— Ruína e Ascensão: Aliados de Éris

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— Ruína e Ascensão: Aliados de Éris

Mensagem por Héracles Sáb 04 Jul 2020, 12:12


Turno um

A lua cheia fez com que, ao rasgar o céu noturno, uma coruja cinzenta projetasse uma sombra discreta através da clareira no coração do Jardim das Hespérides, por fim, pousando na mão enluvada que a aguardava.

Ártemis, sentada em uma formação rochosa, segurou seu arco dourado com mais força ao olhar nos olhos do animal por alguns segundos, sem conter um longo suspiro ao escutar os avisos da ave.

É um lugar tranquilo. Bonito, arrisco dizer, — comentou outra mulher, rindo discretamente — ou eu só estou um pouco desacostumada com o mundo de cima mesmo. Hera sabe uma coisa ou outra sobre cuidar de jardins, preciso admitir.

Perséfone, agora não é hora para admirar os cultivos da mãe do Olimpo. — Repreendeu outra voz feminina. — Se bem que... há um ou outro pedaço realmente digno de admiração. — Falou Deméter enquanto virava o rosto para fitar um sutil brilho no horizonte, onde repousavam os pomos dourados.

Mas elas não estavam ali para admirar coisa alguma.

A tríade foi reunida com um propósito de paz, ou ao menos era nisso que gostavam de acreditar, mesmo que não houvesse solução além de semeá-la no terreno traiçoeiro da guerra pelos meios necessários. Trajando armaduras dignas da realeza imortal que ostentavam, as três, dentro dos respectivos domínios, haviam atendido o chamado dos Olimpianos para proteger um pedaço do equilíbrio tão frágil e precioso que os deuses vinham cultivando há tanto tempo.

Já vi caçadores como você em ação, Ártemis. Esse silêncio sempre significa que algo está próximo... — Deduziu a dama do submundo, ajustando a coroa de louros que usava. — Algo ruim. Estão a caminho?

Eles já estão aqui. — Ela respondeu enquanto colocava nas costas sua aljava. — Ergam a cortina de esporos, precisamos atrasá-los.

A hora era chegada.

pontos obrigatórios


— Sejam bem-vindos ao primeiro turno do evento. Saliento aqui que todas as ações e decisões tomadas podem gerar consequências diretas dentro da trama global, além do risco elevado de morte para os personagens, portanto, tenham cuidado.

— Esse é o início do percurso até os portões do Jardim das Hespérides, alvo real de Éris. Durante todo o caminho vocês enfrentarão desafios que são frutos dos esforços dos deuses para proteger o lugar e o desempenho do grupo como um todo determinará o sucesso ou fracasso das investidas.

No primeiro ponto, descrevam a chegada à floresta e o momento em que são tocados pelos esporos de Deméter e Perséfone, que induzirão vocês a um tipo de delírio. Nenhum de vocês possui resistência o suficiente aos poderes de duas deusas, lembrem-se disso.

Os esporos criarão um cenário que é idêntico ao que vocês se encontram em tempo real, ou seja, a floresta do Parque Olympic. A diferença é que, tendo vocês decidido inicialmente prosseguir por conta própria ou em pequenos grupos, cada um estará em uma projeção distinta, entende-se isso como: terão que se virar sozinhos.

O desafio a ser superado é o seguinte: Ártemis disparará algumas flechas de pura energia pelo céu noturno e cada seta representa um caçador que estará no encalço de vocês. Eles nada mais são que a personificação de um receio, algo que seu personagem verdadeiramente teme, fazendo com que esse seja um embate essencialmente psicológico. Resolvam essa questão de maneira coerente e lembrem que as deusas são bastante poderosas, então fiquem atentos em como desenvolverão este ponto.

condições


Ayla Lennox, nível 75
HP: 840/850
MP: 636/850

Brooklyn S. Palmer, nível 54
HP: 630/630
MP: 630/630

Evelynn Sitsongpeenong, nível 2
HP: 110/110
MP: 80/110

Heron Devereaux, nível 60
HP: 690/690
MP: 690/690

Lana Storm, nível 4
HP: 110/130
MP: 80/130

Lilith Doutzen, nível 70
HP: 810/810
MP: 810/810

Victoria van Houten, nível 54
HP: 630/630
MP: 630/630

Informações adicionais


  • Ao final do evento, os que não atingirem ao menos 60% de rendimento total, morrerão.
  • Não se preocupem com postagens extremamente longas. Foquem na coerência e na objetividade.
  • Clima: Frio (16°C), céu parcialmente nublado, poucas chances de chuva. Lua cheia.
  • Horário inicial: 20:30.
  • Poderes, equipamentos e mascotes deverão ser colocados em spoiler ao final do post, para fins de organização.
  • Observações como "poderes até tal nível" serão desconsideradas.
  • Deuses interventores: Ártemis, Deméter, Perséfone;
  • Prazo de postagem: 23:59 do dia 08/07/2020.




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Re: — Ruína e Ascensão: Aliados de Éris

Mensagem por Ayla Lennox Ter 07 Jul 2020, 18:23


— independência;
ainda é cedo, amor; mal começaste a conhecer a vida, Já anuncias a hora de partida –  sem saber mesmo o rumo que irás tomar.
[cartola – o mundo é um moinho]

Nada ali parecia natural.

Supostamente estava cercada por quilômetros e quilômetros de reserva florestal, mas existia algo impregnado naquela mata que havia afugentado há muito tempo qualquer impressão e garantia de que a vida – qualquer forma dela – espalhada por ali estava protegida, preservada.

Apesar de uma origem indistinta, a energia transbordava, encontrando caminho por entre as árvores, ricocheteando por entre os cascalhos e pairando no ar, preenchendo-o com ruído como se os sons noturnos fossem transmitidos por um rádio velho. Um objeto anacrônico. Tudo ali, toda aquela suposta ordem, em breve seria subjugada e vista pelo que era: um filtro que não mais pertencia àqueles tempos.

Supor que estaria sozinha naquela jornada era tão presunçoso quanto pueril. Aquela não seria uma batalha particularmente imprevisível, visto que já tinha se deparado algumas vezes com os embates entre o sagrado e o profano que permeava o que conhecia por mundo; sabia que algo a esperava.

Preferia não sucumbir à antecipação. Sufocou a ansiedade e seu ímpeto de subestimar as armadilhas do parque Olympic com um cigarro que vinha sendo tragado desde que estacionou o Dodge nos arredores das fronteiras do lugar. Antes do primeiro passo, resolveu questionar algumas coisas: seu papel ali, até onde estava disposta a ir, quantos poderia chamar de aliados quando a hora chegasse. Suspirou.

Ergueu o rosto, encontrando o satélite que pairava acima de sua cabeça até mesmo quando não podia vê-lo. Resolveu questioná-lo também. A quantas indiferenças se prestaria a lua cheia diante de seus atos?

Recolheu seus pertences, esperou as últimas cinzas de seu vicio alcançarem o chão e pôs-se a caminhar.

* * *

Se os sopros que vinham do norte a tinham levado até ali, por suposto também dariam o caminho até os portões do refúgio de Hera. Desde seu retorno – ainda que nunca tivesse, de fato, abandonado a vida – cada um de seus feitos era um pequeno exercício de fé, passos na escuridão que a deixavam cada vez mais ciente de que tinha pouco para guiar-se além dos instintos.

Avançava de maneira ágil, os passos leves e gatunos em ritmo calculado com seu respirar. Não era hora de levar seu corpo aos extremos; era apenas o princípio, e preservar os limites de sua metade mortal eram imprescindíveis se quisesse permanecer de pé até o fim da noite.

Fingia pertencer à floresta tão bem que quase mesclava-se às sombras entre uma árvore e outra, mas nem mesmo a penumbra permitiu que sua presença passasse despercebida a qualquer par de olhos que estivesse disposto a pelejar em favor da esposa de Zeus.

Não soube dizer ao certo quando foi notada, mas o pólen de brilho pálido ascendia aos céus como se carregado por diligentes vaga-lumes.

Lennox parou sabendo que era tarde demais para cobrir suas narinas ou regular quanto daquela poeira haveria de invadir seus pulmões. Esperou. Ficou ali, uma das mãos apoiadas num tronco úmido, o líquen que o cobria parecendo áspero como uma esponja velha, esperando qualquer sinal de rejeição. Uma síncope, um mal estar, um anúncio de que mesmo mal tendo começado, aquele seria o fim de seu percurso.

Nada.

Sorriu, achando graça daquela suposta demonstração de misericórdia. Quem quer que estivesse por trás daqueles esporos, certamente tinha capacidade plena de eliminar os invasores com facilidade, mas aquilo? Era um capricho, um meio de fazer padecer os que se ousavam se opor, mas evitando sujar as mãos antes da hora.

Caberia à adrenalina se sobrepor aos delírios e chagas que poderiam acometer a meio-sangue graças àquele pó. Precisava prosseguir. No primeiro passo dado, contudo, percebeu um clarão em forma de seta rasgar o céu, caindo nas proximidades de onde estava, antes mesmo que um calafrio percoresse sua espinha.

Estava em alerta, pronta para revidar a ofensiva que viria.

E veio.

Mas o golpe que a atingiu não podia ser visto, tampouco bloqueado pelos meios comuns. Era uma investida que se aproveitava do silêncio, que arranhava sua pele em arrepios e feria seus ouvidos pelo reconhecimento. Preferia que fosse um urro bestial, uma ameaça vinda do desconhecido ou até mesmo uma onda de choque que varresse os arredores de súbito, porque de todas aquelas coisas era capaz de escapar por um meio ou outro.

O som que ouviu era uma sentença.

Sua sentença.

Cada tilintar dos elos metálicos pareciam enviar pequenos choques à base da coluna da garota, impedindo-a de mover-se. Correntes, flagelos, uma prisão que parecia ir a seu encontro cada vez mais rápido.

Aquela aproximação precipitava o descompasso preso no peito da garota. Quanto mais próximo, o arrastar daquelas amarras parecia golpeá-la em força crescente, pancadas que despertavam sutis tremores em suas mãos. Ofegava. Antes mesmo de recordar seu algoz nas celas frias da baía de São Francisco, podia perceber sua precipitação nas sequelas da ansiedade a assumir o controle.

Reaja. Faça alguma coisa. Ordenava a si mesma considerando que talvez ali, a céu aberto, tivesse ao menos a chance de enfrentar aquele suposto carrasco. Sabendo que seria impossível pelejar contra aquilo que não via, varreu os arredores com o foco estreito em busca de qualquer movimentação estranha.

Desejou não tê-lo feito.

A poucos metros de onde estava, como se envolta em um halo prateado, uma silhueta estava de pé, o peso das algemas tornando seus movimentos lentos, sua postura curvada. Uma postura que não combinava com aquela figura.

— Por que não consegue parar, Ayla?

Com o cenho franzido, pôs a mão no abdome como se aquilo pudesse frear o enjoo que veio; era uma reação jamais experimentada ao receber qualquer palavra que fosse naquele tom de voz morno como um abraço de regresso, com pausas que pareciam o crepitar das chamas em uma lareira.

Jhonn, do que está falando? — Ela balbuciou. — Pensei que… que tivesse desaparecido.

Diante da menor intenção de alcançar o corpo do rapaz, sua presença desapareceu de onde estava. Inquieta, a semideusa prescrutou o ambiente até ver os contornos de outro alguém à mesma distância, mas dessa vez à direita.

— Ele era bom demais pra você. Ele e todos nós. — Dessa vez uma voz feminina a acusava. — Foi culpa sua, foram seus maus presságios que o alcançaram.

Deparou-se com a imagem de Bianca, igualmente cabisbaixa, os pulsos e tornozelos feridos pelos grilhões marcados por ferrugem.

Aproximou-se hesitante, como se tentasse não dissipar aquela presença com a sua, como se pudesse ferí-los mais do que a simples ideia de uma projeção na qual tivessem passado pelo mesmo que ela. Cada toque da sola de seus pés contra a grama e a terra úmida fazia com que as curvas da aparição mudassem um pouco.

Bianca acomodou-se até alcançar a pequenez de Grandine, que logo assumiu as feições de Peter, que agregava cada contorno rígido e agudo de Simmon, que por fim ergueu a face com a barba mal feita e desleixada pelo cansaço de andar na corda bamba do profano e do sagrado. A fadiga de evitar a queda iminente, o pesar de quem insistia em não afastar-se da essência dela, que carregava o sangue dele nas mãos e nas veias. Dela que era sua filha.

Seus sentidos estavam cansados de ilusões e sabiam reconhecê-las com facilidade – afinal de contas, por qual motivo haveria aquela reunião de tantos rostos tão conhecidos que ousava chamá-los familiares – mas um torpor tomava conta da porção mais racional de si. Eles, de fato, o eram, não? Sua família. Era óbvio que sim. Ela sabia. E sabia porque sentia.

Tudo aquilo, se a fazia sentir, fazia sentido.

Ajoelhou-se até que pudesse encarar a expressão lúgubre do pai, que mantinha os olhos fechados enquanto erguia as mãos até a altura do rosto, como se pesasse a palidez da própria existência a acostumar-se com aquelas amarras.

— Por que não consegue parar, Ayla? — Ele repetiu a pergunta de Jhonn, condensando dezenas de vozes em uma só. — Por que não consegue parar? — Finalmente Adam abriu os olhos. — Por que continua destruindo tudo que toca?

E as íris que a fitavam em afronte eram de um âmbar opaco, como eram os de Nêmesis antes de puní-la. O aroma salino que se esgueirava pelos corredores de Alcatraz se condensou entre os dois corpos, seguido por uma onda pungente e metálica que misturava suor e sangue. Seu suor e sangue sobre ele. Sobre todos os outros.

”Você só é imprudente quando se trata de auto-destruição.” Foram as palavras de Brooklyn na primeira vez que se encontraram fora dos grandes eventos tecidos pelas Moiras, uma dedução despretensiosa numa ocasião igualmente livre de expectativas. Àquela altura parecia uma sina patética e ridiculamente certeira, mas estava tudo bem.

Sempre estava tudo bem, desde as consequências alcançassem apenas ela e ninguém mais. E era assim que as coisas deviam ser. Era assim que as coisas já tinham sido e tinha as trilhas dos reencontros entre as bordas de sua pele nas costas.

— Desista disso tudo. Nos liberte. — Suplicou aquela cópia de Adam.

Mas ele não era nenhum cativo, tampouco sua cria tinha ares de redentora.

Isso não é sobre liberdade, é sobre controle. Punição. — Ela deu um passo para trás. — Você teve a sua, e eu a minha. Sei que já me esqueceu, então me deixe esquecer tudo isso também.

Em um movimento repentino, as correntes deixaram de ser restrições e enrolaram-se nos braços do homem como duas serpentes. A aura de tonalidade prateada tornou-se mais visível ao redor de todo o corpo, uma energia translúcida se precipitando sem mais a ânsia de manter as aparências para atormentá-la.

Os elos de aço foram em sua direção. Levantou os braços na altura do rosto, sentindo a amálgama de couro e mitral absorver boa parte do prejuízo que alcançaria seu corpo. Sentia, em essência, apenas uma pressão não mais incômoda que um soco, o recuar de seu corpo a deslizar sob o chão batido em cada golpe absorvido ao perceber que aquela energia também se dissipava conforme investia contra si.

Lembrou-se de quantos haviam sido da primeira vez. Catorze. Catorze até que chorasse, até que desfalecesse sem implorar por misericórdia. Contou, aguardando pelo impacto derradeiro e carregado em uma ira ardente ser direcionado para si. Não reconheceu o rosto daquele que a atacava, e pensou que todos os outros não deviam reconhecê-la também.

No momento em que a corrente alcançaria seu antebraço, contudo, ativou o broquel e seu simples ato de não ceder àquele que estava em seu encalço foi como reverter toda a força a ele, que recuou de súbito, batendo as costas contra um pinheiro e se contorcendo em agonia antes de permanecer imóvel até desaparecer. Perdeu-se em meio ao que parecia uma pequena nuvem do mesmo pólen que tinha inalado mais cedo e da mesma energia que moldava a flecha que tinha transpassado o céu noturno.

Recusou-se a expurgar toda sua angústia e cólera cedendo à náusea. Como uma perfeita estranha à própria vontade, resolveu desaparecer também. Procurou pelo norte no céu e voltou a correr.

Daquela vez, não fugia.

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Re: — Ruína e Ascensão: Aliados de Éris

Mensagem por Lana Storm Qua 08 Jul 2020, 12:53

Lana Storm


-- Hey, acorda nós já chegamos.

A voz de Eve era tranquila, a longa e cansativa viagem acabara com todas as expectativas de Lana, a garota não sabia o porque havia aceitado tudo isso. A vontade de rever o pai era tão intensa a ponto de desafiar os deuses? Ou o simples fato de ter sido abandonada e rejeitado durante toda a sua vida, teria alguma interferência em tudo o que iria acontecer daquele momento em diante?


A lua, a primeira coisa em que a garota reparou ao sair do carro, o astro estava esplendoroso, sua beleza era tanta, que ela nem mesmo percebeu o momento em que o carro desapareceu dali. Seus aliados ainda próximos, se é que podia dizer assim, Evelyn e Lamar estavam ali, e ao mesmo tempo não estavam, nenhum deles parecia saber o que fazer, o local era um completo mistério para a garota. Embora já houvesse visto imagens do parque, a falta da nevoa com toda certeza traria algo inexplorado pelos olhinhos curiosos.


-- Eve, porque diabos eu estou aqui? Que droga, porque eu vim parar aqui, eu quero acabar logo com isso.


-- Tudo bem Lana, a gene consegue, só... vamos.


-- Que droga, porque tinha que ser na lua cheia?


Um sorriso, foi tudo que Eve conseguiu enviar quando passaram a caminhar pelo local. Mal conhecia os segredos ocultos pela nevoa, ainda mais as peripécias e armadilhas que os deuses poderiam estar preparando para elas. Após alguns passos algo chamou a atenção das meninas.


-- Eve, o que é isso?


-- Não sei, mas não deve ser boa coisa.


A conclusão era bem simples, tudo que é bonito, pode te matar. Brilhos luminosos pairavam sobre o local, flores estranhas, meio esponjosas de coloração vermelha. Aparentemente eram a fonte do brilho que mais se assemelhava ao pó de pirlimpimpim dos filmes da Disney.


Sem possibilidade alguma de evitar aquilo, uma dor pequena e incomoda na cabeça trazia uma sensação ainda mais esquisita, a filha de Selene sentia-se presa, imobilizada em seu próprio pensamento, seja lá o que estivesse acontecendo, seria agora infinitamente pior do que tudo que ela já vivera até o momento, ao menos Eve estava ao seu lado, Lamar já não estava mais a vista, o rapaz se perdeu entre as arvores?


Raios luminescentes eram vistos no céu, como se flechas mortais estivessem sendo disparadas, mas nenhum impacto foi ouvido pelas garotas. Ainda sem entender que estava presa e sua própria mente, e que os deuses agiriam sem sujar as mãos, a garota apenas chorou.


Um ciclope estava uns três metros atrás dela, Eve em suas mãos, ou o que sobrara dela. Sem entender o que havia acontecido, nem como a criatura gigante pode se aproximar de duas meio-sangues sem ao menos fazer um único som alarmante. A amiga estava nas mãos da criatura, completamente esmagada a vida esvaiu de seu corpo. Levando consigo a esperança da pequena tempestade.


-- Eve, nãooooo.


As lagrimas escorriam do rosto da pequena Lana, que apenas observara o corpo da amiga desaparecer, sem que ela pudesse fazer nada para ajudar.


-- Porque, responda porque fazer isso?


Uma figura masculina aparece próxima a Lana, a observando com ternura. por não se lembrar da voz, a garota não conseguiu ouvi-la o homem falava com ela, o corpo meio apagado, apenas o rosto era claro, a pouca lembrança que tinha de seu pai, o homem que mais admirava e queria encontrar, estava ali e ao mesmo não tempo não estava mais.


O ciclope o pegou, a garota ainda estava paralisada, não conseguia fazer nada, a criatura gigante com seu olho centralizado na face pegara o homem, e com um único golpe o derrubara, em seguida, esmagando-o com o pé. As lagrimas escorriam por sua face, a ira era tanta que a paralisia cessou. Lana agora, estava face a face com o monstro.


-- Eu vou te matar, nem que seja a ultima coisa que eu faça na vida.


Uma arvore fora arrancada do solo sem o menor esforço da criatura e lançada na direção da garota. Um movimento rápido de cambalhota para frente, impulsionado pelos sentidos aguçados pelo chegar da noite. A salvou do pior, a criatura era maior, mais rápida e mais forte, não teria como ela vencer em uma batalha, só podia correr.


Tentava se ocultar entre as arvores, a velocidade imposta era alta, mas a criatura ia passando arrancando tudo pelo caminho, não havia como escapar. Finalmente Lana conseguiu se esconder, teria que pensar rápido sua vida estava correndo perigo, mas o que doía mais do que enfrentar o gigante, era ver as pessoas que amava desaparecerem sob sua brutalidade.


-- Poderes, é isso eu tenho poderes.


O ciclope continuava correndo, a procura da menina, sua voz estridente quase indecifrável.


-- VEM AQUI VEM, NÃO ADIANTA SE ESCONDER.


A coragem que faltava para a garota agora vinha, saiu de seu esconderijo, correndo para um local mais amplo, onde pudesse agir com inteligência. O inimigo percebera a movimentação, e correu atrás, ele não descansaria até pega-la.

-- Não vou mais fugir, você vai ter o que merece.

Usando sua Calma Lunar, a filha de Selene pode se concentrar no que deveria fazer, diminuindo assim o ódio, a raiva e sentimentos negativos que estivesse sentindo no momento, ao encarar a criatura outro poder de Lana passava a se manifestar. Um brilho envolveu seu corpo, muito semelhante ao brilho da lua cheia que aparecia a noite.


Os reflexos do Ciclope estavam um pouco mais vagarosos, o movimento de sacar a lâmina da Fava de Caça foi suave, Floral faria seu trabalho. Aproveitando da debilidade do inimigo, os movimentos de ataque são precisos, mirando o único olho da criatura. Apesar de manter a distância entre eles, o poder da Lua Cortante se mostrava assertivo, o Ciclope sentiu o golpe, desaparecendo como a luz.


-- O que? Mas como?


A garota olha em volta, estava ainda no mesmo local, a ideia de que tudo não era real tomava conta da pequena, seu pai estava morto não poderia estar ali, mas Eve não estava, a única preocupação de Lana agora era... aonde estava a amiga?


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Selene's Daughter

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Re: — Ruína e Ascensão: Aliados de Éris

Mensagem por Evelynn Sitsongpeenong Qua 08 Jul 2020, 19:45

Eu sou uma fonte de sangue no formato de uma garotaRuína & Ascensão
Tudo o que podia ser visto ao longe era uma variedade extensa de tons de verde. Folhas, árvores e grama por aparar uniam-se para compor aquela paisagem que se ampliava ao horizonte, mesclando o panorama à atmosfera abstrusa que pairava sob as cabeças dos semideuses contingentes.

