{Youngblood} — MNE para Evangeline K. Manske e Miranda Belotto

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A respiração de Evangeline era regulada e calma, e se diferia totalmente de sua mente: esta, sempre em alerta, estava preocupada com a possibilidade do pai abrir a porta de seu quarto naquele exato momento. Entretanto, pedira para Joshua distrair o homem durante toda a tarde, não pedira? Imaginava que podia confiar no irmão para aquilo, muito embora ele fosse totalmente submisso a Bartholomew Manske.

Mas tinha tanto medo. Não conhecia nada do mundo, afinal. E se ele realmente fosse perverso como o pai dizia? E se todos fossem tão religiosos — como a própria família — ao ponto de julgar Evangeline por quem ela era? Sabia que era lésbica, e recentemente descobrira também que tinha sangue divino. As coisas pareciam confusas e incertas demais, de modo que ela não conseguia se decidir sobre o que fazer. Você nunca vai saber se não tentar, Eviee.

Foi com esse pensamento que saiu de seu quarto no segundo andar pela janela, utilizando a escada que o irmão havia propositalmente deixado lá fora para chegar até o chão. Estava livre. Pelo menos por aquele instante, já que tinha a intenção de voltar para a família mais tarde. Ainda não conseguira toda a coragem de que precisava para fugir definitivamente; o que o irmão pensaria dela, afinal? Nada de bom, certamente. E se importava demais com o que os outros pensavam dela.

Correndo para longe de sua rua, sorriu ao sentir o vento bater em seus cabelos. A liberdade parecia encantadora.

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Miranda não queria deixar seu nervosismo transparecer, mas sabia que se olhassem bem para ela, notariam como se sentia. Finalmente havia sido escolhida entre as outras novatas para participar de uma missão com as veteranas o que para ela implicava em muitas coisas. Quando entrou para a caçada quando descobriu de fato o quão perigoso podia ser o mundo divino, não tinha nenhuma expectativa, ainda tão jovem quanto era. Entretanto isso mudou.

Conforme aprendia e evoluía junto das caçadoras de Arthemis, sua ambição por ser reconhecida e aceita pelas demais cresceu, apesar dela guardar isso para si e desistir dessa ideia após um ano. Afinal, era melhor não criar expectativas. Teve bastante contato com outras novatas como ela e muitas demoraram anos para perceberem o que ela percebeu cedo: eram imortais, então sempre seriam consideradas novatas para as “mais velhas”.

Belotto dedicou-se então as missões que lhes foram designadas, a maioria sozinha e, apesar de não gostar de admitir, nem todas tinham tido um bom resultado e isso a fez cada vez mais se empenhar em conquistar algo para si individualmente e não esperar uma aprovação das outras irmãs, mas no fundo o chamado para esta última missão a tinha retirado da sua bolha de indiferença, fazendo renascer os seus antigos sentimentos de caloura.

Entretanto o momento atual era preciso deixar de lado todos estes pensamentos e focar-se apenas no objetivo: localizar e abater um abutre rasgatripa. O animal havia feito vítimas entre os mortais de Portland, o que resultou na missão em que estava. Suas irmãs o rastrearam até Forest Park e era onde estavam no momento.

As trilhas eram espaçosas e o local muito verde e bonito, entretanto havia muito movimento de mortais e isso era um perigo tanto para elas quanto para eles. Uma batalha seria travada com toda certeza e quanto menos eles ficassem cientes melhor seria.

Miranda se mantinha na retaguarda do seu grupo, ouvindo o grasnar no céu do alvo, mas as caçadoras estavam atrás do ninho. Estavam próximas e graças aos deuses era em uma área de vegetação, própria para o lar de uma ave. Haviam se espalhado para cobrir uma área maior e assim otimizar a procura enquanto ela cuidava para que não fossem pegas desprevenidas por trás. A mais experiente das quatro fez um sinal com a mão, indicando que havia encontrado o ninho.

Prendendo a respiração em antecipação, Miranda avançou com cuidado para junto das outras.

Panic!:

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Estava perdida. Nunca andara sozinha pelas ruas de Portland e, quando tinha a oportunidade, não sabia bem o que fazer ou para onde ir. Por causa disso, assim que viu o primeiro estabelecimento agradável aos seus olhos, decidiu entrar. Era um bar cheio de gente, o que fez os pelos de Evangeline se eriçarem. Gostava de interagir com as pessoas, muito embora geralmente fosse proibida de o fazer.

