Entre irmãos

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Entre irmãos

Mensagem por 001-ExStaff Seg 08 Ago 2011, 14:35

Baseada em um Sonho:



Entre irmãos 66937710
~ Entre irmãos. ~


O baile era magnífico. Era estranho notar o quanto eles bajulavam a gente antes da real guerra começar. Diversas bebidas caras, aperitivos da alta sociedade, bons músicos com sinfonias divinas. Estava tudo perfeito. Mas uma única coisa me deixava mal, única coisa que eu não poderia mudar pelo resto da noite. Expressão, uma expressão de preocupação estampada no rosto dos meus soldados. Suas mulheres estavam com eles, dançando juntos, segredando brincadeiras nos seus ouvidos, tentando uma ultima vez se divertir ao lado deles antes da Guerra. Ashley estava abraçada comigo. Ela nada falava, era visível o estado de medo em que eu me encontrava, e ela, apaixonada e preocupada tentara de tudo pra me ajudar, mas nada funcionava. Se ela não estive ali, talvez nem de pé mais eu estivesse. O amor que eu sustentava por ela era inacreditável. Nunca antes tinha entrado em uma guerra, mas nas poucas batalhas em que participei minha aliança de noivado e a corrente com os nomes dela, Rickon e Aryanne sempre estavam comigo. Rickon e Aryanne, os gêmeos que eu havia tido com ela a seis anos, quando estava com 21 anos. Hoje, ela tinha 28 e eu 27. Em meu bolso sempre estava uma foto minha, junto com Mateus, William e Pedro. Fomos amigos durante muitos anos antes de servir o exército juntos. Nenhum dos três queria isso, foram obrigados por ordens do Governo a servir, e tirados de seus empregos para estarem ali. Já eu? Eu queria, sempre quis. Pelo menos até ser chamado, crescer liderando patentes pela Hierarquia e ver a minha Estrela do Amanhecer chorar quando ficou sabendo que eu havia me tornado Coronel e estava prestes a comandar uma tropa que marcharia para os EUA, em busca de soldados brasileiros capturados na Guerra. O choro dela era como um punhal por perfurar meu coração tão profundamente. Meus filhos estavam com três anos na época, eu parti com a tropa, conquistei territórios, perdi homens, o mindinho de minha mão esquerda e ganhei uma cicatriz causada por uma bala em minha perna direita, abaixo do joelho. Aprendi o que era a guerra, o que se tratava não eram mortes nem derrotar o inimigo. Lá, naquele campo de batalha, você tem que cuidar do soldado ao seu lado. Não tem ninguém ali por você, você não está mais servindo o seu país, cuidar do soldado ao seu lado é a sua sobrevivência. Lá, só temos uns aos outros, pois não estamos em casa e sim no território inimigo. Penteava os cabelos de Ashley com meus dedos, quando observei Mateus abraçar Ariel com força. Ela dava um olhar doloroso o que me fez pensar no sofrimento de um rapaz, que sempre considerei como um irmão. Caminhos que eram impossíveis não seguir definiu o futuro deles. Por isso dessa vez eu me preparava mais do que nunca, não só para defender meus homens, e sim defender meus amigos, irmãos. Coronel Alencar. Minha reputação no exército era de pai, pois todos sabiam que eu jamais deixava um homem meu para trás. Vivos, feridos ou mortos. Todos sempre voltavam para casa.
- Amor...
Foi um sussurro tênue que quebrou meus pensamentos, me fazendo olhar para minha amada logo a minha frente.
- Se já vai partir hoje mesmo?
Não podia evitar sentir meu peito apertar quando ela ficava daquela maneira, mas eu realmente tinha que partir. Pelo menos para confortá-la, lembrei de algo que ela cobrava de mim na nossa juventude e meio que me vinguei, de maneira zombeteira.
- Ora ora, não é você que diz que depois da meia-noite já é outro dia? Se irei partir três horas, já será amanhã.
Sorri quando sussurrei tais palavras ao ouvido dela e pude notar que ela riu baixinho, me abraçando com mais força. Por cima dos ombros dela, pude avistar diversos casais que não queria se separar. William dava uma espécie de ultimo beijo em Ana, quando puxou ela pela mão para que saíssem dali. Ambos pareciam sofrer, assim como Luana parecia não querer deixar Pedro partir, o abraçando com mais força a cada momento. Destino cruel. Guerra, qual o sentido de existirem?
Fiz o mesmo que meus três irmãos pouco tempo depois. Guiei Ashley até sairmos do salão. Queria dar uma ultima olhada em Rickon e Aryanne antes de tudo começar. Caminhamos lado a lado, com os braços dela envolvidos em minha cintura, em um abraço leve. Quando chegamos a porta, abri-a lentamente para que ela adentrasse na minha frente. Rickon vinha correndo gritando “Papai, papai” com meu capacete de guerra na cabeça, que mais parecia uma tigela que tampava quase todo seu rosto se ele não o deixasse meio jogado para trás.
