{Re: Newal - RP fechada de Killian e Cheryl}

As pernas queimavam, o desgaste da irrequieta movimentação por sobre a rocha tornava-se ainda maior ao considerar a friagem que dominava a floresta como uma neblina invisível, esfriando e contraindo os músculos dos que ousarem ali se aventurar. Suor delineava o corpo do jovem como gotas solitárias de orvalho o fariam nas esverdeadas lâminas em uma mata tropical, pequenos lagos eram formados nas mais diversas partes do corpo, negando os efeitos do recente banho quente. Ansiedade era outro problema, o coquetel com medo e preocupação necessitava de uma boa quantidade de litros de vodka para deslizar smoothly pela garganta seca do herói destronado. Obviamente aquilo só acontecia com ele, e nos piores momentos possíveis.

Galahad forçou os pulmões a uma respiração mais profunda, uma tentativa de unir as fibras de seus nervos em um nódulo central e controlado, as pernas finalmente interrompendo seu processo de vibração para fomentar um momento de estática. Os olhos fechados transfiguravam a face em uma máscara polida com paz e segurança semelhante a uma escultura de mármore, as mãos fechadas como garras ao redor da caixa, defendendo o conteúdo da mesma com sua própria vida, a postura reta mantinha os delineados músculos alinhados como um terno italiano.

O expirar parecera arrancar o trash talking que apossara-se de sua mente, preenchendo as lacunas com determinação, afinal perder ele não iria. Tentando adotar uma postura mais relaxada o jovem boxeador galgou as pedras até se encontrar no topo do punho novamente, aproveitando-se da altura para observar o mundo que se desfraldava a seus pés. A floresta era o mais fácil de observar, quilômetros e mais quilômetros de um domo foliáceo que dançava ao sabor do vento, de um lado era possível apontar as turmalinas ondas quebrando contra os bancos cinza-amarelados de areia, enquanto que do outro o acampamento se espalhava,  campo de morangos, a arena e o mais importante naquele momento: os chalés, quais Kill observava avidamente em busca de um movimento sequer.

Bem Basiquinho:

Olhos cinzentos se acenderam ao perceber o desprendimento de uma sombra do mar de escuridão que cercava a área dos chalés, o momentâneo autocontrole estipulado pelo jovem via seu fim tão rápido quanto a fervorosa frequência em que os átrios e ventrículos começavam a ribombar em sua caixa torácica. A respiração falhou levemente ao acompanhar a locomoção da curvilínea efígie, uma adorável expressão sombria provavelmente a pintar-lhe a face. E por um segundo — talvez menos — Kill cogitou fugir, levantar de sua posição de gárgula e embrenhar-se pela mata até o outro lado da barreira mágica. Todavia, tal ação não lhe era aceitável, ele já se escondera do real enfrentamento por muito tempo, se atolando em missões das  mais simples às mortais só para evitar pensar no término. Ainda doía.

Um novo suspiro assolou o rebento da força, o posto de herói não ensinava a lidar com o amor, ou qualquer sentimento for that matter, a pressão e cobrança por perfeição — ou ao menos, ocultação das imperfeições — transformava flertes em falhas triviais de conduta e relacionamentos em um escopo de fraqueza devidamente aproveitado pelos oponentes. A bem da verdade, o garoto se questionava o porquê da garota ter aceito seu cortejo, considerando o quão questionável o passado do mesmo era. Tal pensamento, entretanto, foi logo posto de lado, quando a mente, traiçoeira, trouxe a tona as incisivas palavras ditas durante a querela que resultou o fim do namoro.

Ele não era tão estúpido ou egocêntrico como imaginavam, ele admissivelmente conhecia seu erro, fora muito filho duma puta para com a garota, contudo machucou ter todos seus pedidos de desculpas — que pertenceram a um processo acelerado de escalada ao desespero — rejeitados tão friamente. Ele não tirava a razão da filha do olimpo, ambos conheciam os problemas de confiança uns dos outros, mas… “Você melhor que ninguém deveria aprender a deixar o passado no lugar dele, seu pedaço de merda de unicórnio.” A voz ecoada em seu crânio — do próprio albino — reforçava a nova abordagem a ser tentada com a ex. Ele faria de tudo para conseguir demonstrar a cabeça-de-touro o quanto ela era importante pra ele, o orgulho de não ter mais uma vez seus sentimentos diminuídos e pisoteados morrera a alguns dias.