Enquanto andava entre as mesas, notou uma pessoa que chamava sua atenção dentre todas as outras. Estranhamente, era um homem. O que estava acontecendo com ela? A mente começou a ficar confusa, questionando o que realmente sentia. Por que alguém do sexo masculino lhe deixaria daquele jeito? Certamente não sabia.

Sem saber exatamente o que estava acontecendo, mas sem conseguir resistir ao charme do homem que se encontrava um pouco à frente, aproximou-se dele, que tanto se destacava entre todos os outros rostos. Sorrindo, tocou em seu ombro.

— Com licença. Eu te conheço de algum lugar?

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Uma criatura como aquela que caçavam já era perigosa, agora mãe de uma ninhada era pior ainda. A jovem já imaginava que seria uma luta complexa, mas a nova descoberta piorou tudo. Olhando ao seu redor, confirmou a posição de suas irmãs enquanto tentavam montar posição ao redor do ninho e da criatura para que o ataque viesse de várias direções e não uma apenas um foco.

Infelizmente não tiveram o tempo necessário para se posicionar como pretendiam, e o abutre avançou sobre a irmã que primeiramente havia encontrado o ninho. Como uma unidade bem treinada, todas miraram suas flechas na criatura para acerta-la da posição em que se encontravam enquanto a caçadora alvo se defendia por conta própria.

Panic!:

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Ao ouvir as palavras do homem, Evangeline enrubesceu e sorriu. Ninguém nunca havia lhe tratado daquele jeito. Em casa, o máximo que recebia de palavras gentis era do irmão, quando dizia que ela era diferente. Entretanto, nunca havia tido sua beleza elogiada, embora soubesse inconscientemente que era bonita. Enquanto o desconhecido se levantava, a semideusa arrumou o cabelo e ajeitou a postura. Naquele momento, sequer ligava para sua sexualidade; se importava mesmo era com a atenção que recebia.

— Que tal darmos um passeio? Gostaria de passar um tempo maior com você — disse o homem, sorrindo.

Sem pensar duas vezes, Evangeline concordou e enlaçou seu braço no dele. Quando saíram do bar, a garota chegou a pensar que não tinha como reconhecer para onde estavam indo; afinal, nunca andara por aquelas ruas. De todo modo, não se importava. Gostava de como era tratada por aquele desconhecido, e só isso já bastava para ela.

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O grito alto da criatura ao ser acertada pelas flechas das donzelas assustou Miranda. Ao vê-la abrir as asas, a donzela preparou a próxima seta esperando o ataque, porém o abutre levantou voo em fuga. Atordoada, a jovem olhou para as irmãs. Esperava que fossem abater a criatura ali e que ela resistiria por causa do ninho, mas ao que parecia o instinto de sobrevivência falou mais alto para ela.

— Você fica aqui para o caso dela voltar. Nós vamos perseguir nosso alvo. — Ditou a caçadora que havia sido atacada e agora recuperava seu arco do chão.

Miranda concordou com a cabeça acatando a ordem da superior. Sem nenhuma outra palavra as três correram na direção do abutre enquanto a filha de Deimos se preocupou em olhar melhor em volta atenta a qualquer som que denunciasse uma aproximação.

Panic!:

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Sozinha com o ninho, Miranda suspirou, abaixando o arco. Preferia ir atrás da criatura com suas irmãs à ficar de vigília, mas ordens eram ordens e ela não estava em condição de desrespeita-las. A jovem encontrou um local para se apoiar e ainda ter uma boa visão do ninho. Não esperava ficar ali por muito tempo.

O som de passos alertou a donzela, porém o andar despreocupado deixou claro que não seria suas irmãs. Do lugar onde estava, pôde ver um casal caminhando de braços dados vindo em sua direção. Sua primeira reação foi uma careta de nojo, imaginando porquê estariam indo para lá, mas então esta mesma pergunta a fez pensar melhor. Com um olhar mais atencioso, a caçadora notou que a jovem não parecia estar normal, seu olhar encantado para o homem ia além natural.

