[MISSÃO ONE POST] Inimigos de jogo // galatea s. król

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[MISSÃO ONE POST] Inimigos de jogo // galatea s. król

Mensagem por 141 - ExStaff Sex 26 Out 2018, 17:40


one post



O cassino Lótus era famoso por manter semideuses presos dia após dia, devido a ilusão do tempo não passar nunca, o que de fato era um risco, apesar de ser imerso de diversões mundanas. Galatea havia sido uma das vítimas, porém felizmente ela havia conseguido escapar não se sabe como.

Agora a jovem garota caminhava um tanto quanto apressada pelas ruas da grande Las Vegas, as luzes dos letreiros iluminavam sua pele, as pessoas indo e vindo conseguiam disfarçar seus passos um pouco, mas nada o suficiente para tirar do seu encalço dois homens.

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Re: [MISSÃO ONE POST] Inimigos de jogo // galatea s. król

Mensagem por 156 - ExStaff Dom 09 Jun 2019, 00:49



MISSÃO REPASSADA PARA
Malorie S. Oberholtzer

PRAZO DE 60 DIAS A PARTIR DE 09/06/2019

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Re: [MISSÃO ONE POST] Inimigos de jogo // galatea s. król

Mensagem por Malorie S. Oberholtzer Dom 11 Ago 2019, 23:38


EINE UNGEWÖHNLICHE EINFÜHRUNG!

so what's it all supposed to do, the fire eats fire and the fire's in you


"(...) I stand amid the roar
Of a surf-tormented shore,
And I hold within my hand
Grains of the golden sand —
How few! yet how they creep
Through my fingers to the deep,
While I weep — while I weep!
O God! Can I not grasp
Them with a tighter clasp?
O God! can I not save
One from the pitiless wave?
Is all that we see or seem
But a dream within a dream?"


A dream within a dream - Edgar Allan Poe (1849)

Em uma certa ocasião, Malorie Oberholtzer encontrava-se em uma festa na casa de um conhecido seu no subúrbio de Las Vegas. Era uma noite profunda e o céu assemelhava-se ao mármore negro, tão escuro e tão perfeitamente iluminado pelas estrelas em linhas por toda a sua extensão. Por vezes, o breu era cortado por luzes coloridas de holofotes, criando sombras sinistras em meio ao arco-íris de neon que viajavam como pássaros pelas paredes em uma dança sombria. A música alta e o som de conversas tomavam conta do ambiente em uma melodia de cacofonias e o ar era desagradavelmente fétido, dominado pelos fortes odores de mijo e bebida. Porém, algo naquela junção de elementos era estranhamente viciante, apesar de perigosamente mortífero e aterrador.

Em um certo momento, um garoto que aparentava sua mesma idade se aproximou e a convidou para jogar algo. Ele possuía em mãos um baralho simples já visivelmente envelhecido, fato revelado pelos cantos amarelados e quebradiços que as cartas possuíam. Malorie, por sua vez, que era fisicamente incapaz de recusar um bom jogo e jamais passaria a chance de tirar dinheiro de um babaca qualquer, aceitou. Juntos, dirigiram-se para o lado de fora da parte de trás da casa, onde havia um pequeno terraço com móveis simples e, entre eles, uma mesa agora parcialmente ocupada com copos de bebida. Em conjunto, decidiram jogar Blackjack.

Neste jogo, tem-se o principal objetivo de obter-se mais pontos que os adversários, porém sem ultrapassar o número 21, pois, caso o contrário, o jogo está perdido automaticamente. A melhor mão que se pode obter é um ás com alguma carta que valha dez — dez, Jack, Rainha e Rei de qualquer naipe e cor —, sendo esta a situação chamada de Blackjack. Após breve debate, decidiram um melhor de três, ambos com uma aposta inicial de dois dólares.

Iniciando a primeira rodada, cada um começou o jogo com uma carta para cima e uma para baixo, sendo a virada para cima um dez para Malorie e uma Rainha para o garoto. Ambos decidiram não pegar mais nenhuma carta e revelaram a oculta: Jack para a semideusa e sete para o desconhecido. Sendo assim, Malorie somou 20 pontos e o outro 17, de maneira que ela venceu a jogada.