Evelynn sentia sua respiração apertar a cada passo que ousava traçar sob as terras abatidas daquele espaço assentado; desde que chegara ao destino — a floresta do Parque Olympic — viu-se incapaz de controlar seus pensamentos, que vinham à mente como uma ventania que antecede uma tempestade. Nebulosos e sombrios, a tailandesa havia impregnado em sua convicção que sua morte era iminente. Entregaria sua vida tenra em nome de Éris, uma entidade caótica que de repente descobriu ser sua mãe, quando sequer havia o conhecimento concreto de quais seriam seus reais objetivos. Um sacrifício vão, talvez?  

A verdade era que Evelynn não se acovardava da possibilidade de padecer; o que a horrorizava mais, no entanto, era a hipótese de uma vida frívola. Sua lealdade para com Éris ia além de uma busca por aprovação materna, constava, também, na necessidade de ver-se digna de perdurar sob uma vivência baseada em sua natureza real: a anárquica.  

Com os olhos escuros fitando a imensidão florestal que se estendia à frente, lembrou-se do momento em que realizara seu primeiro ato em nome da mãe, quando queimou o próprio pai utilizando de um vaporizador e um isqueiro. Fizera como lhe fora ordenado: prove sua capacidade realizando algo digno da atenção de Éris. Repassava as ordens da mãe enquanto as memórias da pele de seu pai derretendo e pulverizando sob seu olhar amargo preenchiam o espaço que era antes tomado pelo temor do destino inevitável. Relembrar seu primeiro momento de glória fazia um sorriso ser sutilmente traçado em seu rosto firme; assassinou o próprio pai e amante posterior de Éris para que recebesse mérito e meras palavras de orgulho vindas da mãe.

Imersa em seus pensamentos, sequer percebeu quando um clarão quebrou o contraste da paleta de verde e riscou o céu escuro, obrigando a garota a olhar em volta. Sentiu sua movimentação tornar-se lenta e retardada, enquanto os braços iniciaram um formigamento que logo mais se estendeu para o resto do corpo. Não sabia assimilar o que se passava: sua experiência com qualquer tipo de misticismo era nula, e, por este motivo, permaneceu imóvel, congelada.  

Com os olhos arregalados, tudo o que podia ver era uma mistura de cores que distorciam-se conforme piscava. Um tinido estridente encheu seus ouvidos, deixando-a ainda mais desorientada e confusa. Que diabos de sensação era aquela?

Uma invasão de perturbações visuais e sonoras pareciam dançar ao redor de Evelynn, sua mente e corpo já não respondiam qualquer comando; obrigou-se, então, a ajoelhar-se no chão enquanto buscava cobrir os ouvidos e os olhos. Uma fervura de sentimentos e imagens, um filme de terror que parecia ter sido inserido com um chip em sua cabeça e que contava com apenas uma cena: uma deturpação infinita.  

E um silêncio repentino.  

Sentiu seu corpo voltando à vida em migalhas, ainda se vendo incapaz de pôr-se de pé. Uma voz chocou-se contra a dissonância, chamando por seu nome em um tom ameno:  

Evelynn. Olhe para mim. — As palavras proferidas pela voz familiar arrancaram uma reação imediata da semideusa, que, ainda que dificultosa, buscava recompor-se.  

Éris? — Sua vista estava embaçada, mas seria difícil não reconhecer a mãe com tamanha aura amedrontadora. — Veio me...aliás, veio nos buscar, certo?  

A deusa lhe encarava de cima, desgostosa. Permaneceu minutos em silêncio, apenas observando a imagem da filha à sua frente; no entanto, quebrou a mudez com uma gargalhada alta e longa, forçando-se a rir da situação.  

Sitsong apenas arqueou a sobrancelha, incrédula. Qual era a graça? Levantou-se, ficando à frente da entidade.

Éris ria tanto que parecia estar com falta de ar, quase não conseguindo recompor-se. Em meio aos risos, apontou para a garota:  

É você, não é? É a Evelynn, certo? Desculpe, não pude evitar. — A sensação de intimidação da deusa havia mudado do vinho para a água; agora, não era mais temerosa, mas, sim, vergonhosa.

Eu perdi alguma coisa? — respondeu em tom leviano, confusa. — Foi você quem fez isso, não? Essas sensações de agora.  

A mulher deu de ombros, segurando um sorriso.  

Pode até ser, mas o que mudaria se fosse eu ou não? —Olhou de canto para a filha, em desprazer. — Que desagradável. Até o inútil de seu meio-irmão, Limos, faria melhor do que você.  

Aproximou-se da menor, segurando-a pelo queixo com força e impossibilitando-a de reagir.  

Olhar para o fundo de seus olhos dessa forma me envergonha. Você é tão prepotente que não percebe que, para mim, é mais um peão descartável. — Lançou-a ao chão logo após arranhar o rosto de Evelynn com suas longas unhas de bronze. — Apodreça.

A figura da divindade tremulou, como se ameaçasse dissipar ainda que não perpetuando-se. O chão parecia se mover, prendendo a tailandesa ao chão. Com o sangue pingando de sua cabeça, gotejava e descia lentamente por sua face. Ao sentir o gosto do líquido carmesim, sua única reação foi cuspi-lo.  

Evelynn sentiu seus músculos se contraírem conforme Éris aproximava-se de seu corpo incapaz. Com seus nervos em frangalhos, já não conseguia mover-se diretamente; a ausência de sua força física fez com que fosse ao chão, caindo com o rosto em cima de seu vômito sangrento. Como se algo puxasse suas mãos, tentou pôr-se de joelhos novamente. Levantou a cabeça para cima, mas o céu já não pendia sob si. Era como se estivesse em outro plano, isolada, presa.  

Seu rosto deformava-se ao toque, com a pele rasgando e queimando lentamente enquanto revelava a carne viva que preenchia seu corpo. Um vapor quente saía de seu corpo, incinerando a superfície do que restara de sua carcaça em forma de garota. Os cabelos negros, arrepiados, tapavam-lhe o rosto desfigurado enquanto sua pele apodrecia. Por mais que chorasse ou berrasse, a sensação de solidão a consolava e calava-a. Como assim fizera ao pai meses antes, queimava. Os barulhos e imagens distorcidas que tornaram ao local agora vazio a perturbavam ainda mais; nesse instante, estava sendo torturada física e psicologicamente. Éris a observava de cima, em completo silêncio e apatia.  

Sitsong estava com as mãos trêmulas, mas, em um impulso, alcançou a adaga que deixava dentro de sua bota de couro, cravando-a nos pés da entidade, que, como chamas, apagou-se de imediato.  

E, novamente, tudo parou.  

O corpo de Evelynn estava ao chão, apoiado em uma poça de seu próprio sangue. Encarava a imensidão vazia daquele plano omisso e confuso. Sentia dor, sentia ódio. E, por isso, caiu em si:  

Estou viva.Sentir, mesmo que tamanha dor física, a fez realizar que não morreu no ato. — Que filha da puta.  

O formigamento e tremulação esvaíram-se lentamente, como se estivesse sendo lavada por um mar de insetos, caminhando sob sua pele e saindo de seu corpo.  

Levantou-se, agora, sem a sensação de contenção. Moveu os braços, incrédula, levando-os ao rosto amolgado. O sofrimento, de repente, pareceu superficial. Ainda que a situação de sua pele se aproximasse de uma necrose, percebeu que, ao toque, sentia apenas arrepios. Com os olhos marejados, descascou a parte restante de sua carne como se descascasse a uma maçã. Mesmo que puxasse suas entranhas para fora, não sentia nada; questionava-se se aquilo era um sentimento anestésico de seu cérebro, ou, então, irreal. A verdade era que seria uma mistura de ambos.  

Parou de sentir de repente, como se estivesse em uma simulação de computador e tivesse habilitado algum cheat. A única impressão restante era a de estar em uma psicose desbalanceada.

O fundo preto passou a adquirir tons fumos de branco, que se dispunham como fumaça e atordoavam a vista. De súbito, sentiu a grama passar por seus dedos, e, conforme recuperava a visão, notava-se novamente cercada da mesma paleta verde do início, enquanto o recém-acontecido se esvaía juntamente do vapor que se tornara o cenário posterior.  

Olhou para as mãos, suspirando em alívio ao ver que estava, de fato, bem. Sua pele ainda estava intacta; no entanto, estava incomodada com o gosto de sangue que parecia não sair de sua boca.

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Re: — Ruína e Ascensão: Aliados de Éris

Mensagem por Brooklyn S. Palmer Qua 08 Jul 2020, 23:54




“Assim expira o mundo
Assim expira o mundo
Assim expira o mundo
Não com uma explosão, mas com um suspiro”.

[T. S. Eliot]


”Estaremos mais seguros se nos separarmos.”

As últimas palavras de Max antes de partirem em seus próprios caminhos não faziam sentido. Tinham chegado no local cedo, antes dos últimos bocejos solares, e planejaram exatamente como agiriam para obter sucesso. Horas e mais horas de discussão para acabarem caindo em um clichê destinado ao pior, contudo a mais confortável alternativa quando se discutia conforto. No fim, nada daquilo fora em prol da segurança, mas da individualidade de cada um.

O Parque Nacional Olympic possuía dimensões que Brooklyn nunca chegou a desconfiar, não que esperasse menos do local escolhido para abrigar o jardim da rainha do Olimpo. Deparando-se com as milhas infinitas de árvores que não tinham errado em nada ao escolher se separar, ao menos assim teriam mais chances de alcançarem seu destino final, certo? Preferia acreditar que sim.

Seus primeiros passos ao adentrar a floresta trouxeram os sons abafados das folhas secas quebrando-se contra suas solas. Um anúncio de que estava ali, um anúncio de que tinha certeza daquilo que fazia. Sabia a inutilidade do medo no momento em que se encontrava, sabia o quão sem sentido seria se render às banalidades da emoção humana e, naquele primeiro passo, não o fez. Estava pronta para lutar pela primeira vez em sua vida.

Seguiu sob as constelações de sua efêmera coragem e frágil parcimônia. Pisava com cautela e sabedoria, o temor de encontrar uma armadilha ou desgastar seu organismo débil antes do tempo a mantendo firme. Deixar-se cair por erros tolos apenas faria com que todo aquele esforço se tornasse apenas uma mera perda de tempo.

Não tinha certeza há quanto tempo já caminhava, muito menos o quão próxima estava de chegar até os tão procurados portões. A verdade é que aquela espantosa normalidade tinha um forte efeito negativo contra sua valentia. Nada acontecia e Santiago não compreendia exatamente o porquê. Isso a assustava ainda mais que o conflito.

Aquele marasmo pouco durou para sua tranquilidade. O pó de fragrância enjoativa que a rodeava era invasivo, incômodo e o reflexo de prender a respiração fora mais forte que sua racionalidade. Uma tentativa frustrada que não custou muito a deixar de lado.

Ao notar que a poeira havia se dissipado, a colombiana libertou um suspiro pela permanência da tranquilidade. Um alarme falso. Apoiou-se em um tronco próximo, uma palma sobre a testa gélida e uma ambivalência quanto ao que sentia a invadindo. Deveria estar aliviada ou frustrada por nada ter acontecido? Massageou os músculos doloridos pela tensão, não tinha tempo para aquilo. Precisava prosseguir.

O mais inesperado foi o que veio em seguida. Assim que levantou o olhar, teve sua visão completamente tomada pelo fulgor pálido rasgando o manto de Nyx e explodindo acima de si. Sentiu uma pontada atrás dos olhos, a cabeça rodando e seus pensamentos desesperando-se dentro de sua mente. Que era aquilo? De onde tinha saído? Cambaleou de um lado para o outro, os pés continuando seu percurso por mais desnorteada que estivesse.

Respirava fundo a cada mínimo movimento, o crânio latejando e as retinas incapazes de registrar qualquer imagem presente a mais de um palmo de distância. Escuridão era a única visão concreta que tinha e o mais próximo de uma verdade que poderia se apegar naquele instante. Já não tinha mais controle de sua mente ou das sensações físicas que sentia. Alguém puxou seus cabelos, alguém gritou, quem? Algo a fez tropeçar, algo gelado estava abaixo de seu corpo, algo a fez enxergar novamente.

A primeira coisa que viu era castanha. Olhos castanhos, assim como os seus e de sua mãe. Olhos tempestuosos, olhos cansados, olhos familiares. De quem? De quem?

Uma tira de couro colidiu contra seu rosto. Se sentiu nos anos beligerantes de sua infância novamente.

Te dije que no podías ir, Jazmín. — A voz era distante, ríspida, feminina. Lutava para recordar-se de quem. — Por qué no respetas tu familia?

Colocou uma mão sobre o lugar fustigado, o cenho franzido enquanto buscava nas memórias algo que lhe trouxesse até aquela pessoa. Lembrava do medo, lembrava do bombear comprimido de seu miocárdio perto da mulher, lembrava da falta de ar. Já havia tido uma família que a fazia se sentir assim?

O objeto nas mãos da desconhecida foi utilizado novamente contra a menina e parecia não haver dor física. Estava estranhamente acostumada com aquilo e não sabia explicar a razão, não sabia porque conhecia tão bem a rejeição daquela mulher.

No me escuchas? Respóndeme!

Eu não fiz nada, eu juro — sussurrou, trêmula. Já tinha tido aquele diálogo antes, ou uma versão estranhamente similar dele. — Não vou mais voltar, não vou deixar que me vejam de novo.

Callate! Es una vergüenza para nosotros, es una vergüenza para los Hunza así como tu mama.

Conhecia aquela grosseria, a sua língua materna, as pulseiras de tecido que cobriam aqueles pulsos vorazes. Mais que tudo, conhecia aquele sobrenome.
Hunza. Os Hunzas que tinham vergonha dela, de sua mãe e de tudo o que colombianos católicos como eles tinham para se envergonhar. Aqueles que tinham medo da rebeldia, do profano, de um fruto de adultério assim como era a pobre menina Jazmín Candela. Exceto que eles eliminavam tudo aquilo que temiam, tudo o que consideravam impuro.

Não havia nada para ela em seu país de origem, não havia nada além de um alvo em suas costas. Recordava do dia em que tinha queimado seus antigos documentos, do dia em que uma arma fora apontada em sua cabeça aos oitos anos por alguém enviado pela sua própria família. Ainda estariam a procurando? O que aconteceria caso, um dia, decidisse voltar?

Foi erguida bruscamente do chão pelo pescoço e deixada de pé novamente. Via seu rosto perfeitamente, o conhecia como seu próprio reflexo em um espelho despedaçado.

O que mais me dói, vó — tossiu, recuperando o oxigênio que lhe fora roubado —, é que vocês me destinaram a uma solidão eterna.

Derretendo-se da mesma maneira de uma vela de cera, o rosto da anciã transmutou-se em todos aqueles que Santiago havia deixado para trás. Seu avô, seus primos, seus tios e tias, os amigos da família. Tinham cortado suas raízes à força, a forçado a viver para o resto da vida em uma terra de falsa liberdade que nunca foi e nunca seria sua.

Já sem rosto concreto, a estrovenga em sua frente já não tinha mais nada que lhe trouxesse o sonho de um lar abandonado. Não compartilhavam mais traço algum além da mortalidade.

Mais uma vez, as tiras de couro do chicote foram direcionadas à Brooklyn que sacou seu gládio a tempo de se defender. Aquele desconhecido não tinha nada a ver com ela, com suas memórias. Tinha sido só isso, uma ilusão. O alvo não estava mais nela, nenhum deles podia encontrá-la em um local como aquele. Um chute foi desferido contra seu peito, fazendo a filha do Sol recuar alguns passos para trás e lacrimejar com a dor e fúria da rejeição.

Avançou contra o adversário, a lâmina cortando de cima a baixo o abdômen alheio. Doze anos. Após viver doze anos sem notícias deles, porque teria uma visão como aquela justo naquele momento? A arma estalou do outro estalou contra seu antebraço, rendendo um praguejar baixo por parte da semidivina.

Em um movimento curto, no entanto definitivo, acertou o cotovelo contra o rosto do inimigo e o derrubou. Um último golpe de sua espada, cortando sua garganta de uma ponta a outra, fora o bastante para fazê-lo se dissolver numa poeira similar àquela que havia encontrado antes.

Quando recobrou a noção de seus sentidos, ainda se encontrava no mesmo ponto da floresta em que havia inalado os esporos. Estava bem, porém algo a dizia que a batalha tinha apenas se iniciado e não gostava nem um pouco daquilo. Passou as unhas pela epiderme totalmente livre de ferimentos, o corpo regressando ao percurso anterior da mesma forma que fazia aos antigos hábitos.


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Re: — Ruína e Ascensão: Aliados de Éris

Mensagem por Heron Devereaux Qua 08 Jul 2020, 23:57

Ruína e Ascensão
I set fire to the rain and I threw us into the flames

S
ó quando colocou os pés para fora do táxi amarelo, é que foi envolvido pelo frio da costa do Pacífico. Um vento leve que corria por entre as árvores e golpeava o rosto do semideus sem piedade. Uma centena de agulhas penetrando sua pele. Ele fechou os braços em volta do corpo. Sentiu o tecido grosso do suéter cor-de-creme e o algodão da camisa xadrez vermelha por baixo roçarem seus braços. Calças pretas que protegiam as pernas até a altura da bota de couro marrom em seus pés. Ele arrumou o boné verde-musgo na cabeça, empurrando com os dedos as mechas douradas que saíam pelas bordas.

Inclinou o corpo para o banco de trás do automóvel outra vez. Puxou lá de dentro uma mochila de lona e couro, que ele colocou nas costas, e o arco de ouro solar, que aquecia suas mãos. Bateu a porta e jogou uma nota alta pela janela do motorista.

— Fica com o troco. — Resmungou. Não estava no melhor de seus momentos.

A passos curtos, ele desceu pela lateral da rodovia, imersa no completo breu. A luz dos faróis iluminava a estrada, mas nada mais do que isso. Se o taxista se importava, não fez questão de manifestar. Ouviram o uivo da alcateia de coiotes se sobrepor ao silêncio da noite. No instante seguinte, Heron Devereaux já havia mergulhado na floresta.

Uma camada grossa de musgo amaciava os passos do homem, até que ele alcançou a trilha apagada no meio da floresta. Um caminho tortuoso por entre as coníferas altas. Mesmo os sentidos aguçados não eram capazes de quebrar o silêncio e a escuridão que abraçavam a península. Assim, eles serviam de alimento para os pensamentos que ele carregava consigo.

Do bolso lateral da mochila, retirou uma lanterna de LED. O feixe de luz iluminou a casca do abeto gigante à frente, antes de se voltar para a trilha no chão da floresta.

“Que que eu vim fazer aqui?” Quis saber. Não tinha dúvida nenhuma quanto aos planos de Éris. Ainda assim, não era capaz de colocar o dedo sobre o motivo pelo qual decidira segui-lo. Em New York, empoleirado no topo de seu castelo, tinha tudo o que sempre quis. “E, mesmo assim, talvez ainda não seja o bastante.” Pensou em Lilith Doutzen. Dona de si mesma. Refém dos deuses antigos. “Não quero ser como ela. Agora entendo isso.” Nem poderia. “Mas, também, ainda não tenho certeza do que quero me tornar.”

Quando os pensamentos se dissiparam, o filho de Atena interrompeu seus passos. Sabia que algo estava errado. O feixe da luz de LED cintilava, fazendo sombra sobre as partículas no ar. O vento gelado corria por entre as árvores, carregando os esporos que se espalhavam pelo lugar. O homem cerrou os olhos, cheio de incerteza, antes de ser atingido pela resposta. Estava sob ataque.

A mão da lanterna subiu até o rosto, antes de cobrir o nariz e a boca dele com a manga longa do suéter. De certa forma, sabia que já era tarde demais.

Um zunido seco ecoou pela floresta temperada. Quando Heron levantou o olhar, quase não foi capaz de enxergar o azul maculado do céu noturno. As folhas finas e alongadas se reuniam no topo, formando uma abóbada de coníferas que cobria o caminho da vista. No azul-petróleo dos espaços onde as copas das árvores não alcançavam, viu uma seta esverdeada cintilar e cair numa parábola, atrás do filho de Atena. Ele tentou seguir o trajeto com o olhar. Quando se virou, no entanto, a flecha já havia desaparecido.

De repente, a floresta mergulhou num silêncio abafado. Ele pôde ouvir o som dos passos da alcateia, rosnando enquanto atravessava o morro à esquerda. Coiotes espertos demais para se meterem no caminho do semideus.

Um arrepio correu pela espinha. No caminho da trilha, uma silhueta se formou. Banhada pela luz da lua cheia, o macacão de couro delineava o corpo da mulher. Ela balançou os ombros e alongou o pescoço. Transbordava uma segurança que Heron não era capaz de reproduzir. E quando seus passos lentos se transformaram numa corrida, o filho de Atena não teve dúvidas de que não deveria esperar ser alcançado.

Seus pés se moveram antes que o pensamento se concretizasse. Passos largos e rápidos sobre o chão macio de musgo, abandonando a rota da trilha mal desenhada. Os pulmões absorvendo e cuspindo ar, tragando os esporos que ainda flutuavam no ambiente. Podia ouvir o som dos batimentos do seu coração, sincronizados aos barulhos dos passos urgentes sobre o caminho da floresta.

Virou o rosto para trás outra vez. Queria ver se conseguia abrir espaço entre ele e a mulher. Os olhos ferinos cintilaram na escuridão. Viu de relance os cabelos negros que caíam sobre seus ombros. Era parte mulher, parte felino. Sabia pela forma que ela se locomovia pelo ambiente. Esguia, ágil e flexível. Sobre-humana.

Ele afastou o olhar e voltou seu foco para o caminho à frente, bem a tempo de corrigir sua rota, abaixar a cabeça e se esquivar dos galhos que estavam prestes a acertá-lo. Deixou a lanterna em sua mão cair, iluminando o musgo e os arbustos mais próximos. Não precisaria dela, de qualquer forma.

Quando viu a floresta de coníferas se fechar, decidiu que não era capaz de correr nem mais um metro. A distância entre os dois só diminuía. Talvez fugir não fosse a solução. Melhor seria se esconder. Sob o véu da escuridão, o homem passou uma mão em volta do abeto mais próximo, interrompendo seu caminho para se esconder atrás do tronco da árvore.

Silêncio. Heron Devereaux interrompeu seus passos e a floresta mergulhou numa quietude angustiante. Ele tentou controlar os movimentos do peito, subindo e descendo, desesperado pelo ar frio e úmido do lugar.

— Por que que cê tá fugindo? — A mulher disse; sua voz vinda de lugar nenhum. — Eu sou assim tão assustadora? — Os passos silenciosos, amortecidos pelo musgo no chão. — Olha, eu não sei sorrir direito, mas eu posso te mostrar os meus dentes se isso te tranquiliza de alguma forma. — Havia uma ameaça elegante no meio daquelas palavras sem sentido. — Você pelo menos se lembra de mim?

Aquela pergunta martelou em sua cabeça por um longo instante. Quando a curiosidade subjugou o medo, Heron esticou o pescoço para fora de seu esconderijo. A marquise de folhas abriu espaço, banhando com a luz da lua a floresta e a mulher lá embaixo. As características da ascendência indiana saltavam aos olhos do filho de Atena. O tom de pele, os lábios grossos, o olhar bem-desenhado. Estava mais velha, mas os tiques, as manias, os trejeitos… Tudo continuava lá. Era impossível não reconhecê-la. Eram poucos os dias, naqueles longos e demorados anos, nos quais ele não havia pensado nela.