Ter perdido o instante que Cheryl adentrara na floresta o impossibilitou de calcular com precisão o tempo necessário para que o encontro finalmente ocorresse, desta forma, Fitzroy viu-se pego desprevenido quando sua musa escapou da cobertura verde para a clareira ao redor do monte de pedras. A esguia semideusa era um colírio para os olhos, altiva e com sua característica expressão a bradar um alerta de tempestades, a criança de pele cor alabastro reconheceu o sentimento de ausência esburacar seu peito, e rapidamente tenta preenchê-lo com oxigênio.

O cheiro de ozônio quase arranca um sorriso do protagonista. — Oi. — A palavra simples e com resquícios de raiva escapam dos lábios da moça de cabelos negros, a pergunta implícita imediatizava uma boa resposta ou do contrário o doce timbre voltaria a soar carregando o adeus. — Ola, tudo bem? — No mesmo instante que a frase tornou-se audível o herói caído se arrependeu de ter até mesmo nascido. Primeiro strike. Nenhum deles era muito afeiçoado a enrolações, então a escolha das próximas sentenças privilegiava a objetividade.

— Eu gostaria de lhe pedir desculpas. Por tudo. — Um suspiro baixo demonstrava o nervosismo. — Eu sei que errei feio, e prometo que nunca mais farei algo nesse nível de novo. Eu quebrei sua confiança e isso é a coisa mais infernalmente imbecil que eu poderia ter feito, você é incrível demais para passar por aquela situação e eu mereço milênios nos campos de punição por ter lhe feito passar por isso, mas… — Nesse instante, as esferas platinadas deixaram seu repouso sobre as mão que irrequietas mexiam na caixa preta e rolaram para encarar Habsburg, a distância física e emocional entre eles forçada ao fundo de sua mente enquanto ele capturava o brilho das írises azuladas. — Eu gostaria de propor que deixássemos isso de lado e tentássemos de novo, por favor. Meu pedacinho de céu.— O apelido carinhoso acrescentado tardiamente por motivos de dúvida e medo saiu numa entonação mais baixa, uma provável falácia onde a lógica fora subjugada pelo coração.

Bem Basiquinho:

Gavinhas invisíveis enroscaram-se em seu rosto em um afago delicado e madeixas claras dançaram ao sabor da mesma brisa suave, os sons baixos da floresta noturna carregados por entre as duas crianças em um suplemento ao silêncio que se instaurou. A respiração do moçoilo desbotado havia estagnado na glote e um sentimento de queimação fez-se presente, ele havia se desculpado, porém uma negação ao pedido feito ainda poderia ocorrer. A sensação perdurara alguns segundos apenas.

As palavras ditas em continuidade pela filha de Zeus foram duras, todavia merecidas. Ele mais do que ninguém sabia de sua culpa no término deles, sua personalidade babaca e aparente falta de partes do cérebro não eram escusas para o modo como agira e a raiva sentida pela moça não era nada mais que o esperado naquela situação. Racionalidade, como reforçado por Cheryl, era algo que nenhum dos dois realmente possuía, em níveis diferentes e em abordagens também distintas, mas ainda assim, ausentes. E talvez tal era a razão por se compreenderem tão bem, e por se unirem numa nova tentativa de fazer o relacionamento funcionar.

Galahad finalmente se permitiu sorrir, os lábios se repuxaram numa demonstração recatada de dentes, um sorriso verdadeiro e indubitavelmente alegre — um contraponto a tão costumeira lâmina de escárnio adotada pelo albino. O reflexo do movimento por parte de Habsburg caracterizou o estopim para o abandono da defensiva posição, pernas esticaram-se por sob a grossa bermuda escura de moletom e dobraram-se para recepção do impacto com o solo qual rapidamente o atacou. Os novos vocábulos de Lewis ecoavam no meato auditivo, um pedido e uma declaração, enquanto membros fibrosos contraiam e retesavam com o intuito de postá-lo em pé, o braço esquerdo — aproveitando-se do provável blur que definia momentaneamente a imagem do herói — dobrou-se de forma a ocultar com o sacro cálcico a caixa tão fielmente carregada.

A distancia entre ambos fora diminuída, mesmo que o meio-sangue não ousasse se aproximar mais, o decorrido tempo de afastamento o tornara incerto de como proceder, e até onde poderia ir. A menção da intimidade da jovem com o irmão trouxe a tona o instinto descontraído (e levemente arrogante) de Killian, uma piada coçando na ponta da língua. — Prometo pelo estige que farei o possível e o impossível para ser o melhor pra você, tu é muito importante para mim também, passarinha. — A predileção pela busca por finalmente colocar uma pedra no antigo desentendimento, ao invés de recair nas usuais brincadeiras, sendo finalmente saciada com a aplicação da sentença em nuance mais séria, o rascar brilhante de um raio no céu estrelado confirmando a jura feita.

Bem Basiquinho: