso.

Nunca é! – Concordou a jovem.

– Peter morreu em uma missão – o centauro suspirou e continuou. – Ele era um bom menino, havia feito muitas missões e em sua maioria bem-sucedidas. Iriamos vela-lo aqui, mas sua mãe reivindicou o corpo, é uma mulher boa e de muita fé. Pedi a Argos que o leve e quero que o acompanhe até Nova York, onde a mãe fará o funeral.

Não é irônico mandar a filha da Morte entregar o corpo do menino à sua mãe? – Ela disse surpresa.

– Eu já ouvi uma pessoa sábia dizer que a morte nunca é a causa, apenas o resultado e acredito que alguém que entenda isso, será muito melhor para o trabalho. – Disse Quíron – As moiras e os deuses brincam conosco, mas no fim do dia somos o produto de nossas escolhas e, as vezes, o resultado é a morte, aceita-la faz parte da trajetória do herói.

A morte faz sentido para mim... – Falou Amelie levantando-se e indo em direção a porta – Já a trajetória do herói, nem tanto.

– Você irá, não irá?! – Falou Quíron, mas não era exatamente uma pergunta.

A semideusa balançou a cabeça afirmativamente e saiu para se preparar.

☠


Enquanto, arrumava uma pequena bolsa colocando alguns itens pessoais, analisava o motivo de ter aceitado a missão. Não é que se sentisse culpada pela morte do semideus, afinal, isso era um absurdo, mas, Amelie sentia de certa forma responsabilidade para com a alma do rapaz e sua mãe.

Colocou a bolsa nas costas e correu para fora, indo até a saída do acampamento, onde Argos já a esperava com o corpo. Argos, um gigante com cem globos oculares, era um fiel ajudante do acampamento, estava em uma carroça enorme puxada por um cavalo, provavelmente através da nevoa, os mortais os veriam em um carro normal e Argos seria um homem alto e com carranca.

A morena subiu e sentou-se ao lado de Argos, que logo pôs a carroça em movimento; Amelie olhou para trás e pela primeira vez viu Peter, ele era moreno, pele muito branca e aparentava ter uma idade próxima de sua própria, parecia dormir tranquilamente.

Permaneceu em silêncio, seguindo o caminho.

A viagem duraria pouco mais de três horas, optaram por não parar para nada, pois precisavam chegar na hora marcada. Argos era responsável por guiar a viagem, enquanto Amelie era a defesa e responsável pelo possível contato com mortais.

A paisagem de Long Island alterava-se e o clima urbano se mesclava com as florestas. A estrada estava terrivelmente vazia, como se ninguém ousasse passar por eles, além disso a temperatura estranhamente começou a cair.

O gigante ao lado da morena começou a ficar inquieto e ela também, sua mão foi até seu cinto tocando furtivamente sua adaga. A atmosfera estava alterando-se e Amelie pressentia algo.

O que vocês estão fazendo? Sou eu? O que está acontecendo? – uma voz distante, mas perturbada irrompeu o silencio espectral da rodovia.

Amelie arregalou os olhos e o cavalo que levava a carroça guinchou assustado, levantando as patas da frente e batendo-as seguidamente no asfalto.

A jovem reconheceu imediatamente aquela imagem, era Peter. Seu espirito estava confuso e assustado por ver ele mesmo deitado daquela forma, Amelie atinou que o jovem pode não ter se dado conta ainda de sua situação.

Fique calmo, ok? – Disse a menina pulando da carroça, Argos tinha dificuldade em controlar o equino assustado – Leve a carroça até aquele posto de gasolina algumas milhas atrás. Ficarei aqui e logo nos encontramos.

– Tem. Certeza? – Disse o gigante inseguro olhando para a aparição que flutuava a frente.

Tenho! – Afirmou com veemência.

Argos girou a carroça e o cavalo relinchou como se agradecesse o afastamento.