Elsie Osborne. Filha de Hermes. Um pedaço importante de si que ele havia deixado na colina Meio-Sangue.

Os batimentos cardíacos se aceleraram outra vez, antes dele voltar a se esconder atrás da árvore. Não estava pronto para lidar com aquele fantasma do passado. Honestamente, talvez nunca estivesse.

— Se você não vai aparecer, pelo menos vai ouvir. Tenho umas coisas entaladas na garganta que eu preciso dizer.

Quando a silhueta de Elsie apareceu no campo de visão do semideus, ele deu a volta no grande abeto, ocultando-se outra vez. Ela atravessou o lugar, a passos calmos. Não precisava encontrar Heron Devereaux. Podia destruí-lo mesmo que à distância.

— Você não é metade do homem que diz ser. — O primeiro instinto foi revidar. Se defender. Ainda assim, foi capaz de impedir que as palavras saíssem de sua boca. Aquela raiva, aquela indignação que se debatia em seu peito… Era porque, no fundo, ele concordava com ela. — Eu bem que tentei te ajudar. Apanhei os cacos de um moleque quebrado e tentei juntar. Bom… Não deu muito certo.

Pensou em seus anos preso no chalé de Hermes. Em como Elsie havia se tornado sua principal referência paterna. Mais do que isso, ela havia se tornado seu primeiro amor. Um sentimento que ele não foi capaz de confessar. E, então, o universo empurrou os dois para caminhos diferentes, até transformar Elsie Osborne numa lembrança boa e num ressentimento velado.

— É que você não sabe amar. As pessoas ao seu redor são descartáveis. Seu pai, eu, ela… — Não precisava pronunciar seu nome. Sabia que ela se referia à filha de Despina. — Aquele vazio lá dentro, você não pode preencher com dinheiro, carros e mulheres.

Elsie Osborne era a personificação de algo muito maior do que apenas a filha de Hermes. Era um abismo que esperava por Heron Devereaux no meio do caminho. Era seu passado e seu presente, mas não o seu futuro. Era a promessa de que, a partir dali, não poderia mais voltar atrás. Nunca mais poderia ser aquele garoto inseguro que fora em seus anos no acampamento Meio-Sangue. O caminho a seguir era tortuoso e traiçoeiro. E algumas coisas do seu passado ele teria que deixar na beira da estrada.

— E… — Os passos foram quase automáticos. Uma volta completa no abeto, até encontrar a silhueta da mulher entre as árvores da floresta. Mas as palavras engasgavam, presas na garganta. Respirou fundo, organizou os pensamentos e recomeçou. — E qual o problema disso?

— Perdão? — Elsie girou sobre os calcanhares, até que seu olhar encontrasse o dele.

— Se eu sou tudo isso que você falou… Qual é o problema disso?

Era o que era. Lutar contra sua própria natureza era uma batalha perdida. Esteve rejeitando seu verdadeiro eu durante toda a sua vida. Tentando ser alguém que ele não podia ser. Se não se aceitasse enfim, quando estava prestes a dar as costas aos deuses de forma oficial, quando se aceitaria?

— Qual é o problema de subir? — Ele quis saber. Passos lentos em direção à mulher. — Escalar as pessoas que estão no meu caminho? É quem eu sou. Se é o que eu preciso fazer para alcançar meu objetivo… — Alcançou Elsie Osborne, finalmente.  — É exatamente o que eu vou fazer.

Quando terminou, contemplou a expressão no rosto da filha de Hermes. Conseguia ler um milhão de pensamentos no seu olhar desnorteado. Nenhum deles alcançou a sua boca, no entanto. Estava satisfeita.

A silhueta de Elsie se desfez, derramando no espaço uma fumaça esverdeada, que cintilava e descia à altura do musgo no chão. Silêncio outra vez. Heron estava sozinho, margeado pelas coníferas do parque Olympic.

O homem suspirou. Havia deixado no chão da floresta um peso que ele carregava desde que se conhecia por gente. Os braços se fecharam em volta do corpo, fazendo o tecido das roupas roçarem contra sua pele. Uma lufada de vento soprou, carregando os restos de Elsie Osborne para longe e deixando um arrepio na espinha do homem. Ele atravessou o caminho, iluminado pelo brilho da lua. Apanhou a lanterna de LED do chão.

Era hora de voltar a seguir seu próprio caminho. Sem remorsos. Sem receios.


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Re: — Ruína e Ascensão: Aliados de Éris

Mensagem por Lilith Doutzen Qua 08 Jul 2020, 23:59

I'VE GOT YOU BROTHER


Arrastou o filtro contra os lábios vermelhos para prendê-lo enquanto tirava o isqueiro do porta copos no centro do painel. Depois, abandonou o conversível logo ao lado do Challenger preto; apertou o botão por três vezes até que a faísca queimasse o pavio. Quando fogo brilhou na sua frente, queimou a ponta do cigarro e então o tragou.

Demandava tempo, aquele vício – se é que poderia chamar assim. A verdade é que não apreciava o gosto amargo, a breve falta de ar ou a tontura leve que se instalava em seu corpo enquanto inspirava a nicotina e deixava ela, pouco a pouco, condenar seus pulmões. Tampouco gostava do cheiro que impregnava contra seus cabelos, pele, roupas.

Mas apreciava o fato de ter que parar para o fazer. O ritual levava muitos minutos, minutos que tirava para não pensar.

Sobre Heron, Tatiana, Circe, Grimmjow ou seu pai. Assuntos os quais estavam vetados na mente de Lilith Doutzen. Pontas soltas demais.

Soltou a fumaça, vendo-a rodopiar e se dissipar no amarelo do Porsche alugado. Mais três ou quatro tragadas.

Sob a luz fraca da lua, era difícil desvendar a expressão da mulher.

I'd give you my lungs, so you could breathe

Não esboçou reação alguma quando os olhos encontraram Heron Devereaux afastado, costas contra uma das grandes árvores que agora escondiam a lua cheia.

A verdade é que nem sabia qual reação deveria exibir.

Mas acima de tudo e qualquer coisa, estava aliviada. Heron estava vivo, bem e, embora os assuntos que precisavam ser discutidos antes de se acertarem estivessem pairando no ar, Doutzen não poderia estar mais contente por tê-lo ali.

Mesmo que não o tivesse.

Manteve-se distante dele, dos semideuses, da luz da lua. Caminhava alguns passos atrás do homem bem vestido, como uma sombra, buscando a camuflagem que a escuridão lhe concedia.

Nada naquela floresta tinha a ver com silêncio. Galhos se quebravam contra os pés envolvidos por um tênis confortável, pássaros grasnavam na distância, conversas paralelas entre seus aliados cortavam os ventos.
Seus sentidos estavam envolvidos pela missão suicida a qual tinha sido enviada. Olhos se prendiam nas costas do homem, ouvidos atentos a qualquer movimentação diferente dos padrões que tinham se construído.

Quando puxou o ar, sentiu o cheiro do perfume amadeirado de Heron. Permitiu permanecer um pouco naquela distração antes de voltar sua atenção para a caminhada outra vez, o gosto amargo do cigarro que tragara minutos atrás se espalhando como veneno contra sua boca.

Mas sabia que seus pensamentos não estavam ali. Não na batalha que Éris pretendia travar, nem em Devereaux, quase ao alcance de suas mãos.

Pela primeira vez em muitos anos, pensava em sua mãe. Diferente dos deuses que havia conhecido até então, Despina era muito mais indiferente a sua existência. Não gostava disso.

Nenhum sentimento a afetava mais do que a indiferença.

Porque não podia fazer nada sobre aquilo, ainda que quisesse muito. Afinal, foi a deusa que destruiu sua família. Foram suas palavras venenosas, cheias de sedução e mentira que levaram o velho Marshall à loucura.

Foi a deusa que abandonou Lilian Marshall em um acampamento sem qualquer explicação.

Tudo o que sabia era que não podia contar com ela

Por isso, quando Despina a protegeu de um dos surtos de Grimmjow, a odiou ainda mais. Porque devia um favor, o qual seria cobrado não muito tempo depois daquele fatídico dia.


I don't want to die, but sometimes wish I'd never been born at all

Mal reparou quando seus sentidos foram tomados por algo muito além. Perdida em suas memórias, deparou-se com seu passado de uma forma muito mais agressiva.

Física.

Ele estava lá. Os olhos negros como a noite que os cercava, os cabelos claros como os dela pendendo em frente ao rosto. O sangue escorrendo por sua face, manchando a camisa branca.

Nenhuma de suas células era capaz de assimilar que ele estava morto.

Não.

Lilith apenas sabia que enfrentaria o insano.

Grimmjow era impiedoso, um soldado nato, um inimigo fatal. Mas Trafford, o Insano, o superava. Era uma parte da alma do irmão que tinha se perdido no limbo, caminhado sobre o inferno, feito aliança com seus demônios mais internos.

Sua habilidade de amar estava esquecida, enterrada nas profundezas do tártaro como seu irmão tinha feito com outras fraquezas. Era apenas um animal preso em uma carcaça humana. Incapaz de agir racionalmente.

Grimm? Grimm, por favor. Sou eu.

Nenhuma resposta. A versão sanguinária de seu irmão agora corria em sua direção, uma katana gêmea do que a que carregava em sua bainha apontada contra o peito de Lilith Doutzen.

Mas era como um touro, uma besta enfurecida. Portanto, quando desviou para o lado em um salto ensaiado, tudo o que pôde ouvir foi o baque surdo do corpo do irmão esbarrando contra a árvore mais próxima.

Ouro Imperial reluziu quando puxou a própria arma. A katana de Grimmjow que agora estava presa no gelo tinha abandonado aquela. Mas nem isso, nem o ombro deslocado tamanho esbarrão que tinha se acometido eram suficientes para pará-lo

Estava em vantagem, mas não era como ele. Ao menos não queria ser. Por isso, antes que ele chegasse perto demais, soltou a arma entre eles.

Esse dilema não me pertence.

Aos ouvidos alheios, não significava nada.

Para os dois, era tudo.

the kings and queens, we ruled the world

Yuikimira ensinara, desde o dia que a conhecera – quando ela não tinha feito nem nove anos ainda –, é que toda batalha começaria e terminaria no mesmo dilema.

Matar ou morrer. Não há outro motivo pelo qual você levanta uma espada.
E se for… uma brincadeira?
Brinque com suas bonecas, não com espadas, Lilian.
Mas…

Não, aquilo não importava.

wish I could relive every single word

As mãos do homem alcançaram seu pescoço. Ar fugiu de seus pulmões, sangue parecia não alcançar seu cérebro. O aperto fazia seus pés saírem do chão e os olhos lacrimejarem.

Você precisa ir, Grimm.
Você precisa me deixar ir.
Eu sinto muito.
Eu sei.

O aperto se afrouxou contra seu pescoço. Braços receosos envolveram seu corpo magricelo, apertando-a em um abraço protetor.

Eu... eu amo você.
Eu sei. Eu também.

Assentiu. Olhos fechados para não vê-lo partir.

Quando os abriu novamente, tudo o que podia ver era Heron Devereaux.

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Re: — Ruína e Ascensão: Aliados de Éris

Mensagem por Héracles Qui 09 Jul 2020, 00:20


Turno 2 - Jardim

Com o sucesso contra as forças de Ártemis, os seguidores de Éris seguiram rumo aos portões das Hespérides.

Os uivos ganhavam intensidade conforme eram repetidos por vários integrantes da alcateia espalhados entre as árvores que cercavam a entrada do jardim. Era um sinal inquietante dos animais, e a mensagem era clara à donzela: os invasores não estavam recuando. Não que as imortais esperassem uma desistência imediata, mas aqueles ânimos deveriam ter sido ao menos abalados, sufocados por tempo o bastante para que reconsiderassem cada passo dado.

Pelo contrário, avançavam com um desígnio implacável, e as guardiãs precisavam responder à altura. Um único, longo e agudo assobio convocou não apenas a quietude pela floresta como uma carruagem prateada dos céus.

Só deixem a clareira em último caso. — Falou Ártemis antes de subir no veículo. Sua expressão era rígida, os olhos opacos. — Chamem os outros, se necessário. É hora de cumprir com minha parte e farei com que conheçam a fúria que habita entre os notívagos e as criaturas da floresta.

E assim que perdeu-se em meio ao manto de Nyx, prevaleceu o silêncio.

pontos obrigatórios


— Sejam bem-vindos ao segundo turno do evento. Saliento aqui que todas as ações e decisões tomadas podem gerar consequências diretas dentro da trama global, além do risco elevado de morte para os personagens, portanto, tenham cuidado.

— Vocês seguem o percurso até os portões do Jardim das Hespérides, alvo real de Éris. Durante todo o caminho enfrentarão desafios que são frutos dos esforços dos deuses para proteger o lugar e o desempenho do grupo como um todo determinará o sucesso ou fracasso das investidas.

No primeiro ponto, vocês deverão prosseguir pela mata por alguns minutos. Podem decidir avançar por conta própria ou formar pequenos grupos e ao o sinal dado pelos lobos, independentemente de onde estiverem, serão cercados por criaturas convocadas pela deusa.

  • Aos que estiverem sozinhos: você deverá enfrentar ao menos dois oponentes dentro da lista que será disponibilizada abaixo, de maneira que a média do nível de ambas deverá corresponder a 75% do seu*;
  • Aos grupos: o número de criaturas a cercá-los será sempre a quantidade de semideuses reunidos +2. O nível de cada um deles será equivalente a 80% da média de níveis do grupo*.

— Ao fim desse combate, perceba(m) a presença de um desses animais que está servindo como mensageiro para Ártemis e está entregando a localização e as condições dos invasores, lembrem que o terreno e as condições são favoráveis às criaturas: sejam inteligentes e encontrem, persigam e neutralizem-os. A depender do desenrolar das narrativas, declararei o sucesso ou fracasso nessa intenção, que pode dar a vocês uma pequena vantagem no turno seguinte.

Pela bênção de Ártemis, essas criaturas que responderam ao chamado possuem uma bonificação de 25% em todos os aspectos, dos físicos (agilidade, força e afins) até a efetividade de seus poderes, resistências e o dano por eles provocado;
Reitero que não considerem vitória ou derrota em seus posts, a palavra final pertence sempre ao narrador. Deem o seu melhor, sejam criativos e o mais importante, divirtam-se!

condições


Ayla Lennox, nível 75
HP: 850/850
MP: 651/850

Brooklyn S. Palmer, nível 54
HP: 630/630
MP: 630/630

Evelynn Sitsongpeenong, nível 2
HP: 110/110
MP: 80/110

Heron Devereaux, nível 60
HP: 690/690
MP: 690/690

Lana Storm, nível 4
HP: 110/130
MP: 80/130

Lilith Doutzen, nível 70
HP: 810/810
MP: 810/810

Victoria van Houten, nível 54
HP: 441/630 (-189)
MP: 441/630 (-189)
*Descontos de 30% devido a não postagem, seguindo as regras do evento.

Informações adicionais


mapa disponível:
oponentes disponíveis:


  • Ao final do evento, os que não atingirem ao menos 60% de rendimento total, morrerão;
  • Não se preocupem com postagens extremamente longas. Foquem na coerência e na objetividade;
  • Clima: Frio (16°C), céu parcialmente nublado, poucas chances de chuva. Lua cheia;
  • Horário aproximado: 20:45
  • Poderes, equipamentos e mascotes deverão ser colocados em spoiler ao final do post, para fins de organização. Observações como "poderes até tal nível" serão desconsideradas;
  • Deuses interventores: Ártemis.
  • Prazo de postagem: 23:59 do dia 14/07/2020.




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Re: — Ruína e Ascensão: Aliados de Éris

Mensagem por Lana Storm Ter 14 Jul 2020, 18:01

Lana Storm
A dor ainda imperava no coração da semidivina, jamais imaginou que conseguiria sentir a mesma dor de quando criança. A imagem ainda vaga de seu pai sendo ceifado em sua presença, novamente por aquela criatura horripilante fora extremamente marcante para ela.


A sensação de impotência a atingiu em cheio, Eve não estava mais a vista, em meio a toda aquela confusão as meninas acabaram por se desencontrar, mas a missão deveria continuar. Apesar do sentimento de incapacidade de conseguir alcançar seu objetivo, a promessa de Éris era o que trazia força e esperança para prosseguir.


Os passos eram lentos, o caminho completamente estranho, apenas a intuição guiava a pequena filha de Selene, quando uma voz a interrompeu. Não era a primeira vez que a ouvia, mas a debilidade mental causada pelo desafio anterior, influenciava negativamente para que esse encontro fosse boa coisa.


-- Então nos encontramos de novo, ladra de namorada.


-- O que? Mas eu não...


-- Cale-se, ela me deixou depois daquele dia, e a culpa é toda sua.


-- Flik seu idiota, pare com isso, me deixe seguir meu caminho.


-- O seu caminho acaba aqui garota tola.


O uivo dos lobos pudera ser ouvido por todos, as ordens de Ártemis e em segundos, Flik estava cercado de amigos, dríades de sátiros tomavam todo o ambiente, não havia por onde escapar, a garota teria de mostrar tudo o que aprendeu até ali, e resolver a pendencia com o sátiro. Ou não faria mais nada em sua vida.


-- Não foi culpa minha Flik.


-- Cala a boca.


O sátiro nervoso, amparado pelos poderes da deusa não mediu esforços para desferir o primeiro golpe, uma investida brusca e ligeira em direção ao joelho da semideusa. Os reflexos aprimorados pela noite adentro foi o suficiente para a garota se igualar em velocidade ao atacante, e por muito pouco conseguir desviar a perna para trás, fazendo com que o casco poderoso do Sátiro atingisse o solo com força.


Uma lágrima de pesar escorreu pelo rosto da prole de Selene, não queria ter que machucar ninguém, mas afinal estava em uma guerra. O movimento rápido de movimentar o braço e invocar Floral para o combate não dera resultado, um segundo Sátiro a atingiu pelas costas.

-- AAIII, o que foi isso?


A dor excruciante dos chifres lhe atingindo na retaguarda fora o estopim para o estado de fúria se externar na pequena. Os olhos marejados, a respiração ofegante, e a certeza de que venceria a batalha, seja quantos adversários viessem ao seu encontro.


Assumindo uma postura defensiva, os braços abertos e mantendo o tronco de modo a estar em uma posição paralela a ambos os sátiros. Floral empunhada em sua mão direita, enquanto a adaga de bronze era armazenada na mão esquerda. A utilização de duas lâminas diferentes, somadas a postura de luta, permitiria que qualquer um dos adversários que atacassem, fossem repelidos e contra atacados de modo a evitar sofrer uma lesão.


Flik agiu primeiro, como se fosse um mestre em artes marciais, o meio bode avançou lateralmente, mirando um chute alto na direção do abdômen. Ao girar o corpo rapidamente para a esquerda, o chute foi evitado, e tendo a distancia com o sátiro diminuído, o alcance de floral em um golpe veloz, na diagonal de cima para baixo, atingindo o entre o ombro e o braço do Sátiro. Sem força para decepar, mas penetrando profundamente, lhe causando uma grave lesão.


-- Sua indigna, agora eu te mato de uma vez.


O outro sátiro cujo nome não fora pronunciado, avançou em fúria, usando os chifres para atingir a menina. Com o reflexo em dia, a garota agiu rápido, aproveitando da falta de visão da criatura durante o ataque, usou seu tronco arqueado para pegar impulso, saltando por cima do sátiro, fazendo com que o mesmo atingisse Flik.


A lesão no braço, somados a pancada do golpe aliado desestabilizaram o bode, que ficou desnorteado por alguns instantes, o suficiente para que Storm tomasse uma atitude. A garota com voracidade avançou no sátiro desconhecido, usando sua adaga em uma estocada precisa, mirando no lado direito das costas, na altura do coração.


O grito baixo e rouco do sátiro foi o último som que pode proferir em vida. Seu corpo cai ao chão em um baque, bem ao lado do companheiro de batalha, enquanto a lâmina de Lana escorrega para fora do corpo, permanecendo em sua mão.


-- Flik, pare agora. Não quero ter que fazer isso com você também.


Como se a teimosia incessante do sátiro recuasse ante ao pedido da garota tempestade. O meio bode pegou sua flauta com a mão boa, e começou a tocar. O movimento estranho fez com que a semidivina parasse por alguns instantes, baixando a guarda.

-- O que você?


O som de ramos se movendo foi quase inaudível, não fosse a percepção ampliada da menina, passaria despercebido. Mas ainda que ela conseguisse captar os movimentos, o reflexo para desviar foi insuficiente. As frágeis raízes enrolavam em seus pés, impedindo movimentos defensivos, o ataque foi certeiro.


O sangue irrompia de sua boca, o poderoso e fortalecido casco do adversário lhe atingira o estomago, o ar lhe faltava no momento, a dor era imensa. As lágrimas agora se uniam entre a tristeza e a raiva. Ela não iria aceitar aquilo, não poderia se render ao inimigo.


-- A  dor que estou sentindo agora, foi o seu último ato Flik, não vou te perdoar.


Ainda caída, a distancia a concentração da garota em sua arma e a conexão profunda que havia adquirido com a mesma. Foram o suficiente para ativar o seu poder, e com três movimentos rápidos de corte na diagonal, atingiu o sátiro em todos os movimentos, ceifando sua vida.


Com a queda do enviado uma dríade que observava a batalha saiu correndo na direção norte. Os movimentos de Lana ainda estavam debilitados, e persegui-la seria completamente complicado. Em um ato estranho, a voz da pequena saiu alta e completamente desesperado.


-- NÃO, POR FAVOR.


A dríade para surpresa de Lana, parou o percurso e continuou olhando para a menina.


-- Por favor, me ajude, o que eu estou fazendo aqui?

A belíssima criatura teria de decidir, se voltaria para ouvir o que a garota tinha a dizer, ou iria relatar a Ártemis, o que acontecera no local.
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Re: — Ruína e Ascensão: Aliados de Éris

Mensagem por Evelynn Sitsongpeenong Ter 14 Jul 2020, 21:27

Eu sou uma fonte de sangue no formato de uma garotaRuína & Ascensão
A noite gélida que cercava o perímetro coberto de folhagens e árvores trazia uma sensação de melancolia.  

Evelynn estava sozinha, envolta pela paranoia acerca do que lhe ocorreria até o fim daquela situação descomunal. A única pessoa de seu grupo que de fato conhecia, Lana Storm, havia desaparecido no momento em que fora transportada para a projeção hórrida que vivenciara há pouco. Ao olhar para a lua cheia, supôs que a garota ficaria bem.  
Caminhava de maneira descuidada, envolvendo-se naquela paisagem que parecia ser infinita. Agora, procurava por uma dupla em especial: dois semideuses de experiência muito – ênfase em muito – superior. Avoada, acabou por tropeçar em um galho médio que se encontrava entre folhas secas, quebrando o silêncio noturno e chamando a atenção de uma dupla à frente:  

— Que porra? — Disparou uma mulher. Loira, de olhos gélidos e pele clara como a neve, havia a descrição exata de quem estava à procura. Ao seu lado, um rapaz loiro de porte alto a acompanhava, ambos em posição defensiva.