Seguindo para a próxima, a garota, com agora renovada confiança, iniciou o jogo com um sete e o desconhecido com um três. Ele optou por pegar outra carta, obtendo um dez, mas Malorie não, pois não desejava correr o risco de ultrapassar 21. Revelando as cartas, a semideusa obteve um oito, totalizando 15, enquanto o outro revelou um Rei, totalizando 23, o que o desclassificou imediatamente. Mais uma vez, então, Malorie foi a vencedora.

Riram, juntos, quando ela pegou o dinheiro e o guardou no bolso.

— Parece que você está com sorte hoje — disse ele —, eu mal tive chance.

— O que posso dizer? — respondeu, dando de ombros com um sorriso irônico. — Todo mundo tem um dia de glória.

Dito isso, Malorie se levantou, já partindo para outro local. Quem sabe ela não encontrava outro azarado de merda por aí? Porém, antes que pudesse efetivamente se afastar, foi subitamente interceptada pelo garoto, que segurou o seu braço direito.

Naquele momento, entretanto, algo no mínimo estranho ocorreu, se é que de fato foi real. Por uma fração de segundo, ela olhou para baixo e viu em volta de seu braço um conjunto de dedos esguios e magros de uma cor incrivelmente rubra, como fogo ascendendo ao céu. Nas pontas destes dedos, garras projetavam-se em formas inconstantes com uma aparência suja e cor acobreada. Partes daquele conjunto diferente de unhas roçaram levemente contra o corpo de Malorie, provocando um arrepio em sua espinha.

Quando ela piscou, porém, toda aquela visão bizarra desapareceu, sobrando apenas uma mão comum – apesar das unhas continuarem a ser incrivelmente feias. Ela não foi capaz de se mover por um momento, transtornada pelo que acabara de ver, até que a voz do garoto a puxou de volta para a realidade:

— Espera, não quer jogar outra vez?

A semideusa olhou para o outro, que apenas piscou em resposta, e hesitou brevemente. No fim, o seu vício falou mais alto e ela se reaproximou, convencida de que tudo fora apenas uma mera ilusão. Talvez algum filho da puta houvesse colocado alguma droga na sua bebida e agora ela estivesse alucinando, certo? Certo.

Sentou-se novamente.

— Tudo bem, mas eu quero uma aposta maior. E também não quero choro depois que eu acabar com você!

O outro deu de ombros.

— Fechado.

Mais uma vez, colocaram suas respectivas quantias de dinheiro sobre a mesa. No jogo anterior, o garoto havia distribuído as cartas, então desta vez Malorie faria o trabalho. Enquanto as embaralhava usando as suas técnicas favoritas, os olhos da garota mantiveram-se quase o tempo inteiro no desconhecido, aguardando que algo inusitado acontecesse. Porém, após já ter distribuído as cartas, mais nenhuma ocorrência fez-se visível.

Assim, novamente decidiram por um melhor de três. Inicialmente Malorie possuía um dez e o outro um cinco, fato que o levou a pegar mais uma carta no baralho. Revelando as suas respectivas cartas invertidas, a semideusa obteve um seis, somando 16, e o garoto um nove, somando 14, de forma que ela venceu a rodada. Seguindo em frente, a garota reiniciou o processo de embaralhamento. De repente, entretanto, as suas mãos congelarem quando seus olhos se fixaram por uma breve fração de segundo no rosto do desconhecido à sua frente e, em consequência, foram presenteados por uma visão inusitada.

Pois antes, o que antes era a face simpática do garoto, agora distorcia-se em uma versão bizarra de si mesma. Sua boca alargava-se sobre o próprio rosto em um sorriso levemente maníaco, com dentes pontiagudos alongando-se perigosamente para fora em um mal encaixe, seus olhos eram arregalados e amarelos como ouro derretido, cada um deles piscando e tremendo de maneira independente do outro, suas orelhas eram grandes, pontudas e projetavam-se para o lado como asas de um avião, e, onde deveria estar um nariz, havia apenas uma cavidade vazia.

Malorie encarou a visão petrificada. O desconhecido, por sua vez, inclinou-se para frente, escorregando as mãos pela mesa e derrubando tudo em seu caminho, e se aproximou da semideusa. Em uma voz esganiçada, disse:

— Qual é o problema? Será que nunca te ensinarem a não encarar?  

— V-você… — respondeu trêmula, falhando em formular uma frase completa.

Em resposta, a criatura jogou a cabeça para trás e riu. Então, ele ergueu os dois punhos no ar e golpeou a mesa com força, fazendo a semideusa pular para trás pelo susto. Por fim, a coisa sentou-se novamente e, como se nada houvesse acontecido, sua aparência voltou ao que era antes – ou ao menos quase isso, pois os seus olhos continuavam piscando de forma perturbadoramente dessincronizada.  

— As cartas, vamos continuar — ordenou em uma voz rouca.

Uma parte de Malorie queria desesperadamente perguntar que porra estava acontecendo e sair o mais rápido o possível, mas algo a compelia a continuar. Sendo assim, quase automaticamente, ela começou a colocar as novas cartas na mesa. Desta vez, ela iniciou o jogo com um Rei, enquanto o seu adversário possuía um três. Por conta do número baixo, ele retirou uma carta do baralho, a qual resultou ser um dois. Pela quantia ainda baixa, optou por retirar mais uma, obtendo desta vez uma Rainha. Por fim revelando a carta invertida, Malorie obteve mais um Jack, totalizando 20 pontos, e o outro obteve um Rei, somando 25 pontos, de forma que a semideusa venceu a rodada mais uma vez.

Novamente, o garoto à sua frente começou a rir, porém de forma descontrolada, com os olhos esbugalhados e loucos. Assustada, Malorie permaneceu em silêncio, trêmula, sentindo o medo crescer de forma traiçoeira em sua mente.

Aos poucos, a risada decaiu e ele enfim voltou a falar:

— Você realmente é uma pessoa de sorte, não é mesmo? Eu exijo outro jogo, uma aposta afinal! — esbravejou com potência.

Naquele momento, tudo o que ela queria era escapar, porém, alguma força misteriosa a prendia àquele lugar. Uma voz em sua mente dizia-lhe para sair sair sair sair, entretanto o seu corpo não a obedecia e, contra a sua vontade, reaproximou-se da mesa. Sem controle sobre suas próprias ações, ela balançou a cabeça positivamente, assinalando com o gesto que, sim, estava disposta a jogar mais uma partida, mesmo que internamente ela desejasse arrancar os próprios cabelos fora.

Apesar do conflito, conseguiu dizer em voz baixa:

— Uma melhor aposta. — Engoliu em seco e elevou o seu tom. — Exijo uma melhor aposta. Isso não pode sair de graça.

Por um momento, os olhos da criatura desviaram-se para um ponto aleatório do espaço de maneira pensativa. Quando voltaram novamente para Malorie, um sorriso largo e perigoso tomou conta de sua face.

— Ah, minha cara, não se preocupe. — Sua voz mudou de tom, tornando-se mais grave e distante, como se falasse por meio de uma gravação antiga falhando. — Eu posso te oferecer algo que nunca irá esquecer.

Então, subitamente, ele bateu as palmas das mãos na frente do rosto de Malorie, provocando um som extremamente alto e agudo. Em reação, ela fechou os olhos, tapou os ouvidos e gritou. Tão rapidamente quanto havia surgido, porém, o som cessou e ela tornou a abrir os olhos lentamente.

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A primeira coisa que notou foi que o desconhecido havia desaparecido. Ela se encontrava no mesmo lugar e tudo estava aparentemente igual… exceto, é claro, pelo desaparecimento do outro e pelo surgimento do que aparentava ser um novo jogo de Blackjack sobre a mesa. Na sua frente, Malorie possuía um seis ao lado de uma carta virada para baixo e, do lado oposto da superfície, havia um dois ao lado de um quatro e de uma carta invertida.

Ela olhou em volta, confusa, procurando pelo garoto, mas ele havia sumido completamente. Confusa, passou a questionar a própria mente e a veracidade de suas lembranças. Desejava convencer a si mesma de que tudo não passara de um sonho e, de fato, aquela seria uma mentira fácil de acreditar, se não fosse o coração batendo de forma selvagem em seu peito e o suor escorrendo pelas suas têmporas.

No fim, decidiu que já estava na hora de voltar para casa e se levantou. Varreu os olhos pelo espaço em torno de si mais uma vez, em busca de alguma coisa, qualquer coisa que lhe ajudasse a entender aquela situação, mas não encontrou nada.