– Onde ele vai comigo? Ei... – Começou Peter.

Espere, Peter! – Disse Amelie – Você... Fique calmo! Há coisas que precisa saber.

– Eu estou confuso! – disse o jovem.

Eu entendo! – Falou a menina – Aconteceu algo em sua última missão.

– Eu estava muito machucado, doía muito – Falou ele lembrando-se vagamente – Depois, tudo ficou calmo e, então, eu acordei aqui. Tentei sair, voltar para o Acampamento, mas eu ando, ando, ando e paro próximo a orla dessa floresta. Devo estar sob o efeito de algum feitiço... Você é semideusa, certo? Pode me ajudar?!

Sou sim! – disse ela cuidadosamente – Sou filha de Tânatos, estou encarregada de levar você para sua mãe...

– Me levar para minha mãe... Como...? – Começou ele sem entender nada, então, seus olhos se arregalaram como se algo que a morena tivesse dito o despertasse. – Você me...

Está morto, Peter! – Falou Amelie com a voz baixa e clara, trazia no rosto uma expressão lívida e reconfortante – Sinto muito.

– Como morto?! – Vociferou ele olhando para as mãos – Você mente! Devo estar preso a algum sonho ou, então, você está me ludibriando para me matar...

Seus olhos ficaram vermelhos e ele começou a se aproximar com uma expressão de raiva agonizante.

Amelie flexionou os joelhos e estendeu as mãos a sua frente, respirando fundo deixou que sua verdadeira forma viesse à tona. Sempre que utilizava seus poderes, causava certa estranheza a quem a olhava, afinal, ela era filha da morte e seus poderes eram fundados nessa força.

Formou um escudo a sua volta com almas do próprio tártaro para que lhe servisse de barreira, tentaria a todo custo evitar uma luta, mas precisava certificar-se de estar segura caso a situação saísse do controle. A temperatura caiu alguns graus, Amelie podia sentir um gosto ocre em sua língua e o vozes sinistras ecoavam, enquanto a menina era blindada por seu escudo.

Ouça-me, Peter – Falou a menina com urgência – Quíron me disse que era um bom menino, poderoso, habilidoso... Um herói. Eu sei que não é fácil aceitar a situação, está confuso e com medo, mas o pior já passou.

Ela respirou fundo e continuou: – Agora, você só deve fazer a passagem. Cumpriu seu dever, foi um semideus bom.

– Cumpri meu dever? – Ele falou com a voz amarga.

Nós somos nossas escolhas! – Amelie parafraseou um certo meio-homem sábio – Apesar de sermos levados a isso, você foi bom em vida.

– Não fui levado a isso! – Disse ele rapidamente – Eu ajudava os outros porque gostava, minha mãe tinha orgulho de mim, eu me sentia... Vivo. Não há nada que eu gostaria de ser a não ser um semideus.

E viveu como um. – Falou Amelie – E morreu honrosamente como tal, também.

– Talvez faça sentido o que diga – Ele falou por fim, abrindo os punhos que anteriormente estavam cerrados – Só é difícil aceitar.

A morte muitas vezes é tida como aterrorizante, mas se você a entender, ela é o objetivo e parte final de nosso ciclo. – Amelie falou ficando ereta novamente e retirando seu escudo. – Não há como escapar da morte, ela é a única certeza no fim. A diferença está em como você escolheu viver sua vida e como irá enfrenta-la no final.

"Eu não tenho todas as respostas, Peter, não importa que eu seja a filha da morte, tampouco Tânatos teria, pois cada situação adquire o significado que você dá a ela. Só você pode me dizer se irá morrer como um verdadeiro herói e o que isso é para você."

O semideus olhou-a em silêncio e assentiu, fechando os olhos e suspirando – por mais irônico que fosse uma alma suspirar. A alma assim que é ceifada é retirada do corpo como se fosse soprada, ela geralmente já começa a trilhar sua passagem, a menos que fique presa a algo.