Antes que pudesse receber qualquer reação física, Evelynn justificou-se:  

— Perdão, não queria fazer tanto barulho. — A menina de cabelos escuros e aparência desgrenhada desculpou-se, fazendo uma breve reverência antes de prosseguir. —  São Lilith e Heron, certo? Ouvi bastante sobre vocês. Eu me chamo Evelynn. O sobrenome não importa. —  Sorriu, em uma tentativa de tentar parecer amigável.  

O casal parecia surpreso com a presença repentina da mais nova, mas logo tratou de se recompor e direcionar a atenção ao cenário e aos objetivos, dando início à uma caminhada.  
A tailandesa estava sem reação. Queria impressionar aqueles dois semideuses que, para si, dispunham-se de maneira prestigiosa e superior. Temia ser um fardo para ambos, e, por fim, acabar por atrasá-los. Imersa em possibilidades que percorriam sua mente, sequer notou quando tropeçou em um galho maior que o anterior, pronta para ir de encontro ao chão; isto é, se os reflexos da mais velha não fossem afiados o bastante para que a segurasse antes que caísse. Quis agradecer com o olhar, mas Lilith deu de ombros.  
De repente, parou. Avançou de maneira singela, colocando-se à frente junto de Heron e deixando a filha e Éris para trás.

— Tem algo errado. — sussurrou a filha de Despina, com o olhar atento aos arredores sórdidos da reserva.

O chão parecia vibrar sob os pés de Evelynn, que contava com uma expressão confusa na face. Logo, uma matilha de cães infernais aproximou-se do trio; um quinteto de bestas que parecia voraz, prontos para devorar a carne de uma filha de Éris inexperiente.  
No entanto, o casal parecia tranquilo demais para o que Sitsong julgava ser uma catástrofe iminente. Dando passos tímidos para trás, colocava a mão sob a adaga que carregava na cintura, ameaçando arremessá-la. Tampouco pôde reagir quando um dos caninos jogou-se em sua direção, sendo impedido e afastado pelos mais velhos.  

Petrificada, apenas observava a perícia de Heron com seu arco e a agilidade de Lilith com sua lâmina. Sentia-se culpada de estar em posição de telespectadora enquanto o casal fazia toda a ação, e, por este motivo, desembainhou a adaga e lançou-a em direção à um dos cães, fazendo com que a mesma retornasse à sua mão como um bumerangue. Ainda assim, o dano provocado no cão era mínimo. Por mais que tivesse uma perícia com sua adaga e soubesse manejá-la, desferir golpes profundos era uma dificuldade.

Heron e Lilith pareciam manter tudo sob controle, o que acalmou Evelynn por um minuto. Afoitos, desferiam golpes ágeis e precisos de forma que a tailandesa jamais havia visto. Agora, a cena posterior de animais selvagens havia se tornado a de uma carnificina, com os restos dos cães pintando o chão terroso de vermelho.  

— Vocês estão bem? — Perguntou a filha de Despina, recompondo-se.  
— Sim...acho. — Respondeu a menor, com as mãos sob o coração a fim de se acalmar.
A atmosfera de ameaça havia dissipado, dando espaço para uma sensação enigmática que fez com que Lilith se atentasse como um felino, procurando por qualquer movimentação.  
Evelynn preferia que tudo tivesse acabado por ali e que pudessem, enfim, seguir em frente sem ter de cravar lâminas em nenhum ser. Todavia, a loira havia uma intuição que dizia o oposto:

— Ali. — Apontou com a cabeça, seguindo nesta direção de maneira eufórica e imediata, ao ponto que Heron gritava para que voltasse, sem que recebesse nenhuma resposta.  
A morena olhou para o filho de Atena por um momento, como se buscasse uma resposta pelo olhar. Não fazia ideia do que teria de fazer. O mais velho apenas assentiu, direcionando-os para que seguissem a Doutzen.  
Era difícil acompanhar quando os galhos das árvores pinicavam o rosto de Evelynn à medida que tentava correr, sem saber, ao certo, para onde estava indo; a única coisa que sabia era que seguia Heron.

Ao finalmente alcançarem a mulher, ambos faziam esforços para recuperar o fôlego, enquanto recuperavam-se da corrida entre as matas.
 
— Eu vi também. Mas não vai dar pra alcançar. — Comentou o filho de Atena, arfando. — Não desse jeito.

— Estou aceitando sugestões. Não tenho muito mais pra fazer. — Lilith respondeu, direcionando um cinismo para Heron.  

— O parque é muito grande. Ele não vai conseguir chegar a lugar algum desse jeito. — O rapaz interrompeu-a, concluindo: — Uma hora, vai ter que parar, recuperar o fôlego e diminuir a velocidade.

A tailandesa cruzou os braços conforme observava o diálogo. Notava-se pelo tom de ambos que a discussão era pessoal, e, por isso, optou por manter-se de fora.

Um musgo marcava o chão escuro, como se dispusesse de pegadas; sinalizando que alguém esteve ali.

— Conseguem ver o rastro no chão? — Devereaux apontou para a linha no chão. — Por hora, vamos segui-lo.

Sitsong não tinha a menor ideia da linha de raciocínio que estava sendo utilizada pelo casal, logo, poupou-se a segui-los, com a adaga em mãos. Ao colidir a visão com o vulto criatura, sentiu arrepios percorrerem seu corpo como se houvesse levado um choque. Tinha acabado de ver bestas como aquela, então, por que a surpresa agora? A incerteza acerca do comportamento do animal era o temor maior. No entanto, pela calmaria que transparecia do casal, a rigidez de seu corpo fora dissipando-se.
 
Lilith fez um sinal para que ficassem em silêncio, sem movimentos bruscos. Atrás de uma grande rocha, o cão parecia prestes a repousar em despreocupação.
 
O barulho de vagalumes iluminando a noite de lua cheia preenchiam o local, quebrando o silêncio quase total que ousava se instalar naquela cena audaciosa.

Evelynn apenas agachou-se assim que viu a filha de Despina fazer o mesmo, enquanto pousava as mãos no solo abatido. A mais nova não pôde deixar de arregalar os olhos quando o solo antes fosco cobria-se de gelo, impossibilitando o cinocéfalo de fugar-se.  
Heron ergueu-se, posicionando seu arco solar de maneira que serviria de garantia da captura do animal. A tailandesa sacou a arma, certificando-se de que, caso algo desse errado, também tentaria ajudar — não que fosse, de fato, eficiente.
 
Saltou do chão o que Evelynn julgou ser uma prisão de gelo, composta de estacas que cercavam a besta atarantada. Enquanto Lilith certificava-se de manter a criatura sob controle, Heron suportava-a com uma flecha de prontidão.
 
E Sitsong encarou a lua por um momento, apenas desejando que aquilo terminasse.  

bonecos da sadia ediçao de colecionador:
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Re: — Ruína e Ascensão: Aliados de Éris

Mensagem por Heron Devereaux Ter 14 Jul 2020, 22:12

Ruína e Ascensão
I set fire to the rain and I threw us into the flames

N
em a luz da lua foi capaz de suprimir aquela escuridão em seu peito. Os cabelos dourados da loira cintilaram, banhados pelo brilho azulado que caía sobre o parque Olympic. Olhos verde-esmeralda, ocultados pela penumbra das árvores coníferas. Não soube dizer se ainda estava alucinando quando encontrou Lilith Doutzen no meio da floresta, entorpecido pela visão que, há muito tempo, ele só conseguia ter em sonhos… em pesadelos.

— Doutzen? — Sussurrou. Passos lentos em direção à mulher. Mas a distância não diminuía, enquanto Lilith se afastava.

Tinha um sentimento guardado no peito. Um que ele queria jogar sobre a semideusa, arremessar uma faísca e assistir queimar, até que só restassem as cinzas.

Antes que pudesse, uma terceira figura se aproximou de maneira nada discreta. Já estavam em posição defensiva, quando ouviram o barulho dos galhos se quebrando sob os pés descuidados da garota. De imediato, desculpou-se:

— Perdão, não queria fazer tanto barulho. — Levantou as mãos, em sinal de paz. — São Lilith e Heron, certo? Ouvi bastante sobre vocês. Eu me chamo Evelynn. O sobrenome não importa.

Havia mais admiração do que ameaça nas palavras da filha de Éris. E, ainda que as coisas estivessem fora do eixo com Lilith Doutzen, não reconhecia perigo vindo dela. No fim das contas, eram três com um único objetivo: sobreviver ao que estava por vir.

A loira sabia disso, quando, protetora, empurrou Eve para trás do casal.

— Tem algo errado — ouviu a filha de Despina sussurrar.

Seu olhar correu pela clareira à frente. Um punhado de incerteza que se misturava com o frio na barriga. Antes de ver as criaturas, ouviu o som dos passos pesados contra o chão de terra úmida e musgo. Na penumbra, os animais se camuflavam, quase invisíveis. Mas quando a luz da lua caiu sobre eles, Heron finalmente reconheceu a matilha de cães infernais que atravessava o caminho em sua direção.

Ele levantou o arco de ouro solar à altura de seu ombro. Os olhos paralelos à arma. Quando a mão direita se fechou em volta do ar, encontrou o cordel invisível que ela puxou para trás, materializando a flecha de pura energia solar. Ele corrigiu o trajeto da seta, calculando-o de cabeça, enquanto apontava a mesma para o cão à frente da matilha. Quando soltou o cordel, a flecha atravessou a escuridão da floresta com um zunido surdo, antes de afundar nos pelos escuros da criatura.

Ouviu o ganido do cão, antes de puxar o cordão imaginário outra vez. A flecha apontou para o animal. No instante seguinte, já atravessava o caminho em direção ao flanco esquerdo.

Quando a seta se alojou um pouco acima da articulação da pata, o cão infernal uivou. A ferida ardia, embebida no calor da energia solar. Ainda assim, cada novo movimento empurrava para o resto de seu corpo uma enxurrada de dor que ele tentava ignorar, seguindo o trajeto em direção aos semideuses.

Antes que fosse capaz de alcançá-los, o filho de Atena retificou a posição do arco. A flecha se alojou na arma outra vez, quando ele a puxou. Respirou fundo, antes de prender o ar nos pulmões. Finalmente, deixou que o projétil desenhasse uma parábola no ar, antes de descer entre os olhos do cão infernal. Não teve nem tempo de cair sobre o chão de terra, antes que o vento frio que escapava do Pacífico carregasse seus restos pela clareira.

Os outros monstros não hesitaram. Sequer fizeram menção à queda do primeiro cão.

A matilha é soberana, e o coletivo se sobrepõe ao individual.

Os cães infernais alcançaram o trio de semideuses. Dentes à mostra, em posição de ataque. Ainda assim, hesitavam em desferir o primeiro golpe. Mesmo quando um deles, mais atrevido que o restante, se aventurava em direção a Evelynn, um dos semideuses mais experientes tratava de se antepor ao caminho, empurrando o animal para trás.

Quando o animal seguinte tentou se aproximar, Heron levantou a mão direita. Fechou o punho no ar, balançando-o, enquanto aparava o nada. Os fios de energia vermelha se materializaram no espaço, um segundo antes do filho de Atena arremessá-los sobre o oponente. A rede de energia envolveu a criatura, fraca demais para se desvencilhar.

O cão infernal se debateu no chão úmido da floresta. Quando Devereaux levantou o arco outra vez, o monstro rosnou, desesperado. Ele puxou o cordel da arma outra vez. A flecha desceu sobre o corpo do oponente, próxima demais para errar o alvo.

O grunhido agudo do animal, quando a ponta penetrou sua pele, não satisfez o semideus. Ele fez surgir uma segunda flecha, que cintilava alojada no arco. Um golpe de misericórdia. Quando o cão infernal abriu sua mandíbula, a seta saltou para dentro de sua boca, queimando o caminho para dentro dele.

O cão se desfez numa grande pilha de pó, vazando pelos espaços na rede mágica.

— Vocês estão bem? — Lilith quis saber.

Quando virou o rosto em direção às duas, a clareira já estava coberta pelos restos mortais dos outros cães e a floresta havia mergulhado naquele silêncio esquisito outra vez.

— Sim… eu acho. — A mais nova do trio tentava recuperar-se da cena, apoiando a mão na região do coração a fim de acalmar-se.

Mas aquela expressão preocupada não abandonou o rosto da filha de Despina.

— O que houve? — Ele sussurrou, franzindo o cenho.

Antes de responder, a mulher apontou para o outro lado da clareira.

— Ali.

Não soube dizer o que chamou a atenção da semideusa. No instante seguinte, ela atravessava o caminho, em disparada e sem dar explicações.

— Lilith! Lilith! — Ele resmungou o mais alto que pôde. Não queria chamar atenção das criaturas espalhadas pelo parque.

Seus olhos encontraram os de Evelynn por um instante, antes que os dois decidissem, em silêncio, que não havia outra opção além de seguir o trajeto da filha de Despina.

Correram por entre as coníferas, seguindo a mulher. Os pulmões já resistiam à tarefa, quando finalmente a luz da lua cintilou sobre o pelo escuro do monstro, desenhando sua silhueta no breu da floresta. Nem homem nem lobo. Um híbrido entre os dois. Um cinocéfalo.

O corpo do filho de Atena já rejeitava o exercício, distribuindo ácido lático para os músculos, quando eles finalmente alcançaram a loira. Mãos espalmadas sobre os joelhos, enquanto ele tentava recuperar o fôlego.

— Eu vi também. Mas não vai dar pra alcançar. — Ele comentou, entre uma respiração pesada e outra. — Não desse jeito.

— Estou aceitando sugestões. Não tenho muito mais pra fazer.

Queria responder. Esfregar no rosto de Lilith Doutzen que ele, de fato, tinha uma sugestão melhor. Infelizmente, conhecia bem demais o temperamento da filha de Despina. Sabia quando um empurrão era o bastante para jogá-la precipício abaixo.

— Desculpe, eu só…

— O parque é muito grande. Ele não vai conseguir chegar a lugar algum desse jeito. — Começou, interrompendo a explicação da mulher. Não era hora de resolver suas diferenças. Não ainda. — Uma hora, vai ter que parar, recuperar o fôlego e diminuir a velocidade.

Heron inspirou o ar frio do parque Olympic, antes de atravessar o caminho à frente. Os olhos fixos no trajeto, examinando o chão, o musgo e as marcas que ficavam sobre a terra úmida.

— Conseguem ver o rastro no chão? — Ele sussurrou, apontando para as pegadas do cinocéfalo. — Por hora, vamos segui-lo. — Devereaux conduziu a caminhada, por entre os abetos e os cedros.

De repente, estavam mergulhados naquele silêncio desconfortável outra vez. O filho de Atena decidiu ignorá-lo por completo. O melhor seria se ater ao rastro sutil dos passos sobre a terra. Além do mais, seus pensamentos já se perdiam numa situação completamente diferente, maquinando um plano de ação para quando encontrassem a fera outra vez.

×××

Esconderam-se atrás de um dos grandes arbustos. Os olhos fixos na criatura, que retomava seu fôlego sob um esconderijo de pedra. Quando a mão delicada de Lilith tocou seu antebraço, ele pensou em recuar. Mordeu a língua, engoliu o orgulho e voltou sua atenção para o alvo.

Já havia cumprido sua parte do plano, quando sinalizou o momento certo para que Doutzen realizasse a parte dela. A partir daí, se ateve a assistir o espetáculo de longe, ao lado da filha de éris.

Os passos silenciosos de Lilith a conduziram para perto da criatura. Seus dedos tocaram o chão da floresta, derramando sobre o mesmo uma camada fina de gelo que se expandia rapidamente, para dificultar qualquer rota de fuga do cinocéfalo.

A camada escorregadia já havia se espalhado por todo o ambiente, quando Heron se colocou de pé. O ouro solar ardendo contra as falanges de seus dedos, quando ele levantou o arco, puxou a corda imaginária e apontou uma seta de energia solar para o homem-lobo.

Viu as estacas de gelo eclodirem do chão cristalizado, incerto de que seriam o bastante para dar cabo da criatura. A flecha era seu porto seguro. Uma medida preventiva. Mesmo que a filha de Despina falhasse, ainda teriam o projétil solar, que saltaria em direção ao adversário.

Afinal, não importava de quem partia o último golpe. Até mesmo aquele pequeno grupo de vira-latas sabia: a matilha é soberana, e o coletivo se sobrepõe ao individual.


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Re: — Ruína e Ascensão: Aliados de Éris

Mensagem por Lilith Doutzen Ter 14 Jul 2020, 22:14

CRAWLING BACK TO YOU



Lilith assistiu quando Heron se aproximou, cauteloso. Sob suas emoções conturbadas, podia sentir quanta mágoa carregava sobre seus ombros. Podia ver quanto aquela briga estava os destruindo.

Friday tinha razão.

Havia o machucado com tanta maestria que já não tinha certeza de que poderia reparar os danos.

Queria pedir desculpa.

Doutzen?

Quando a voz do homem alcançou seus tímpanos, já não se lembrava dos motivos que tinham a levado para aquele ponto. Sequer se importava com o fato de que precisava dele longe para se desfazer das alianças com os deuses.

Estava pronta para se render.

Mas estava acuada e com medo, por isso deixou que a distância aumentasse enquanto dava passos para longe da árvore onde tinha certeza de que havia visto a katana de Grimmjow se prender.

Desviou o olhar para encarar a clareira que se abria logo à frente, antes que um galho se quebrasse logo ao seu lado e chamasse a atenção de Doutzen. A mão alcançou a guarda de mão de Ostium, antes de dar um passo em direção ao homem.

Que porra?
Perdão, não queria fazer tanto barulho.

Mal reconheceu a própria voz quando ela atingiu os tímpanos. Estava rouca pela falta de uso, o que a deixava acreditar que o que tinha passado até então, para estar onde estava, tinha sido apenas um conjunto de alucinações. Sonhos, talvez.

Mas não era um consolo para ela.

São Lilith e Heron, certo? Ouvi bastante sobre vocês.

Não respondeu. Apenas analisou a expressão do outro porque queria saber quão disposto a machucá-la. Mas quando Devereaux nem mesmo olhou na direção da mulher, suspirou aliviada.

Sou Evelynn.

Completou com um comentário sobre o sobrenome e sua descendência. Evelynn era mais nova que o casal, tinha traços característicos e sorriso fácil. Estava claramente ansiosa, mas não entusiasmada. Talvez estivesse ali para provar um ponto.

Não se importava com as motivações dela, na verdade. Apenas considerava-a um aliado, talvez uma isca se precisasse. Antes ela que Heron ou Lilith.

Até porque não tinha criado apreço ao mundo semidivino, não vivera por tempo o suficiente no Acampamento, conhecia pouca gente, poucos deuses.

Era difícil se importar com algo que mal tivera contato.  

E gostava da sua mundanidade. Dos vícios, da monotonia, do emprego que poderia ter. Tudo isso estava fadado ao fracasso o tempo todo. Acabava envolvido demais por seus poderes, por adversidades que a cercavam, pela impossibilidade de ficar no mesmo lugar por muito tempo.

Sua vida humana tinha sido condenada antes mesmo de que fosse colocada naquele mundo. Por isso, era ainda mais difícil criar laços com o Olimpo.

Esse era o tipo de coisa pela qual não valia mais a pena lutar; não faria diferença.


ever thought of calling when you've had a few? ‘cause I always do


Suspirou longamente quando Evelynn tropeçou contra uma das raízes sobre a terra, segurando contra seu braço antes que ela desse de cara no chão. Quando a semideusa agradeceu, deu de ombros, arrastando a mão contra os fios loiros para livrar seus olhos; movimento que fez com que percebesse o momento em que a aliança esquentou contra seu anelar.

Tem algo errado. — Sussurrou, colocando Eve para trás do casal. Lado a lado com Heron Devereaux, era fácil lutar. Sabiam que não haveria surpresas. Sabiam como cada um se movimentava.

As bestas logo os encontraram. Estavam em maior número, mas, ao julgar pelo tamanho, eram menos experientes. Pelo menos em se tratando de Doutzen e o homem. Evelynn parecia apenas uma criança indefesa.

Talvez Grimmjow pudesse explicar o sentimento que apossou Lilith em relação à Evelynn.

Deixou que o primeiro cão pulasse em sua direção para socá-lo no que julgava ser o esterno – pouco entendia de anatomia. Mas percebeu que estava certa quando a lâmina de seu bracer encontrou a rigidez do osso, partindo-o com um grunhido alto do cão. Foi Ostium que finalizou aquele oponente, enterrada contra seu pescoço peludo em um golpe limpo.

Não teve tempo para analisar o pó dourado. Logo sentiu dentes rasparem contra sua armadura, sem causar qualquer dano em Sardee, embora o barulho da mordida contra o metal gerasse certo desconforto. Chutou-o para longe no momento em que o cão se retesou devido a dor, puxando Albtraum para frente de seu corpo magricelo.

Nos olhos daquele monstro, tudo o que podia ver era medo. A paralisia que causou olhando-o, consciente do pouco cansaço que teria ao fim daquele momento, intensificou o sentimento. Antes que pudesse terminar com ele, o terceiro cão corria em sua direção, atrapalhando sua visão periférica. Encarou-o

Os dedos meio cobertos por Marama envolveram o pingente com a foto do semideus por um segundo, antes que a rede vermelha envolvesse o monstro e se embolasse em seus pés, atrapalhando sua caminhada e fazendo com que caísse, a lateral de seu torso sujando de terra no processo.

Aproximou-se primeiro do monstro paralisado, levantando a katana acima da própria cabeça antes de descê-la contra a nuca do cão, a lâmina atravessando a carne antes de tocar na terra. Pó foi carregado pelo vento. Fincada contra a terra, pouco uso tiraria da arma naquele momento.

Não teve tempo para analisar a situação. Sacou Ostium mais uma vez para fincar sobre a cabeça do terceiro monstro, que tentava rasgar a rede com os dentes. Como os outros dois, o corpo foi substituído por poeira. Assim como Doutzen, Heron havia prendido o último dos cinco em mais uma rede vermelha, exterminando-o com uma flecha.

Vocês estão bem?

Cansaço atravessava a garganta. Arrancou com esforço a katana da terra. Ainda que a pergunta fosse direcionada para ambos, tinha os olhos no homem, curiosa; preocupada talvez. Sabia como Devereaux reagia aquele tipo de matança. Sabia como o arrependimento abria uma janela estranha em seu peito.

Sim… eu acho.

A expressão de Evelynn era sofrida. Colocava a mão contra o peito como se pudesse tirar dali algum alento. A loira assentiu, deixando o aperto no peito sumir por si. Desviou os olhos em direção ao chão.


maybe i'm too busy being yours to fall for somebody new


Parecia o fim daquela batalha.

A aliança, no entanto, não parou de enviar à Lilith a aquela sensação ruim de perigo. Não apenas a joia. Algo dentro dela a fez buscar pela fonte. Correu os olhos pela clareira, buscando qualquer movimentação incomum.

O que houve?
Espera.