Chega. Que se foda tudo isso — sussurrou para si mesma. Então, virou-se e andou a passos largos até a saída.

Sem se despedir de ninguém, deixou o local e começou a caminhar de volta para a sua casa. Inicialmente, seu ritmo era apressado por conta da tensão que invadia a sua mente, porém, quanto mais caminhava, mais os seus pensamentos se clareavam, até que foi capaz de se sentir desacelerando.

Passou a andar de cabeça baixa, pensativa, observando os próprios pés. Momento ou outro, o seu pescoço levantava e ela olhava o brilho dos grandes Cassinos que faziam Las Vegas tão famosa ao longe. Reluzindo como estrelas perdidas em meio à escuridão, aqueles lugares em que a diversão nunca acabava mantinham-se imponentes frente à realidade; as risadas infinitas ecoavam pelo ar e se perdiam no silêncio do deserto. Aquilo até mesmo a fazia sentir falta do Cassino e Hotel Lótus, no qual passara horas incontáveis perdida na diversão. Durante todo aquele tempo, mais um jogo e mais um pensamento enterrado a sete palmos, para nunca mais submergir, mais uma aposta sem nada de importante para de fato ser colocado em prova, pois não havia mais nada de relevante sobrando na sua alma, mais um jogo e mais um número e outra aposta e uma perda e mais um dia e de novo, de novo, de novo. Nada a perder, nada a ser ganho, nada.

A verdade é que Malorie ainda se sentia assim na maior parte do tempo.

Durante a caminhada, em um certo momento, sentiu os seus pensamentos serem interrompidos quando notou um som de passos atrás de si. Inicialmente, apenas ignorou esse fato e o deixou desaparecer, pois não havia nada de incomum em ver pessoas andando no meio da cidade tarde da noite em um lugar como aquele, em que os turistas ocupavam cada canto e cada rua como pragas.

Por curiosidade, entretanto, ela olhou discretamente sobre o próprio ombro e reparou que o ruído vinha de dois homens andando lado a lado alguns metros atrás de si. Estranhamente, ambos usavam a mesma roupa, sendo esta um sobretudo bege, calças escuras, camisas brancas, chapéu marrom e uma gravata vermelha. Em um deles, largas manchas do que se assemelhava a sangue sujavam cada uma das peças. O mais curioso, porém, era que as suas cabeças não possuíam cabelo, orelhas, ou se quer um rosto. Não, no lugar de tudo isso, apenas se enxergava algo que podia ser descrito como uma sombra de três dimensões; uma escuridão com braços e pernas.

Assustada, Malorie virou a cabeça rapidamente para frente e piscou. Parecia que aquela noite infernal apenas tornava-se cada vez mais estranha! Inconscientemente, os seus passos começaram a acelerar, levando-a mais rapidamente pela rua e para longe dali.

Ela logo notou, porém, que ao invés de aumentar a distância entre si e os homens – ou seja lá que merda fosse aquela – e os deixar para trás, eles apenas acompanharam o seu ritmo, permanecendo perigosamente perto. A semideusa sentiu o medo se apossar de seus sentidos e, em consequência, passou a andar ainda mais rápido. Para o seu desespero, entretanto, eles continuaram a seguindo sem problemas.

Procurando outra estratégia, ela decidiu virar em uma rua aleatória, e então em mais uma, mas eles continuavam ali. Em um certo momento, após seguir outra esquina desconhecida, Malorie conseguiu localizar um beco com uma grande caçamba de lixo. Sem opções e sem pensar muito, ela correu e se escondeu atrás do objeto.

Sentou-se no chão e abraçou as próprias pernas, encolhendo-se ao máximo na sombra, e procurou controlar a própria respiração ofegante. Após alguns momentos tensos, ela observou os homens-sombra a alguns metros de distância passarem na frente do beco e desaparecerem rua adentro, por sorte sem vê-la. Por mais alguns minutos, ela permaneceu ali, com medo de se mover, até que, aos poucos, convenceu-se de que estava segura naquele momento.

Levantou-se ainda trêmula, mas com alívio. Ainda por mais um tempo, permaneceu parada, em pé, olhando a rua, pensando em como retornaria ao seu caminho original. Aquela área não lhe era ao todo desconhecida, mas ela havia mudado de rumo de forma inesperada e aleatória, então teria que se mover com cautela.

Quando finalmente decidiu como proceder e deu o primeiro passo para fora daquele buraco, ouviu um som baixo de um sino e, em seguida, alguma coisa se chocou contra um de seus pés. Olhou para baixo, procurando pela fonte, e encontrou uma bola de cerâmica preta. Ela era pequena e possuía estrelas brancas e douradas por toda sua superfície, além da imagem de uma lua crescente branca com um rosto. Havia um sino em seu interior e, toda vez que a bola se movia, o som soava gentilmente.

Malorie se abaixou e pegou o objeto nas mãos, observando-o. Olhou para trás, na direção em que ele viera, mas inicialmente não viu nada no beco escuro. Foi então que notou, por fim, que em uma das paredes havia uma televisão de trinta e duas polegadas que com certeza não estava ali antes. Curiosa, a semideusa se aproximou da tela. A imagem era em preto e branco e mostrava uma mulher com cabelo até a metade das costas encarando uma televisão em uma parede. Malorie se inclinou para olhar mais de perto e a imagem copiou o movimento… como se fossem a mesma pessoa.

Com rapidez, ela se virou para trás, procurando alguma câmera na parede oposta. O que encontrou, entretanto, foi o súbito aparecimento de uma mesa atrás de si. Sobre ela havia em um dos lados de sua superfície uma carta de número dois, uma de número quatro e uma de número cinco enfileiradas e, no outro lado, um seis ao lado de uma carta invertida. A semideusa notou rapidamente que aquela era a mesma configuração de cartas vista antes de deixar a festa, porém desta vez o jogo havia aparentemente avançado.

Hesitantemente, ela se aproximou e pegou a última carta virada, revelando uma Rainha. De seu lado, então, as cartas somavam dezesseis e, do outro, onze. Sendo assim, haveria ela vencido?

Antes que pudesse fazer alguma coisa, uma luz muito forte surgiu de dentro do beco, fazendo-a levantar uma das mãos para proteger os olhos. Aos poucos, a luminosidade diminuiu, até que ela foi capaz de se virar inteiramente e encarar a nova visão: contra a parede do fundo do beco, uma escada feito de fogo havia surgido e, no topo dela, em uma pose vitoriosa e um largo sorriso no rosto, estava o garoto da festa. Aquele. Filho. Da puta.

— Você! — Malorie disse, semicerrando os olhos. O desconhecido, então, começou a descer os degraus lentamente, mantendo a sua pose confiante.

— Apesar de tudo, você continua me vencendo. Bravo! — E abriu os braços de maneira carismática. A garota, por sua vez, cerrou os punhos, sentindo uma profunda raiva tomar conta de seu âmago.

— Mas o que é que você quer de mim, porra?

— O que eu quero? Eu só quero me divertir, e você é bem divertida! Afinal, você sabe muito bem sobre diversão, não sabe? Você passou anos jogando sem parar, eu até diria que agora é parte da sua natureza!

— Eu estava esperando alguém — sussurrou, olhando para os próprios pés, sentindo uma tristeza imensa dominar a sua mente. Todos os dias, ela lutava para esquecer o passado e seguir em frente, mas apenas se afundava cada vez mais em si mesma.

— Sim, você estava. Mas essa pessoa nunca apareceu e olha para você, continua jogando!

— Cala a sua boca! — urrou, com raiva. — Você não entende-

— Na verdade, você não entende. O meu nome é Azzurri, seguidor de Ose. Eu sinto o cheiro dos segredos a quilômetros de distância.

— Não sei do que você está falando… — Deu um passo para trás, incerta.

— Não, mas saberá. Nada é uma coincidência.

— Não entendo o que você quer dizer, caralho!

— O jogo ainda não acabou. — Ele apontou para um ponto atrás de Malorie, que se virou, seguindo a direção indicada. E ali, bem atrás dela, estavam eles: os homens-sombra. Antes que algo ocorresse, entretanto, toda aquela visão subitamente desapareceu em um redemoinho de fogo e sombra, levando-a para um lugar completamente diferente.