– Você pode procurar meu colar? – Disse ele com a voz baixa – Percebi que não estava com ele em meu pescoço, foi um presente muito especial de minha mãe e eu não gostaria que er... ela me visse sem ele. Ele é dourado, possui um coração de pingente e tem minhas iniciais PJ atrás.

É, claro! – Disse a menina – É provavelmente isso que está te impedindo de iniciar a passagem.

Ele assentiu e desapareceu. Amelie começou a andar próximo a floresta, revirando galhos e folhas a procura da joia. “É como procurar agulha em um palheiro!”, pensou consternada.

Lembrou-se de Argos e decidiu pedir ajuda do gigante que possuía excelente visão. Correu e logo chegou ao posto de gasolina, procurou o gigante e o encontrou sentado à sombra de uma arvore. Próximo a eles estavam vários homens e mulheres bebendo e conversando próximos a motocicletas.

Amelie correu até Argos e quando ia contar a situação, ouviu a conversa de uma das mulheres: – Encontrei perto da floresta nesta rodovia, brilhou de longe para mim... É um colar lindo, não é?! Disse para o Carl parar a moto e fui buscar...

Com licença? – disse Amelie rapidamente – Você encontrou um colar?

A moça olhou-a de canto e deu de ombros, nem dizendo que sim e nem que não: – É que um amigo meu perdeu o colar dele por aqui, estamos procurando, pois é extremamente importante para ele.


Ela não encontrou nada! – Falou um homem grosseiramente.

Mas, eu ouvi que vocês encontraram algo! – Disse Amelie com a voz sedosa e aproximando-se deles sorrindo. Seu poder de sedução vinha de sua beleza herdada de sua filiação divina, mas a menina nunca deixava de pensar que também se originava da própria admiração da morte. – Por favor, vocês poderiam me ajuda com isso?

Os homens piscaram desconcertados, até mesmo o que pareceu grosseiro a priori. A mulher olhou desconfiada para Amelie, mas revelou um colar exatamente com a descrição que Peter havia dado.

Atrás tem as iniciais PJ? – Perguntou já sabendo a resposta, mas queria provar que era esse o colar para os mortais.

– Sim – Disse a mulher confusa – Mas, como posso ter certeza absoluta que está falando a verdade?

Moça, esse colar é muito importante para meu amigo! – Replicou Amelie – Eu realmente preciso dele e agora, pois estamos atrasados.

– E se eu não quiser entregar? – Ela desafiou Amelie.

A semideusa manteve-se calma, contudo, seus punhos estavam cerrados e um pequeno sorriso lhe escapava, começou a aproximar-se da mulher e se ela não a entregasse por bem, entregaria por mal.

– Pegue! – disse o homem, provavelmente companheiro da moça – Leve isso com você, mas nos deixe em paz.

Amelie ficou confusa, mas aceitou de bom grado e observou curiosa eles saírem praticamente correndo dali.

Olhou para onde Argos estava em pé atento as movimentações e enxergou Peter atrás, olhando desconfiado.

Me deu uma ajudinha? – Perguntou a menina.

A presença do menino deu de ombros e aproximou-se da carroça, onde seu corpo jazia coberto por uma mortalha de algodão.

Amelie caminhou vagarosamente, subiu no meio de transporte com destreza e retirou o pano do rosto do semideus, sua expressão era lívida.

– Eu pareço calmo, não é? – A voz de Peter soou próxima.

Você está calmo! – Disse Amelie docemente.

– Acho que sim! – Falou o rapaz – Acho que está na hora... É normal ter... Medo?

Claro que é – Amelie respondeu com leveza – Mas, você não está sozinho! Logo, você encontrará sua mãe e sua passagem terá fim. Vou estar lá, também, não se preocupe.

Obrigado! – A voz de Peter pareceu distante e ele desapareceu novamente.