Sentidos aguçados pela noite para detectar o novo alvo. Correu os olhos pelos limites da clareira, antes de apontar em direção à uma das centenas de árvores espalhadas na sua frente. Quando o fez, movimentação respondeu sua pergunta.

Ali.

Encaixou a lâmina no bracer outra vez, antes que passos vacilantes fizessem menção de seguir o vulto.  Quando voltou a si, já estava correndo naquela direção, desviando de raízes, pedras e troncos caídos.

A voz de Heron a chamando já estava distante, coberta pelos sons da floresta. Faltava pouco para alcançá-lo.

Mas estava cansando.

Via sua proximidade diminuir a cada patear de seu rival. Seus pés vacilaram contra o solo úmido e, enquanto assistia o cinocéfalo se afastar, podia ouvir a proximidade de outros passos. Aqueles não geravam qualquer sentimento de perigo.

Apontou o caminho, procurando por qualquer movimentação onde os olhos enxergavam.

Eu vi também. Mas não vai dar pra alcançar. Não desse jeito.

Pensou em fazer um comentário ácido, mas nada saiu entre as pausas de sua respiração antes que desse de ombros.

Estou aceitando sugestões. Não tenho muito mais pra fazer.

Nem fôlego para continuar”, completou em pensamento. Mais rápido que um humano – como deveria ser –, sua respiração normalizou, dando a ela o impulso que precisava pra continuar caminhando.

O que quer que aquele monstro estivesse fazendo ali, ia contra seus instintos. Cinocéfalos eram impulsivos e gostavam de uma boa luta, por mais racionais que fossem.

Devereaux caminhava logo ao seu lado, e podia assistir, pelo canto do olho, como sua expressão tinha se retorcido em uma carranca com sua resposta.

Desculpe, eu só…

Interrompeu-se brevemente. Era o momento para declarar que não queria estar ali? Que seu corpo e sua mente estavam cansados demais devido às noites mal dormidas? Que a mentira que tinha contado para ele naquela noite em Mumbai estava a consumindo viva?

Cogitou contar. Mesmo com Evelynn há alguns passos, não via motivo para não o fazer. Mas Heron não deu a ela a trégua que precisava.

O parque é muito grande. Ele não vai conseguir chegar a lugar algum desse jeito. Uma hora, vai ter que parar, recuperar o fôlego e diminuir a velocidade.
A gente só não sabe quando.

Resmungou, para ninguém específico. Duvidava até mesmo que Heron tinha a ouvido, porque ele não a respondeu.

Voltou a seguir atrás dele, lado a lado com a filha de Éris, que tinha aquela aparência condescendente na face. Seus olhos perdidos pareciam mais de acordo com os pensamentos de Lilith, quase fazendo-a trombar contra as costas do homem quando ele parou subitamente.

Conseguem ver o rastro no chão? Por hora, vamos segui-lo.

Ignorou a reclamação que se formou em sua cabeça, antes de assentir muito brevemente, deixando a distância que havia estabelecido retornar entre os dois.  

Mas ele estava certo. Aos poucos as passadas do monstro diminuíram, deixaram de ser espaçadas como uma corrida e se tornaram mais um trote tranquilo, como se o cinocéfalo estivesse certo de que tinha despistado o trio.

Era difícil dizer em que momento voltaram a enxergar o inimigo. Quando o fizeram, a besta parecia tranquila, confiante de que os semideuses jamais o encontrariam sob a curvatura de uma pedra grande. Podia vê-lo porque a noite era sua aliada. A visão parecia não falhar, não deixar uma folha que fosse se mover sem que reparasse.

Apertou o braço do homem, usando a mão coberta por Marama para pedir silêncio com o indicador.

Aproximou-se lentamente, usando toda a experiência que tinha para manter a própria camuflagem completa. Quando decidiu que a distância do monstro era boa o suficiente, agachou-se para tocar o solo lamacento.

Gelo deveria irradiar de sua palma, espalhando-se rapidamente para onde seus olhos podiam assistir. Quando a besta notasse, muito provavelmente seria tarde demais.

Para Lilith, aquele terreno era uma vantagem. O cinocéfalo por outro lado, estaria completamente prejudicado pela forma com que a falta de aderência se construía à sua volta.

Era uma questão de tempo para que caísse. E, assim que o fizesse, sete estacas deveriam brotar do chão, cercando o monstro como uma prisão de gelo. A sétima, por outro lado, possivelmente atravessaria seu torso, condenando-o a uma morte da qual não queria assistir. Concentrou-se em deixar a energia se esvair menos daquela vez.

Antes que tivesse ciência de seu sucesso ou fracasso, viu-se retornar em direção a dupla de aliados, o olhar deslizando contra a floresta atrás de Devereaux. Retirou do bolso seu batom vermelho, deslizando contra os lábios em um gesto vaidoso. Mas Lilith sabia que ia muito além disso.


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Re: — Ruína e Ascensão: Aliados de Éris

Mensagem por Ayla Lennox Ter 14 Jul 2020, 22:51


— independência;
Preste atenção, querida. Embora eu saiba que estás resolvida, Em cada esquina cai um pouco a tua vida. Em pouco tempo não serás mais o que és.
[cartola – o mundo é um moinho]

A floresta tinha vida própria.

Os bosques nunca tinham se apresentado como fins de mundo à lupina, eram sempre o contrário, uma atmosfera propícia a começos – mesmo que começos de fins, como aquele. Pensava em como era fácil ser enganada pelo labirinto de cedros e pinheiros, no quão simples parecia ser a ideia de sucumbir ao assombro e o engano das criaturas que guardavam aquele refúgio, nos ciclos irrevogáveis que prendiam cada mínima existência escondida entre céu e terra.

Estava em um antro de desordem calculada, estranhamente natural, e talvez por esse motivo acreditou que aquele era um lugar capaz de compreender e quiçá pudesse ser compreendida também.

Mas os uivos que se espalhavam pelas colinas deixavam claro que aquela não era uma noite de ternura. A tormenta já havia sido anunciada por ali e cada passo firme da lupina era, por outro lado, um ponto duvidoso dado pelas Moiras em sua tapeçaria. Evitava pensar que estava a pegar desprevenidas as irmãs do destino, puxando um ou outro fio, dando os próprios nós – uma sensação tão enganosa quanto frágil – no porvir.

Uma mentira a mais não faria diferença, especialmente se contada a si mesma.

Enquanto ecos de uma alcateia espalhada pelas colinas, a sinfonia das criaturas noturnas não foi capaz de interferir no ritmo da semideusa. Faziam parte do todo, e ela, ainda que não pudesse dizer o mesmo, era capaz de fingir bem o bastante para que sua presença pasasse quase despercebida.

Havia, no entanto, aqueles que tinham toda intenção de que sua existência, junto a suas intenções, ficassem muito mais que aparentes. Ela sentiu aquele brado animalesco como se fosse o hálito quente de um cão contra sua pele, antecipando uma mordida que não veio, mas seu presságio bastou para que a morena hesitasse.

E sempre que hesitava, algo ruim acontecia.

Daquela vez não foi diferente.

Parou.

De imediato, não era nada além de um reflexo, um sussurro na base de sua nuca que dizia que seria mais prudente esperar, não tomar nenhuma iniciativa. Quando ouviu o crepitar de folhas e galhos secas debaixo de patas escuras a avançar em passos rígidos, a se aproximar, sabia que era tarde demais para qualquer abordagem razoável.

Eram cães infernais, sangues puros do submundo, emissários nobres de quem quer que estivesse disposto a proteger o Jardim. Eram animais que a tinham encontrado com facilidade, que conheciam o aroma impregnado nos poros de um renegado; já estava cercada, uma certeza que fazia os seus pensamentos correrem exasperados procurando por alternativas, tropeçando entre tudo que conseguia perceber do cenário e tentando agrupar aquelas certezas sólidas em uma estratégia, um meio de permanecer de pé.

Lado a lado, as criaturas finalmente foram percebidas como dois leões que adentravam o coliseu. Impiedosos. Famintos. Poucos metros as separavam, mas pelo que eram capazes de fazer, a distância pouco significaria quando resolvessem avançar.

E não tardaram em fazer o primeiro movimento.

Ayla teve tempo apenas de sacar a adaga em sua cintura enquanto assistia a dupla mover-se em uma rapidez ainda mais assustadora que o usual. Havia alguém rogando por aquelas criaturas espalhadas pelo parque, não restava dúvida alguma.

Imbuíu sua energia no item, projetando três cortes no ar. Dois em diagonais opostas e o último na horizontal, aumentando suas chances de ter algum sucesso para medir as forças dos canídeos. Não passava de um teste, por esse motivo não se deixou abalar quando viu um dos oponentes mergulhar na penumbra e desaparecer, deixando apenas o segundo para sentir os cortes na altura do focinho e peitoral, recuando dois passos com um ganido sufocado.

Ela esperou. Sabia apenas que a investida viria em breve, mesmo que fosse incapaz de precisar o local; o timing ideal faria a maior diferença naquele instante. Um sutil zumbido em seu ouvido e o eriçar dos pelos em sua nuca foram o aviso que precisou para destravar a arma no cós de sua calça.

Com um salto, a fera emergiu das sombras de uma árvore que se projetavam no chão. Graças aos reflexos em resposta ao presságio do ataque, teve tempo o suficiente para que não tivesse seu ponto cego explorado. Mesmo sem espaço o bastante para planejar um contra-ataque, pôde posicionar seu corpo para receber o impacto de maneira a evitar os maiores e mais afiados males contra seus pontos vitais.

Caiu.

Com o peso do cão infernal, ir de encontro ao chão era uma certeza, por isso qando deslizou contra a terra batida por alguns metros, precisou trazer à tona a experiência de dezenas de combates piores do que aquele para que se mantivesse focada mesmo quando o fôlego lhe escapou brevemente. Sabia como sair dali. Sentiu a pressão das garras contra seus ombros e clavículas, um abraço mortífero abafado pelas camadas de couro e mitral de sua jaqueta.

O peso em sua destra foi aliviado, e logo pôde ver a pata ser erguida para desferir um golpe direto contra sua face. Segurou com mais força o cabo de Ostium e concentriu sua energua na altura do peito, liberando-a de súbito em um clarão e aquela era a brecha que precisava para fincar a lâmina diretamente na junção entre o membro e o tórax do animal, que ganiu em agonia imediatamente.

Aquilo não a livrou de um talho generoso e mal executado na altura de seu supercílio. Ao mesmo tempo, num recuo desengonçado, sentiu as patas posteriores da criatura como pancadas contra seus membros inferiores.

— Filho da puta. — Resmungou antes de rolar para longe de onde o animal estava.

Levantou-se com certa dificuldade, ainda vendo o cão infernal sacudir o focinho enquanto piscava repetidas vezes para se reorientar, incapaz de sustentar bem sua postura no lado golpeado e andando em círculos tentando retirar a adaga com os dentes de tamanho descomunal. A semideusa puxou a besta de repetição e assim que estava pronta para disparar, percebeu com o canto dos olhos o companheiro do canídeo se aproximar com os olhos fixos nos seus. Não viajaria pelas sombras, seria um ataque direto.

Poderia jurar que aquela junção anormal de força e velocidade praticamente se fazia notável em pequenas vibrações contra a sola de seus sapatos.

Foi ludibriada pela exposição das extensas fileiras de dentes chegando mais perto. Esperou por eles, estava pronta para ampará-los com seu escudo ou aproveitar aquele impulso sicário da besta em seu favor, mas com uma freada abrupta, o cão foi capaz de apoiar discretamente o peso de seu tronco nas patas anteriores, aproveitando do momento para girar em seu próprio eixo.

Em um piscar de olhos, o quadril do animal golpeou a meio-sangue em um empurrão forte o bastante para arremessá-la como uma boneca de pano contra a árvore mais próxima.

Tossiu. Cuspiu um pouco de sangue enquanto suas costas se adaptavam à aspereza do tronco. Com o canto dos olhos era capaz de ver um dos mascotes do submundo lambendo as feridas do outro – tinham o mesmo sangue, afinal de contas, e a lealdade não dependia de um córtex racional como os humanos conheciam – e assumir postura defensiva em frente ao outro, que a contragosto estava retraído e ainda adaptando-se à postura de tripé.

Sacou do bolso a moeda dourada e a deixou cair em seus pés, chutando-a para longe por entre o gramado sem chamar muita atenção. Passava o dorso da mão para afastar a trilha de sangue em seu rosto, aproveitando para cobrir as narinas do odor pútrido que deixava o pequeno denário em uma névoa esverdeada.

A náusea tomou os dois oponentes, que cambalearam por alguns segundos, sem assumir derrota, aos tropeços se aproximavam com os olhos de rubis e bocas abertas. Ayla disparou um tiro para o alto, uma mera seta de prata lunar para provocá-los, um únco projétil material que pouco ou quase nenhum mal deveria fazê-los.

Por isso que, quando o primeiro canídeo avançou de maneira impensada, exibindo suas presas em um arco amplo, Lennox puxou o gatilho evocando a essência elemental imbuída em seu item. A bola de fogo deixou o cano da arma com rumo certo, expandindo-se sem demora assim que tocou o céu da boca do animal.

Uma mistura de sangue, pó dourado e o aroma inconfundível de carne queimada impregnou a campina. Um oponente a menos, um truque que o outro não cairia da mesma maneira.

O rosnado do outro deixava claro seu descontentamento com a situação, mas não recuaria. Mergulhou nas sombras, aparecendo e sumindo em pontos opostos na mesma reta. Esquerda, direita, esquerda, direita. Um ziguezague quase invisível, um anúncio imprevisível de onde viria seu ataque seguinte.

Fechou os olhos. Não padeceria pelas ilusões mais uma vez. Não seria enganada pelo que não podia ver.

Se tivesse fé no divino, aquele seria o momento ideal para uma prece, mas a única crença que lhe restava era em si própria. Então implorou para que seu corpo não a traísse naquele instante. Direcionava todas as forças que tinha às pernas doloridas, nas panturrilhas que ardiam, nos joelhos levemente dobrados para que quando a hora chegasse…

Saltou.

Seu corpo pairou no ar por alguns instantes, e assim que ergueu as pálpebras pôde perceber o sacudir dos galhos ao seu redor, nas folhas que caíram assim que a cabeçada do cão infernal encontrou com tronco do pinheiro. Suas garras arranhavam apenas a casca da árvore, como se em uma tentativa de cavar até o outro lado, destroçando tudo – ou melhor, o nada – que estivesse no caminho.

Assim que atingiu o ponto mais alto de seu pulo, a gravidade tornou a agir sobre o corpo de Ayla. A lupina não prolongaria aquela batalha. Posicionou-se de maneira que cairia mirando a nuca da criatura com seus calcanhares, fazendo com que o outro fosse alcançado de surpresa.

Seu peso contra o dele, ouviu um estalo indicando que tinha rompido algum ponto da armadura óssea que o protegia. Curvou-se rapidamente, a mão afundando no pelo escuro que cobria o topo da cabeça larga do canídeo e com um empurrão, a lâmina de California saltou, atravessando o crânio até encontrar saída pelo globo ocular do cão infernal.

O corpo cedeu em uma queda lúgubre, lentamente se desfazendo em um último suspiro misturado a um uivo engasgado a caminho do mundo inferior.

A cria de Selene estava de joelhos, a respiração entrecortada enquanto olhava ao redor em busca de seus pertences quando sentiu o peso de dois olhos vulpinos sobre si. Acuado, um monte felpudo de cor ferrugem tentava se misturar aos arbustos, mas parecia estranhamente perturbado com o desfecho daqueles eventos.

Oscilava seu foco entre a garota e a floresta, da floresta de volta à garota. Olhou para o céu, as orelhas baixas e a longa cauda entre as pernas. Respeito. Não estava ali como oportunista, carniceira ou qualquer tipo de caçadora. Era só uma mensageira, os olhos de outro alguém.

E foi com essa certeza que a cria da lua permaneceu imóvel, temendo afugentá-la em uma corrida mais intensa do que poderia suportar de imediato. Com os lábios entreabertos começou a murmurar uma melodia sonolenta, uma canção de ninar de rimas velhas e esquecidas no fundo da gaveta de suas recordações.

Hush, little Baby, don’t say a word, Mama’s gonna buy you a Mockingbird.

Apanhou a adaga, tinha os olhos fixos no rumo que a criatura poderia seguir. Conhecia seu aroma, conseguia ver seus passos, nem mesmo as tocas conseguiriam esconder aquele animal.

And if that mockingbird don’t sing, Mama’s gonna buy you a diamond ring.

Não havia nada que pudesse comprar o silêncio daquela raposa diante dos deuses, mas se aqueles versos ao menos a fizessem sucumbir ao sono, Lennox roubaria dela as palavras com o fio de um metal tão amaldiçoado quanto os feitos que tinham presenciado.
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Re: — Ruína e Ascensão: Aliados de Éris

Mensagem por Brooklyn S. Palmer Ter 14 Jul 2020, 23:59




“Assim expira o mundo
Assim expira o mundo
Assim expira o mundo
Não com uma explosão, mas com um suspiro”.

[T. S. Eliot]

A natureza extensa daquela floresta era traiçoeira, capaz de facilmente engolir os mais desatentos e levá-los a um ponto de perdição irretornável. Para alguém sendo guiada puramente pelo senso de direção e um mapa decorado, terminar presa entre os dentes cruéis daquele lugar era uma tarefa mais simples que desejava confessar. Tinha uma breve noção de qual direção seguir — norte, sempre ao norte —, porém a incerteza de que iria alcançar o destino almejado sentava silenciosamente em seus ombros.

Os olhos de sua avó ainda a atormentavam, a ilusão tendo feito uma marca na semidivina maior que podia realmente prever. Nunca esperaria que um registro tão profundo de seu passado fosse desenterrado daquela forma, nunca que seu tão forte receio de lembrar iria tornar-se realidade. Isso fez seu corpo entrar em alerta. Um galho rompido nos derredores, ou até um pequeno animal cruzando seu caminho eram capazes de fazer seus pelos da nuca arrepiarem de antecipação. Estava só, porém o que aquela palavra significava naquele momento?

Suas armas pareciam pesar sobre seu corpo, ainda que estivessem em seus formatos mais compactos. Um borbulhar incessante de seu estômago parecia querer avisá-la sobre algo, apenas não sabia responder exatamente o quê. Talvez fosse apenas ansiedade, quem sabe até mesmo um mal estar psicológico que se tornava físico graças ao que havia acontecido. No entanto, algo no fundo de sua mente lhe dizia que era algo mais. Um pressentimento.

Tateou os bolsos do casaco em busca de antiácidos, qualquer coisa que fizesse adormecer aquela sensação. Precisava de foco. Caso continuasse daquela forma seria uma vítima fácil para outras ilusões, uma vítima fácil para qualquer obstáculo que os Olimpianos resolvessem usar ao seu favor. Suas suspeitas eram puramente imaginárias, uma falsa desconfiança oriunda dos anos vivendo em perigo.

Gostaria de permanecer pensando assim, porém um uivo preencheu a noite e foi quando tudo se iniciou.

Antes que pudesse reagir, uma superfície metálica colidiu contra as costas de Santiago e a atirou em um tronco. Sentiu os ossos serem comprimidos pela pressão da madeira e do ferro, apertando cada vez mais até o momento no qual foi largada ao chão. Cambaleou de um lado a outro, trincando os dentes ao erguer a vista para encarar aquele que a atacou, ou melhor, aquilo.

Não foi capaz de sacar a espada a tempo de evitar a lança atirada em sua direção, acertando seu ombro com a precisão necessária para abrir uma fenda profunda. Nunca havia visto, muito menos enfrentado, um bucéfalo em toda a sua vida e nunca imaginou o quão desesperadora aquela imagem poderia ser. Seus olhos estavam arregalados, o peito subindo e descendo copiosamente em decorrência de sua respiração ofegante. Precisava reagir.

O humanóide ergueu o punho até a altura do rosto da colombiana, o soco contra seu rosto sendo forte o bastante para derrubá-la no chão de joelhos. Era uma criatura bruta e, ao contrário de Brooklyn, tinha seus movimentos baseados puramente na força física e intimidação. Uma sorte como aquela não poderia ser pior, concluiu nos pensamentos ao ouvir um berro violento capaz de fazer todos os ossos da semidivina estremecerem. Contra-atacar uma besta como aquela parecia impensável naquele instante.

Novamente, outro ataque veio em sua direção. Um casco movimentou-se como um raio na direção de seu pescoço, suas pernas fracas pelo medo fazendo com que o resto de seu corpo reagisse antes do próprio cérebro. Desviou por pouco dessa primeira investida, o corpo deitado sobre a terra estremecendo com o estrépito selvagem emitido pela árvore ao ser atingida. Ao ver o monstro levantar seu pé novamente, fechou os olhos e cobriu-se com os braços. Esperou pelo ataque que nunca veio, não da forma que esperava.

No lugar de ser pisoteada pelos cascos do bucéfalo, garras lhe rasgaram os braços e um grasnar cortante preencheu seus ouvidos. Escancarou as pálpebras e se já tinha razões para se desesperar anteriormente, elas apenas se agravaram ao encontrar a estrutura metálica da ave de estinfália. Estava condenada. Mais uma vez, foi atacada pela lança reluzente do humanóide e buscou esquivar-se somente para terminar com um ferimento pouco abaixo das costelas. Ganindo de dor, a hispânica mal conseguia imaginar em um futuro após uma batalha como aquela.

Sobrevivência, naquele instante, pareceu um conceito distante. Uma filha de Apolo sobreviver uma batalha durante a noite contra dois inimigos como aqueles era algo impensável. Precisava descobrir algo, uma solução para a desvantagem na qual se encontrava. Uma rajada de penas foram direcionadas até ela, atingindo-a em pontos pelo abdômen. Teria que pensar o quanto antes, teria que deixar a intimidação de lado se quisesse um novo futuro. Sem os deuses, sem ordens, sem a ideia de ser metade de algo que nunca apreciou. As pulseiras sobre seu pulso queimaram.

Uma solução.

Nada além de um mero toque foi necessário para que uma lira dourada aparecesse em suas mãos, segundos antes de precisar desviar de mais uma enristada da arma do bucéfalo. Se tinha limites para utilizar o arco de luz, deixaria que o instrumento fosse seu aliado naquele momento. Tentou fugir de mais um arranhar das garras do pássaro, movimentando agilmente o corpo para esconder-se atrás de uma árvore e ganhar tempo para seu próximo movimento.

Tocou os primeiros acordes instantes antes do humanóide atirar sua arma. Manejava as cordas com cuidado, uma delicadeza crucial para a lira, manipulando as sombras intermináveis daquela floresta de maneira a limitar os movimentos do homem-touro que resistia incansavelmente. Focar nele seria sua melhor escolha, deixá-lo incapaz de atacar por poucos momentos seria o bastante. Só assim poderia se livrar do estorvo que era a ave de estinfália, com seus gritos estridentes e penas cortantes.

As correntes daquelas sombras não durariam muito com a besta lutando daquela maneira por sua liberdade, portanto, a semidivina alterou a melodia de sua canção. O que antes era um grito desesperado tornou-se uma canção de ninar para o touro. Rajadas de penas continuavam voando em sua direção e acertavam-lhe os braços, atrapalhando-a e causando um certo desleixo ao puxar as cordas, contudo nunca sendo o bastante para interrompê-la. Suas notas improvisadas eram a única esperança que tinha num momento como aquele, seria necessário muito mais para fazê-la parar.

Pouco a pouco, a criatura tornou-se sonolenta e não demonstrava mais a resistência de antes. Parecia fraco. Brooklyn finalizou a melodia, soltando-o das sombras que o prendiam. O bucéfalo, entretanto, ainda erguia sua arma e cometia tentativas vãs acertar a moça que já não mais o temia. Já não se sentia intimidada. Transformou a lira em um bracelete novamente, sacando Fobor para tentar colocar um fim ao duelo e sendo acertada novamente pelas unhas do animal metálico.

Praguejou, sentindo o sangue escorrer das maçãs de seu rosto até a clavícula e reagindo quase instantaneamente. Com um corte veloz, arrancou fora um dos pés da ave que produziu um guincho horrendo de sofrimento. Mais plumas foram atiradas em sua direção, no entanto a hispânica defendeu-se de forma a ser atingida somente de raspão. Precisava terminar aquilo o quanto antes, antes de seu outro inimigo ser capaz de acertá-la novamente.

Quando o pássaro investiu novamente contra ela, Santiago não recuou. Ergueu a lâmina, milésimos prévios ao golpe e cerrou as pálpebras instintivamente. Nada veio. O metal estava a centímetros de seu rosto, mas não a atingia. Girou, então, o gládio atravessando o corpo da besta e o puxou. Poeira dourada foi a única coisa que restou.

Desconfiou que o efeito de seu poder sobre o bucéfalo já não mais funcionava e não foi preciso esperar muito até a confirmação. Ao virar-se para encará-lo novamente, a arma de seu adversário já percorria o caminho até ela e uma defesa desleixada foi a única coisa que a salvou da morte certa. Já não havia mais resquícios da sonolência agradável sobre o corpo daquele ser, a expressão por baixo de seu capacete feroz e em busca de sangue. Ele utilizou o escudo para empurrá-la pela segunda vez, gerando um recuar descuidado por parte da colombiana.

Só o diálogo resolveria o problema entre eles e, naquela situação, o som da colisão das armas de ambos era a única língua que compartilhavam. Trocavam golpes, disputavam quem iria cair primeiro e nenhum dos dois estava disposto a dar o braço a torcer. Enquanto o humanóide era agressivo e demonstrava sua crueldade implacável, seu poder entrava em conflito com o de uma jovem disposta a utilizar todos os tipos de artifício para sobreviver.

Buscou fincar sua espada contra o peito do oponente, contudo sua velocidade não fora o bastante para superar a resistência do escudo que subiu a tempo de segurar seu ataque e atirá-la para longe. Era uma situação frustrante, nenhum deles suportava mais a persistência do outro e nenhum dava o braço a torcer. O monstro tentou acertar seu abdômen com a haste de madeira da lança, atingindo sucesso e fazendo com que Brooklyn se curvasse.

Ao puxar de volta sua arma, preparou-se para atingir a garota uma última vez. Não. Não podia terminar assim. Ele ergueu o braço em um ângulo exato para atingir o esterno de Santiago, não sabia se seria capaz de escapar. Apertou o tecido de sua roupa, o mundo ao redor parecendo ocorrer em câmera lenta enquanto o fio de seu destino se preparava para ser cortado. Tinha que agir. Seus dedos encontraram com a terra e os olhos da hispânica se arregalaram.

O que antes acontecia numa velocidade torturante, tornou-se mais rápido que o cérebro de Palmer podia registrar. Jogou-se para o lado, desviando do ataque rápido de seu oponente por uma mera questão de sorte e ergueu o corpo na maior velocidade que conseguiu. Os dedos, então, envolveram o cabo da adaga em sua cintura e puxaram a arma em um reflexo rápido para lançá-la contra a besta.

Acertando seu opositor no ponto exato entre seus olhos, venceu aquela luta.

Suas pernas vacilaram e a cria do Sol permitiu-se cair ao chão por poucos momentos. Estava cansada. Sabia das dificuldades que enfrentaria, porém estava realmente pronta para elas? Cobriu os olhos com as mãos e suspirou pesadamente, não havia se preparado para algo assim. Merecia descansar.

Merecimento, no entanto, não significa que se vai receber algo.

Brooklyn estava sendo observada.

Abriu os olhos, procurando por mais um inimigo e não encontrando nada. Tudo o que havia era um lobo, fitando-a profundamente com suas írises amarelas como quem não quer nada. Então era daquilo que se tratava. Um mensageiro. Estava sendo entregue às mãos do inimigo por um canídeo que mal se mostrava disposto a enfrentá-la.

Transmutou a lira novamente e sentou-se com cuidado. Não podia permitir mais incômodos. Iniciou mais uma canção calma, conjurando as sombras que foram praticamente capazes de segurar um touro para imobilizar aquele pobre animal. Não estava improvisando, no lugar disso tocava de memória uma melodia dos seus tempos de adolescência.

Só restava saber se o lobo se deixaria seduzir por aquela tessitura.


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Re: — Ruína e Ascensão: Aliados de Éris

Mensagem por Héracles Qua 15 Jul 2020, 01:00


Turno 3 - Jardim

As primeiras baixas se deram poucos minutos após a chegada dos invasores. Inegavelmente, nenhum deles estava preparado para serem abatidos pelas forças olimpianas, mas as deusas estavam dispostas a sacrificá-los para o bem maior, para que prevalecessem.

Victoria foi atordoada pelos esporos, mantendo-se presa em um transe infindável de seus piores temores e receios. A filha da noite, então, foi atacada por uma dríade cujo chicote coberto de espinhos cravou-se em sua garganta, não apenas sufocando-a, mas causando cortes e uma hemorragia profunda. O sangue irrompeu das feridas até o sofrimento da semidivina acabar em um último suspiro de vida. Estava morta e seu corpo foi puxado pelas raízes de dentro do chão, desaparecendo no jardim.

A doce e confusa Lana, depois de assassinar dois sátiros defensores daquele cerco, não conseguiu convencer a dríade que a espionara. Simplesmente, suas palavras gentis não apagaram as mortes cometidas em nome da deusa da discórdia e a criatura, após uma breve fuga, entregou sua localização para Ártemis. Logo, as forças da deusa a encontrariam em meio à batalha que se seguia.

O resto dos invasores, mesmo cansados e feridos, neutralizaram os olheiros dentro das florestas e por ali seguiram sem interrupções.

Não parece nada bom.

E não era. Perséfone e Deméter estavam invariavelmente inquietas, então escolheram responder aquela outra presença com um discreto menear de cabeças. Era palpável a proximidade que os semideuses conquistavam dos portões dourados que guardavam o Jardim. As criaturas da deusa da caça não haviam sido suficiente para impedir que medidas menos razoáveis fossem desenhadas para o último dos casos, mas aquela era a sina implacável que as Moiras costumavam reservar às crias dos deuses: confrontos que aos poucos fossem sufocando o que lhes restasse de mais humano.

Eu darei o sinal. — A quarta deusa se aproximou, seus olhos tão fundos no elmo que quase escondiam seus ares joviais. — Sabem que eles são nossa última barreira, não sabem?

Mãe e filha se entreolharam. Ajustavam suas armaduras por mera formalidade enquanto faziam ascender do chão lâminas douradas com seus nomes gravados em grego antigo. A deusa do cultivo, pela primeira vez, não parecia carregar em suas costas a graça de boas colheitas, mas sim de uma ceifeira disposta a arrancar os males pela raiz - esquecendo apenas de considerar que aquela era sua própria semente.

Hebe, faça apenas o que combinamos. Todo resto depende deles.

pontos obrigatórios


— Sejam bem-vindos ao terceiro turno do evento. Saliento aqui que todas as ações e decisões tomadas podem gerar consequências diretas dentro da trama global, além do risco elevado de morte para os personagens, portanto, tenham cuidado.

— Vocês seguem percurso até os portões do Jardim das Hespérides, alvo real de Éris. Durante todo o caminho vocês enfrentarão desafios que são frutos dos esforços dos deuses para proteger o lugar e o desempenho do grupo como um todo determinará o sucesso ou fracasso das investidas;

No primeiro ponto vocês precisarão se localizar. O Jardim está no coração do Parque Olympic, e dados os entraves que vocês enfrentaram até agora, acabaram invariavelmente se desviando um pouco;

  • Caso o grupo tenha sido bem-sucedido nas tarefas turno anterior, a vantagem de vocês será a seguinte: Ártemis não mais estará no encalço de vocês, o que dará a todos a liberdade de narrar um percurso tranquilo e sem mais atrasos por obra das deusas que interviram até agora. Além disso, o elemento surpresa estará com você na hora de enfrentar o último empecilho;
  • Caso o grupo falhe nas tarefas do turno anterior, as deusas saberão o caminho que estão seguindo e farão o possível dentro de seus domínios para atrapalhá-los (narrem isso da forma que julgarem mais coerente e com a interferência da divindade que preferir). Além disso, não terão a vantagem da aproximação surpresa com relação ao último empecilho;

No segundo ponto, vocês finalmente terão a visão dos portões dourados do lar das Hespérides, mas há um porém: barricadas foram erguidas e um exército aguarda vocês. Um exército de semideuses.

O desafio é o seguinte: muito mais que um confronto físico, esse será um embate moral e pessoal para seus personagens. Estando sozinhos ou em grupos, vocês deverão bater de frente com alguém conhecido, alguém que é invariavelmente leal aos deuses e aqui ele questionará por quê? Por que trocar o que você tinha (no Acampamento ou fora dele) por toda aquela destruição?;
Sintam-se livres para usar npcs, menções a personagens já existentes, antigos conselheiros de chalé, líderes... tudo é válido, mas não espero que seja uma batalha fácil. Finalizem-a da maneira que julgarem mais apropriada sabendo que o grupo precisa continuar avançando;

Pela bênção de Hebe, círculos mágicos surgirão sob seus pés e sugarão a vitalidade de vocês, transferindo-a para o(s) aliado(s) dos Olimpianos que estão prestes a enfrentar. Na prática, isso significa que vocês "perderão" 5 níveis para fins de uso de poderes e resistência, de maneira que consideraremos o(s) oponente(s) sempre com pelo menos¹ 5 níveis a mais que vocês;
¹Para os grupos, a quantidade de adversários será igual a de aliados, mas o nível base será sempre igual ao do componente mais poderoso;
*Nada impede que vocês se ajudem, mas sejam coerentes e cuidadosos nesse ponto;


condições


Ayla Lennox, nível 75
HP: 775/850 (-75)
MP: 579/850 (-72)

Brooklyn S. Palmer, nível 54
HP: 560/630 (-70)
MP: 578/630 (-52)

Evelynn Sitsongpeenong, nível 2
HP: 110/110
MP: 80/110 (-4)

Heron Devereaux, nível 60
HP: 690/690
MP: 658/690 (-32)

Lana Storm, nível 4
HP: 90/130 (-20)
MP: 80/130

Lilith Doutzen, nível 70
HP: 810/810
MP: 805/810 (-248)(+243)

Victoria van Houten, nível 54
HP: 00/00
MP: 00/00  

Informações adicionais


  • Ao final do evento, os que não atingirem ao menos 60% de rendimento total, morrerão;
  • Não se preocupem com postagens extremamente longas. Foquem na coerência e na objetividade;
  • Clima: Frio (16°C), céu parcialmente nublado, poucas chances de chuva. Lua cheia;
  • Horário aproximado: 20:45
  • Poderes, equipamentos e mascotes deverão ser colocados em spoiler ao final do post, para fins de organização. Observações como "poderes até tal nível" serão desconsideradas;
  • Deuses interventores: Hebe.
  • Prazo de postagem: 23:59 do dia 20/07/2020.




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Re: — Ruína e Ascensão: Aliados de Éris

Mensagem por Ayla Lennox Sex 17 Jul 2020, 11:43


— independência;
Ouça-me bem, amor. Preste atenção, o mundo é um moinho. Vai triturar teus sonhos, tão mesquinho. Vai reduzir as ilusões a pó.
[cartola – o mundo é um moinho]

As estrelas não costumam mentir.

Qual motivo teriam, afinal de contas? Mais que isso, quais meios teriam para tal? Lá de onde estavam – e estavam num lugar além da distância entre céu e terra que conseguiam projetar em medidas comuns –, cada ponto era um pedaço distinto de histórias de feras e heróis passados. Findados.

Talvez estivessem no véu de Nyx por um propósito, por vários ou nenhum. Naqueles ares relativos dos astros, a lupina sentia-se capaz de confiar e pensava que mesmo a contragosto ainda sentia brumas discretas de familiaridade quando pensava nos adonos do firmamento noturno.

Considerando as constelações e traçando algumas linhas imaginárias em paralelo ao horizonte, conseguiu se reorientar. Seu ritmo não era o mesmo, mas avançava entre um maldizer e outro, ainda cuspindo sangue e alguns palavrões no caminho até sentir seu foco ser roubado por um reluzir dourado.

Era um brilho suntuoso que se esgueirava quase como se tivesse vida própria e um anseio de se anunciar aos quatro ventos. Como toda suposta nobreza, tinham pompa contida sob pseudônimo de etiqueta que não bastava para disfarçar a ânsia de sua origem em ser notada.

Em ser adorada.

Porque aquela era a entrada para o refúgio de Hera, e a deusa, alheia ao quão surreal e trágico soava seu título de rainha do Olimpo, tinha uma necessidade irrevogável pela reverência. O luxo dos portões parecia subitamente menos impressionante diante das constatações que alcançavam cada um dos sentidos da garota.

Vez por outra – vezes essas muito raras – Ayla ainda sentia-se como a criança reclamada em uma ruela de Nova Iorque. Não pelo medo, não pelas incertezas, não pela sensação do poder correndo por suas palmas, mas pela antecipação. Mesmo que intangíveis e raramente vistas, as auras eram ferramentas poderosas no mundo semidivino para que soubessem quando estavam à beira de algo grandioso. Algo como aquilo.

O icor estava lá: puro e abundante. Em algum ponto além daquela fronteira, ela sabia que existiam forças que iam além de sua compreensão e eram responsáveis pela caçada aos aliados de Éris dentro do parque Olympic.

Lennox sentiu uma gota de suor escorrer por sua nuca, como se aquelas presenças já se anunciassem em um peso invisível sobre suas costas. Era um esforço extenuante estar ali, desafiá-las com seu avançar. Sentia no ar o aroma não de medo, mas de imprudência em mãos trêmulas e entrelaçadas à ingenuidade.

Era o aroma dos seus.

Parou às beiras de uma clareira, o corpo escondido atrás de um pinheiro cujo tronco e alguns galhos eram curvos a ponto de lembrar a postura de um idoso cansado. Por ali conseguia ver três ou quatro barricadas erguidas às pressas com madeira, algumas rochas e muretas de terra batida.

Conseguia ver sangue – não muito, mas uma única gota bastava para despertar sua inquietação – e a movimentação de uma dupla de semideuses que passava pelos esconderijos carregando aljavas cheias a serem entregues aos arqueiros e pequenas cestas preparadas com um capricho que, pelas urgências dos curandeiros em busca de ataduras e gaze, não seria notado.

Ouvia os murmúrios que se espalhavam por ali. Instruções dissonantes e pouco eficientes dadas às pressas enquanto assumiam posturas errantes. Era óbvio que temiam o que se aproximava, mas não iriam embora, não enquanto estivessem atendendo o chamado dos olimpianos, o pedido de socorro daqueles que não deveriam estar envolvendo suas crias numa guerra que não as pertencia.

Ou que ao menos não deveria pertencer.

Ponderava suas opções, buscando nos arredores algum outro meio de chegar até o lar das Hespérides quando a voz do pequeno exército a alcançou antes da presença que ali chegava em passos ágeis e leves.

— Arqueiros, em posição! — Uma voz feminina os guiou. — Preparar.

Podiam sentir a tensão das cordas no ar. Fileiras e mais fileiras de setas prontas para serem disparadas pelo ar noturno de encontro a… uma garota. Não a conhecia, mas se estava ali, a poucos metros de distância, em algum nível estava envolvida na trama dos imortais. Era difícil perceber o fio de energia divina nela, mas estava lá, uma pequena e recente mácula no seu fôlego mundano que se tornava mais raso e mais curto lentamente.

Vamos, saia daí. — Murmurou a lupina, sem intenção alguma de ser ouvida. — Fuja, não faça nenhuma estupidez.

Ambas permaneceram imóveis, apenas um sutil lampejo de expectativa ligava a cria de Selene à criança. Esperava que a outra fosse embora, que não precisasse ver ou ter parte naquilo.

Mas as coisas não funcionavam da forma que ela desejava. Tudo aconteceu após um longo instante de silêncio e estática. As flechas foram preparadas. Umas com pontas de prata, outras com requintes de magia.

E parecia ser tarde demais, só que não era. Nunca era.

Correu.

Não sabia ao certo como, mas seus ímpetos, antes mesmo que desse o primeiro passo, já estavam direcionando seu poder para a palma das mãos. Por esse motivo, quando encurtou a distância entre seu corpo e o da garota, no último instante inclinou o corpo para que pudesse tocar o chão com a ponta de seus dedos.

— Disparar! — A ordem estava dada.

Com aquele toque contra a terra batida, a energia de seu corpo transpassou a pele até o solo, manifestando-se na forma de uma barreira translúcida. As flechas encontravam a parede, despertando o arquejo dos sentinelas e mais uma saraivada incessante sem muitos resultados contra as duas ali presentes.

Virou o rosto, as íris cinzentas procurando os contornos da menor.

É melhor ficar fora disso — ela bufou, sabendo que não teriam muito tempo — mas sei que nem tudo é simples assim, então se pretende prosseguir, faça isso no momento mais oportuno. Vou conseguir uma brecha.

Sem mais nem menos, deu as costas para a pequena e esperou apenas um breve intervalo nos disparos para ficar de frente para os defensores do Jardim. Uma fileira com cinco guerreiros estava a pouco mais de um metro à frente do pelotão, escudos e espadas erguidos por figuras de olhos trêmulos por trás dos elmos com penugem alaranjada.

Era uma visão triste. A amargura lhe atingiu como uma onda, lavando sua expressão impiedosa e fazendo cair por terra sua postura rija, tornando sua certeza de ataque em pedaços ínfimos que se misturavam à poeira do chão.

Matá-los não era sequer uma opção. Viu-se incapaz de sacar suas armas. Se o fizesse, as estaria apontando para quem?

— Esperem, baixem os gládios! — Alguém se precipitou, criando um pequeno alvoroço enquanto as várias fileiras de semideuses procuravam sua origem olhando para trás. — Eu a conheço, não avancem.

Com o cenho franzido, Ayla deu um passo para trás ao constatar que, mesmo sem vê-la, também a conhecia. Assistiu a outra cria dos deuses fazer caminho por entre seus semelhantes com empurrões e tropeços até fazer os demais recuarem enquanto se tornava o único ponto entre as barricadas e a lupina.

Toda a cena deveria ter durado não mais que quinze segundos, e foi nesse intervalo que percebeu o quão relativo o tempo podia ser. Para ela, para os outros. Tinha como armadura apenas um peitoral de bronze sagrado com alguns arranhões, amassos e manchas ainda mornas de sangue que alcançavam o tecido exposto de sua blusa, seu jeans e suas mãos.

Mãos que se recusavam a empunhar qualquer item que pudesse ferir. O colar do serpentário pendia em seu pescoço, um lembrete claro de que aquelas mãos serviam para curar.

Diana.

Tinha um palmo a mais de altura e a mesma medida a menos na extensão de seus cabelos escuros, que agora mal chegavam aos ombros. Lennox lembrava de passar suas mãos por aquelas madeixas enquanto tentava apaziguar os medos daquela criança, que tinha acabado de entender o que eram as mortalhas, que ainda não tinha se acostumado com o crepitar das chamas a ecoar pelas colinas mesmo muito depois do fogo ser extinguido.

Quatro anos antes, no chalé dezoito.

— Então é verdade. — Falou a campista. — Você realmente está do outro lado agora. — Não tentou disfarçar a melancolia nas suas palavras. — Pensei que fossem rumores, algum tipo de mal entendido. Pensei que algum dia você voltaria pra casa, que esclareceria tudo e seu nome não fosse mais um sussurro malquisto dentro das fronteiras.

Diana, nos deixe passar. — Ayla pediu, sua voz neutra e leve. Falava, pela primeira vez, sem pesar.

— Por quê?

Porque não estou aqui para machucar vocês. — Respondeu.

— Então por quê? Por quê, Ayla? — Ela insistiu. — Você tinha tudo. É loucura continuar por esse caminho, não precisa fazer de nós seus inimigos. — Ela deu um passo em frente. — Eu lembro de você, irmã. De quem você foi, das coisas que fez por nós. Volte. Sei que não teve escolha.

Ayla suspirou.

Minha guerra nunca foi e nunca será contra vocês, Diana. — Ela tateou o bolso até encontrar a varinha escondida ali. — Preciso que entenda que também estou fazendo isso por vocês. Por nós, todos nós.

Estava em um estranho piloto automático. Abaixou-se, ignorando o olhar confuso da meio-sangue e suas tropas enquanto fincava a haste de madeira no chão. ”Sei que não teve escolha. A curandeira estava errada. Sempre havia uma escolha, e a renegada continuava a fazê-la todos os dias desde que tinha deixado os limites guardados por Peleu.

Escolhia a chance de ter qualquer coisa diferente do jugo imposto pelos olimpianos.

Acordos e dívidas impagáveis, uma dança guiada por fios de um marionetista sádico ao som de um requiém. Continuavam padecendo, um a um, os filhos dos deuses enquanto a cornucópia enchia a mesa no salão de seus pais, que assistiam aquela tormenta com uma taça de vinho em mãos.

Quando ficou de pé, percebeu um halo no chão com brilho sutil. Inscrições em grego antigo espalhadas pela circunferência evidenciavam a mágica que usurpava mais uma vez algo de si ao mesmo passo que dava aos soldados um recado óbvio: marcavam-na como um alvo.

Então é assim que as coisas precisam ser. — Seu sorriso era genuíno, puxados por fios que também costumavam guiar as despedidas.

Lennox puxou Nightmare, antes presa em sua cintura aos passadores da calça. O ferro estígio nunca tinha lhe parecido tão frio e tão convidativo – tão cabível – quanto naquele momento. Colocou a coroa ciente de que não havia nada de nobre em si, e que não herdava nada além de um legado de destruição.

O bom nem sempre é bom para todos.

O chão tremeu sob seus pés, e lembrou dos eventos na Alemanha. Derrubaria aquela árvore quantas vezes fossem necessárias, e era por aquele motivo que tinha voltado. Pecados maiores, mais imperdoáveis.

Batam em retirada, é o último aviso. — Olhou Diana nos olhos, e ambas sabiam que outros estavam chegando, que Lennox estava ali para abrir caminho. — Não é tarde demais.

Atrás da cria de Selene, um ent corrompido ascendia do solo, um nascimento profano e violento acompanhado de um brado bestial. Sombras se precipitavam no ar noturno, partindo da coroa feita com o metal do submundo, projetando três criações: um pégaso e duas criaturas de aspecto leonino, quimeras conhecidas pela alcunha de manticora.