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De um segundo ao outro, Malorie encontrou-se sentada em torno de uma mesa redonda em um cômodo cuja decoração era visivelmente antiga, porém abastada. O piso era de uma madeira rica e escura e painéis cuidadosamente esculpidos preenchiam as paredes do chão ao teto. Uma grande lareira de pedra branca era o destaque do recinto, sendo ela cuidadosamente adornada com peças de ouro e porcelana, e um candelabro branco com velas finas pendia de maneira deslumbrante do teto. Um sol pálido entrava por duas janelas, trazendo luz, porém nenhum calor. Na mesa, uma louça fina estava disposta sobre uma toalha branca de renda e flores em torno de um candelabro de prata enfeitavam o seu centro.

Não obstante, o mais impressionante de tudo eram as pessoas que estavam sentadas à mesa. Haviam seis no total, contando com a própria Malorie, e todos usavam roupas antigas de alta classe do século XIX. O inusitado, porém, era que ao invés de cabeças humanas normais, cada membro da mesa possuía uma cabeça de animal, tal como os deuses egípcios eram retratados nas paredes das grandes pirâmides. Via-se, assim, um homem com cabeça de coruja, uma mulher com cabeça de lobo e três meninos de idades próximas com cabeças de gato.

— Mas que merda é essa?! — exclamou a semideusa de supetão.

Logo se arrependeu quando a mulher virou a cabeçorra para ela, com os olhos canino tomados pela raiva.

— Menina insolente! — gritou em alemão. — Eu já te disse para ter maneiras à mesa!

— Já chega! — O homem exclamou, batendo com um punho na mesa. — Não quero ouvir mais vocês duas! Agora, comam.

Engolindo em seco, a semideusa olhou para baixo e quase vomitou com a visão, pois em seu prato, assim como de todos da mesa, estavam dispostas tripas frescas em uma poça de sangue. Os outros pareceram não reagir àquilo, pois começaram a comê-las de forma animalesca, literalmente, pegando o conteúdo com as mãos e espirrando o líquido rubro para todos os lados. Malorie tapou a própria boca para segurar o vômito e fechou os olhos, desejando que tudo aquilo desaparecesse, mas ela não teve tanta sorte, é claro, pois quando os abriu novamente, a cena continuava se desenrolando.

Exceto que, ao menos, houve uma mudança. Os objetos no centro da mesa foram substituídos por um baralho e quatro cartas, duas viradas para cima, duas viradas para baixo. Sem hesitar, a semideusa se jogou por cima da mesa e pegou as cartas mais próximas de si, obtendo um sete e um seis. Os demais presentes continuaram com a refeição como se nada houvesse acontecido.

Uma porta atrás de si abriu, então, e Malorie se virou. Lá estava Azzurri em sua forma humana, sorrindo. Em uma de suas mãos, ele mostrou suas cartas: um oito e um Rei.

— Ora, ora, — disse ele — parece que eu finalmente venci! — E começou a rir descontroladamente.

Mais uma vez, o cenário desapareceu completamente e foi substituído por outro. Desta vez, Malorie encontrava-se no topo de uma colina em um campo aberto e uma chuva forte com pingos grossos caía de um céu enegrecido pelas nuvens da tempestade. Mato crescia até a altura de seus joelhos, e parte da vegetação roçava de forma insistente em suas pernas. Apesar do escuro, era possível notar que o solo daquele lugar era completamente dominado por flores coloridas, que balançavam de um lado para o outro com o vento em uma dança exuberante. Alguns metros ao lado, na parte mais plana do campo, era possível ver um pequeno fio d’água correndo com rapidez.

Por um momento, ela apenas olhou em volta, cerrando os olhos. Era muito difícil enxergar qualquer coisa com a chuva e com o escuro, mas, mesmo assim, ela conseguiu ver no pé da colina duas figuras paradas lado a lado: os homens-sombra estavam ali.

Alarmada, ela começou a correr para o outro lado e, em resposta, eles rapidamente começaram a segui-la colina acima. Com todo o cenário caótico, entretanto, após correr por alguns metros, Malorie tropeçou em alguma coisa no caminho e caiu no chão, fato que permitiu que eles a alcançassem.

Sem opções, ela olhou para cima e colocou um dos braços na frente de seu rosto, protegendo-se enquanto tentava se levantar.

— O que vocês querem?! — gritou em voz alta para que pudesse ser escutada em meio à tormenta.

Sem responder, as sombras se aproximaram com mais rapidez, avançando em direção a ela. Entretanto, ao invés de atacá-la, como esperava, algo completamente diferente ocorreu. À medida que se aproximavam da semideusa, os homens-sombra também passaram a se aproximar um do outro, de lado, até que os seus corpos começaram a se juntar em apenas um, como duas peças de um quebra-cabeças encaixando. Assim que a união se completou, uma luz cegante incidiu por um breve segundo, até que se apagou, revelando o rosto com o qual Malorie sonhava todos os dias: o de seu pai.

Seu pai, aquele homem que invadia os seus pensamentos a cada momento, cada segundo. Como se fora ontem, ela se lembrava da última vez que o vira; ambos no Cassino, quando ele anunciou que sairia e voltaria logo, e então ele se foi e a semideusa o esperou e o esperou e o esperou e o esperou e o esperou e o esperou, mas ele nunca voltou. E ela não queria admitir a verdade, mas uma parte sua continuava o esperando e nunca desistiria de o encontrar, pois tudo o que ela queria era ter a pessoa que mais amava no mundo de volta, mesmo que a dor do abandono dilacerasse a sua alma segundo a segundo.

Ela se levantou, chorando copiosamente, mas não sentiu a água escorrendo pelas bochechas, pois a chuva era forte demais. Um misto de felicidade e tristeza a invadia, fazendo o seu coração quase explodir enquanto a sua alma despejava, refletindo a tempestade acima de sua cabeça. O alívio de finalmente encontrar o que esperava quase retirou todo o seu fôlego.

— Pai, eu esperei por você. — disse, erguendo os braços para finalmente abraçá-lo e, quem sabe, deixar que a chuva finalmente lavasse a sua tristeza.

Ele sorriu e ergue os braços também, pronto para recebê-la, porém, antes que tivessem a chance de se encontrar, o sorriso do homem subitamente desapareceu, e sua expressão de felicidade pura foi substituída por uma de dor e angústia. Com os olhos arregalados, ele tossiu uma vez, trazendo sangue para os seus lábios, e caiu. Foi apenas nesse momento que Malorie viu, petrificada, uma adaga de cabo prateado perfeitamente esculpido cravada em suas costas.

E atrás dele, em pé em uma postura altiva, encontrava-se uma mulher. Ela era alta, sua pele era pálida como o brilho da lua, e o seu cabelo castanho chegava-lhe até a cintura. Encontrava-se completamente nua e as solas de seus pés estavam sujas pela terra e pelo sangue que agora se misturava à água da chuva e viajava por entre a vegetação. Fora esse detalhe, porém, ela era perfeitamente imaculada, como porcelana. Assustadoramente, em sua cabeça, como um capacete, encontrava-se uma cabeça de coelho fenomenalmente grande, com o pelo branco encharcado e, em certas partes, apodrecido.

A semideusa deu passo incerto para trás, em choque, e abriu a boca para gritar, mas não conseguiu, e então ela tentou gritar e tentou gritar e tentou gritar e tentou gritar e tentou gritar e tentou gritar e tentou gritar e tentou gritar e tentou gritar e tentou gritar e tentou gritar, mas não conseguia produzir som algum. Recuando cegamente, ela escorregou e, sem apoio nenhum, caiu.

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Malorie caiu, mas nunca atingiu o chão, pois ao invés de encontrá-lo, viu-se descendo e descendo e descendo em meio a um fluido. De olhos fechados, ela não conseguia identificar a sua cor, mas o seu cheiro e o seu gosto eram ácidos, metálicos e fortemente nauseantes. Eventualmente, sentiu uma mão agarrar o seu braço e a puxar para cima, levando-a para uma superfície sólida. A garota agarrou-se ao recém descoberto apoio, tossindo, e finalmente abriu os olhos. Os seus braços, as suas pernas e todas as outras partes de seu corpo estavam molhadas por uma cor vermelha, de maneira que ela compreendeu que acabara de submergir de um rio de sangue.

Naquele momento, encontrava-se em uma pedra negra quadrada. Em um dos lados do quadrado, encontrava-se a correnteza da qual Malorie viera, enquanto nos outros três via-se paredes altas de pedra negra queimando em fogo. No centro, Azzurri, o seu improvável salvador, encontrava-se sentado em uma mesa, agora em sua real forma vermelha, grande, musculosa e aterradora. Sua pele rubra brilhava com as chamas e os seus olhos dourados luziam com hesitação. Seu sorriso era largo pavoroso e o ar extremamente quente e sufocante completavam a atmosfera quase insuportavelmente opressiva do ambiente.

Com o corpo rígido por conta do sangue seco, Malorie caminhou até a mesa e se sentou pesadamente. Com um olhar intenso, encarou o demônio na sua frente.

— E então finalmente nos encontramos para o nosso último jogo. — Ele disse, sorrindo desdenhosamente. Com as unhas compridas, empurrou o baralho em direção à semideusa.

Ela o pegou nas mãos e o embaralhou, como já fez tantas outras vezes, e colocou as cartas na mesa, manchando-as de vermelho. Um Jack para si e uma carta número um para Azzurri.

— Talvez você me odeie agora, mas com o tempo você verá que eu lhe revelei o segredo mais precioso que existe. — Ele pegou outra carta na pilha, obtendo um dez. — Muitos passam as suas vidas em ilusões, alimentando-se do inexistente. Bom, eu lhe mostrei a lição mais preciosa de todas, eu lhe mostrei que em um jogo, quando se há inimigos, eles devem ser aniquilados. — Azzurri desvirou a sua carta, revelando um nove e, portanto, somando 20. — Hoje, eu te dei o presente mais precioso de todos: o de saber o que está por vir. E então, como é que vai ser?

Ela desvirou a sua própria carta e sorriu de forma sarcástica. Sua mente estava em um estado tenso e sombrio, como se fosse uma sombra de si mesma. Todo o medo e a confusão que sentira naquela noite transformaram-na em uma casca do que era, uma muralha em seu próprio reino. Sendo assim, pegou ambas as cartas em sua mão e as mostrou para o demônio, que em resposta se pôs a rir de maneira estridente. Pois ali, em suas mãos, encontrava-se um ás e um Jack.

— Blackjack — disse devagar, saboreando cada sílaba, cada letra. — Algum dia nós nos encontraremos novamente e eu farei você se arrepender de ter me conhecido.

Rindo ainda mais, ele se levantou e ergueu uma de suas mãos em direção a ela. Apesar de tudo, Malorie aceitou, levantando-se.

— Você derrotou um demônio essa noite. Vamos dançar! — E eles deram os braços e começaram a girar e cantar, até que não aguentaram mais estar de pé.

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Re: [MISSÃO ONE POST] Inimigos de jogo // galatea s. król

Mensagem por 156 - ExStaff Qui 15 Ago 2019, 11:53



Inimigos de Jogo

Puts, perfeita. A missão foi incrível do começo ao fim, ainda que você não tivesse muitos pontos obrigatórios. Parabéns pelo desenvolvimento, sinceramente, não parece nem um pouco que você ficou tanto tempo sem escrever. Valeu a pena toda a espera! Parabéns de novo!

Resultado

Sua recompensa máxima se baseia em 300 xp + 30 dracmas + item.

— Coerência: 50 de 50 possíveis;
— Coesão, estrutura e fluidez: 25 de 25 possíveis;
— Objetividade e adequação à proposta: 15 de 15 possíveis;
— Organização e ortografia: 10 de 10 possíveis.

• Subtotal: 100 (*3)
• Total: 300 xp + 30 dracmas + item (abaixo)

₪ {Inline} / [Adaga simples e elegante feita de bronze sagrado, curta e de duplo corte. A lâmina possui 8cm de largura, afinando-se ligeiramente até o comprimento, que chega a 20cm. Não possui guarda de mão e o cabo é de madeira revestido com couro, para uma empunhadura mais confortável; acompanha bainha de couro simples.] [Madeira, couro e bronze sagrado.] (Nível mínimo: 03) {Não controla nenhum elemento} [Recebimento: Inimigos de Jogo, avaliada e atualizada por Afrodite]

Descontos


MP = 20 MP
HP = 10 HP

20 MP e 10 HP



Atualizado

por afrodite


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Re: [MISSÃO ONE POST] Inimigos de jogo // galatea s. król

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