DarkLight Academy

A Elementalidade


A lua cheia clareava a enorme floresta. As primeiras gotas de orvalho se instalavam e, refletidas pela luz, iluminavam um caminho pela floresta à dentro.
Vultos brancos passavam por nós à todo momento: eram outros vampiros.
Nós estávamos em um grupo mediano e eu era o único vampiro do grupo. Por eu ter um ótimo autocontrole eu pude estar junto aos humanos. Mesmo assim... Era tão difícil resistir... Eles eram presas tão fáceis...
Ao chegarmos ao final da trilha, corremos em direção ao grande prédio da escola e nos dirigimos para o pátio principal e, por sorte, eu consegui sentar perto do “palco” e ao lado da porta, um lugar realmente muito disputado.

- Bem-vindos à Escola de Vampiros! – Disse a mulher que pegou o microfone e que era provavelmente a diretora – Por favor, para não ocorrerem problemas, todos os vampiros se dirijam à ala oeste e os humanos à leste. Ao chegarem a suas alas, vão ao mural e vejam qual é o seu dormitório, seu parceiro de quarto e peguem suas chaves. Podem ir. – Ela disse aquilo tão rápido que, quando consegui raciocinar, já havia uma multidão de gente correndo para chegar ao mural, a maioria pisava no meu pé e, acreditem, aquilo foi muito doloroso.

Como eu disse, a porta é um lugar muito disputado, pois é o jeito mais rápido de se chegar ao mural e, quando ela disse “Podem ir” todos corremos em direção à porta e eu, felizmente, cheguei rápido.

“Hum... Vamos ver... Aqui! Quarto 379, companheiro de quarto Nyuki Mimineko...”

Peguei minhas chaves e fui em direção ao meu quarto para arrumar tudo a tempo para a primeira aula. Ao chegar ao quarto, eu vi todas as minhas malas e... Bom, eram tantas! Comecei a desfazê-las, mas, não pude terminar de arrumar, pois, era hora da primeira aula e eu já estava me atrasando. Peguei minha mochila, coloquei meus materiais e sai do quarto em direção ao norte do prédio onde ficavam as salas de aula.
Corri pelos corredores em uma grande velocidade e, ao fazê-lo, pude perceber que conforme eu me aproximava da sala o corredor ficava mais antigo.
Finalmente, cheguei. Ao entrar, vi uma garota sentada e ela era tão linda que não pude resistir a deixar de lado um pouco do meu tempo e admira-la... Ela estava com um vestido de todos os tons possíveis de vermelho, uma fita, também vermelha, lhe prendendo o cabelo e sapatilhas de Prada rosa. Eu não sei quanto tempo perdi até o professor me trazer de volta para o mundo real, só sei que me assutei ao perceber ele dizendo:

- Ei! Sr. Semper? Lux Semper?

- Ah... Sim? – Respondi.

- Poderia sentar-se? – Disse-me apontando minha cadeira bem ao lado da garota.

- Cla-claro. – Respondi, meio sem jeito, e sentei-me rapidamente.
- Bom, eu sou o professor Izion... – Dizia o professor quando foi interrompido por um aluno.

- Do que o senhor da aula? – Perguntou um impaciente.

- Dou aulas de Elementalidade. – Quando ele disse isso o silêncio instalou-se na sala, éramos do primeiro ano, não sabíamos quais as matérias.

- A elementalidade – começou o professor quebrando o gelo – É a habilidade escondida dos vampiros. Dentro de cada um existe um elemento.

E o professor criou um enorme corvo de sombras bem na nossa frente.

- Isso é um exemplo do que se pode fazer com o elemento trevas. - Disse aos olhares curiosos.

- Professor, como descobrimos nosso elemento? – Perguntei, ancioso.

- Cada um pegue estas luvas especiais, vamos fazer o teste.

Todos obedecemos.

- Agora se concentrem em suas mãos e depois me digam o resultado.

O sol apareceu. A manhã já estava batendo na janela do
quarto 379 e Yuki e Lux pareciam ter sentido isso. Lux sentou-se na cama e
esfregou os olhos. Ele pegou o travesseiro e, vendo que Meddy nem se movera,
jogou-o no rosto do garoto. Este só rolou para mais perto da parede e murmurou
algo sobre a primeira aula dele ser vaga. Mal Lux olhou para o banheiro, Yuki
pulou da cama com toalha e xampu na mão e se dirigiu para o único Box. Lux
resolveu arrumar suas coisas. Abriu sua mochila e nela colocou os livros de
numerologia e elementalidade. Livros de apoio, cadernos e canetas e o grimório
que era de sua família à gerações. Guardou lá também suas jóias mágicas e
algumas roupas extras. Yuki saiu do banheiro. Lux pegou suas roupas que eram
apenas a camisa de uniforme da escola, sua jaqueta do Slipknot, uma calça jeans
preta surrada e seu par de all-stars. Correu para o banheiro antes que alguém
pudesse tomar sua frente novamente e tomou um banho de dez minutos. Quando saiu,
Yuki lhe esperava encostado no portal.





