— Ruína e Ascensão: encerramento

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— Ruína e Ascensão: encerramento

Mensagem por Héracles Ter 28 Jul 2020, 17:47


Encerramento


Aliados de Éris


O calor da batalha havia sido substituído por um vento frio.

Não era um tipo suave e gentil de brisa, daqueles que dançavam a comando de Éolo. Aquela parecia um sopro gélido e derradeiro destinado a apagar a chama bruxuleante de uma vela que já brigava há muito para permanecer acesa. Uma despedida. Abandono.

Está feito. — As palavras pareciam cansadas conforme se espalhavam pelo ar. — Vocês cumpriram com a parte devida no chamado que enviei, e é por isso que os trouxe até aqui.

Éris se colocou de pé. A armadura estava amassada em diversos pontos, manchada pelo sangue dourado e com marcas de fuligem que se espalhavam por toda a peça e partes do corpo da deusa. Estava visivelmente esgotada, mas aquela exaustão não parecia símbolo de fraqueza como geralmente percebiam nos mortais; pelo contrário, ela parecia triunfante, pouco importava o fracasso que talvez fosse menos real se não anunciado em voz alta.

Esse é o ponto de partida. — Falou a imortal. — Há muito venho semeando a discórdia, mas até mesmo a desordem possui seus motivos. — Ela tinha um tom sombrio e rígido, consciente de que discursava em frente a um pequeno exército. — Vocês conhecem minhas origens, a cria da Noite e do Caos, sem dúvida alguma. Mas há muito tempo, antes mesmo que essa grandeza fosse conhecida e nomeada pelos seus, os Olimpianos clamaram minha tutela. Não por afeto ou zelo, mas porque assim seria muito mais fácil impedir que meu poder se precipitasse contra os doze. Familiar, não?

Éris deu alguns passos em direção ao que parecia ser um tipo de precipício e virou-se, de maneira que seus calcanhares brincavam perigosamente com as beiradas daquele terreno.

A adoção displicente de Zeus foi tão amarga quanto a rejeição de Hera e dos outros deuses. Para eles eu sempre pareci um perigo, um mal a ser contido. — Ela deu de ombros. — Então ao saber que meu pai estava acorrentado, resolvi me tornar a vilã que sempre projetaram em mim, e comecei a mover meus esforços para libertá-lo. — Pelo que parecia ser a primeira vez, ela sorriu abertamente, de maneira que nem mesmo os ares felinos e vorazes por trás daquelas fileiras brancas conseguiram ocultar o quão genuíno era aquele gesto. — E jamais teria dado um passo tão importante nisso sem vocês. Hoje eu lhes apresento algo novo, um oponente digno do sistema tirano que se ergueu por tanto tempo, pois um abismo só pode ser destruído por outro.

Com um gesto de seus braços, sua biga, ainda que danificada parou ao seu lado carregada com diversos sacos que reluziam em tom dourado. Os pomos. A dama da discórdia convidou os semideuses a chegarem mais perto e contemplarem o único fruto daquela investida. Não era um sucesso, afinal de contas, não tinha sido capaz de corromper o Jardim, mas bastava aquele pequeno furto para prová-la que talvez nem tudo estivesse perdido.

Ainda é muito pouco, mas este será o alimento que dará força para que Érebo ganhe forças para romper os grilhões do submundo. — Ela anunciou entregando uma maçã a cada um dos presentes. — Estou aqui como mensageira e como anteparo. Todos que assim desejarem, serão poupados da fúria daqueles a quem serviam anteriormente. Aqueles que escolherem oferecer lealdade a nós, a partir de hoje, terão lugar à mesa e dádivas de meu pai até que os atuais regentes sejam destronados.

Não era uma promessa de paz, Éris jamais poderia oferecer aquele tipo de coisa dentro do mundo em que viviam, então escolheu uma proposta mais tangível, mais real em suas palavras.

Espalhou, portanto, um anúncio de mudança.

Aliados do Olimpo


A deusa da lareira sorriu.

Semideuses, estou aqui para reconhecer a bravura de todos aqueles que resolveram oferecer forças em favor daquilo que julgam como certo. — Falou em tom sereno e orgulhoso, quase maternal. — Acredito que hoje, todos puderam perceber que os dias são maus, e o perigo já não se esconde mais nos abismos. O porvir é incerto e o equilíbrio entre os dois mundos nunca esteve tão frágil.

Ela ficou em silêncio por alguns segundos, preferindo não apontar culpados para aquilo. Aquele fardo era pesado demais para aquelas crianças suportarem, mas que ainda sim cairia nas costas de todos, especialmente nas dos imortais. O lar dos Deuses continuava erguido, assim como a névoa, mas quantas outras investidas suportariam?

O mundo vem convivendo com os males das chamas de Prometeu há muito tempo. Chamas que vieram da ganância e seguem queimando no peito de muitos, trazendo cada vez mais ódio e destruição. — seu tom era sereno, mas as palavras saíam cada vez mais firmes. — Eu, contudo, venho apresentá-los a uma flama diferente. A da renúncia. Assim como renunciei meu lugar em meio aos olimpianos pela harmonia, venho em busca dos que se julguem dignos e dispostos a alimentar esses desejos de paz dentro do que conhecem como lar e em todo lugar que nosso poder possa porventura alcançar.

Dito isso, ela os olhou mais uma vez. Enxergou neles centelhas de algo que precisavam mais que tudo: esperança.

sobre o turno


— Ao fim das batalhas, todos vocês foram dispersados pelos deuses que os convocaram. Estão distantes dos focos de luta, em um lugar seguro. Aliados de Éris, vocês estão em um lugar chamado Mel's Hole, um suposto "poço sem fundo" localizado em Ellensburg, Washington. Aliados do Olimpo, vocês foram todos levados até o Acampamento;

— Reajam ao que lhes foi apresentado acima. Além de ser um encerramento, esse turno serve para esclarecer os motivos dos deuses sobre o que houve e oferecer uma escolha aos semideuses que se envolveram na guerra:

  • Os que não possuem grupo extra podem escolher nessa postagem juntar-se aos seguidores de Érebo ou Héstia;
  • Os que possuem grupo extra podem escolher nessa postagem abandonar a atual filiação sem receber punição alguma dos atuais patronos;

— Encerrem a postagem da maneira que julgarem mais adequada. Podem interagir entre si, visto que todos os personagens estarão no mesmo local, e adequarem os ocorridos às tramas pessoais, planejar os próximos passos e afins. Logo em seguida, virá a avaliação.

pormenores


  • Turno final.
  • A postagem é de caráter obrigatório para todos aqueles que realizaram a inscrição e foram colocados nos grupos principais;
  • Todo e qualquer semideus está apto a participar do turno, visto que este pode servir para ambientar melhor o desfecho da participação nas missões paralelas e outras atividades relacionadas à trama;
  • Prazo de postagem: seguindo o horário de Brasília, até as 23:59 do dia 03/08/2020.
    A postagem seguirá aberta até as 23:59 do dia 07/08 para os demais jogadores fora dos grupos principais;
  • Além dos integrantes dos grupos principais, apenas jogadores que participaram das missões paralelas podem escolher juntar-se aos novos grupos extra ou abandonar os grupos atuais.
    Recompensa máxima para o turno isolado: 150 xp + 75 dracmas + 4 tokens
    Recompensa máxima para o turno com ingresso ou abandono de grupo: 3 tokens



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Re: — Ruína e Ascensão: encerramento

Mensagem por Kara Willians Ter 28 Jul 2020, 20:13

ruína & ascensão


Kara não pode conter um palavrão ao perceber a grande massa cinzenta se formando a quilômetros de distância. Não fazia a menor ideia do que era aquilo, mas não queria permanecer ali para descobrir. O caos era generalizado: semideuses corriam pelas barricadas, afastando-se do perigo entre as ruas destruídas da cidade. Será que conseguiriam vencer? Apanhou um garoto com a perna quebrada no caminho, segurando-o pelo braço. Seu rosto estava manchado, assim como suas roupas rasgadas denunciavam o combate contra algum lacaio de Éris.

— Vamos. Aguente firme, ok?

Avançou o mais rápido que podia na direção oposta da monstruosidade. Pensou em Trevor, o filho de Ares e se estaria seguro no apartamento ainda. O rapaz pressionou o ombro da filha de Perséfone que cambaleou. Estava ferido demais para continuar. Sua expressão dolorosa cortou o coração de Willians que se viu na mesma posição anos atrás. Ferida, sozinha, sem conseguir lutar. O encarou fixamente quando uma explosão chacoalhou o solo.

— Conseguiremos. Por favor.


— Me deixe… — ele tossiu, inclinando o corpo para frente.

— Ninguém fica pra trás.

A esperança floresceu mais uma vez. Deuses cortaram os céus, sobrevoando o campo de batalha para intervirem no destino novamente. Quando menos se esperava, criaturas robóticas começavam a ser dispersadas em cada esquina. Cápsulas de evacuação. Kara usou toda força restante para carregar o rapaz até um dos quadrúpedes mecânicos, contando com a ajuda de outros que se aproximavam do autônomo disponibilizado. Quatro embarcaram no transporte. Vapor subiu das patas da criatura antes de iniciar o trajeto rumo ao acampamento. Quando estavam longe da batalha, a mensagem dos deuses pode ser ouvida em alto e bom som: cubram-se.

Kara cobriu a cabeça do rapaz em suas coxas, curvando o próprio corpo sobre ele. Os outros fizeram o mesmo, se amontoando antes da forma divina dos olimpianos darem um fim ao combate.


[...]


Jhon conseguiu o atendimento que precisava na enfermaria do acampamento. Kara acompanhou o semideus até o complexo de enfermarias lotadas antes de rumar até o pavilhão de refeições. Ninguém tinha notícias, permitindo que a ansiedade e tensão permanecessem no ar. O clima também não era o dos melhores: muitos feridos, campistas que não retornaram, danos irreparáveis. Abraçou o próprio corpo durante a caminhada até a fogueira onde se reuniam. Quando pensava em conversar com Quíron sobre os acontecimentos e partir, as chamas cresceram. Héstia surgiu, anunciando uma nova era de esperança para todos os semideuses que haviam vencido a batalha. O Olimpo estava a salvo, pelo menos por enquanto.

Não pode deixar de sorrir, pensando que tudo voltaria ao normal agora. “O que é normal, Kara? Você não tem uma razão para proteger aqueles que ama. O que vai fazer?” pensou sozinha. Desde que havia deixado as feiticeiras, buscava uma nova forma de alcançar um poder que nem mesmo sabia existir. Precisava ter fé e principalmente da proteção da deusa família naquela escuridão.

"Assim como renunciei meu lugar em meio aos olimpianos pela harmonia, venho em busca dos que se julguem dignos e dispostos a alimentar esses desejos de paz dentro do que conhecem como lar e em todo lugar que nosso poder possa porventura alcançar."

Era tudo que necessitava. Paz.
No fim das contas, Juno estava certa. Não precisava de Circe ou uma força interior maior para criar um objetivo de vida. A resposta estava bem em sua frente e Kara não ousaria recusar o convite. Se tornaria uma protegida de Héstia.





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Re: — Ruína e Ascensão: encerramento

Mensagem por Chloe Khalil Ter 28 Jul 2020, 20:46

Love Heal ♕
A Love Heal estava uma loucura.
Empurrei uma poção de energia na boca de um rapaz ferido, pressionando a amarras em seu ante-braço. Sorri para o guerreiro que havia lutado na guerra de Manhattan, pedindo para que descansasse. Precisava dar atenção aos outros. A cada minuto, mais e mais campistas se aproximavam do bangalô com os mais diversos sintomas: membros fraturados, pestes estranhas e cansaço extremo. Iria surtar até o fim do dia. Como Asclépio aguentava? Deuses!

A trombeta soou distante. As boas novas seriam anunciadas. Finalmente notícias sobre a guerra.Por mais que havia tentado ajudar, tive de recuar para tratar dos feridos. As artimanhas de Éris eram ardilosas demais e meu valor seria provado na retaguarda, cuidando dos necessitados. Não conseguia muito, claro, mas era alguma coisa. Uma esperança de um futuro melhor pra todos. Apanhei a primeira dríade que carregava um semideus para dentro da enfermaria, pedindo para que ela desse uma olhada em tudo em minha ausência.

Imprudente? Talvez, mas não podia suportar mais um segundo sem saber daquele desfecho. Além disso, todos estavam se ajudando como podiam e eu podia confiar nos espíritos da natureza. Caminhei apressadamente até a aglomeração de campistas. Robôs chegavam pela colina a todo instante, carregando os guerreiros como pequenos soldados em tanques — como eu queria ter voltado daquela forma, não espremida numa van repleta de enfermos.

No centro dos heróis, uma jovem donzela surgiu das chamas. Héstia, a mesma entidade que havia anunciado o prelúdio sangrento, sorriu. Relaxei por um instante, prestando atenção em cada palavra proferida. A luta havia chegado ao fim e mesmo assim, tudo era muito incerto. Após o silêncio, continuou seu discurso esperançoso e cada um ali presente pode se sentir tocado pela causa. Suspirei aliviada com as boas notícias, não pensando duas vezes antes de correr de volta a minha enfermaria.

Sabia como Asclépio e meu pai conseguiam manter a força em meio ao caos: tinham esperança. Esperança de um mundo melhor, onde o mal seja sempre vencido e todos os desafortunados curados. Empurrei as portas da entrada, vibrando ao encarar a ajudando verdejante atrás do balcão.

— Vencemos! Vamos salvar algumas vidas, garota.


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Re: — Ruína e Ascensão: encerramento

Mensagem por Kristy Grandine Ter 28 Jul 2020, 21:39



Ruína & Ascensão

Covardemente, Kristy havia pousado com seu pégaso muito longe do centro da confusão e, mesmo após seu penoso avanço pelas ruas caóticas, ela nunca de fato alcançou o Empire State.

Após servir de babá para mortais, impedir explosões e então detonar um ninho de gárgulas, ela se viu não salvando a bunda de imortais ou lutando no front de uma guerra, mas fazendo o que melhor sabia: curar.

Quando finalmente alcançou outros semideuses, que retornavam da verdadeira frente de batalha, foi em uma tenda improvisada de curandeiros enviados do Acampamento. E assim, muito mais cedo do que ela imaginara, Kris retornou para o Acampamento Meio-Sangue junto de alguns companheiros — para levar os pacientes mais necessitados e buscar mais suprimentos.

Porém, uma vez que lá chegou, a filha de Hermes não mais saiu. Na falta da pessoa que atualmente ocupava o cargo, a jovem ex-líder dos curandeiros se viu temporariamente reassumindo a responsabilidade que havia escolhido abandonar: orientando os seus aliados nas enfermarias, estabelecendo as prioridades e assumindo responsabilidades. Ela também ajudou a empacotar as provisões que seriam enviadas, a socorrer os que chegavam e organizar os grupos de curandeiros que saíam.

E dessa forma, o restante da noite passou como um borrão.

Ao ocupar suas mãos com curativos, suturas e o preparo de poções, e a sua mente com orações ao seu patrono e decisões, foi fácil para a curandeira desassociar o restante da noite com a guerra em andamento.

Ali dentro das tendas, tudo se assemelhava a um outro plantão agitado qualquer, e se ignorasse as conversas ao seu redor, a criança conseguia relacionar toda aquela movimentação, os feridos e os corpos recebendo mortalhas a um incidente em algum caça-bandeira qualquer. Ou a mais um ordinário ataque de monstros na fronteira do Acampamento. Ou uma azarada explosão de algum experimento do Chalé de Hefesto que deu muito errado.

Mas infelizmente, não era nada daquilo. E a meio-sangue teve que novamente lidar com isso no final de tudo, ao reunir-se mais uma vez com os campistas no pavilhão do refeitório, com Héstia de novo entre eles.