Amelie colocou o colar sobre o pescoço do rapaz e voltou a cobri-lo, então sentou-se novamente e ela e Argos voltaram a se movimentar, atrasados.

☠


O caminho demorou mais do que o esperado, quando chegaram ao endereço indicado por Quíron – um cemitério enorme, cheio de árvores e lápides baixas, com um casarão de madeira envelhecida – uma mulher de cabelos loiros, esperava aflita a porta.

Amelie engoliu em seco ao se aproximar e parar em frente ao local, ela desceu e se apressou ao falar a mulher, mas ela já havia visto seu filho – suas mãos tremiam e lágrimas rolavam copiosamente por seu rosto em um choro dolorido e silencioso.

Senhora, eu sou... – Começou a semideusa, mas a mulher a abraçou chorando.

Sem reação, apenas deixou que a mulher se aquietasse em seu ombro, enquanto dava leves batidinhas nas costas da mesma – nesse momento, não há o que ser dito.

De repente, homens vestidos em ternos de segunda mão apareceram para se encarregar de preparar o corpo para o funeral.

Amelie olhou para a grande sala de onde os homens haviam sido e notou que estava estranhamente vazia, fazendo esse sentimento revirar seu estomago.

– Ó, céus, me desculpe, moça! – Disse a mulher – Nem ouvi seu nome... Sou Annie, mãe do Peter. Me desculpe...

Tudo bem! – Falou Amelie sorrindo levemente – Sou Amelie, fiquei responsável por trazer Peter até você.

– Obrigada, obrigada – Falou ela olhando para o local onde o menino fora levado – Você deve ser amiga dele. Ele é um menino incrível, não é? Ele ama música e videogames, muito bom menino!

Ele é, Annie! – Disse a jovem com compaixão.

– Você irá me acompanhar, não é?! – Disse Annie passando a mão pelo rosto um tanto quanto perdida – Afinal, você é uma amiga do Pet.

É-É Claro! – Gaguejou Amelie. Ela não poderia negar para Annie esse pedido, ainda mais ao observar o salão vazio.

Annie caminhou, segurando a alça de uma bolsa preta, gasta, como se precisasse tocar em algo, Amelie apressou-se para acompanha-la, sem olhar se Argos a esperava ou não.

– Peter sempre foi um filho incrível – dizia a mulher orgulhosamente – Ele me ajudava em tudo, desde pequeno. Trabalhava meio período, limpava e cozinhava em casa, já aluno era mediano... Arranjou confusão algumas vezes porque sempre protegia os mais fracos; estava sempre em missão pelo acampamento.

Ele era um grande homem! – disse a morena.

– Você é namorada dele? – Perguntou a mãe sem pestanejar.

Amelie corou e tossiu de leve: – Não! – Respondeu entre tossidos, então lembrou-se da semideusa loira que chorou no acampamento e sentiu-se estranha.

– Ele é muito bonito... Como o pai – Disse ela com um nó na garganta, mas continuou – Minha família é uma comum e tradicional família sulista, meu pai era pastor, minha mãe guiava o coral, eu e minhas irmãs éramos as professoras dominicais.

Porém, um dia, um homem lindo e engraçado apareceu em minha vida, eu trabalhava como jornalista no pequeno jornal de minha cidade. Ele havia comprado alguns estabelecimentos na região e fez algumas benfeitorias, eu deveria entrevistá-lo. Ele me enlaçou, Amelie e eu cai feito um patinho.

Hum... Isso é normal ent... – Começou a menina, mas mordeu a língua.

– Entre deuses – Completou Annie dando-lhe um sorriso cumplice – Suponho que sim.

A mulher suspirou e iria continuar, mas uma porta lateral do salão abriu-se e os homens entraram carregando o caixão com o semideus. Ela levantou-se e acompanhou com o olhar até eles o colocarem de frente para um palco bem no centro.

A semideusa achou correto acompanhar Annie até próxima do filho e por mais que a morte lhe fosse algo ordinário – no sentido de comum – não pode não se sentir tocada ao ver uma mãe chorando o luto de seu único filho.

– Meus pais me abandonaram grávida, fui rechaçada na cidade, perdi o emprego e os amigos – Disse Annie olhando para o rosto de Peter e tocando-o – Mas, quando ele nasceu, quando vi seu rosto pela primeira vez, eu tive certeza absoluta de que tudo ficaria bem, pois nunca senti um amor assim.

Ele foi crescendo e fazendo coisas especiais, até que um dia descobri que ele era filho de um deus e eu que era tão cristã, me vi comprando materiais para levar para meu filho treinar em um acampamento de semideuses, acredita? – Ela riu levemente. – Mas, sabe no que eu acredito, Amelie? Que ainda assim, existe um Deus grande e que olhou para mim com carinho, apesar de tudo, foi graças a Hermes que consegui ter o Peter e eu não trocaria isso por nada no universo. Os deuses costumam brincar com as pessoas, mas o destino é ainda maior que todos nós, que todos eles.

Pela primeira vez, Amelie ficou sem palavras – agora ela entendeu o que Quíron havia dito da mulher. Suas palavras simples haviam sido tão sinceras e haviam esfregado duras verdades na face da semideusa.

Um pastor chegou, abraçou Annie e disse que daria início aos ritos fúnebres. Amelie acompanhou-a de perto, a pequena mulher parecia prestes a desmoronar, até que se sentaram nas primeiras cadeiras para dar continuidade ao funeral.

– Caríssimos! – Começou o homem – É com grande pesar que estamos reunidos hoje para prepararmos a alma de um jovem para a eternidade...

Amelie sentou-se em silencio, a voz do senhor era distante e parecia apenas um zumbido nos ouvidos da semideusa. Ela, de fato, não ouvia o que aquele homem falava, apenas refletia as palavras de Annie e Peter – e como eles estavam cruamente certos.

– Agora, se a nossa querida Annie quiser falar algumas palavras sobre o Peter... – Insistiu o pastor de cima do púlpito.

Amelie saiu de seu transe e olhou para a mulher, ela chorava baixinho de forma tão dolorida que parecia doer na própria menina.

– Você faria isso, Amelie? – disse Annie entre soluços – Já que eram tão próximos. Faria isso, por favor?!

A menina se viu mais uma vez em uma situação delicada, sequer ouviu falar de Peter em vida ao meio de tantos semideuses – o conheceu postumamente, mas isso não era algo a se dizer no momento.

Levantou incerta e suspirou pesadamente, subiu as escadas pulando de dois em dois degraus e chegou ao púlpito do palco – achava aquilo exagerado, porque as pessoas tinham de estar tão distantes e a cima dos outros para falar?

Olhou para o salão e notou que além da mãe, onde anteriormente estava sentada, havia apenas mais duas pessoas. Ao todo, tirando o pastor que batia o pé impaciente a seu lado, eram quatro pessoas. Apenas quatro pessoas em um funeral de um jovem.

Amelie olhou insegura para a mãe do menino, mas ela encarava o filho no caixão com olhos de amor; a menina tomou coragem e iniciou, sabendo de certa forma o que falar: – Peter era um bom rapaz, um dos melhores, eu diria. E isso, se deve ao fato de que ousou viver sob sua própria ótica, sendo quem verdadeiramente era.

Diferente de mim, ele não questionava os motivos, apenas fazia aquilo que gostava e era bom nisso. É difícil encontrar pessoas verdadeiramente boas, mas posso afirmar que ele era. Ele viveu como um herói e morreu honrosamente como um! – Amelie e Annie trocaram um olhar cúmplice pela frase que somente as duas entenderam – Provavelmente, essa sala se encheria se colocássemos todas as pessoas que ele de alguma forma ajudou – salvou – mas, a morte é assim, ela diz muito mais sobre os que ficam, do que sobre os que foram.