Irradiavam medo, e ainda que não suficiente para abalar todos os que ali estavam presentes, serviam para que pudesse reparar nas hesitações e recuos discretos quantos novatos ou campistas pouco experientes tinham sido convocados.

Se vai me impedir, faça-o agora. — Desafiou Diana, o peito aberto pronto para receber um golpe que fosse.

Um golpe que não veio.

A seguidora de Asclépio cerrou os punhos, fitando com a periferia dos olhos seus companheiros. Nem todos tinham chance de sobreviver àquela luta, mas todos tinham condições de correr. Ayla montou no cavalo alado, erguendo o rosto até encarar a lua cheia. Uivou. O fez por mera formalidade, pra garantir que o temor pudesse subjugar qualquer impulso de batalha. Precisava que partissem, pois os que estavam chegando talvez não fossem tão misericordiosos assim.

— Recuar. — Diana comandou, a única que não parecia ter se abalado pelo som. — Recuem imediatamente!

E diante daquela ordem, tocou com os calcanhares no flanco de sua montaria, preparando-se para alcançar o céu noturno. Destruam as barricadas, não permitam que sobre nada, ordenou mentalmente a seus subordinados mas não toquem nos semideuses.
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Re: — Ruína e Ascensão: Aliados de Éris

Mensagem por Lana Storm Seg 20 Jul 2020, 13:13

Lana Storm

Mas ela é só uma criança.


A sensação de ver os sátiros caídos sem vida. As próprias mãos sujas de sangue, o efeito da lua cheia iluminando sua face, em um raio de luz direto entre as arvores. Um mix de pensamentos, ideias e sentimentos inundavam a mente da pequena tempestade. Era hora de erguer a cabeça, e dar as mãos ao destino. Uma criança não poderia sobreviver a guerra, mas lutaria até o fim de sua vida.


A escolha por participar de tudo isso martelava em sua mente, um torpor causado pelo devaneio de ter seu pai de volta. Uma ilusão apresentada pela pequena Sitsoong, e que em momento algum foi questionado, seria essa a vontade da garota? Ou seu destino havia sido decretado desde o momento em que pisou no acampamento.


Embora não faça muito tempo que estivesse em atividade, e descobrisse sobre o véu de Nyx, a garota ainda não havia presenciado a ação divina, acostumada a ser abandonada e viver solitária desde que se entendeu por ser humano responsável. O que infelizmente ocorrera de forma precoce. Com exceção de sua reclamação. Nunca mais houvera contato com nenhuma figura do Olimpo, e aqueles que nunca a procuraram para auxiliar, educar ou simplesmente dizer que tudo ficaria bem, não mereciam a sua ajuda, mas a sua lâmina afiada.


A Dríade não ficou, as palavras foram insuficientes, a suplica ignorada.  Mas o combate lhe serviu bem, a primeira morte sequenciada com mais uma vítima da adaga da garota, lhe despertaram um sentimento novo. A adrenalina corria por todo o seu corpo, sabia que não receberia o perdão dos poderosos governantes. Então, era hora de destrona-los, esperança já não era algo vivo em seu interior, mas o instinto tomaria conta de seu caminho dali em diante.


Mas ela é só uma criança.


O mantra parecia não surtir efeito, os deuses poderiam questionar a presença da pequena prole de Selene nessa guerra, mas estariam eles realmente afim de proteger a semidivina?  

A velocidade ampliada pelo ambiente noturno, cessou imediatamente após um círculo de coloração indistinguível pela menina aparecer sobre seus pés, sem que a garota percebesse, uma criatura grande e negra apareceu em sua frente, um cão do inferno cujas habilidades, superavam infinitamente os poderes atuais da garota. Sabendo que não teria como lutar, e muito menos como fugir dali ela esperou.


Assim que a criatura desapareceu em meio as sombras, Lana começou a correr. Como se fosse a última coisa que faria na vida, realmente deveria ser mesmo. Em meio a pressa, acabou não percebendo o pó dourado que havia se espalhado novamente pelo local em que ela passava, continuava a correr e acabou por inalar aquele divino artificio de caça, onde não havia sujeira na batalha.


A corrida permanecia incessante, um sátiro apareceu munido de uma espada, tentando golpeá-la de frente. Estranhamente ele era mais lento que o habitual, por se tratar de uma ilusão, dar a impressão de vitória para a garota era algo traiçoeiro. Com um movimento rápido de sua adaga, atingiu a criatura, que caiu como um tronco oco de uma arvore grande.


Outras criaturas apareciam e iam em direção a garota, tendo como única semelhança, a brilho nos olhos, uma luz belíssima de um azul celestial. Uma ave de rapina, um lobo, dois sátiros e um cão gigante foram completamente executados com um simples ataque. O sentimento de poder subia a cabeça da garota, que tomou um susto grande quando a próxima figura apareceu.


Um semideus, muito parecido com seu amigo Lamar, sem dizer qualquer palavra a atacou cruelmente, e a garota por instinto o atacou. O impacto do corpo caindo possuía o mesmo som dos adversários anteriores, a mesma dificuldade em ser abatido.


-- Isso não pode ser real.


-- E porque não?


A voz familiar atingiu os ouvidos da menina, causando uma pequena pausa em suas ações, a imagem de Ana aparecia lentamente em sua frente. Os olhos, como todos os outros ainda estavam brilhando, o que fez a filha de Selene não hesitar em um ataque frontal, a mesma velocidade, o mesmo movimento, mas algo diferente dessa vez. O ataque fora bloqueado.


-- O que? Não, isso não pode ser real.


-- Porque está me atacando Lana?


-- Cala a boca, você não é real.


-- Como assim? Você está louca?


A confusão na mente não permitia saber o que era e não era real, mais uma vez um ataque foi desferido contra Evans. Bloqueado como na primeira vez. Um embate entre as armas curtas foi iniciado, adaga contra adaga, o desgaste do percurso era intensificado no combate, a filha de Selene não conseguia usar seus poderes, nem mesmo o brilho da lua era visto em seu corpo.


Enquanto Ana estava em plena forma, a estamina intacta, mas a vontade de matar não existia na filha de Hermes. E esta única diferença entre as duas, a falta do fogo do combate, traria a derrota para a mais preparada das semidivinas.


O tilintar das armas ecoava pelo ambiente, criaturas apareciam e ignoravam as garotas, a luta poderia durar horas. Mas não havia tempo o suficiente para isso, um movimento arriscado poderia encerrar o embate. Em um movimento giratório, tomando a perna esquerda como apoio, a adaga da mão direita vai em direção ao peito da prole de Hermes. Um movimento com o braço, bloqueou o golpe parando-o. Entretanto, o movimento surpresa não pode ser evitado.


A mão esquerda da miúda e ágil assassina, empunhada de Floral, continuou o movimento rotatório até colidir com a lateral do tronco de Evans. A altura do golpe, não calculada anteriormente, para a infelicidade das garotas, atingiu pouco abaixo da Escápula, pegando de raspão na parte superior da Costela IV e penetrando o suficiente para atingir o coração.


Algo diferente nessa última morte, além de haver um confronto de fato, chamou a atenção de Lana. O som do corpo caindo não parecia mais o tronco oco, e sim um humano. O sangue escorrendo do ferimento, e as lagrimas escorrendo pelo rosto de Anna, assim como a expressão de dor que ela exibia.


-- Você... me... matou.


As palavras saiam lentas e abafadas, as ultimas proferidas pela garota que até ontem, poderia considerar como a melhor amiga. Não tinha medo, e sim receio do que mais poderia acontecer, aquela guerra foi pesada demais e ainda estava no início. Sem ideia alguma de onde estava, a garota correu. O corpo ficou, e ao olhar de relance a filha de Selene pode perceber dríades acolhendo a desfalecida semideusa.


-- Anna, o que eu fiz?


Com o pesar na consciência, ainda sem consegui distinguir ilusão de realidade. A jovem seguiu seu caminho, pode perceber um som de vozes, e seguiu diretamente nessa direção. Sua percepção e poderes pareciam voltar lentamente, enquanto caminhava obcecada com o destino. Teve a sensação de estar sendo observada.


Arqueiros, guerreiros, semideuses, em grande quantidade estavam ali, uma barricada, o último obstáculo que impediria a criança de alcançar os portões. A certeza de insucesso tomara conta de seu ser, mas não tinha como voltar atrás, nada poderia tirar o sangue de suas mãos, as lagrimas, o pesar. Tudo doía, e permaneceria doendo até que o ultimo suspiro deixa-se seu corpo.


Mas ela é só uma criança.


Como se fizesse alguma diferença, se estava ali, é porque demonstrou ser capaz, e se conseguiu alcançar os portões, ao lado dos inimigos, era um alvo, e deveria perecer. As flechas empunhadas, todos prontos para tirar a vida da garota. Parecia ser o ponto final, mas um estrondo aconteceu, uma luz brilhante azulada, uma barreira.


*-- Quem...*


A figura daquela mulher, a aura que emanava de seu corpo, a certeza em sua face, a figura que causou extrema admiração na pequena prole de Selene, sua irmã veio em seu resgate, e embora ainda não conhecia Ayla, ouviu sobre a Lupina. Como se uma flecha do cupido atingisse seu amago, a pequena se viu completamente elucidada sobre a situação. Sua vida estava a salvo, ao menos por enquanto.

O debate entre Lenox e uma figura presente nas barricadas fora ouvido em sua totalidade, a liderança advinda da irmã reacendeu o fio de esperança, elas poderiam vencer. Sem tempo de conseguir agradecer, apenas escutou, guardou a voz o rosto e as características, guardou para si a admiração com mais velha, e se preparou novamente para a batalha.

Os adversários pareciam recuar, os aliados de Éris chegavam ao local, Lana não estava mais sozinha, possuía aliados procurou por Evelyn na multidão, sem sucesso. O Pegasus parou muito próximo a garota, que viu a sua salvadora montar, e partir para guerra. Não poderia recuar, muito menos ficar de fora, iria batalhar até o fim, seguindo o exemplo da Lupina, a pequena tempestade, que mais parecia uma brisa em meio a toda a batalha. Montou em uma criatura aliada, sem saber distinguir qual era, um quadrupede de corpo grande e peludo. Segurou-se da maneira que podia, e avançou montada, afim de alcançar o interior dos grandes portões dourados.


Mas ela é só uma criança.


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Re: — Ruína e Ascensão: Aliados de Éris

Mensagem por Heron Devereaux Seg 20 Jul 2020, 13:29

Ruína e Ascensão
I set fire to the rain and I threw us into the flames

O
brilho da lua reluzia nas estalagmites de gelo. Sangue escorrendo pelas estacas um instante antes do cinocéfalo se desmanchar numa nuvem de poeira que caía pelo chão cristalizado. Heron baixou o arco. Deixou que a flecha solar penetrasse o chão úmido da floresta. Lá estava aquele sentimento outra vez. Sabia o que fazia e era bom no que fazia. As pontas dos dedos formigavam e uma enxurrada de adrenalina lavava todos os sentimentos ruins que manchavam sua aura até ali. Euforia.

Quando Lilith Doutzen atravessou o caminho que a separava da dupla, ele mordeu a língua. Abafou aquele sentimento dentro dele. Não queria dividi-lo. Nem mesmo com ela.

— E agora? — Evelynn quis saber.

— Agora, seguimos o trajeto interrompido do cinocéfalo. — Heron respondeu. Os nós dos dedos se fechando em volta do arco e das alças da mochila em suas costas. No instante seguinte, atravessava a clareira, evitando o chão coberto pela fina camada de gelo escorregadio. — O jardim não deve estar tão longe.

— Pode ser. Mas, só porque matamos esse monstro, não quer dizer que vamos entrar sem resistência pelos portões de ouro.

Foi Lilith quem fez o filho de Atena interromper seus passos.

— Tem muito mais nesse pequeno espaço até lá. Três é um grupo grande. Chama atenção. Separados, fica mais fácil de se camuflar na escuridão da floresta fechada. — Doutzen sussurrou a ideia. Talvez a odiasse tanto quando o homem.

Tinha medo. Não do que estava por vir. Tinha medo de perder Lilith Doutzen de vista e nunca mais conseguir despejar sobre ela aqueles sentimentos entalados em sua garganta. Se fechasse os olhos, talvez ela partisse para nunca mais voltar. E mesmo que ainda estivessem ligados um ao outro por fios de um relacionamento, Heron não era capaz de rompê-los por si só.

— Tá. — Respondeu, seco. O olhar atravessou a clareira e alcançou Eve e Lilith, ainda uma ao lado da outra. Ele recomeçou sua caminhada. À margem das árvores, sussurrou. — A partir de agora, é cada um por si. — A escuridão engoliu o filho de Atena, antes que ele desaparecesse entre as árvores mais altas.

×××

Sob a abóbada das folhas, o silêncio. Ali, a luz da lua quase não alcançava e a sombra das árvores transformava tudo em penumbra, inclusive o corpo do filho de Atena. Os passos eram abafados pelo musgo e pelo chão de terra úmida. Ainda assim, tinha todos os sentidos em pleno alerta no trajeto perigoso em direção ao coração da floresta.

O zumbido baixo quebrou a calmaria. O barulho era fraco, como um sussurro no ouvido do homem. Um aviso de que os pensamentos se acumulavam em alguém não muito longe dali. Quando fechou os olhos, Heron empurrou para o canto todos os seus devaneios. Concentrou-se nos pensamentos do outro, até reconhecer que vinham do caminho logo à frente.

Os cedros e os abetos se tornaram mais esparsos. No centro da floresta, levantavam-se os grandes portões dourados. Antes que cedesse à vontade de atravessá-los de uma vez, o homem pôs os olhos sobre os sacos de areia que se empilhavam em barricadas no caminho até o Jardim das Hespérides. Atrás da barreira mais próxima, Heron reconheceu a semideusa em posição defensiva.

Tinha uma expressão abatida e as pálpebras pesadas porque — e Heron sabia — não queria estar ali. Cabelos prateados sobre uma base castanho-escura. Azul-claro nos olhos. Pele pálida. Rosto angelical.

Thea Françoise d’Orleans.

Uma espada de bronze sagrado balançava na mão direita. Mesmo que aquela não fosse sua natureza, ele sabia que ela não teria receio em usá-la.

Ainda estava encoberto pela sombra das árvores e pelas folhas finas dos arbustos. Quando respirou devagar e profundamente, já havia decidido seu próximo passo. Levantou o arco de ouro solar. A mão direita puxou o cordel imaginário da arma, antes que a flecha solar se debruçasse sobre o calor do metal. Ele corrigiu a rota cuidadosamente, antes de soltar a seta e assisti-la atravessar o ar.

O projétil zuniu, antes de mergulhar na altura do ombro direito da menina. O calor da chama solar ardia, alojado na articulação da semideusa. Quando o grunhido agudo escapou da boca da meio-sangue, o homem sentiu um aperto no coração. Não queria machucá-la. Não ela.

— Quem tá aí? — Quis saber a garota. Os dedos em volta do corpo da flecha, antes de arrancá-la do ombro e arremessá-la sobre o chão da floresta.

O sangue escorreu para fora, rápido, vermelho-vivo, bombeado para fora da artéria axilar. Mancha de sangue que se espalhava pelo cashmere do suéter branco de gola-alta em seu corpo. O vermelho se espalhou até as calças jeans em suas pernas. Antes que chegasse até as botas pretas afiveladas, Thea colocou uma mão por dentro da roupa e tocou a ferida aberta.

Concentrou-se, porque sabia que sangrar demais a derrubaria em pouco tempo. No instante seguinte, a carne já havia se fechado, cicatrizada numa pequena ferida que, com o tempo, desapareceria.

— Quero saber quem tá aí!

Heron ignorou o pedido. Apontou o arco outra vez. A flecha se materializou na arma. Antes que ele fosse capaz de arremessá-la, viu a semideusa fechar os olhos e sussurrar uma prece. De repente, alguma coisa o segurava. Um sentimento além da compaixão. Uma sensação que ele não era capaz de reconhecer.

— Não consegue atacar? — A menina começou. Sobrancelhas franzidas, porque estava mergulhada em incerteza, enquanto passava o olhar nas coníferas mais próximas. — Vai ser assim, por enquanto. Então, por que não sai de onde estiver e vem falar comigo? Olhar nos meus olhos, antes de tentar me derrubar em batalha?

Heron fechou os olhos, balançando a cabeça. Devia isso a ela.

Ele tirou a mochila das costas e a colocou aos pés de um cedro-vermelho. O arco, ele deixou por dentro das alças da bolsa. De dentro dela, puxou Athala, a espada de bronze celestial.

O metal cintilou à luz da lua, quando o filho de Atena emergiu da penumbra.

— Heron? — Thea sussurrou a palavra. — O que está fazendo aqui?

— Pergunta boba. — Ele resmungou. Um meio-sorriso em seu rosto. Nada naquela situação lhe dava prazer. — Pense numa melhor.

Mais do que uma filha de Poseidon, Thea era uma serva de Asclépio. Era uma das poucas pessoas em quem Heron conseguia confiar. Sobre a maca de exames da enfermaria no coração de Nova Iorque, o filho de Atena havia confidenciado uma parte de sua vida que ele não teria entregado a quase mais ninguém. Sabia que o juramento de Asclépio pairava em volta deles. Eram médico e paciente, antes de mais nada. Mesmo assim, ainda eram um pouco mais do que isso.

— Heron… — Ela franziu o cenho. O homem pôde sentir a carga de desapontamento que ela despejava sobre ele. — Por que se uniu a Éris? Você… Você mais do que qualquer um de nós… Tem tanto... O mundo aos seus pés. O que você espera encontrar atrás desses portões? O que pode querer que ainda não tenha?

Não conseguiu entregar uma resposta. Já estava frente a frente com a garota, quando o chão da floresta começou a brilhar. Sob seus pés, se desenhou um círculo azul incandescente, semelhante ao que se formava sob os pés da curandeira. A luz azulada consumia, sequestrando um pouco da energia, antes de transferi-la para a garota à sua frente. Tão rápido quanto surgiram, os círculos desapareceram.

Um peso despencou de seus ombros. Aquela energia pesada que envolvia o ambiente se dissipou. Não queria machucar a filha de Poseidon. Mas, pelo menos, podia.

Athala dançou em suas mãos, quando ele saltou por cima da barricada. O bronze celestial roçou o tecido do suéter, antes de abrir uma ferida na pele fina do braço da semideusa. Antes que ele fosse capaz de recuar, a mão livre da garota alcançou o corpo do homem. Três toques foram o bastante para que ela acertasse os pontos de pressão certos.

Uma dor lancinante se espalhou pelo corpo do filho de Atena. Ondas que corroíam por dentro. Quando o homem deu um passo para trás, seu corpo bateu contra a barricada de sacos de areia. Antes que Thea desferisse outro golpe contra ele, o homem chutou o corpo da curandeira.

Ainda sofria com a enxurrada lancinante, quando assistiu a mulher cair sobre o chão de terra. Sabia que precisava ganhar tempo.

— Não faz sentido ter muito, quando eu posso ter tudo. — Cuspiu as palavras. Dentes cerrados, enquanto ele resistia às dores. — Atrás daquelas portas tem algo que eu venho buscando já há um bom tempo.

Thea se levantou devagar, enquanto fitava o filho de Atena. Não reconhecia aqueles sentimentos que ele despejava sobre ela. A filha de Poseidon não tinha grandes ambições. Era o que era, e estava satisfeita com isso. E Heron queria sempre mais.

Quando recuperou o equilíbrio do corpo, avançou contra o homem. O bronze sagrado atravessou o caminho entre eles, antes de ser barrado pelo metal celestial. As espadas colidiam, tão rápidas quantos os pensamentos dos dois semideuses.

Mas, de repente, os comandos do corpo se perdiam em meio às avalanches de dor. A espada de Thea cortou o ar, mais rápida do que a defesa do outro semideus. O metal lambeu o flanco direito do rapaz, cortando o tecido do suéter cor-de-creme e a pele do abdômen sob ele. Mesmo que não tão profundo, o corte cuspia sangue para fora, tingindo as roupas e empurrando o homem contra os sacos de areia na barricada.

— Desculpe — a curandeira deixou escapar. Era uma oponente à altura, não havia dúvidas. Ainda assim, não se sentia confortável ali.

Sentiu a dor se dissipar. O efeito dos pontos de pressão se desfazendo. Uma brecha para partir para o ataque. A aura do filho de Atena se expandiu e envolveu a lâmina de bronze celestial.

Quando a espada avançou, evitou o bronze sagrado e acertou o braço direito da filha de Poseidon. Antes que a garota se recuperasse do golpe, Heron fez a lâmina dançar no ar outra vez. O segundo golpe mergulhou na coxa da curandeira, ainda atordoada pelo primeiro.

Thea sabia que a terceira investida seria demais para ela. Quando viu a espada de Heron recuar, prestes a avançar outra vez, pensou numa prece a Asclépio.

Uma onda de energia verde-esmeralda escapou do corpo da curandeira. Uma força que empurrava Heron contra a barricada e para longe da semideusa. Era forte, com certeza. Ainda assim, incapaz de quebrar aquela camada que o separava da garota. Ele saltou a barricada, porque o campo de força o incomodava. De longe, os olhos continuaram fixos na semideusa.

— Eu estou aqui há mais tempo do que muitos de nós, Thea! — Ele exclamou. Um braço à frente do rosto, para evitar as rajadas de energia. — Seja honesta, não comigo, mas consigo mesma. Quando foi a última vez que os deuses sorriram pra nós? Quando foi a última vez que mostraram ao menos um sopro de gratidão? — Não era ódio que revestia suas palavras. Era um remorso. Um sentimento de injustiça. Uma certeza de que seus passos o guiariam até um lugar melhor do que o agora. — Eu, mais do que ninguém, estive lutando para mudar isso. Mas, sinceramente, agora eu entendo. Antes de transformar, é preciso destruir.

As palavras de Heron não lhe eram estranhas. Mesmo assim, Thea não era capaz de entendê-las por completo. Aninhada nos braços de Asclépio, a curandeira estava inebriada pela promessa do deus. Muito amarrada em seu juramento para ver além da sua realidade pessoal.

A aura verde-esmeralda se dissipou. E antes que se desmanchasse por completo, a filha de Poseidon agitou a mão esquerda. A umidade da floresta se condensou e os dedos se fecharam em volta de um chicote de água. Ela arremessou a ponta contra o filho de Atena, envolvendo o pulso esquerdo do homem com a ponta do chicote.

O puxão de Thea foi o bastante. O cordão de água constringia o braço do semideus. Não teve como sustentar a arma em sua mão. No instante seguinte, Athala já estava no chão de terra do parque. O chicote se afrouxou e retornou à curandeira.

— Entendo seus sentimentos, Heron...

— Eu duvido muito. — Ele a cortou.

— De qualquer jeito… Não posso deixar que passe daqui.

O movimento foi rápido. Quando o bracelete no braço direito do homem foi ativado e ele se transfigurou no escudo marrom-avermelhado, Devereaux tratou de colocar a mão esquerda em volta dele.