- Meu soldado.
Foi o que eu disse, enquanto ria ao erguer ele nos braços para que ele me contasse sobre como havia sido a corrida. Ele podia muito bem usar meu capacete, mas um dia seria um piloto, era o que o garoto adorava. Tinha revistas de pilotos, dezenas de carros de brinquedo espalhados pelo quarto. Sua irmã, estava sentada no tapete assistindo um desfile. Com seis anos e já era linda, aos meus olhos uma princesa que seria uma modelo. Quando me viu não disse nada, apenas saltou como sempre fazia e então ergui ambos nos braços. Um em cada um.
- Meus gatinhos, já ta na hora de dormir.
Sempre que eu dizia isso eles davam um jeito de me dobrar a ficar mais um tempo na sala. O jeito era bem simples. A cara tristinha deles rasgava meu peito. Sim, eu era talvez o pai mais babão que já existiu.
- Só mais um pouco pai, por favor?
- Tá, tá. Só mais alguns minutinhos e eu venho pra levar vocês pra cama.
Soltaram gritos de “ÊÊ” enquanto eu ria e ia para o quarto. Subi as escadas tirando minha farda. Não desprendi as medalhas que já havia recebido nem os utensílios que eram dados a farda de um Coronel. Deixei minha boina em cima da camiseira e me deitei na cama por alguns instantes. Meus olhos se fecharam um pouco enquanto eu estava pensativo. Não tive tempo para os meus pensamentos e nem me queixava por isso. Ashley pulou em cima de mim, apoiando os joelhos na cama e ficando em meu colo. Quando abri os olhos ela sorria, um sorriso que continha preocupação, mas sempre belo e cativante.
- Amor...
- As crianças ainda tão na sala.
Falei rindo, levando as mãos a cintura dela e acariciando ali.
- Ah, que saco.
Sua expressão de decepção, mesmo que de “mentira” era completamente linda. Talvez eu não fosse apenas um pai babão, mas de fato um marido babão. Depois de se debruçar, ela me beijou de maneira afetuosa e eu correspondi a abraçando e prolongando o beijo. Depois disso, desci e levei as crianças para cima, colocando-os em seus quartos. Primeiro Rickon, o qual cobri e acariciei os cabelos antes de beijar sua cabeça e sussurrar um “Te amo filho, durma bem.”
Logo após, deixei Aryanne em seu quarto e fiz o mesmo com ela, mas roçando o polegar na pele macia de seu rosto. “Te amo minha princesa, durma bem”.
Ambos haviam sussurrado “Também te amo, pai”, o que só me deixava a cada dia mais encantado por meus bebês. Depois de lavar o rosto e escovar os dentes, me deitei ao lado de Ashley na cama e a agarrei, fazendo cócegas na cintura dela. A mesma se remexia e ria descontroladamente, logo parei e a abracei, beijando seu pescoço. Alguns minutos depois, dormi abraçado com ela, sem perceber a hora passar.
Vinte paras três da manhã. Meu relógio não despertou, eu já sabia quando a hora chegaria e não precisava mais de qualquer coisa que me despertasse. Me desvencilhei do abraço de Ashley delicadamente para não acordá-la e me levante. Joguei uma água no rosto, e vesti meu uniforme do exército. Por ultimo, coloquei minha farda por cima da camisa e a boina na cabeça. Meu fuzil estava pendurado em cima da camiseira ao lado da bolsa de mantimentos e munições. M4 Carbine, o fuzil que o exército brasileiro usava para combater as AK-47 dos Canadenses. A Guerra se desenrolava pelo fato de o exército brasileiro ter entrado acidentalmente em território do Canadá com alto poderio de fogo em mãos, o que pra eles foi uma ameaça. Encostei-me na janela, fitando o semblante suave de Ashley enquanto dormia que brilhava pela luz da lua. Beijei a cabeça dela, de maneira suava para que ela de maneira alguma acordasse. Assim, peguei a bolsa e a joguei nas costas, segurando o fuzil também. Passei pelos quartos de Rickon e Aryanne e os observei por breves instantes antes de descer as escadas e sair pela porta. Meu capacete de Guerra estava preso na bolsa. Fitei a bandeira brasileira presa nele por alguns segundos em frente a porta da casa, antes de me colocar a passos rápidos pela rua. Quando cheguei ao local onde o ônibus iria nos pegar, fui o primeiro. Mateus chegou pouco instante depois, determinado e com o fuzil em mãos. Assim como Pedro, William, Nickolas, Caio... E um a um os soldados, tenentes e sargentos foram chegando. Ninguém falava nada, todos se cumprimentavam com acenos da cabeça. Quando todos estavam ali, ergui a voz dando um comando rápido.
- Companhia, formação.
Todos entraram em fila na porta dos ônibus e subiram rapidamente. Bruno, Jonas, Antenor eram meus sargentos, entre outros que já estavam na concentração armada estrategicamente. Foram os últimos a entrar e eu fui o ultimo a entrar no primeiro ônibus. Assim partimos para o acampamento.