Embora sendo os vitoriosos, o clima pesado entre os presentes permanecia quase o mesmo da primeira reunião — aquela que havia os levado no início da noite para a batalha. O ar sobrecarregado, os corações angustiados e o luto quase que palpável não combinavam muito bem com as palavras serenas e orgulhosas da deusa.

Não para Kristy, pelo menos.

Evitando encarar os olhares desiludidos e aqueles outros que se tornavam esperançosos com as palavras da imortal, a semideusa retornou para a ala das enfermarias.

Ocultado pela estranha combinação de roupas que a criança usava — o jaleco feito sob medida e sujo de sangue, a armadura de couro coberta de fuligem e, por fim, o moletom cor-de-rosa — o colar de Serpensórtia pareceu tornar-se mais gelado contra a sua pele: uma constante lembrança da fonte de esperança que havia a mantido de pé pelos últimos anos.

E ela não precisava de nenhuma outra.

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Re: — Ruína e Ascensão: encerramento

Mensagem por Will Fortune Qua 29 Jul 2020, 02:40

Ruína e Ascensão

Encerramento


Tudo dera certo.

O autômato em forma de lobo gigante medieval de série da Netflíris disparou com rapidez em direção ao norte. Por toda parte, era possível ver outros carregando semideuses feridos, mortos, desesperados por manter pacientes e amigos a salvo... Estavam sendo libertos do campo de batalha, mas as agonias da guerra ainda permaneciam intocadas em cada um deles. E encaminhavam-se para o acampamento. Jake nem conseguiu pensar direito inicialmente, mas estava voltando para o mar de coisas do qual fizera questão de sair.

Por algum tempo, permitiu-se apenas fechar os olhos e sentir a brisa correr sobre seu rosto. Em sua mente, era como se um filme passasse, exibindo o que tinha acontecido nos últimos anos. A visão se abriu novamente apenas quando a elevação da colina foi sentida e ele se encontrou entre as árvores, na subida que levava ao topo encimado pelo Pinheiro de Thalia e o dragão Peleu. O grandalhão guardava a passagem em uma pose altiva, observando atentamente enquanto os guerreiros atravessavam a fronteira diretamente para o colo da segurança.

Se não fosse a confusão de curandeiros correndo de um lado a outro para tratar dos feridos mais graves e de outros campistas procurando seus amigos e irmãos, o acampamento estaria perfeitamente igual ao que o filho de Íris se lembrava. A visão da Casa Grande em seus tons de azul e branco, os chalés naquela absurda variação de cores e expressões de personalidade, o anfiteatro, a fogueira no grande pavilhão...

As chamas eram o que mais chamava a atenção, pois brilhavam de forma quase hipnotizante, tamanha era a tranquilidade que transmitia, e emanavam um calor verdadeiramente acolhedor. A própria deusa Héstia estava ali, reunida aos seus soldados para trazer a paz que eles mereciam. Jake se deixou cair sentado, apoiado a uma coluna, e ficou observando a movimentação dos colegas. Cada um parecia ter uma reação diferente, mas todos traziam certo alívio. Tinham vencido apesar das baixas. Muitas baixas.

Pouco mais ao longe, o filho de Zeus ao lado do qual o ex-campista lutara à época do vírus — Connor — apeava de seu pégaso na companhia de uma garotinha muito apressada, que correu na direção de um jovem cavalo em aparente recuperação. Achegando-se a eles, outros cinco semideuses se reuniam, dois deles mais velhos que o padrão do refúgio. O garoto dos raios acenou com a cabeça ao encontrar o olhar curioso do interventor do grupo principal.

Em dado momento, a divindade sorriu e iniciou um discurso de reconhecimento aos esforços dos heróis, um agradecimento que ele sentiu como um verdadeiro acalento em seu coração. Foi mantido às claras, contudo, o fato de que aquela confusão provavelmente ainda estava longe de acabar. O mundo não era mais o mesmo e as coisas jamais voltariam ao normal, o detetive percebeu. Guerras como a que eles tinham enfrentado naquela noite mudavam para sempre o curso das coisas.

Muitas mortalhas seriam queimadas ainda dentro das próximas horas, mas quem poderia saber o que mais viria depois da investida que tinham acabado de parar? Éris com certeza não tinha planos de desistir e as coisas prometiam piorar muito para o lado olimpiano. O pior era ver que mortais acabariam sofrendo consequências de conflitos que nada tinham a ver com eles. Como um policial que jurara a si mesmo proteger aqueles que não tinham e nem sabiam como se defender, a preocupação era absurda.

Vance Gilmore, o meio-irmão salvo em meio ao caos, sentou-se ao lado dele no momento em que a deusa das chamas, após um breve silêncio, retomava sua fala. Ela citou as chamas oriundas da ganância de Prometeu, o combustível de tantas revoltas odiosas ao longo dos séculos e que ainda permanecia aceso no coração daqueles que tinham intentado contra a paz. Mas então, como contraponto, a deusa propôs uma nova chama, que combateria a discórdia e o caos com a proteção do equilíbrio.

Estava clamando por aliados e não foi decepcionada quando alguns, logo de cara aceitaram a convocação direta. Outros tantos pareceram ponderar, já sendo apoiadores de outras maneiras. Jake sentiu intensa vontade de se unir à deusa de forma ativa. Querendo ou não, seu sangue sempre ferveria e correria mais forte em situações como aquelas, mas ele já tinha um papel a desempenhar. Era um protetor direto dos mortais.

— O que você vai fazer? — Perguntou Vance.

— Vou voltar para Nova Iorque. Meu campo de batalha é lá, mesmo que ninguém veja — e puxou o distintivo, ainda pendurado em seu pescoço, de dentro da camisa. — Sabe, eu fiquei muito tempo fugindo de tudo isso, de mim mesmo... Mas a verdade é que eu nunca deixei esse mundo. Todo dia algo estranho acontecia. Todo dia havia um ataque suspeito, um aliado de Éris criando problemas. Meu trabalho é manter os inocentes longe disso. Os verdadeiros inocentes.

— Entendo.

— E você?

— Eu gostaria de me unir a ela, mas tenho algo a fazer antes. Uma missão que, talvez, não traga sucesso, mas eu preciso tentar.

— Boa sorte.

— Obrigado. Pra você também.

Ambos ficaram em silêncio por um longo tempo até resolverem se levantar. Embora todos estivessem muito cansados, nem todos tinham sucumbido, de modo que o refúgio tinha uma espécie de agitação constante, mesmo que silenciosa. Os servos da cura não paravam, amigos se consolavam, Quíron e os líderes andavam de um lado a outro resolvendo problemas e outros só permaneciam despertos para o caso de alguma eventualidade, que não veio. Talvez aqueles guerreiros não fossem conseguir realmente descansar tão cedo...

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Re: — Ruína e Ascensão: encerramento

Mensagem por Annie Murray Qua 29 Jul 2020, 05:08

Ruína e Ascensão

Encerramento - The war is won


O real desespero atingiu a retaguarda quando os feridos que ainda estavam pelo chão começaram a ser sugados em direção ao Empire State. O que quer que tivesse chegado à batalha, era extremamente poderoso e não seria derrotado tão facilmente. Annie, que já estava aliviada por saber que o potro Delta estava fora de perigo, correu na direção de várias vítimas caídas e ajudou a prendê-las em um local seguro, mas a força atrativa da coisa desconhecida não deixava de oferecer resistência.

Ao longe, foi possível ouvir o brado de alguém, mas não dava para entender exatamente o que era dito àquela distância. A indefinida e seus amigos permaneceram na ação de salvar os que tinham sido derrubados, mas algo lhe dizia que as coisas poderiam estar a ponto de ruir completamente. Foi quando um baque surdo soou da direção da batalha principal, seguido por um flash dourado em altíssima velocidade passando pelo local onde a pequena estava.