- Vam’bora, seu lerdo. – Yuki disse, apressando Lux, que assentiu.





Eles andaram pelos longos corredores de pedra e finalmente
chegaram na sala do professor Charles Izion, que dava aulas de Elementalidade.
Entraram na sala. A sala estava muito maior do que eles se lembravam, do dia
anterior: Seu teto agora era alto e reto, sem nenhuma rachadura. O piso era de
mármore e as paredes eram brancas. Eles, maravilhados, sentaram-se em frente à
da sala, ao lado da porta. Quando olharam para frente, porém, encontraram as
mesas vazias, exceto por uma coisa: ali estavam dois globos de vidro, parecidos
com aqueles que se vende em lojas de quinquilharias. Dentro de um, que estava
em frente à Lux, havia uma paisagem desértica e no que estava em frente à Yuki,
um vulcão em erupção.
Eles mal tiveram tempo de examinar aquelas coisas antes que o
professor entrasse na sala pisando pesadamente com suas enormes botas de couro.
Ele estava vestido praticamente com as mesmas roupas do dia anterior: Capa
preta de viagem, chapéu-panamá cinza e terno risca-de-giz que, diferente do dia
anterior, era azul-marinho. Ele andou até sua mesa, bem à frente de todos os
alunos e de costas para a lousa e sentou-se.





- Sabem o que é isso? – Disse, pegando um dos globos.
Ninguém respondeu, alguns acenaram a cabeça, negativamente. – Isso, - Começou
ele, jogando o globo no ar e dando uma risada baixa, como se estivesse
lembrando de tempos passados. – É um globo de elemento. Um cofre, talvez.
Toquem nos seus. – Ele ordenou, sentando-se novamente e pondo os pés por sobre
a mesa. Todos obedeceram. Lux pegou a sua paisagem deserta, e ela se
transformou em um enorme campo florido. Yuki, ao lado, se surpreendeu em ver
que todo o vulcão e o magma se transformaram numa paisagem gelada. – E ai, já
descobriram o que isso faz? – Perguntou, o professor, trazendo todos de volta
para a realidade.





- Ela muda de paisagem conforme o elemento de quem tocá-la? -Yuki
arriscou.





- Quase isso. – Disse o professor, visivelmente admirado
pela resposta. – Eles capturam seu elemento. Mudar a paisagem é só uma
qualidade estética. Eles servem para se carregar elemento extra para alguma
missão ou para que um vampiro possa usar algum elemento que não seja o seu... –
Ele foi interrompido pela mão levantada de Lux. Ele pareceu um pouco aborrecido
mas lhe permitiu fazer a pergunta com um aceno de mão.





- O que acontece se algum deles for destruído? – Foi sua
pergunta. Murmúrios de interesse percorreram a sala.





- Bom, - O professor se levantou e começou a andar pela
sala, o som de suas botas de couro provavelmente era audível na lanchonete. – Digamos
que se o seu explodisse agora, seu amigo Yuki iria se transformar numa bela
macieira, num carvalho, se tiver sorte. – Algumas pessoas riram e o clima na
sala abrandou. Eles pareciam começar a gostar do professor.





- Acho que você viraria um cubo de gelo se o meu quebrasse. –
Yuki disse, os dois riram juntos.





O resto da aula transcorreu normalmente, com o professor
ensinando o método mais adequado de armazenar o elemento e como criar um
daqueles globos. Mas, é claro, eles acabaram ficando muito entediados com todos
aqueles dados. Quando finalmente a aula acabou, eles foram por um túnel reto
até a aula de numerologia e simbologia. Yuki desviou-se por um túnel lateral
dizendo:





- Eu não quero ir! – Ele disse, mais alto do que seria
prudente. - O professor de numerologia me odeia. – Ele explicou, baixando a
voz.





- OK, a gente fica no quarto até bater o sinal e... - Mas
Lux foi puxado, junto com Yuki para dentro da sala pelo professor de
numerologia, Prof º
Carl. Eles foram jogados nas carteiras mais perto do professor e foram
supervisionados todo o tempo.





- Isso é horrível. – Sussurou Yuki, abrindo a mochila e
pegando o livro de numerologia.





"E o sábio contava que, nos seus estudos, quando ainda
era um pobre observador do Universo, descobrira que o número 12 comandava os
destinos, dele e de toda a humanidade. Doze era o número da harmonia. Do
equilíbrio da condição humana com a geografia terrestre e os níveis cósmicos.
Eram os quatro pontos cardeais multiplicados pelas três dimensões de Deus. Os
quatro elementos — Terra,Água, Fogo e Ar — multiplicados pelos três princípios
básicos da alquimia: enxofre, sal e mercúrio. Os 12 sinais do Zodíaco. Os
12meses lunares que completam o ciclo da Terra em torno do Sol. Doze vezes
cinco dá 60, o número de anos que leva para os ciclos lunares e solares
coincidirem.E o sábio contava que, nos seus estudos de intelectual miserável,
descobrira que eram 12 as portas do Templo do Céu pelas quais o imperador da
China tinha que passar para assegurar um ano bom para os seus súditos. Doze
eram as portas de Jerusalém, 12 as tribos de Israel, 12 os apóstolos de Cristo,
12 os cavaleiros da távola redonda do Rei Artur. No Gênesis, a Árvore da Vida
dá 12 frutos. No Livro das Revelações, a mulher que aparece vestida de Sol traz
na cabeça uma coroa com 12 estrelas."





- Espera, - Falou Lux. O professor suspirou, desanimado. -
Isso não é um trecho de um conto do Luis Fernando Veríssimo? - Perguntou,
ouviram-se murmúrios em concordância.


- Onde ele quer chegar? – Perguntou Yuki, impaciente. –
Porque estamos lendo um livro de contos numa aula de numerologia? Isso é
literatura humana!





- É, é sim um trecho de um conto do Veríssimo. Mas, sem
saber, ele escreveu sobre nós, os vampiros. – Disse o professor, de mau humor.
Yuki rolava os olhos. - 12 caminhos para um vampiro: Fogo, Água, Luz, Trevas,
Paz, Guerra, Caos, Terra, Ar, Sabedoria, Planta e Gelo. – O professor enumerou,
alguns alunos contavam para ter certeza. - Entendeu, moleque intrometido? - Disse
o professor, fuzilando Yuki com o olhar.





- S-sim senhor. - Yuki se encolheu na carteira como um
gatinho assustado.





O professor começou a explicar como a harmonia dos 12 era perfeita
e que...





- Professor, contando com Jesus, não seriam treze pessoas na
ceia? -Disse um garoto, do canto da sala. O rosto do professor se escureceu.





- Bakae. – Yuki disse, mostrando sua descendência japonesa. -
Existe o 13º elemento


que pode reger os outros 12. – E então sussurrou para Luz - L
isso no antigo livro da biblioteca na área proibida.





Luz começou a falar, em um meio ritmo –


“A árvore que rege os frutos,


A mulher que rege a coroa,


Deus que rege as tribos,


O rei que rege a tabula,


O planeta que rege os signos,


O imperador que passa pelas portas,


A terra, que fica entre os ciclos.”





- Coincidentemente, 13 é o número do azar para os ocidentais.
- O professor lhes olhos com raiva.





- Saiam da minha sala. Agora! - Ele apontou a porta. Os garotos
riram, então o professor os empurrou porta a fora e acabaram no corredor vazio,
entre os armários dos alunos.





- Aquilo que eu disse. - Começou Lux - Eu ouvia aquela
poesia da minha mãe. – Explicou. – Mas, eu nunca tinha ouvido sobre algo maior
que os doze elementos. Como isso é possível? - Perguntou, atônito. - E, por que
os professores não gostam que ninguém saiba sobre isso?





- Cara essa escola é esquisita – Disse Yuki, meio distraído.
- Eu não entendo os vampiros.





- Como assim "eu não entendo os vampiros"? Você é
um vampiro! – Disse Lux, sem entender.





É- é claro eu sou um vampiro tipo. Rawr, sangue e etc. – Falou
Yuki, mordendo o ar.





- Cara, - Disse, rindo - Você é esquisito. – Yuki riu com ele
e fez uma cara de “Guy, I Born this way”. Lux, rindo, dá um soco no braço de Yuki
e pergunta: - E agora, o que fazemos? Lux olha em volta à procura de algum
professor ou aluno, mas não acha ninguém.


- Esquisito – Comentou Yuki. - Devia ter mais gente aqui. Os
alunos do primeiro ano deviam estar no intervalo não?





- Deveriam... - Lux corre para frente da sala de Selos, onde
provavelmente estaria o primeiro ano. - Eles estão aqui. Porque será que não
estão no intervalo? – Yuki deu de ombros. Vamos aproveitar isso. – Lux apontou uma
placa que indicava o caminho para a biblioteca. Yuki concorda com a cabeça e eles
vão até lá. Ao chegar à biblioteca eles vêem uma senhora alta com oculos
quadrados arrumando alguns livros nas estantes. Lux puxa Yuki para trás de uma
estante de livros de história. Ele então coloca um colar no pescoço de Yuki e
toca no pingente. Agora o garoto estava invisível. Segundos depois, Lux também
não estava mais lá. Pelo menos não parecia estar. - Quer entrar na sessão
proibida? – Perguntou a voz de Lux, que provavelmente estava rindo.