A viagem também fora calada, poucos soldados conversavam entre si e a maioria mexia em seus fuzis. Eu estava calado, com Mateus sentado ao meu lado, William e Pedro no banco de trás. Mateus mexia na pulseira que estava no braço, que continha o nome de sua filha. Quando ele me viu olhando, ia tirá-la mas o impedi.
- Calma. Pode deixá-la ai.
Sorri e puxei minha corrente, mostrando para ele uma foto de Rickon, Aryanne e Ashley e os nomes deles gravados logo atrás na prata.
- Todos nos temos família.
Ele sorriu. Já me compreendia. Sempre fomos amigos, durante muitos anos. Chegamos no acampamento e o que eu temia se profetizou. Os helicópteros que nos levariam para a batalha já estavam lá. Desligados, mas estavam lá. Descemos do ônibus em formação e todos ficaram a frente de um pequeno palco no qual eu subi e me posicionei atrás dos microfones.
- Senhores, soldados, sargentos, tenentes. Na minha companhia, não existe hierarquia. Vou comandá-los, mas não estou lá para mandá-los para a morte. Lá, no campo de batalha, o inimigo vai querer os nossos corpos sem vida. Lá, sua mãe não estará segurando sua mão. Mas se você olhar para o lado terá um soldado ali, com um fuzil na mão. Cuidem uns dos outros, como se cuidassem das suas próprias vidas. Só assim iremos sobreviver. Lá, no campo de batalha, só terão uns aos outros. E diante de todos aqui presentes, eu lhes prometo. Quando pousarmos, serei o primeiro a colocar meus pés em meio a guerra. Quando vencermos, serei o ultimo a subir no helicóptero para partir. Vivo, ferido ou morto. Ninguém. Eu repito senhores; Ninguém ficará para trás.
Olhei nos olhos jovens deles, com meu coração se apertando cada vez mais e mais. Eles aplaudiram e assim eu desci do palco e os helicópteros foram ligados. Todos subiam, se posicionando lá dentro. Eu fui novamente o ultimo a subir, me posicionando no helicóptero que iria a frente dos outros. Levantaram vôo e assim partimos.
Depois de muito tempo, chegamos lá. Beijei minha corrente uma ultima vez antes de me preparar para batalhar. Luzes, explosões, rajadas, corpos mortos. Era essa a cena que a gente via de cima dos helicópteros, a guerra já havia se iniciado. O local era repleto de árvores, mas a maioria derrubada para criar barricadas ou campos de concentração, tanto aliada quanto inimiga. Os helicópteros pousaram e eu cumpri minha promessa. Um projétil atingiu um soldado ao meu lado. Olhei para trás e compreendi que dessa batalha ele não participaria. Nem dessa, nem de mais nenhuma. Fui o primeiro a descer, colocando meus pés na areia e disparando contra os inimigos que se aproximavam.
- Vão, vão, vão, vão!
Gritei continuamente enquanto liderava a marcha de pelo menos quinhentos homens que iam descendo dos helicópteros e me seguindo.
- Equipe Alfa, prestem auxílio naquela montanha. Equipe Bravo, comigo. Equipe Charlie, vão para o outro lado da montanha dando cobertura para equipe Alfa. Equipe Delta, todos comigo também.
Falei de maneira rápida e autoritária. Estávamos na guerra, não havia tempo a perder. Cada um se instalou atrás de uma pedra, árvore e a maioria se jogou atrás das barricadas. Corpos estavam caídos ao chão e alguns dos meus já sofriam a dor da guerra também, sendo atingidos em diversos pontos. Eu sabia que seria daquela maneira, mas não conseguia não sofrer. Eram meus rapazes. Queria devolvê-los as suas famílias, inteiros, não enrolados em sacos. Mortos. Ergui o braço e disparei, derrubando dois soldados com os tiros que disparei. Eram vários deles e a noite parecia estar prestes a nos envolver. Escondi-me atrás da árvore no momento certo. Dois projéteis rajaram ao lado da minha cabeça. Corri da árvore para a barricada, ficando ao lado dos soldados que usavam a comunicação.
- Situação. – Perguntei rapidamente, logo que me abaixei ao lado deles.
- Equipe Alfa e Charlie estão subindo a montanha senhor Coronel, mas lá tem mais soldados do que a gente imaginou.
- Peça auxílio aéreo, e diga-os que quando a gente limpar aq – Fui interrompido por um soldado que pulou a barricada e passou por cima de mim. Ergui o fuzil e o atingi na nuca. O mesmo já caiu sem vida. – Quando a gente limpar aqui prestará reforços a eles.
- Entendido senhor.
Me levantei e corri para junto de uma equipe que avançava pelo canto da floresta. Dali, segurei o gatinho e descarreguei um pente inteiro em um grupo de inimigos que avançavam. Alguns gemiam de dor, outros já caiam mortos. William apareceu do meu lado. Estava com o braço ferido e enfaixado, mas nada que tirasse ele de combate. Bruno estava no comando da Alfa e Antenor no comando da Charlie. Jonas estava ao comando da Delta e estava do meu lado. Mateus era quem comandava a Alfa e subia em disparada com seus soldados. Ergui a mão e apontei para Mateus. Os soldados da Delta e os outros que estavam ao meu lado correram logo atrás de mim, se posicionando a marcha da Alfa que Mateus comandava. Passei na frente de todos e me coloquei ao lado dele. William fez o mesmo. Não comandava nada, mas se provava um combatente duro. Os tiros e explosões não paravam, até que uma granada eclodiu em meio a nossa marcha, derrubando para nunca mais levantar pelo menos dez soldados. Não podíamos parar de marchar, mas eu não quebraria minha promessa.
- Levem os feridos para os helicópteros!
Muitos deixaram a marcha e pegaram os corpos dos amigos para voltar até a barricada. Enquanto isso o fuzil estava a frente da minha face, como o de todos e disparávamos sem parar contra os inimigos na nossa frente. Muitos deles caiam, e nem seus lança granadas eram o suficiente para nos parar. Para cada um morto nosso no mínimo sete deles pagava. Estávamos em desvantagem por lutar em um território que o inimigo conhecia, mas mesmo assim provávamos que o exército brasileiro era digno de ser temido mundialmente. O dia se seguiu assim, enquanto subíamos a montanha depois de destruir todos que estavam antes no campo que limpamos. Alfa, Bravo, Charlie e Delta se reagruparam depois de colocar os feridos e mortos nos helicópteros para que fossem levados. Ao fim do dia, totalizamos 55 mortos e 123 feridos. Ainda nos restavam 340 homens, o suficiente para assaltar a base principal deles, mas não o suficiente para voltar para casa. Na noite, quando montamos o acampamento, os tiros cessaram por enquanto e a calmaria permitiu a todos arrumar seus fuzis, comer e beber. Eu... Eu pensava em minha mulher, nos meus filhos, nos meus soldados mortos e principalmente em como suas mulheres e crianças estavam ao receber a notícia. A guerra era miserável, mas aquela já estava para terminar. Fui enviado no intuito de dar um fim aquilo e ao amanhecer subiria aquela montanha e cumpriria meu trabalho. Nenhum desaparecido, até agora mantinha minha promessa firmemente. William e Pedro conversavam, enquanto Mateus estava deitado com a cabeça apoiada em sua bolsa. Joguei uma cerveja nele e ele a apanhou e se levantou rindo.
- Seu viado.
Disse, enquanto abria a garrafa e ri e joguei mais duas para William e Pedro.
- Isso é permitido?
Perguntou Will.
- Não.
Respondi com um sorriso maroto e abrindo uma garrafa para mim. Bebemos e rimos enquanto lembrávamos de nossas mulheres e nossos passados. Tanta coisa juntos. Uma leve chuva começou a cair. Como se lavasse minha alma e meus ferimentos. Fomos dormir, mas a cada período uma equipe ficava de vigília. A primeira foi a Alfa e eu fiquei junto com eles, conversando com Mateus.
- Sabe mano, eu não consigo parar de pensar na Ariel.
Eu entendia ele, olhei para as estrelas e o respondi.
- São nossas mulheres. Amores, paixões verdadeiras, irmão. É normal que pense tanto nela quando sua vida corre perigo.
Ele fitou minha face, com um olhar suplicante.
- Não sei o que fazer. Se algo acontecer a mim ela vai sofrer demais e eu vou ser o motivo disso.
Segurei as lágrimas e lancei a ele o sorriso mais determinado que pude.
- A gente vai voltar pra casa. Eu prometo.
Terminamos a conversa com um aperto de mão forte e depois um abraço de irmãos. Will viu e riu, se levantando e abraçando também, logo que Pedro fez o mesmo e nós quatro nos abraçamos rindo.
No outro dia, cinco horas estávamos todos de pé e as centenas de soldados olhavam para mim, com seus tenentes e sargentos ao meu lado.
- Bom senhores, hoje iremos acabar com isso. Subiremos aquela montanha e daremos um fim nessa guerra, para logo voltarmos para casa. “Ya”.
Quando gritei, todos gritaram juntos e sem adiar nos colocamos em marcha montanha a cima. Correndo com os fuzis em mãos, destravados e bem carregados. No meio do caminho o que eu não esperava aconteceu. Uma explosão. Uma explosão que tirou a vida dos meus soldados e em especial de um. Quando olhei para trás, meu olho se encheu de lágrimas. O corpo de Pedro estava inerte ao lado do de Bruno, para nunca mais levantarem. Ia me aproximar, mas ouvi Mateus gritar para que levassem os feridos e mortos lá para baixo e ligassem para os helicópteros virem buscá-los. Então ele me puxou pelo braço, e no sofrimento disse palavras que eu não entendi, mas quando eu virei para frente inimigos se aproximava. Engoli o choro e ergui meu fuzil, disparando nos Venezuelanos. O ódio me deu destreza. A cada disparo, um caia para não levantar mais. Avançávamos lentamente montanha acima, quase chegando na base deles. Quando mais