Da figura ultrarrápida, que ela acreditou ser o próprio Hermes, diversas construções metálicas diminutas caíram, rapidamente tomando formas de animais mecânicos que encaravam os presentes de forma bastante sugestiva. Um touro ameaçadoramente grande se formou diante da garota, bem como uma águia diante dos tios e um dragão para os amigos Cooper, Blair e Igor.

— Montem! Agora! — Ordenou Quíron, aproximando-se da tenda e seguindo adiante, provavelmente repassando a ordem às demais bases.

Annie correu para chamar os curandeiros próximos, mas estes já estavam a todo vapor alocando os feridos nos meios de transporte enviados pelos deuses. Sob os protestos de Klaus, ela pediu que colocassem o cavalinho sobre o touro antes de subir. Tornara-se questão de honra manter o animalzinho a salvo. A solicitação foi atendida bem no momento em que Connor dava um rasante montado em Dom Perignon, seu pégaso, e habilidosamente pegava a menina pelo tronco.

— Precisamos ir embora daqui! As coisas estão muito sérias!

O filho de Zeus ajudou a amiga a se posicionar à frente dele na montaria enquanto os autômatos dos amigos e dos tios levantavam voo. Lá embaixo, era possível ver Delta sendo levado de forma segura na companhia de um dos servos de Asclépio. Estavam no alto quando a pequena viu as figuras de dois deuses em pleno campo de batalha, encarando uma grande massa disforme e muito amedrontadora, enquanto os soldados da intervenção direta também recebiam caronas mágicas.

O vulto veloz se uniu a eles e, embora não pudesse ver-lhe as feições, não foi difícil ter a certeza de que se tratava mesmo do deus dos viajantes. Ele já lhe tinha atendido as preces por tantas vezes ao longo da jornada como fugitiva do acampamento, abençoando suas invasões e arrombamentos, e agora estava ali, a poucas quadras de distância. Parecia fora de hora pensar em agradecer pessoalmente naquele momento, mas ela desejou muito.

Ainda assim, viu-se apenas se afastando e ouvindo em sua mente a ordem para se cobrir. Sem entender muito de início, foi quando o dourado das armaduras pareceu começar a brilhar mais fortemente sob o céu noturno que ela entendeu: os deuses entrariam em sua forma plena, o que seria mortal para qualquer um que fitasse. Fechou os olhos e desviou a face para o outro lado, protegendo-se enquanto seguia na direção do local do qual fugira seis meses antes.

* * *

Os três Murrays e os quatro amigos não se desgrudaram uns dos outros em nenhum momento. O potro estava — finalmente! — em absoluta e inegável segurança, mas a garota não conseguia desacelerar. Queria saber o que tinha acontecido, se os heróis tinham vencido, que desenrolar aquela estranha batalha final tinha apresentado. Ela notou que todos pareciam um misto de tensão e alívio, tristeza pelos mortos e alegria pelo que, aparentemente, tinha sido uma vitória.

Dentre os soldados do grupamento principal que ainda chegavam, Annie avistou Kurt LeBeau, que tinha expressão séria e parecia um verdadeiro comandante em ação. Ele provavelmente daria uma bronca nela por ter se metido em confusão passado tão pouco tempo desde a cura feita nela e em Klaus, mas fora por uma boa causa. Viu-se sorrindo levemente, tinha sobrevivido. Ela, os tios e seus amigos tinham sobrevivido.

As chamas acesas aqueciam os heróis do Olimpo com uma sensação deliciosa de conforto e acolhimento, mas foi quando elas bruxulearam de forma mais intensa que a menina percebeu que havia uma garota em pleno fogo. Já a tinha visto meses antes, quando o primeiro anúncio em busca de apoio foi feito. Héstia, a deusa que arregimentara o exército defensivo, tinha um olhar positivo e um leve sorriso. Vencemos, concluiu Annie, realmente conseguimos.

Vieram as honrarias, a satisfação da deusa pelo apoio conferido por todos aqueles meios-sangues. A indefinida finalmente se permitiu cair sentada sobre um dos banquinhos de concreto que ficavam espalhados por todo o refúgio, sentindo finalmente o cansaço no corpo depois de todo aquele estresse. A deusa prosseguia falando sobre a maldade que reinava no mundo apesar da intervenção e sobre a incerteza do que o futuro aguardava.

Durante um breve momento de silêncio, a menina parou para observar os que estavam no local. Reconhecera tantos rostos familiares, especialmente os do chalé 11, que lhe servira de morada desde que deixara de ocupar um quarto na Casa Grande, aos seis anos. Aqueles tinham sido seus companheiros desde o nascimento. Vira vários deles irem e voltarem de missões, chorarem por companheiros perdidos, sorrirem ao receber as contas no colar ao fim de cada verão.

Annie tinha nove em seu pescoço, sendo a primeira delas uma verde escura com uma linha branca que formava um bebê como figura. Representava o verão de seu nascimento, que ocorrera em uma madrugada tempestuosa, de mar em fúria e poderosas descargas elétricas descendo do céu. A madrugada em que a profecia foi feita, reclamação apenas no décimo aniversário. Faltava pouco mais de um mês.

Héstia retomou sua fala, discorrendo sobre a ganância exagerada de Prometeu e suas chamas, espalhando um caos que ainda perdurava até aqueles dias. E foi aí que o anúncio foi feito. A deusa afirmou que, agora, também trazia suas próprias chamas de renúncia ao egoísmo e dedicação ao resgate da paz que deveria reinar no mundo semidivino e até mesmo mortal. Estenderiam seus poderes ao máximo a fim de derrotar o mal que tentava a todo custo se erguer, e Annie, que jurara a si mesma tomar parte ativa naquela luta, não tardou em anunciar:

— Eu aceito seu chamado!

E, com satisfação, viu que outros também o faziam, alguns até deixando de seguir caminhos outrora iniciados para que também pudessem se engajar com maior proximidade à causa. A pequena notou em Quíron um olhar de intensa preocupação. O velho centauro provavelmente nunca deixaria de vê-la como o bebê que ele recebera nos braços naquela madrugada de quase dez anos atrás, mas precisava fazê-lo. Em total oposição ao milenar, Klaus a encarava com um sorriso satisfeito. Sabia do perigo em que ela estava se metendo, mas não poderia estar mais orgulhoso de sua guerreirinha.

O andamento daquela passagem de um dia para o outro ocorreu com bastante atividade, a despeito da exaustão que reinava no refúgio. Todos ainda estavam em estado de alerta, mesmo com a vitória declarada, e os curandeiros tinham muito trabalho a fazer. Annie viu Cooper fazer questão de se juntar àqueles que seriam seus futuros colegas. Ela tinha certeza de que Asclépio o aceitaria em seu grupo em breve.

Até o momento da queima das mortalhas, horas depois, ela se deixou apenas observar o lugar que um dia chamara de lar. Não poderia mentir para si mesma e dizer que não sentia saudade, mas fizera sua escolha. Além de estar disposta a lutar pela paz do mundo, ela tinha uma missão pessoal e um compromisso inquebrável com sua família. Era uma primogênita Murray, afinal de contas, herdeira da liderança do clã.

Permanecer presa ao acampamento não era uma opção. Especialmente agora, que provavelmente acabaria convocada para muitas aventuras mais em nome da deusa na fogueira.

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Re: — Ruína e Ascensão: encerramento

Mensagem por Melody Laviolette Qua 29 Jul 2020, 09:12

BREATHE, SEND ME
A SIGN
,
Melody não pode auxiliar na guerra como Psiquê esperava. Nem sabia se a entidade tinha expectativas quanto seus feitos no caos de Éris, mas nada mais importava. Se viu presa em outro problema no caminho das barricadas: uma fenda. Amaldiçoada por uma profecia antiga, a filha de Despina devia cumprir sua única função recém descoberta. Se Manhattan tinha problemas com monstros comuns, se os observadores gélidos escapassem… nem mesmo os deuses poderiam ser salvos.

Logan estacionou o carro num beco afastado. Era tarde da noite e o movimento era caótico nas dependências. Carros destruídos, comércios vandalizados, semideuses lutando. Um verdadeiro apocalipse. Melody desembarcou com sua lâmina em mãos, trocando um olhar com o parceiro mentalista antes de disparar rumo ao beco. “Vamos acabar logo com isso”.

Entre dois prédios, uma aura invernal afastava qualquer um. O beco estava completamente gélido, com uma fina camada esbranquiçada pelas paredes de tijolos e nos sacos de lixo. Caixas e outros objetos sujos haviam se transformado em estalactites cristalizados, indicando a força da entidade. Melody se aproximou do fim do corredor estreito para encontrar aquilo que temia: um rasgo no tecido da realidade oscilava em pleno ar, dispersando uma brisa gélida.

— Como fechamos isso? — o rapaz perguntou, segurando a corrente nas mãos.

— Preciso me aproximar. Me da cobertura?

— Sempre.

A garota deu alguns passos rumo ao portal, sentindo o frio rasante atravessar suas roupas. A magia invernal era poderosa demais para ser contida pelo sangue divino e nem mesmo Despina poderia ajudá-la. Os flocos aumentaram, transformando-se em fragmentos de gelo. Logan concentrou sua telecinese ao redor da companheira, permitindo se aproximasse sem ser ferida.

Quando Laviolette tocou a fenda, pode sentir a conexão com os observadores. Lembrou-se do sonho recorrente: o mundo congelado, sem vida e uma única pessoa culpada. A imagem do antílope cinzento atormentou sua mente, permitindo que o desespero tomasse conta de seus pensamentos. Gritando, Melody fechou a fenda que tinha cumprido seu objetivo: marcar a escolhida novamente. O portal desapareceu, assim como o vento frio.

— Melody! — Logan deslizou até a semideusa caída, segurando seu corpo frio — Você conseguiu. Fechou a última fenda.

Quando citou a última palavra, uma explosão agitou o solo. Um rasante supersônico arrancou parte do telhado dos prédios, seguido de robôs. Logan não compreendeu o que estava acontecendo, mas não hesitou em ajudar sua parceira. Melody estava debilitada demais e precisava de ajuda. Carregou a garota nos braços até o carro, encarando o antílope mecânico do outro lado da rua. Antônomos resgatavam semideuses, provavelmente em retirada. A distância, pode ver uma monstruosidade cinzenta sendo atacada — o que foi suficiente atender o chamado de um garoto que subia no autônomo próximo.

E como um trem-bala, zarparam da cidade sem olhar para trás.


[...]


Melody podia ter se recuperado, mas sabia que aquilo era só o começo.
Aquela guerra não era sua. Podia ter evitado os observadores, mas eles ainda estavam tentando escapar. Chegaria um momento em que sua consciência não suportaria tocar o outro lado e sucumbiria, trazendo o inverno crítico ao plano mortal — e isso a aterrorizava.

Caminhou para fora da enfermaria central, encontrando Logando do lado de fora. O mentalista comunicava-se com a deusa sobre o status da missão por um pequeno dispositivo metálico quando encontrou a filha de Despina em pé. Desligou, tocando seus braços instintivamente.

— Você não deveria estar em pé.

— Também não deveria estar viva. O que aconteceu?

— Algo que eu disse vai te fazer voltar para cama? — ele arqueou uma sobrancelha, curioso.

— Não.

— Então venha. Vamos perguntar ao Centauro.

O acampamento estava tão mórbido quanto esperava. Campistas retornavam da cidade em autônomos enviados pelos deuses, enquanto curandeiros se esforçavam para ajudar os feridos. Muita coisa ruim tinha acontecido, mas a guerra havia sido dos gregos. Héstia surgiu na clareira, rodeada de heróis e dos demais membros da família. Sua presença era acolhedora, como uma lareira acessa numa noite fria. A voz tranquila e serena anunciou o resultado, indicando a vitória dos gregos sobre Éris e as forças do mal. Por mais que estivessem em êxtase, não conseguia parar de pensar na visão. Um mal tão grande quanto os deuses se preparava para vir a este mundo e Melody era a única capaz de impedi-lo. Segurou o braço do mentalista, abraçando-o durante o discurso final da deusa que lhes dava esperança, afinal, precisava abraçar qualquer possibilidade de um futuro melhor.



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Re: — Ruína e Ascensão: encerramento

Mensagem por Skylar W. Krøhonen Qua 29 Jul 2020, 10:56



ruína


“Ouça-me bem, amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos
, tão mesquinho
Vai reduzir as ilusões a pó”


— Cartola.




Foi a primeira vez desde que se descobrira semideusa que Skylar havia imaginado como era a sensação que os monstros tinham ao serem desintegrados.

De todas as palavras que cruzavam o mar colérico de seus pensamentos, algumas se destacavam — agonia, dor, ou o conformismo. Isto é, haveria de ser necessário racionalizar antes que qualquer outra emoção tomasse conta de seu corpo; e precisaria aceitar os fatos, por mais dolorosos que fossem, no amargor precoce de novas perdas.

Não, Skylar nunca havia negado que pudesse perder seus entes queridos.

Afinal, desde a descoberta acerca do mundo ligado ao sangue primordial de sua mãe em suas veias, a semideusa entendeu que aquela nova realidade era passível de surpresas que não dependiam dela. Mesmo assim, isso não significava que não pudesse sentir em face aos cortes que as Moiras faziam àqueles que com ela se alinhavam. Era nisso que pensava — na revolta, na insurgência contra o destino —, quando abriu os olhos.

E lhe foi permitido o retorno da inconsciência.

Tudo que a jovem Weiz podia fitar naquele momento eram as vigas do teto escuro, salpicado por brilhosas estrelas, do chalé de Nyx. Apesar de ter deixado o Acampamento algumas semanas antes, o cubículo que chamava de quarto naquela cabana permanecia intocado e com os mesmos adjetivos que ela usava para caracterizar um ambiente que havia moldado à sua imagem: simples, acolhedor. Parcialmente escondida entre os cobertores, a jovem recordou o motivo de gostar tanto daquele recinto — dentro dele, o resto do mundo deixava de fazer sentido. Entre as quatro paredes pintadas de tons escuros, ela podia fingir que a realidade semidivina era inalcançável e seu mundo era resumido à penumbra diáfana.

Infelizmente, não era assim.

— Skylar…? — Alguém sussurrou no intervalo em que a porta do alpendre rangeu ao ser aberta. De alguma forma, a luz frágil que irrompeu do corredor rumo ao quarto umbroso fez com que a estrangeira quisesse cobrir os olhos. — Sky? — Chamou novamente.

O apelido fê-la finalmente decidir observar a silhueta que adentrava o recinto com passos hesitantes.

— Bel? — Ao contrário do que ela planejava, sua voz saiu baixa, quase um sussurro. Mesmo assim, foi o suficiente para que o sátiro a ouvisse e tomasse aquela indagação como propósito para aproximar-se mais até sentar na beirada do colchão. — Belacquo! — Ela lançou os panos para o lado, permitindo-se o abraço do amigo.

— Calma — disse o espírito da natureza, deixando que a face da semideusa encontrasse a curva de seu pescoço ao procurar seu ombro para servir de amparo. — Eu soube o que aconteceu com…

Ela afastou-se apenas para fitar o castanho dos olhos do interlocutor. No azul dos seus próprios, uma única mensagem era suplicada em palavras jamais proferidas: “não quero falar sobre isso”. E ele entendeu — pela empatia natural dos sátiros, ou simplesmente por conhecer cada linha do semblante da norte-irlandesa —, nada disse.

— Pelo menos você está viva. — Tentou, como sempre fazia, amenizar as coisas. Pelo tempo que se conheciam, Sky entendia que o protetor buscava quaisquer métodos para fazê-la sorrir. Naquele momento, entretanto, qualquer ato remetente à felicidade parecia distante como um dos planetas no vácuo sobre todos eles. A menina soltou um suspiro que se prolongou na atmosfera entre ambos, e as mãos do sátiro se fecharam sobre as dela. — Vamos; está na hora de levantar.



[...]