Capitulo 06 - Fogo Congelante.

A expressão de Lux não mudou. - E como você conseguiu entrar
pra essa escola? E porque não foi para a ala humana?




- Porque eu tenho um poder estranho e...Achei que aqui
encontraria minhas respostas. Não sou como os outros de minha espécie.




- Então...Você realmente controla gelo? – Lux perguntou
confuso.


- Não, eu controlo fogo. – Ele disse. – Mas é um fogo que
congela o que toca.


- E Ninguém sabe disso?


- Não... – Ele disse, coçando a cabeça. – É, além de você,
não.


- Existem mais alguém como você na escola? – Lux disse, já
mais descontraído.


- Se tem mais alguém eu não conheço... – Lux foi
interrompido por um barulho vindo do corredor.


- Que chato - Disse uma voz conhecida, vinda do corredor. -
Então terei que me contentar apenas em matar você. - A voz riu. Era a voz do
professor Izion.


Yuki deu um enorme pulo para trás e sacou algum tipo de
faca, ou espada. Talvez um meio termo entre as duas. Uma risada maléfica
ouviu-se. Um enorme monstro entrou na sala: Ele tinha pelo menos dois metros,
andava nas quatro patas, como um lobo e era feito de sombras. Uma enorme pedra
vermelha estava cravada no meio de sua testa.


- Porque está fazendo isso professor? - Gritou Lux, enquanto,
sutilmente, fazia que uma planta de um vaso que o monstro derrubara no chão,
crescesse e se enrolasse nas enormes pernas do monstro. Ele era bem sólido,
como se as trevas fossem uma armadura.


- Tenho que eliminar os inimigos. - Ele disse apenas, com
uma voz carregada de certeza. A planta cresceu mais e mais e agora já alcançava
sua barriga.


- Eu não sou um inimigo! – Gritou de volta Yuki. - Eu só quero
melhorar com meus poderes!


- Inimigos devem ser destruídos. - Ele levantou sua mão como
havia feito na aula. Porém, em vez de um corvo, apareceu uma espada: Ela era
como as dos filmes que mostram a idade média. Claro, ela era real, o que a
deixava ainda mais assustadora.


Yuki murmurou algo como “OK” e o monstro correu para frente.
Ou pelo menos tentou. Sem perceber que estava preso, caiu como uma criança com
os cadarços amarrados.


Lux jogou uma bola de fogo azul do tamanho de uma bola de
golfe na direção do monstro. Ela aderiu ao corpo do monstro e começou a se
espalhar, lentamente.


Lux concentrou-se e fez que espinhos surgissem no caule da
planta. O monstro urrou.


A aura de trevas que lhe cercava ficou mais fraca por um
momento, mas ele logo conseguiu cortar a maioria das plantas e ficar livre.
Yuki aproveitou-se do momento de distração do inimigo e teria conseguido enfiar
a sua arma bem no coração do monstro se Lux não o tivesse detido.




- Tá na cara que ele tá fora de si, não podemos matá-lo! – Esbravejou
Lux, dando à Yuki um olhar duro.


- Não foi minha intenção... – Respondeu Yuki, sem jeito. - Eu
só estava me protegendo!


Lux retomou suas plantas. Ele as jogou para a janela atrás
de si e poucos segundos depois elas estavam enraizadas novamente e prontas para
uma nova batalha. – Talvez possamos congelar sua aura e, assim, imobilizá-lo.


- Eu estou quase conseguindo isso. – Disse Lux apontando
para o fogo de fogo congelante por sobre o “pelo” do animal. Ele já não era uma
bola de golfe. Estava cobrindo a parte traseira da criatura. Eles batalham. O
professor era realmente forte e estava tentando destruí-los. As garras do
animal eram combatidas pela adaga de Yuki e suas investidas bruscas eram
paradas pelas plantas de Lux. Juntos, eles eram uma equipe forte. Aos poucos, a
area congelada da aura do professor era maior. Quando finalmente a aura estava
totalmente congelada, Yuki sublimou-a e o corpo inerte do professor caiu no
chão.


- Tem certeza que ele não tá morto? – Perguntou Lux,
preocupado. Ele abaixou-se e pegou o enorme rubi no chão. Dentro dele, algum
líquido parecia estar se movendo.


- Não, - Respondeu Yuki, por fim. - A aura dele ainda tá
aqui. – Ele começou à transformar a aura, agora gasosa, do professor em algo
sólido. – Se eu não puder re-incorporar isso nele. – Ele apontou as pedras de
gelo em que estava acumulado todo o poder daquele homem. – Ele morre.


- E - Lux coçou a cabeça, confuso - O que está esperando?