Que Peter encontre a paz e faça uma boa passagem, onde quer que ele esteja sua memória estará sempre viva naqueles para quem ele é caro e para aqueles a quem ele salvou. Estamos aqui com você, Peter!

Assim que Amelie ficou em silêncio um vento forte irrompeu pela sala e fez os cabelos da morena e de Annie bagunçarem, batendo as portas e janelas.

A semideusa desceu do palco e agora era o momento de despedida, o caixão seria fechado e cremado, após isso as cinzas seriam colocadas em uma lápide. Annie foi a primeira, ela beijou a testa do menino e lágrimas escorriam por seus olhos, depois as duas outras pessoas que estavam na sala aproximaram-se, abraçaram rapidamente Annie e tocaram friamente a mão do rapaz, depois afastaram-se quase correndo.

Por fim, Amelie aproximou-se, abaixou-se próximo a orelha de Peter e cochichou: – Faça uma boa passagem, Peter. Sua mãe tem muito orgulho de você... Um dia a gente se tromba por aí. – A semideusa rapidamente colocou uma moeda grande de bronze na mão do rapaz – Caso Caronte dê trabalho, dê-lhe uma moeda ou diga que você conhece uma semideusa brava que vai lá chutar a bunda velha dele.

Ficou distante no resto do funeral, deixou que Annie vivenciasse aquele momento de dor sozinha. Observou encostada em uma arvore, alguns minutos depois Annie sair com uma urna da sala de cremação e ir até uma lápide no alto do campo na companhia do coveiro e por fim, o enterro.

A mulher permaneceu mais quinze minutos em silencio olhando para a lápide, enfim, Amelie decidiu aproximar-se para se despedir.

Ao aproximar-se, leu com brandura a escrita na lápide: “Para Peter, um herói”.

Você sabe para onde nós vamos...? – Perguntou Amelie.

– Céu, campos Elísios... – disse Annie sorridente – Não importa o nome que as coisas levam, o que importa é o significado que elas têm. Muito obrigada por hoje, Amelie, vou me lembrar pelo resto da vida.

Tudo bem, não é nada! – Disse a semideusa envergonhada.

– É sim! – Replicou a mulher – A morte diz muito mais daqueles que ficaram, do que os que se foram.

Amelie sorriu, abraçou Annie e começou a se afastar: – Viva uma vida boa, Amelie. Por mim. Por Pet.

A filha de Tânatos não se virou, continuou a caminhar com as mãos no bolso, enquanto o vento engolfava seu corpo.

Ao sair do cemitério, deu de frente com Argos, sentado na carroça a esperando. Subiu em silêncio, sentou-se no banco de madeira e o cavalo pôs-se a andar, levando-os de volta para casa.

☠


O caminho de volta fora silencioso e sem surpresas, Amelie estava tão perdida em pensamentos que não viu o tempo passar. Ao chegar, caminhou em direção a Grande Casa vagarosamente, já passava das três da tarde quando chegaram ao Acampamento Meio-Sangue e precisava reportar a missão a Quíron e fazer o arquivamento.

Não olhou para ninguém no caminho, recebendo alguns olhares tortos ou de admiração. Bateu na porta uma vez e ouviu do outro lado da soleira a voz do centauro trovejar.

– Deu tudo certo? – Perguntou ele antes mesmo que ela estivesse totalmente dentro do local.

Sim! – Falou simplesmente – Houve apenas um pequeno contratempo, mas foi contornado. Demoramos, pois, precisei fazer algo.

– É, claro! – Falou Quíron – Não esqueça de fazer o reporte e arquivar, mas não precisa fazer agora. Vá comer algo e descansar.

Sim, senhor! – Falou com a voz firme.

A semideusa acolheu apenas a primeira consideração, passou na cozinha para comer alguma coisa e depois foi para a arena treinar – ela sempre recorria ao treino físico quando precisava pensar e relaxar.