— Ah, srta. Krøhonen. — Quíron estava na varanda da Casa Grande quando ela chegou, ainda com os dedos entrelaçados com os de Belacquo. Diferente das outras vezes em que era requisitada ao quartel general do Acampamento, ela não estava disposta a ficar sozinha. E pela primeira vez, a simplória ideia da solidão era suficiente para fazer com que estranhas rachaduras se prolongassem pelo miocárdio falho em seu peito. — Imagino que tenha suas próprias opiniões sobre o ocorrido.

— Foi terrível. — Foi tudo que disse em um primeiro momento. O centauro levantou uma sobrancelha; desde que a conhecera, Sky carregava sempre aquele tom resignado e um timbre delicado, contemplativo. Naquele momento, porém, sua fala era alterada pelo rancor de memórias recentes. — Eu pensei que isso não podia piorar; a ameaça de Éris, ataques, monstros…

Suspirou.

— E, bom, piorou.

— Entendo que as circunstâncias possam tê-la afetado de algum modo, mas…

— Não, Quíron, isso não é sobre mim. — Interrompeu. — Entendo que o seu dever seja treinar-nos, mas mandar crianças diretamente para aquele banho de sangue foi um grande ato de injustiça com todos nós. Sim, seria melhor defendermos nossos ideais que deixar as forças de Éris destruí-los, mas me pergunto onde está a glória na nossa vitória. Lutamos por deuses que muitas das vezes sequer ligam para a nossa existência; e certamente não haverá nenhum reconhecimento entre os imortais pelo que fizemos.

— A questão não é sobre reconhecimento, ou coroas de louros aos vitoriosos. — O diretor interveio, observando a mais nova com apreensão nos olhos milenares. — É sobre o que é certo.

— E todas as perdas parecem certas a você?

Silêncio.

Não percebeu exatamente quando havia passado a prender o fôlego, mas liberou-o. Nas esquinas dos lábios, maldições estavam excitadas com a premissa de liberdade. Nada disse, porém — não havia mais nada a ser dito.

— Não. — Ele murmurou. — As perdas não parecem certas, Skylar. Nunca serão. Mas você já entendeu nesse ponto que elas são inevitáveis, por mais dolorosas que sejam. Eu sinto muito pelas suas.

Os dedos de Sky apertaram os de Bel com mais força, como se a pressão entre ambos pudesse suprimir quaisquer emoções ainda presas no coração da morena, causando um desconforto cardíaco tão intenso como um infarto. Quando deu as costas à Quíron, a Mentalista não pensou em olhar para trás. Fitava a grama verde sob suas botas como se encontrasse naquele oceano de clorofila um escapismo àquele novo mundo. Não queria ter que viver nele, embora não pudesse fugir.

— Sky, espera. — Belacquo foi atrás dela, fazendo-a tentar lembrar em qual momento havia desprendido as falanges das dele. Era como se cada ação sua se fragmentasse, seu cérebro tornando-se incapaz de processar cada mínimo detalhe.

Era a definição de incompletude.

— Sabe, Bel — ela parou, virando-se para observá-lo. — Antes eu julgava aqueles que serviam Éris, mas não sei se eles estão errados em seus próprios ideais. Claro, precisam ser detidos. Mas quem pode julgá-los por ir contra os Doze?

— O que quer dizer com isso? — O sátiro ergueu uma sobrancelha.

Skylar o abraçou, encostando a têmpora contra o peitoral do mais alto. Havia muito em sua mente naquele momento.

— Nada. — Mentiu.



[...]



— Já está partindo?

No topo da colina, próxima ao Pinheiro, Sky parou. Virou para observar a figura que aparentava segui-la, desenhando os contornos sóbrios de um rosto belo contra a escuridão da noite. Olhos de um azul celestial encaravam-na, intrínsecos em um rosto que demonstrava poucas emoções reais naquele momento; ela tinha um ar duvidoso, e ajeitou os óculos redondos que insistiam em deslizar pela ponte de seu nariz.

— Foi um dia longo — respondeu a Mentalista à sua patrona. — Quero ir pra casa.

— E essa também não é a sua casa? — Aproximando-se alguns passos, Psiquê colocou-se a poucos centímetros da menina. Daquele ângulo, podia ver que a vermelhidão nos olhos da garota eram decorrentes do choro indômito após as queimas de todas as mortalhas; algumas puramente simbólicas, como no caso de Flora.

Skylar enfiou as mãos nos bolsos do casaco, procurava o calor deles.

— Sinto que não é mais. — Ela murmurou. — Já foi um dia, mas hoje…

Balançou a cabeça em uma negativa.

— Bom, casa é, acima de tudo, um conceito. — A deusa da alma afastou do rosto da aprendiz uma madeixa longa de seus fios escuros. — Isso significa que você pode construir uma nova em algum lugar que queira; como eu sempre disse a você, o mundo gira e muda. As coisas avançam, se transformam, influenciam…

— Como um efeito borboleta. — A garota lembrou, estampando um sorriso de curta vida nos lábios da patrona.

— Sim.

— A verdade é que não quero ficar; também não esperava partir tão cedo. Pela primeira vez em muito tempo eu estou sem rumo. — Ela confidenciou, colocando para fora as dúvidas que lhe martelavam o peito.

“E sozinha no mundo… mais uma vez”.

— Héstia ofereceu um caminho totalmente novo. — A divina ergueu uma sobrancelha. — Paz, esperança, não é isso que procura?

— Sim. — Sky assentiu. — Mas o que aconteceu em Manhattan foi nada mais que o decorrer de uma guerra que está longe de acabar. A paz pode emergir do caos, mas há todo um processo tortuoso entre nossa situação atual e esse objetivo. Eu sei lá, só preciso de um tempo.

— Vai mesmo deixar os Estados Unidos?

— Quem sabe? — Juntas, caminharam o pouco que faltava até que ultrapassassem os limites da redoma mágica e invisível que protegia o Acampamento. Não houve uma diferença significativa durante a passagem, mas Sky sempre sentia uma mistura de sensações ao transpor a fronteira do vale. Ainda tinha algum percurso até a base da elevação de terra, por onde serpenteava a estrada rural de Long Island.

Mesmo dali, conseguia sentir o aroma dos morangos. Era sinestésico e estranhamente nostálgico, ainda que doloroso em proporção similar.

— Nossa sede fica na França, sim? — Skylar subitamente perguntou, fazendo com que um assentir moderado fosse a única resposta de Psiquê. — Sempre quis conhecê-lo.

— Sabe que haverá sempre um lugar disponível para você lá, não sabe? — A deusa a fez lembrar. Foi a vez de Weiz fazer um sinal positivo com a cabeça.

— A verei em breve, Skylar. — Acariciou a bochecha da morena com o polegar. — Até lá, boa sorte.

Desfez-se como brisa, deixando para trás algumas borboletas azuis que também não tardaram a desaparecer entre as dobras do manto de Éolo. Subitamente sozinha, Sky continuava com os pés fixados na colina enquanto fitava o espaço anteriormente ocupado pela deusa. O Pinheiro permanecia em sua função de sentinela, ainda que de maneira silenciosa e austera, e o dragão Peleu enrolado em sua base sequer dava atenção à uma semideusa que ele vira chegar e partir inúmeras outras vezes.

— Tchau. — Ela acenou para a criatura, embora duvidasse que ele a entendesse.

Foi a única despedida que fez naquela noite antes de deixar Long Island — agora definitivamente.

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Re: — Ruína e Ascensão: encerramento

Mensagem por Adrian Ortiz Qua 29 Jul 2020, 13:21

RUÍNA E ASCENSÃO
Apesar da incerteza sobre o desfecho da guerra após a intervenção dos deuses momentos antes, e em meio à exaustão que o acometia depois de tantos esforços, Adrian apreciava a sensação reconfortante de ter sobrevivido e desempenhado um bom papel ao longo das lutas nos arredores do Empire State. Modéstia à parte, tinha plena consciência de que dera seu melhor a todo instante. Pensando nisso enquanto sobrevoava Nova York em direção ao Acampamento Meio-Sangue, imaginou que seu pai, Poseidon, devia estar orgulhoso diante dos feitos do filho.