próximos, os rapazes com lança-foguetes ficaram na nossa frente. Derrubaram o enorme portão com dois disparos, revelando uma imensidão de inimigos. Invadimos a base as mortes. Mortes aliadas e inimigas. Ali o fim de tudo aconteceria. Usei também o fuzil como um bastão, arrebentando os soldados que estavam na minha frente. “Clacs” provavam que seus ossos se quebravam com as pancadas. Guinchos de dor provavam que minhas balas iam fundo em seus corpos. A base bem montada, mas eu fui o primeiro a subir as escadas do posto de comando. Sozinho. Cinco deles estavam lá dentro. Fiquei atrás da porta enquanto disparos incessantes vibravam ela. Quando eles cessaram, sabia que eles teriam que recarregar. Dei um pontapé na porta e a abri. Mateus passou por mim como uma flecha e derrubou dois deles com disparo e um com uma pancada forte do fuzil na cabeça. Os outros dois eu matei e de lá de cima, do posto do comando, lado a lado vimos a batalha termina. O cheiro de ferro, fumaça, urina e sangue parecia um só depois de tanto tempo na Guerra. Estava tudo terminado. Nenhum soldado inimigo estava de pé, e apenas 150 dos meus ainda estavam inteiros. A maioria se debatia de dor no chão e muitos nem mais esse luxo teriam, estavam partindo para os céus. Quando vi o corpo de William, corri e desci as escadas com Mateus logo atrás de mim. Me debrucei ao seu lado e segurei sua mão. Olhei para cima e não agüentei mais, chorava e chorava, com lágrimas escorrendo. Um ponto vermelho na testa dele me mostrava que meu irmão não se levantaria mais. Mateus colocou uma mão no meu ombro e apertou e olhando para cima gritei.
- Porque não levou a mim?! Eu daria minha vida de bom grado pela dos meus soldados... Mas agora? Eu nunca vou me perdoar por eles terem morrido e eu não.
Minhas lágrimas eram dolorosas, mas aquele era o fim da batalha. Depois de todos os corpos e feridos serem levados pelos helicópteros os últimos sete pousaram para levar o resto dos meus homens e a mim. Olhei em volta, vendo os corpos dos inimigos empilhados em um canto. Ao menos os que matamos na base deles, deixamos ali para que seu General buscasse os corpos para serem enterrados. Mateus subiu no helicóptero e gritou meu nome. Todos já haviam subido. 145 Mortos, 216 feridos, nenhum desaparecido e 158 homens intactos. Era muito pouco. A quantidade de mortos me perturbava. Cumpri minha promessa até o fim. Nenhum corpo havia ficado para trás e assim fui o ultimo a pisar em um helicóptero e o ultimo a deixar o campo de batalha, sofrendo as dores de uma guerra. Na viagem de volta, eu segurava a corrente em meu pescoço o tempo todo. Estava sujo de sangue, poeira, alguns ferimentos, cãibras e torções, mas nada grave. Depois de um banho ao chegar no acampamento principal, fui recebido aos aplausos. Ganhei a medalha de melhor Coronel, medalha de Companheirismo. Medalhas de honra foram colocadas em cima de todos os caixões. Mateus e Antenor receberam medalhas de melhores combatentes e foram promovidos a coronéis e eu... General. Era assim o fim, tudo havia terminado. Pelo menos por enquanto devolvemos a paz ao nosso pais. Quando voltei para a casa, estava em um táxi. Havia me esquecido que o mesmo taxista era quem enviava os telegramas que reportavam a morte de soldados para seus familiares. Ouvi Ashley gritar para as crianças com uma voz triste e nervosa “Para a cama”. Ela com certeza esperava abrir a porta e receber um telegrama convocando a minha morte. Momentos que as famílias de muitos soldados meus passaram. Mas, ao abrir a porta as lágrimas jorraram dos olhos dela enquanto ela sussurrava “Eu te amo” e eu recebi o abraço mais gentil que poderia querer. Ali, nos braços dela voltei a me sentir seguro de novo, sussurrando “Eu também te amo, meu amor”. Rickon e Aryanne espiavam, já fazia 40 dias que eu estava fora de casa. Desceram as escadas correndo e eu os peguei nos braços como sempre fazia. Distribuíram beijos no meu rosto e eu ia fechando a porta quando olhei para a frente. Mateus me dirigiu um sorriso da casa dele, abraçado com Ariel que estava de costas para a janela e com sua filha nos braços. Eu retribui o sorriso, com Ashley abraçada em mim e as crianças entre nós dois. Pela leve tristeza que o atingiu, sabia que ele pensava no mesmo que eu. William, Pedro, Bruno... eles nunca teriam filhos ou uma família. Fechei a porta, deixei as crianças correndo pela casa e dando um beijo apaixonado em Ashley. Assim, encerrei um pensamento sombrio com outro por cima. “Que Deus os tenha”. Ela aninhou a cabeça em meu ombro e eu comecei a cantarolar uma melodia qualquer, erguendo ela nos braços e sorrindo.
- Eu te amo.