Quando saiu da arena já era oito horas da noite, seu corpo estava suado e dolorido pelo esforço, seu cabelo estava desgrenhado e grudando em sua nuca e testa, além da barriga que roncava vigorosamente.

Foi para o chalé tomar um banho, depois saiu para jantar sozinha e já pensava no momento que colocaria seu pijama de flanela e deitaria para dormir.

Assim como planejado, meia hora depois estava embaixo do seu cobertor de cupcake, vestindo seu pijama simples de flanela e pronta para dormir. Não imaginou que estava tão cansada até repousar seu corpo no colchão e tão rapidamente quanto imaginou, seus olhos se fecharam e sua mente se lançou na inconsciência.

☠


Uma luz muito forte incomodava os olhos da menina, não imaginou que a noite passaria tão rápido assim. Virou de bruços, tentando evitar a luz em suas pálpebras, ainda fechadas, mas parecia estar em volta pela luminosidade.

Ao abrir os olhos, notou assustada que não estava em seu chalé. Era uma enorme construção de pedra, parecia muito um templo antigo ou uma igreja do período medieval, havia muita luz no local e um sentimento de paz tremendo, mas ainda assim a morena estava inquieta.

– Fique calma! – Uma voz forte ecoou pelo local e Amelie ficou em pé girando nos calcanhares para ficar de frente de onde vinha o som.

Era um homem alto, forte e incrivelmente bonito, com feições tranquilizantes e ao fitar seus olhos a semideusa sentiu vontade de sorrir, ele usava um terno de linho perfeitamente adequado a seu corpo. Lutou contra os seus próprios sentidos, pois pelo o que havia vivido sabia que não podia confiar em quase ninguém.

Quem é você? – Ela perguntou com veemência.

– Tânatos! – Falou o homem caminhando até ela.

Seus olhos se arregalaram e ela deu dois passos para trás surpresa. – Te trouxe em sonho aqui. Gostaria de agradecer por hoje.

Ela ainda estava aturdida por estar conversando com o pai pela primeira vez em toda sua vida.

– Não é a primeira vez! – Ele falou sentando-se em um enorme banco próximo de onde ela estava – Já nos encontramos algumas vezes, mas nunca pude me apresentar, de fato.

Pode ler minha mente? – Soltou com a voz aguda.

– Nada escapa da morte, filha. – Disse ele simplesmente.

Filha.... Uso interessante da palavra! – Ela soltou entredentes.

– Entendo sua raiva. – Ele falou de forma espectral.

Não entende, mas não entende mesmo! – Ela vociferou – Veio para me agradecer? Então, que tal se desculpar primeiro? Onde você estava... Onde estava quando....

Sua voz desapareceu, como se houvesse um nó em sua garganta e sua visão ficou turva, ameaçando deixar rolar lágrimas.

– Mas, eu estava lá. – Ele falou com firmeza – Almas o atormentam até hoje, o pior dos fins.

Amelie o olhou surpresa, realmente estranhou que aquele homem nunca mais apareceu em sua casa, depois do incidente, mas não imaginou que estava morto.

Na verdade, a menina tem uma vaga lembrança de gritos e presenças espectrais, como aquelas do dia de sua reclamação, mas só de tentar recordar, sua cabeça doeu.

Mas, ainda assim deixou acontecer! – Falou a menina magoada, revelando uma fraqueza há muito guardada.

– Não posso intervir nesses assuntos – Falou o homem com voz cansada.

Apenas quando lhes convém! – Amelie soltou com aspereza – Esse é o jogo dos deuses. Nós semideuses somos a primeira linha de seus exércitos, lutamos contra tudo e todos, numa guerra sem fim e limites.

A personificação da morte ficou em silêncio, absorvendo as palavras daquela semideusa tão nova e com ar insolente. Podia ouvi-la em sua mente, o medo e a dor, incerteza e coragem, pureza e redenção, além de afiados pensamentos. Ficaram em silencio o bastante para que a aura de energia de Amelie se acalmasse.