Então, minutos se passaram. Quando à distância entreviu as fronteiras mágicas do acampamento, sentiu-se tão radiante, que não pôde evitar o sorriso enfraquecido nos lábios. Conseguira retornar com vida. A seguir, o pouso do transporte fornecido por Hefesto foi realizado próximo ao pavilhão do refeitório. Antes de atingir o solo, Adrian enxergou do alto o mar de campistas que haviam permanecido ali a fim de proteger o lar dos semideuses gregos. Pelo visto, a apreensão de outrora fora substituída por um clima de tensão menor, embora muito tivesse que ser feito para reparar os danos consequentes da guerra.

Como é bom revê-los — sussurrou para si próprio, segundos antes de finalmente alcançá-los.

O que se sucedeu na sequência foi uma grata surpresa. Aos combatentes que regressavam de Manhattan, recepções um tanto calorosas eram feitas, ao passo que curandeiros se punham de prontidão em face dos necessitados. Todos pareciam ligeiramente aliviados, afinal, apesar das ameaças iminentes continuarem a rondar mundo afora. Ainda assim, Adrian tentou se prender ao otimismo, e por meio de certo esforço, sorria às fileiras de rostos familiares sempre que possível. Estava de volta à sua casa, ora; aparentemente, nada poderia arrancar a satisfação que experimentava naquele regresso.

Ψ

Terminados os reencontros exultantes entre campistas, logo deu-se uma nova reunião, dessa vez tendo como epicentro a deusa da lareira, Héstia. Responsável por recrutar boa parte dos semideuses que agora se limitavam a observá-la, ela iniciava um discurso cujo teor exprimia o mais sincero orgulho dos que participaram ativamente da missão. Além do gesto de reconhecimento perante tamanho ato heroico, a deusa aproveitou a circunstância para esclarecer fatos anteriormente desconhecidos.

Nessa hora, Adrian, que se encontrava sob o amparo de dois filhos de Apolo devido aos seus ferimentos trazidos da guerra, mantinha o olhar atento à ilustre presença que proferia palavras elucidativas. A menção de Prometeu como um dos principais fatores das adversidades sofridas nos últimos tempos não provocou espanto na prole de Poseidon; em vez disso, tal afirmação reacendeu seu forte instinto. Percebeu que a vitória tinha sido momentânea, e que outros males não demorariam a despontar contra os deuses olimpianos e seus seguidores.

A essa altura, achou que a conferência estabelecida por Héstia fosse ser dada como concluída. No entanto, a voz solene da deusa novamente se manifestou, agora tratando de uma questão bastante peculiar: um convite aos semideuses interessados em se juntar à sua nobre causa de renúncia. A deusa convocava seguidores que pudessem contribuir com seus futuros propósitos em prol da busca por paz e equilíbrio. Era uma oferta tentadora, definitivamente. Mas, no íntimo, Adrian a rejeitou. Possuía planos diversos em mente visando o futuro, contudo nenhum deles estava associado a Héstia, ainda que nutrisse respeito pela divindade.

Portanto, o rapaz limitou-se a permanecer num silêncio contemplativo, fitando a parcela de campistas que demonstraram entusiasmo em poder ingressar ao círculo de Héstia. Quanto à prole de Poseidon, desejava mesmo uma visita à enfermaria, levando-se em conta seu estado ainda abatido. Precisava dar um jeito nas suas marcas de guerra, e logo.

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Re: — Ruína e Ascensão: encerramento

Mensagem por Peter Lost Qua 29 Jul 2020, 22:55

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Ruína e Ascensão
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Evento
What is lost may never die
— Ruína e Ascensão: encerramento HeOg5gr
Meu corpo estava cansado, meus músculos doíam e agora eu só pensava em dormir para poder ir embora nas primeiras horas da manhã seguinte, mas duvidava seriamente que conseguiria acordar cedo. Meus pensamentos voavam enquanto eu procurava com os olhos, em meio à multidão que se encontrava próxima à fogueira, por Kalled, o rapaz a quem me aliara durante toda a empreitada.

Sem pensar muito, enfiei a mão dentro de minhas vestes escuras, agora já amarrotadas e sujas, e puxei do bolso interno meu cantil metálico, o qual possuía o último gole de whisky quente e velho.

Agradeci mentalmente por ter deixado aquele resto de bebida no início da noite e, sem muita cerimônia, ingeri os últimos mililitros. O líquido desceu pela minha garganta fazendo-a arder. A noite, porém, havia sido tão adversa que nenhuma careta foi forçada pelo álcool, meu corpo já não reagiria a estímulos tão fracos quanto aqueles.

Minha mente viajou por todos os acontecimentos das últimas horas, a verdade é que eu não podia deixar de imaginar que minha sobrevivência havia sido um milagre. Um arrepio correu por minha coluna ao lembrar do inimigo que havíamos enfrentado anteriormente. Eu nunca havia visto nada igual àquilo.

Além de tudo, diversos campistas estavam gravemente feridos enquanto outros jamais voltariam para contar a história daquela noite. O clima se mantinha pesado e a falta de notícias sobre o desfecho de toda a situação fazia com que minha ansiedade crescesse.

Finalmente meus olhos focalizaram uma pessoa conhecida: o semideus do fogo. Era incrível pensar que eu havia conhecido o rapaz há poucas horas, mas confiaria minha vida a ele sem pensar duas vezes. Esgueirei-me, por fim, até chegar ao garoto.

Kall. — Exclamei com certa intimidade, antes de dar um leve soco em seu braço. — Acho que nunca nos apresentamos formalmente, sou Peter Lost, filho de Zeus.

Prazer, Peter. Meu nome é Kalled Cavaliére Almeida, filho de Hefesto e maestro dos menestréis. Foi um prazer poder lutar ao seu lado. — Estendeu a mão para mim, como se quisesse faze um cumprimento.

Tenho certeza que se não fosse por você, eu não estaria aqui. — Retribuí o gesto do filho de Hefesto e o cumprimentei. — Estou te devendo uma bebida, moro nas ruas de Nova Iorque. Por que não me manda uma mensagem de Íris quando estiver por lá e acertamos isso em algum bar?

Tenho certeza que você teria dado conta. — Disse-me ele, com um sorriso no semblante. — Seus atos heroicos foram louváveis, o Olimpo tem sorte de tê-lo no time. Sobre a bebida estou sempre à disposição, moro em um teatro em Nova York e quando quiser passar por lá basta me avisar com antecedência. O que pretende fazer assim que sair daqui?

Kall, nós dois sabemos que o grande protagonista da noite foi você. — Comentei, relembrando-me dos poderosos ataques flamejantes do semideus e do momento em que ele me salvara da morte certa. — Tenho me preparado para ir ao submundo, talvez seja meu próximo passo. —Comentei um tanto receoso. — E você?

Não tenho muita certeza sobre isso — Respodeu-me — Eu pretendo voltar a Nova Iorque e resolver algumas pendências. Caso preciso de ajuda pode entrar em contato, ficarei contente em poder emprestar meu machado para você mais uma vez.

Vou cobrar a ajuda! — Falei ironicamente, enquanto me sentia o próprio Frodo de Senhor dos Anéis.

Despedi-me do semideus e me caminhei entre os campistas tensos, o breve papo com Kalled havia despertado pensamentos infelizes sobre o que se seguiria em meus planos. A hora de tentar avançar ao submundo se aproximava rapidamente.

Foi naquele momento, enquanto me encontrava perdido em minhas próprias divagações, que o cenário pareceu mudar quase que completamente. As labaredas provindas da fogueira se ergueram, como se algo as tivesse alimentado subitamente, tomando a forma da bela mulher que me contatara no início da noite. Héstia.

A deusa do fogo abriu um leve sorriso antes de iniciar seu discurso.