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Re: Entre irmãos

Mensagem por Nicoly Matson Kamyne Seg 08 Ago 2011, 15:36

Chocada...
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Re: Entre irmãos

Mensagem por Ravyn R. Ollicourt Seg 08 Ago 2011, 20:59

Fic realmente boa, mas também estou chocado @_@
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Re: Entre irmãos

Mensagem por 024-ExStaff Seg 08 Ago 2011, 22:16

Simplesmente... Lindo
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Re: Entre irmãos

Mensagem por Luana C. Feither Ter 09 Ago 2011, 14:11

Ah, Gabs. Eu ainda acho impressionante o modo como conseguimos lembrar dos sonhos com clareza.
Está lindo, conseguiu me prender do início ao fim e é impossível de conter as lágrimas.
Luana C. Feither
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Re: Entre irmãos

Mensagem por Lyon Whitelock/Crio Ter 09 Ago 2011, 17:25

Obrigado... Acho.
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Re: Entre irmãos

Mensagem por Dominic Callegari Ter 09 Ago 2011, 17:36

Não sei o que dizer...
Sua fic está mais do que ótima
.
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Re: Entre irmãos

Mensagem por Elizabeth J. Stonem Qua 10 Ago 2011, 15:03

Já disse antes e vou dizer de novo, isso não vai acontecer. Fiquei bastante chocada ao ler isso e até chorei.
Bom, você é um ótimo escritor, escreve muito bem, muito mesmo e...
NÃO VAI ACONTECER! E.E'
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Re: Entre irmãos

Mensagem por Alexia Sinclair Qua 17 Ago 2011, 23:23

Sem palavras, mas com certeza admirada. Acho que como os outros, não preciso escrever muito para dizer o quão incrível está o trabalho.
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