[RP Fechada] - Summer

the start of something new

Camila admirou a fantasia vivida por Annelise desde o momento que a conheceu no Acampamento. A garota acreditava piamente ser a detentora de todo o poder mágico do universo, ainda que fosse uma iniciante e herdeira de uma deusa menor — um título mais simpático para menos relevante.

Num contexto em que os deuses vivem seu declínio, quase esquecidos, ter seus dons oriundos de qualquer integrante do panteão além dos Olimpianos era sinônimo de fracasso. Ainda assim, a força de vontade da filha de Hécate a fazia minimamente notável.

As duas vinham trocando mensagens de Íris depois de uma dramática separação. Annelise foi o pivô de atrocidades infames dentro do Acampamento. Camila imediatamente se desemaranhou da amizade problemática. Ainda estava muito cedo para se envolver em atritos tão espinhosos.

Uma vaga de emprego longe o suficiente dos olhos do centauro milenar e sua trupe de escoteiros — e, ainda por cima, sob a tutela de um semideus mais experiente — fez os olhos acinzentados de Narvaez cintilarem. Era o momento ideal para um reencontro com a controversa personalidade de Annelise Zastrow (com quem, mesmo nutrindo certo laço de afinidade, sempre manteve um pé atrás — não se pode confiar em psicopatas que descartam os próprios irmãos).

Estalou um beijo no ar quando sentiu a frieza transmitida pelas mãos da morena se espalhar pelos ombros com o toque. Annelise ainda sustentava seu semblante repleto de cinismo e ebriedade, com os olhos tão fundos quanto alguém sob efeito de entorpecentes por dias. Camila era o exato contrário. Roupas limpas, claras e rosto e cabelo sempre arrumados minuciosamente — na perfeita assimilação de boa moça.

Uma pontada de surpresa contida quis emoldurar uma expressão desgostosa no rosto. Camila se conteve cautelosamente, tentando encobrir o espanto com o ambiente sujo e mal decorado com um sorriso amargo. Se apressou para se acomodar num dos bancos de madeira — extremamente desconfortável — em frente ao balcão.

Imediatamente reconheceu Roman Lacroix, o anunciante. Teve de abaixar o rosto, escondendo-se entre as próprias madeixas, para torcer o nariz. Imaginava alguém muito mais imponente do que um bebum fedorento. Com unhas encardidas e roupas chamuscadas, Roman não conotava autoridade alguma.

O comentário do rapaz — sórdido e de cunho sexista — expulsou uma risada sarcástica por parte de Camila. Ela teria o prazer de passar uma lâmina serrilhada na jugular de Roman na primeira oportunidade que tivesse, logo depois de usurpar o máximo de proveito que fosse possível do rapaz.

— Não vai se arrepender, Roman — começou, confiante —, pode acreditar. Somos a sua melhor opção no momento... — emendou, passando a girar os olhos curiosos pelo recinto, para então completar: — E é perceptível que você não tem muitas.

Camila trabalhou muito bem nas palavras e no timbre inocente. Suas palavras ásperas eram agridoces. Entregavam pungência com sutileza. Sentiu a cabeça arder com a hostilidade da amiga. Sendo a prole da deusa da sabedoria, Camila era uma diplomata por natureza. Precisava intervir imediatamente.

— Por mim, dinheiro não é problema — intrometeu-se na fala precipitada de Annelise, visando corrigi-la. — Estamos aqui à negócio, assim como você. O que tem a nos oferecer, além de um trabalho de segunda? — depois disso, aproximou-se do ouvido de Zastrow, falando baixo o suficiente para que somente ela fosse capaz de ouvir. — Sejamos sinceras, Anne. Para que você receba uma fatia dos lucros, é preciso que alguém venha até aqui comprar alguma coisa. Com que frequência você acha que isso acontece?

the start of something new

Era exatamente aquela sensação que Camila gostaria de ter o tempo todo: a de estar no controle.

Depois de conseguir convencer Roman que ter duas semideusas sob sua guarda era uma boa coisa, não conseguiu conter a felicidade num simples sorriso. O rosto todo se inflamou com a pequena parcela de sucesso.

A verdade é que não se interessava minimamente por possíveis instruções que Roman pudesse fornecer no futuro. Ela poderia aprender tudo sozinha, se quisesse. O que queria, mesmo, era um cão de guarda para vigiar sua estadia fora do Acampamento, para que pudesse tramar seus planos em paz.

— Me parece perfeito, Roman! — exclamou, tentando parecer excitada em ser aprendiz de um construtor fracassado. — Qual será nossa primeira lição?