– É muito esperta, criança! – Disse Tânatos com a voz grave e um sorriso discreto quebrando o silêncio – Não tenho tempo para ficar de olho no mundo mortal, Amelie, mas, hoje você ganhou afeição a meus olhos.

Ao acompanhar a mortal, não lhe falar palavras vãs que geralmente os humanos costumam proferir, mas lhe dizer sinceridades e deixa-la calma em um momento difícil e estranho a eles, foi muito empático. É isso que faço.

No momento da morte, não há dor e nem medo. A passagem é rápida e indolor, o que vem depois é que assusta, já que somos postos a quem verdadeiramente somos e nossas ações são julgadas.

Eu sou o apoio das almas e quando elas passam pelo meu olhar elas entendem. Nada se esconde da morte.

Contudo, isso não torna as coisas mais fáceis para os mortais. – Replicou ela sentando-se na cama.

– E para os imortais você acha que torna? – Perguntou o deus com olhos perspicazes.

Talvez! – Respondeu ela com firmeza – Aí não sou eu que poderei responder essa pergunta.

– É muito inteligente, Amelie. – Disse Tânatos – Ainda iremos nos encontrar muitas vezes.

Não se pode fugir da morte, presumo! – Falou a menina com a voz tingida de calma.

– Não! E nem daqueles que estão destinados a terem seu poder. – Disse o homem divino.

Ele olhou uma última vez nos olhos claros da jovem e uma luz forte emanou de si, Amelie colocou as mãos na frente do rosto tapando os feixes de luz de seus globos oculares e sentiu o corpo ficar leve.

Ao abrir os olhos, encarou a parte de cima de seu beliche, sentou-se na cama aturdida ainda pela conversa e imaginou se aquela conversa foi real ou não.

Observou o redor e estava de manhã, o acampamento dava sinais de vida com vozes indo e vindo pela porta do chalé. Suspirou profundamente quando os pés tocaram o chão e a única coisa que estava tão clara em sua mente quando este momento era: “Não se pode fugir daqueles que estão destinados a terem seu poder.

☠:




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Re: A Kind Soul — MOPE para Amelie Davenport

Mensagem por 143 - ExStaff Seg 23 Set 2019, 15:05


avaliação

Menina... eu tinha muitas expectativas para essa missão e você superou todas.

Você é dona de uma escrita leve e gostosa. Parágrafos concisos, sem margens para dupla interpretação e sem encheção de linguiça. Tudo que foi escrito, tinha uma finalidade. O modo como abordou a pegada filosófica da morte, dos diferentes pontos de vista dos personagens... Fenomenal.

Apenas recomendo rever seu template, em especial o espaçamento entre as linhas, pois achei que ficaram muito coladas.

Sem maiores considerações sobre o seu texto, Amelie. Que os bons ventos te guiem.

Resultado

— Coerência: 50 de 50 possíveis
— Coesão, estrutura e fluidez: 25 de 25 possíveis
— Objetividade e adequação à proposta: 15 de 15 possíveis
— Organização e ortografia: 10 de 10 possíveis

Total: 100 pontos. Recompensa: 400 pontos de experiência + 40 dracmas.
Item: {Kindness} / Colar [ Replica do colar de Peter, prateado com pingente de coração. Esse colar tem a habilidade de melhorar o poder "Presença Perturbadora" anulando a dificuldade em domar criaturas vivas não-submundanas e reduzindo para 5 níveis de diferença entre o usuário e o oponente, para que ele hesite em atacar no primeiro turno. ] {Prata} (Nível Mínimo: 5) {Não controla elemento} [Recebimento: Recebido de Éolo, atualizado em 23/09/2019, ganho na missão A Kind Soul.]


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Re: A Kind Soul — MOPE para Amelie Davenport

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