De repente, já havia arremessado o escudo, que atravessava o ar, girando, em direção à semideusa. A carapaça de Myrmeko acertou a cabeça da garota em cheio. Um golpe direto que derrubou a curandeira sobre o chão de terra úmida com um baque surdo.

Heron observou a cena por um longo instante. Uma expressão de desconforto no rosto. O escudo, como um bumerangue, retornou para as suas mãos, antes de se transformar em bracelete outra vez.

Devereaux apanhou a espada de bronze celestial do chão, antes de alcançar a mochila e o arco que ele havia deixado na penumbra da floresta.

Seus passos o guiaram lentamente até o corpo inconsciente de Thea.

— Vou rezar para que você consiga me perdoar… — Ele sussurrou. As mãos em volta das alças da mochila. — Assim que tudo isso acabar.

Seu olhar se afastou da filha de Poseidon. Tinha os portões de ouro do jardim em seu campo de visão, agora. E nada — nem mesmo a compaixão da curandeira — seria capaz de afogar aquele sentimento que ardia em seu peito.


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Re: — Ruína e Ascensão: Aliados de Éris

Mensagem por Evelynn Sitsongpeenong Seg 20 Jul 2020, 17:09

Eu sou uma fonte de sangue no formato de uma garotaRuína & Ascensão
O cinocéfalo desfazendo-se sob o contrastante brilho das estacas de gelo banhados pela lua traçou um sorriso no rosto da tailandesa. O sangue carmesim coloria a terra batizada por pedaços gélidos antes pertencentes ao esteio que fez perecer a criatura, obliterando-a em uma poeira similar à uma névoa obscura.

Evelynn prendia a respiração, como se o ato de recender fosse temeroso devido ao desfazer do cão infernal. Olhou para o lado, ambos os colegas recompondo-se do ocorrido como se fosse corriqueiro.

— E agora, o que vem? — Indagou a mais nova, com a falta de ar estipulando pausas por entre as palavras.  

— Agora, seguimos o trajeto interrompido do cinocéfalo. — Heron respondeu, com os dedos entrelaçados no estimado arco solar. Assumiu uma liderança súbita, colocando-se à frente do grupo. — O jardim não deve estar tão longe.

— Pode ser. Mas, só porque matamos esse monstro, não quer dizer que vamos entrar sem resistência pelos portões de ouro. — Sugeriu Lilith, fazendo com que Eve sentisse calafrios percorrerem-lhe o corpo.

— Tem muito mais nesse pequeno espaço até lá. Três é um grupo grande. Chama atenção. Separados, fica mais fácil de se camuflar na escuridão da floresta fechada. — Doutzen idealizou, conclusiva.

A hipótese de ter de superar algo por conta própria sucumbia qualquer calmaria que pudesse tomar Sitsong, que contava com o casal para superar as advindas por se voluntariar de maneira tão inconsequente.
Em sua mente, matutava constantemente as chances de vir a falecer. Cerrou os olhos, fitando o chão enlameado enquanto o arrependimento amargo parecia preencher todo o seu interior.

Estava imersa em seus próprios medos, no entanto, um sussurrar a puxou de volta à realidade assim que atingiu seus tímpanos:

A partir de agora, é cada um por si.

Levantou a cabeça, decepcionada. A aparência gélida tornou aos arredores da floresta, fazendo com que Evelynn cruzasse os braços em resposta. Por um instante, permaneceu imóvel no centro da luta posterior. Cercada pelo sangue já secando sob a grama, caminhou de maneira tímida adentro da escuridão da clareira.

O silêncio completo era o maior inimigo de Eve. Sentia-se ainda mais ameaçada com tamanha mudez; cada passo traçado ao interior da floresta escura e profunda confirmava a proximidade de um prenúncio.

Conforme os esgalhos partiam-se sob as botas escuras da oriental, a escuridão parecia tomar forma. Os reflexos cortaram a sombra das árvores esverdeadas, revelando por detrás dos troncos uma porta estendendo-se em prestígio. Instintivamente, Evelynn escondeu-se por detrás de uma das várias árvores que cercavam o perímetro. De maneira recatada, esgueirava-se para olhar a movimentação à frente dos portões dourados. Barricadas erguidas para proteção denunciava o grupo de semideuses que aguardava qualquer intervenção inimiga.

— O Jardim das Hespérides... — Sussurrou para si mesma, encolhendo-se sob os cascalhos. Teria mesmo de prosseguir? Como diabos passaria por isso?

Optou por fazer o que sabia de melhor: ser invisível, irrelevante. Levantou-se, suspirando em receio conforme o corpo esguio se mesclava à umbra florestal. Buscava ser silenciosa, deixando com que os demais aliados avançassem; no entanto, buscava tanto desaparecer por entre o cenário que acabou por se perder da movimentação. Ainda via os portões dourados ao longe, hesitando tornar ao local onde prováveis lutas ocorreriam.
Mas era Evelynn Sitsongpeenong, filha do caos. Um ímã de atrocidades.

A discórdia, mesmo que não personificada, não a deixaria em paz um minuto sequer.

Sentiu uma mão envolver seu pulso, obrigando-a a se virar. O olhar da garota chocou contra as orbes indecifráveis de uma face familiar, porém não conhecida.

— Ei, Evelynn. — O rapaz exclamou, chamando sua atenção novamente. — Já faz um tempo, não é? Imaginei que estaria aqui, só não pensei que teria de andar tanto pra te encontrar.

A morena arqueou uma sobrancelha; não negava já ter visto aquela face antes, no entanto, reconhecê-lo era um desafio. Desprendeu seu pulso das mãos do homem, dando passos em recuada.

— Que porra, eu te conheço? — Dedilhando a bainha da adaga, fazia menção de sacá-la.

Em resposta, o garoto abaixou a cabeça em decepção.

— Não esperava menos de você, Eve. No momento em que tive de guiar-lhe pelo acampamento, soube que era desprezível. Thomaz Banshee, o filho de Íris que fez questão de tentar te ajudar assim que chegou. Veja se consegue recordar-se de algo agora.

No instante em que ouvira seu nome, a tailandesa relembrou os momentos em que ficara no acampamento e tudo o que fizera em sua estadia; o momento em que muitos meio-sangues torceram o rosto ao saberem de sua filiação divina, incluindo a prole de Íris à sua frente naquele momento. A simpatia forçada de Thomaz e seu semblante enojava Sitsong. Seus primeiros momentos com Banshee não foram dos melhores. Eve o repudiava assim como a todos, mas nutria um ódio infundado especial pelo garoto.

Evelynn não pôde deixar de gargalhar baixo assim que as memórias atingiram sua mente.

— É claro que me lembro! Ainda assim, deve ser mais difícil para você me esquecer do que o contrário. — Respondeu, entre risos atrevidos. Sua apatia em relação ao outro era tamanha; enquanto estavam em contato no acampamento, Eve depositou pregos que roubara de uma das forjas no cereal matinal de Thomaz, assistindo-o debulhar-se no alimento antes do leite ser contaminado pela ferrugem e o mesmo perceber o ingrediente especial em seu café. Ao final, a imagem de Eve o observando consumir ferro puro assombrava a mente do rapaz.

— Foi mesmo bem engraçado. Mas não tanto quanto isto. — Banshee apontou para o chão, de onde um círculo exalando uma magia estranha parecia sugar as forças vitais da oriental. O filho de Íris fitou-a no fundo dos olhos, sacando a espada e pondo-se em posição de luta.

A expressão de Evelynn mudou rapidamente. Ao perceber o que de fato se passava, sacou a adaga.

— Que merda é essa, Thomaz? É uma das suas magias de fada?

— Mais do que isso. É um privilégio apenas para olimpianos. Aliás, poderia viver com mais facilidade se não fosse tão crápula. Por que não pôde ter simplesmente se aquietado, vivendo em conforto junto com os demais semideuses? Estúpido de sua parte.

Dando passos para trás, temia que um golpe rápido da espada do outro fosse o suficiente para que caísse.

— Não era pra mim. Assim como nenhum lugar é.

Não pôde terminar a justificativa, sendo interrompida pelo som cortante da lâmina alheia que quase lhe acertou a barriga. Naquele instante, sabia que faria questão de acertá-la para matar.
E faria o mesmo.

Corria pela clareira, tentando afastar-se ainda mais dos portões a fim de evitar a atenção de outros olimpianos. O filho de Íris parecia fora de si, como se tudo o que buscasse naquele momento fosse esquartejá-la.

Uma pequena esfera de luz passou pelo braço de Evelynn, depositando uma queimadura leve — ainda assim, ardida — no local atingido. No mesmo instante, tentou proteger o local de outros ataques, direcionando-se para a parte menos iluminada da floresta que poderia pensar.

Sabia que era difícil superar o garoto; era mais forte, mais treinado e não possuía um círculo lhe sugando vitalidade sob os pés. Sitsong já não poderia mais correr, não era viável. A lâmina do filho de Íris lhe alcançou, cortando a bochecha direita de Eve. Aproveitando o instante em que o rapaz desferiu o ataque, cravou a adaga em seu ombro, puxando-a rapidamente a fim de cravá-la novamente em sua barriga, atingindo-o apenas de raspão com a lateral da arma.

Enquanto o sangue fresco corria pelo rosto da morena, Thomaz agonizava com as mãos sob os ombros banhados no líquido vermelho, cambaleando.

— Uma pena...de que adianta ser mais forte se você é mais burro e descuidado? — Evelynn baixou a guarda, ainda empunhando a adaga visando atacá-lo mais vezes.

Banshee, com as pernas ameaçando ceder e com o ombro debilitado, canalizou uma pequena quantidade da luz que saía por entre as brechas das folhas que fechavam o céu noturno, utilizando do elemento para cegar a adversária.

Antes de forçar-se a fechar os olhos em agonia, desferiu um chute no olimpiano que o fez ir de encontro com o chão. Com a visão esbranquiçada, sentia seus músculos contraírem em fadiga. Vulnerável física e visualmente, temia por seu sucesso. Empunhava a adaga de maneira trêmula; no entanto, ainda que dolorida, queimava em ódio. O branco de sua visão parecia ceder com lerdeza, recuperando a visão periférica de maneira debilitada. Ver a perna de Thomaz sob as folhas secas foi tudo o que bastou: com o que restara das forças em suas mãos, enterrou a lâmina na panturrilha do outro, manchando-a com o sangue e situando-se pelos gritos de ardor da prole de Íris. Desferiu todos os golpes com a arma que fora fisicamente capaz, cravando repetidas vezes em partes do corpo que não conseguia distinguir.

Cambaleou, sentindo o corpo todo amolecer enquanto o cheiro da brutalidade invadia suas narinas. Deu de ombros, coçando os olhos a fim de recuperar a vista por completo, caminhando sob as matas.


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Re: — Ruína e Ascensão: Aliados de Éris

Mensagem por Brooklyn S. Palmer Seg 20 Jul 2020, 22:10




“Assim expira o mundo
Assim expira o mundo
Assim expira o mundo
Não com uma explosão, mas com um suspiro”.

[T. S. Eliot]

Calmas, discretas, pacientes. As sombras que envolveram as quatro patas do canídeo não tinham a intenção de apelar para nenhum tipo de brutalidade, eram quase tão gentis quanto a música que deixava a lira dourada nas mãos da colombiana. O animal não teve o tempo necessário para escapar e poucos foram seus esforços para escapar da imobilização, estava cansado. Brooklyn entendia como ele se sentia, talvez mais que o adequado.

Fez uma aproximação cautelosa, parando a música lentamente enquanto ajoelhava-se próxima ao mensageiro e o segurava pelos lados. Um rosnado baixo foi emitido, as presas sendo exibidas aos poucos devido a aproximação indesejada da semidivina. Não havia o que temer. Eles ficariam bem, ela queria acreditar que sim.

Ei, garoto… Não precisa se preocupar — sussurrou, as vórtices douradas a seguindo ao se posicionar atrás dele. — Você vai ter que me perdoar pelo que vou fazer agora, pois não posso prometer que não vai ser nada sério.

A parte mais difícil não foi sufocá-lo, ou sequer deixar seu corpo desfalecido no chão sem saber se o tinha matado ou não, foi sentir o peso em seus braços antes de abandoná-lo. Quis saber se era assim que os deuses submetiam os outros ao controle deles — através da culpa —, devaneou sobre a possibilidade dos outros optarem por seguir o Olimpo apenas por uma questão de consciência. Decerto eram mais felizes daquela forma, sabendo que, ao fim, seus pecados seriam esquecidos apenas pelo fato de servirem a alguém.

Valia a pena manter-se acorrentado apenas por aquela centelha de um bom futuro?

Quanto mais pensava, menos tinha certeza se realmente queria tais respostas. A verdade é que se desviou de sua linha de raciocínio assim como havia desviado do caminho até o jardim, contudo preferia evitar admitir os próprios erros. Temia se atrasar, chegar um segundo tarde demais e tudo ter terminado antes que pudesse sequer tentar. Se tivesse de escolher, preferia cair primeiro a precisar encontrar os amigos dos quais se separou em ruínas.

Precisava encontrar o rio, recordava um tal rio Elwha que a levaria diretamente até onde almejava desde que seguisse sul. Sua maior dificuldade seria exatamente encontrá-lo, embora o resto estivesse praticamente resolvido a partir dali.

Orientou-se através da umidade da terra, cortando galhos por onde passava como forma de evitar a abominável ideia de permanecer andando em círculos. Não acreditava estar indo bem, provavelmente aquele seria apenas mais algo a dar errado naquela noite e a possibilidade de fugir, ainda assim, nunca passou por sua cabeça.

Ao ter os primeiros sons da correnteza sendo registrado por seus tímpanos, Brooklyn soube. Nunca mais fugiria.

***

Atrás de uma pedra alta o suficiente para esconder seu corpo, já não mais existia. Podia vê-los em sua ostensividade, sua suntuosidade, sua autoridade. Os portões para o refúgio da rainha do Olimpo cruzava os braços no coração do Parque Olympic, rejeitando visitantes indesejados e os afastando com um mero relance de olhar. Santiago podia sentir a aura pesada emanando daquela mera construção, o sabor de uma superioridade nunca experienciada antes pela moça.

Todavia, a imagem que veio a permanecer cravada em sua mente foi a do exército aglomerado pouco antes da entrada e o sangue que já era derramado. Aqueles leais aos deuses se encontravam atrás de uma barricada, escondidos e apenas aguardando o próximo adversário para atacar. Teria que passar por eles antes de qualquer outra coisa, só precisava descobrir como o faria.

Concentrou-se para reunir energia na ponta dos dedos, os ferimentos abertos em seu corpo o suficiente para fornecê-la a munição que precisaria. Almejava distraí-los, nem que por instantes para abrir uma brecha e um momento breve no qual poderia atravessar todos aqueles jovens sem entrar em uma batalha. Era irracional — impossível, para ser mais correto —, no entanto havia algo dentro da colombiana que lhe dizia o quão mais fácil aquilo se tornaria se ela tentasse.

Pronta para atirar, moveu seu corpo o suficiente para que se encontrasse em um ângulo conveniente para seu próximo movimento. Aos poucos, a luz oriunda de seu próprio sangue se reunia e se tornava um projétil sólido. Tinha seu alvo e não se tratava dos seus iguais, mas das barreiras que servia como sua proteção.

Uma pena que foi necessário tão pouco para fazê-la desistir em cima da hora.

A figura dos dois anos mais marcantes de sua vida materializaram-se ali, no meio de uma aglomeração de semideuses. Dois anos de noites frias em um píer, nomes falsos, batons baratos e homens indesejados dentro de carros abafados. Dois anos de guerras contra sentimentos de imundície e, assim como toda guerra, outras estavam ali para compartilhar ou não de sua dor. E aquela garota tinha sido uma de suas aliadas.

Allegra.

Uma acidez familiar subiu até a garganta de Brooklyn, o desconforto claro em encontrar a outra garota manifestando-se livremente dentro de si. Recusava acreditar no que via, em saber que estava encontrando uma colega tão antiga em um cenário de luta. Lhe doía fisicamente, porém não havia surpresa. Para alguém que sempre buscou a aprovação de sua metade divina, sempre culpou-se por nunca ter sido guiada até o Acampamento, o outro lado era o único lugar onde se sentiria completa.

Cerrou os punhos, assistindo enquanto a outra balançava a cabeça alegremente ao ouvir as ordens de seus superiores. A prole de Dionísio parecia em paz ao lado deles, carregando uma adaga prateada, um cantil e um riso desleixado independente das vidas sendo levadas naquele exato segundo. Ninguém deveria estar tão entusiasmado na situação em que se encontravam.

O broche de seu arco queimava, ardia em seu peito e Santiago o transmutou sem muitos prolegômenos. Não queria machucá-la — Allegra nunca tinha feito nada que a fizesse sentir tamanho impulso —, entretanto odiava presenciar alguém tão relaxada durante uma batalha. Apoiou o tronco ao lado da superfície gélida da pedra, puxando a corda instintivamente até o rosto e mirando sua seta ao lado do rosto da moça.

Alerta. Ao avistar a flecha voando em sua direção e acertando de raspão acidentalmente um aliado, os olhos da filha do Teatro se arregalaram da mesma forma que os de seus companheiros. Já não havia mais sorrisos por parte da meio-sangue, havia raiva em seu semblante e ela pulou a barricada ao encontro de Brooklyn.

Parando no meio do campo de batalha, a mais velha aguardou que a colombiana saísse de seu esconderijo com sua arma de volta ao formato compacto e apenas as mãos estendidas em rendição. Sabia que Allegra a reconhecia apesar das mechas tingidas, sabia que tinha sido vista no instante que havia soltado a corda.

— Brooklyn Palmer. Então é aqui que nos encontramos depois de tanto tempo? — A língua da moça dobrava em melancolia ao pronunciar seu nome. Reviviam as mesmas lembranças esquecidas. — Achei que não negociasse com os deuses.

É, parece que o tempo abençoou só uma de nós — desdenhou.

Um círculo se formou abaixo dos pés das duas, a mágica emanando sob suas solas e fazendo a hispânica se sentir ainda mais mais fraca. Allegra sorriu, a destra movendo-se para apertar fortemente o ombro de sua adversária.

Aquilo foi o bastante para paralisar Palmer.

— Eu nunca esperei que você ficasse ao lado dos deuses, ainda mais quando você sumiu pouco após a morte de Alloy, mas Éris? — Balançou a cabeça negativamente. Não carregava deboche ou decepção nas írises violetas, no lugar disso, tinha algo que ambas abominavam. Pena. — Isso foi demais até ‘pra você.

Ela caminhava ao redor de seu corpo em círculos, gesticulando copiosamente a cada frase dita. Era o exemplo mais puro de sua ascendência divina, ninguém mais poderia ser tão loquaz quanto uma criança de Dionísio. Brooklyn permanecia quieta, não porque o poder da outra a impedia de falar, mas por não querer se engajar em um diálogo tão sem sentido.

— O que ela te ofereceu? O que foi prometido ‘pra você? O Olimpo pode te dar isso em dobro, é só dizer. Glória, felicidade, proteção, é isso que você busca?

Allegra se frustrava mais e mais a cada palavra proferida. O silêncio parecia afetá-la mais que qualquer resposta que pudesse ser dada, mais que qualquer ataque ofensivo. Era como se a honra dos deuses fosse a sua também e a, então, campista estivesse ali apenas para defendê-la. Penoso. Essa era a palavra mais correta para descrever a maneira que agia, que se comunicava. Já não tinha mais nada ali da amiga que Santiago conhecera e talvez fosse uma coisa boa.

Garras cresceram no lugar das unhas da mais velha e foram colocadas próximas ao rosto da arqueira, resvalando delicadamente para não machucá-la. Ela parecia triste e, ao mesmo tempo, com raiva. Parecia sentir tanto e, ao mesmo tempo, pouco. A filha do Sol só não compreendia exatamente como isso era possível.

— O que ela te ofereceu, Palmer? — Reforçou o questionamento, dessa vez acertando o maxilar da colombiana e a tirando da paralisação.

Liberdade.

Sacou Fobor rapidamente da cintura, a lâmina fincando seus dentes pouco abaixo das costelas de sua inimiga. Allegra rosnou de dor e Brooklyn atacou novamente, dessa vez não sendo páreo para os reflexos felinos da outra. Ambas hesitavam, no entanto isso não era o bastante para impedir as investidas de sua contraparte que buscava cada vez mais alcançar a vitória.

Exceto que a colombiana estava, de fato, mais frágil que o de costume. Os movimentos das duas eram alternados e a cria do deus do vinho já carregava sua adaga, os golpes cambaleantes carregando uma imprevisibilidade irritante. Não era fácil descobrir quem sairia com as glórias naquele duelo, embora apenas uma das duas tivesse sido moldada para o sucesso e numa tragédia como a vida só pode existir um vencedor.

Desnorteando sua antagonista com um enristar de seu cotovelo, a moça desferiu um golpe de seu gládio sobre a perna da outra e a fez desequilibrar de forma com que caísse no chão. Se encaravam ofegantes, feridas e desgastadas. Daquela batalha e de todas as outras que enfrentaram durante os anos, porém apenas uma tinha restado de pé.

Você não enxerga, Allegra? — Colocou a cabeça entre as mãos. — A história ‘tá sempre se repetindo, só que com personagens diferentes, mas a mesma coisa move o mundo. Poder. E quem o possui vai sempre abusar dele, usá-lo para manipular pessoas como eu e você. — Lembrou de Leonardo, de seus avós e do sol brilhando acima de sua cabeça no mesmo dia que sua mãe fora assassinada. Durante toda sua vida, nunca teve a chance de estar no lado forte da história. — Essas guerras não vão existir se os deuses forem derrubados, eu… a gente nunca vai ter que abaixar a cabeça ‘pra mais ninguém. Não é isso que você quer?

Tudo o que era dito por Santiago parecia passar direto pela filha de Dionísio que bebia de serenamente de seu cantil. Era sua vez de demorar a responder.

Ao terminar, limpou os lábios e ergueu-se novamente.

— Vai pro inferno, Palmer.

Repentinamente, Allegra recobrou o ânimo anteriormente perdido. Tornou-se um monstro, seus ataques ainda mais poderosos que antes e sua agilidade quase impossível de se reagir. A filha de Apolo tentava se defender, contudo até os menores golpes produziam uma dor inimaginável.

Um corte de cima a baixo da adaga foi um dos poucos que conseguiu bloquear, sua espada segurando com dificuldade o poder da outra. Empurrou-a para trás, desferindo um chute contra o estômago da adversária. A cria do Teatro apoiava uma mão no lugar do ataque, persistindo a continuar ainda que se contorcendo de dor.

Atacou Brooklyn novamente e a moça utilizou o antebraço para evitar ser acertada no rosto, com a outra mão acertou o cabo do gládio na garganta de Allegra. Cambaleando para trás em busca de ar, a atriz inspirou a poeira onírica que saía de Fobor e permaneceu paralisada onde estava.

A colombiana não sabia se o tempo do pesadelo seria o suficiente para que pudesse escapar, mas faria com que fosse. Todo o seu organismo clamava por revolução e, com os portões dourados tão próximos, tudo o que precisava fazer era dar mais um passo.

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