A jovem então deu alguns passos tentando ficar no caminho da dupla, chamando a atenção para si.

— Olá, vocês vieram ver os pássaros? — perguntou indicando o ninho. Miranda tinha receios de que aquele homem estivesse levando a jovem para o meio da floresta na tentativa de abusar dela ou machuca-la de alguma forma.

Panic!:

De braços dados com o homem desconhecido, Evangeline sorria e dava passadas bastantes despreocupadas. Tinha de admitir que era um dia lindo! Havia poucas nuvens no céu, e a leve brisa fazia seus cabelos balançarem de um jeito bonito. A prole de Melinoe sempre fora do tipo de pessoa que se importava com essas coisas toscas… Então, quando percebeu que iam para algum lugar que parecia um parque, ficou instantaneamente mais feliz.

Pretendia falar que adoraria passear pelo parque, pois nunca havia de fato o feito, mas uma garota pequena deu alguns passos e parou em frente o casal. Com olhos curiosos, Evangeline a observou. Ela parecia diferente, mas não sabia exatamente como.

— Pássaros? Eu adoro pássaros! — Disse, com os olhos brilhando.

Os pássaros eram livres, em sua maioria, e a semideusa admirava aquilo. Aproximando-se da outra garota, encarou-a com olhos ansiosos.

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A animação da jovem para com os pássaros foi a deixa perfeita para se aproximar mais, estendendo a mão direita esperando que ela a segurasse para a puxar para mais perto — e consequentemente para longe do homem.

— Bem, esses pássaros são diferentes, encontrei eles por acaso aqui. — Conforme falava, tentava manter uma distância segura entre eles. — Vi a mãe deles a pouco tempo, então me aproximei. Pensei que vocês também estavam aqui por causa deles.

Definitivamente Miranda não gostava das atitudes daquele homem.

Panic!:

Assim que mostrou animação por conta dos passáros, a garota à sua frente tentou pegar sua mão e encaminhá-la para longe do homem. Ela falava algo sobre eles serem diferentes, mas Evangeline não sabia muito bem o que aquilo queria dizer. Era fato, entretanto, que estava bastante interessada. O sorriso estampado no rosto mostrava isso bem, assim como os olhos brilhando.

Desse modo, caso não fosse impedida pelo homem, aceitaria continuar andando com a desconhecida, uma vez que os pássaros pareciam mais importantes do que a figura masculina. Não via motivo para que ele a interrompesse, contudo, já que estavam apenas dando um passeio inocente.

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Para a surpresa de Evangeline, o homem que a acompanhava protestou contra seu passeio até o pássaro; chamando este de abutre, sugeriu que continuassem o seu caminho. Mas a prole dos fantasmas de fato queria muito ver os animais, de modo que fechou a cara e cruzou os braços. Estava prestes a fazer qualquer comentário infantil quando, de repente, ouviu um grasnado ameaçador e asas batendo acima de si.

O pássaro estava ali, em cima deles. Para a surpresa da semideusa, entretanto, não parecia nada amigável.

Ao mesmo tempo em que o homem soltou um palavrão, a garota ao lado de Manske agarrou seu braço com certa urgência. Parecia dominar mais a situação do que ela, porque seu olhar claramente dizia para que não contestasse. Assim, a pequena tentou puxar Evangeline para trás de uma árvore próxima, na intenção de que se escondessem do pássaro que havia acabado de aparecer.

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Ao ouvir o protesto do homem, a donzela refreou sua vontade de revirar os olhos, limitando-se a dar um passo à frente aproximando do outro para lhe cuspir algumas palavras mal criadas. Entretanto o grasnar acima de sua cabeça, a fez calar-se e desviar a atenção do macho e focar no perigo real que era a criatura ao qual havia vindo abater com suas irmãs.

Agarrando a jovem emburrada pelo braço, tentou puxa-la para a árvore onde antes estivera montando guarda. O agarre foi firme o suficiente para que ela percebesse que não estava de brincadeira em relação à situação e que era crucial que se afastassem. Caso conseguisse escondê-la da vista do abutre, a caçadora armaria seu arco, pronta para atirar caso fosse necessário.

Se suas irmãs ainda estivessem perseguindo a criatura logo estariam ali com ela.      

Panic!:

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