Semideuses, estou aqui para reconhecer a bravura de todos aqueles que resolveram oferecer forças em favor daquilo que julgam como certo. — Sua voz parecia tocar minha alma, acalmando-a. — Acredito que hoje, todos puderam perceber que os dias são maus, e o perigo já não se esconde mais nos abismos. O porvir é incerto e o equilíbrio entre os dois mundos nunca esteve tão frágil.

Ela parou seu discurso, como se estivesse fazendo uma pausa dramática. As falas da deusa claramente serviam de alerta para que não permitíssemos que aquela vitória tivesse a falsa sensação de segurança.

O mundo vem convivendo com os males das chamas de Prometeu há muito tempo. Chamas que vieram da ganância e seguem queimando no peito de muitos, trazendo cada vez mais ódio e destruição. — Por fim, ela tomou uma postura mais dura. — Eu, contudo, venho apresentá-los a uma flama diferente. A da renúncia. Assim como renunciei meu lugar em meio aos olimpianos pela harmonia, venho em busca dos que se julguem dignos e dispostos a alimentar esses desejos de paz dentro do que conhecem como lar e em todo lugar que nosso poder possa porventura alcançar.

A oferta da divindade era tentadora, mas eu não estava em posição de aceita-la. Não me via como o seguidor de deus algum, muito menos me via como um herói ideal. Afinal, não era tão corajoso, forte ou inteligente como os protagonistas das lendas mitológicas, era apenas Peter Lost, um cara que buscava fazer o certo e proteger as pessoas.

Deixei o local em meio a animação e comemoração dos demais campistas, afinal, todos pareciam muito felizes pela conclusão da batalha. Eu, por outro lado, me sentia culpado por não ter sido forte o suficiente para salvar meus colegas. As mortes daquela noite martelariam em minha consciência pelo resto de minha vida.

Não me parece muito animado para alguém que acaba de proteger o mundo. — A voz veio de algum lugar atrás de mim, fazendo-me virar para encarar quem quer que fosse.

Era o centauro que tomava conta do acampamento, Quíron. Ele exibia um semblante calmo, como se tentasse transparecer certa tranquilidade para todo aquele momento.

Só que eu não protegi todo mundo, Quíron. — Cuspi as palavras com mais amargura do que esperava. — No momento decisivo eu não fui forte o suficiente!

Ele me encarou, como se estivesse analisando minha reação enquanto formulava frases para aquela conversa. Eu não conseguia entender como poderiam haver pessoas felizes com tantas baixas.

Sabe, alguns campistas me contaram o que você fez, Peter. — O híbrido coçou a própria barba, antes de se aproximar um pouco mais de mim e pousar a mão em meu ombro direito. — Me disseram que você os deu motivação para continuar lutando e que os liderou em batalha.

Aquilo foi no calor do momento, alguém tinha que...

Alguém tinha que fazer alguma coisa. — O homem-cavalo completou minha frase, como se entendesse perfeitamente os meus sentimentos. — E você foi esse alguém, Lost. — Fitou-me nos olhos. — O Peter Lost que eu treinei há tanto jamais teria feito isso, mesmo assim, hoje você fez.

Quíron, eu... — Minha voz vacilou enquanto eu tentava encontrar as palavras.

Suas ações podem ter salvado várias vidas hoje e aos poucos vejo você se tornando o filho de Zeus que nasceu para ser. — Ele me deu um forte abraço, relembrando-me de todas as vezes em que o centauro fora uma figura paterna para mim. — Amanhã nós sofreremos pelos mortos, mas hoje a vitória também é sua, volte para os seus amigos e se permita-se um pouco de felicidade.

Assenti com a cabeça, enquanto agradecia aos deuses por ter Quíron ao meu lado e, por fim, decidi segui seu conselho, antes de esboçar um leve sorriso cansado e voltar para a multidão. Naquela noite eu me permitiria uma leve comemoração.
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Re: — Ruína e Ascensão: encerramento

Mensagem por Ayla Lennox Qui 30 Jul 2020, 12:08


— independência;
Muita atenção, querida. De cada amor tu herdarás só o cinismo. Quando notares estás à beira do abismo; abismo que cavaste com os teus pés.
[cartola – o mundo é um moinho]

O teletransporte era um recurso curioso.

A dádiva súbita de fechar os olhos e saber que não estaria mais lá – pouco importando onde o seria – acabava sendo uma ferramenta invejável na vida dos semideuses. Aquele breve segundo de meio-termo quando não encontrava-se em lugar algum era uma experiência de torpor que gostaria de prolongar, mas as coisas não funcionavam assim.

Sentia como se estivesse a abandonar uma embarcação em meio à tormenta. Em um instante, cercada de um desespero doloroso e angustiado, em outro, nada; caía naquele mar de vazio e retornava à superfície esperando encontrar algo diferente do que havia deixado para trás.

E daquela vez o cenário era de fato diferente, mesmo que as consequências do parque Olympic desde já estivessem em seu encalço. Daquilo parecia impossível escapar, e ela já tinha feito as pazes com esse fato, ainda que doesse.

E tudo doía.

O que estava fora do lugar, o que havia sido rasgado, cada nova rachadura em si. A queda. Ela, assim como suas conviccçõess já frágeis tinham caído por terra, e apesar de sua ascensão em glória, estava afundando em derrota.

— Vocês cumpriram com a parte devida no chamado que enviei, e é por isso que os trouxe até aqui.

As íris cinzentas da cria de Selene não tardaram para alcançar a origem daquela voz. Não precisaram desprender muito esforço para perceber que a guerra também tinha alcançado a dama da discórdia. A postura altiva e a firmeza em seus dizeres disfarçavam a evidência clara de que talvez tivessem chegado um pouco tarde, que seu avançar tinha sido um pouco lento, que ao enfrentar os oponentes no caminho tinham sido um pouco hesitantes...

Sempre pouco, sempre aquém do desafio colocado à frente.

Lennox percebeu que, além da figura de Éris, a pradaria era adornada com outras presenças. Nenhuma particularmente familiar ou que pudesse ganhar importância quando comparados ao mero vislumbre da filha de Apolo, que não estava em nenhum lugar que seu foco pudesse alcançar de imediato.

As palavras da deusa roçavam contra a pele da semideusa vez por outra dentro daquele discurso. Um começo, um propósito, algumas origens e contos familiares sobre o modo dos imortais lidarem com as coisas. Estava diante de alguém que estava aos poucos se desvencilhando do controle e da tirania dos olimpianos, mas as regras do jogo eram diferentes para ela.

Até que ponto fazia o que fazia pelos meio-sangues também? O desejo de mudança podia ser compartilhado por todos, mas partindo das mãos de uma só persona, por quanto tempo seria sustentado sem se moldar em uma odisséia por vingança e nada mais?

Ayla suspirou.

Quando o fez, tornou-se mais consciente da carne que habitava e o quão judiada tinha sido da cabeça aos pés. Roupas rasgadas, manchadas, trilhas de sangue em seu rosto e braços, um ombro inutilizável e um tórax dolorido entre o vai e vem de cada respiração.

— Ainda é muito pouco, mas este será o alimento que dará força para que Érebo ganhe forças para romper os grilhões do submundo. — Ela finalmente anunciou seu plano enquanto avançava a seus aliados, um a um, lhes oferecendo um pomo dourado.

Naquele rápido encontro, segurou a mulher pelo pulso que aproximava o fruto de si, forçando aquelas orbes cor de âmbar a fitarem seus contornos com clareza.

Meus negócios não são com Érebo. Nunca foram. — A semideusa falou de maneira que as palavras pairassem apenas entre as duas. — Enquanto você estiver de pé contra os mesmos inimigos que eu, ainda estaremos do mesmo lado. — Seu toque afrouxou e assim que a fruta pousou em sua palma, a deixou cair ali mesmo, ao lado de seus pés. — Todos nós merecemos uma existência diferente disso, mas nem todos estão em bons termos com essas trevas, então não me peça para pelejar em favor de um outro senhor, porque eu não o farei. — E apontou para as beiradas do poço sem fundo que as espreitava.

Éris sorriu, como se conformada com aqueles termos. Na mente da garota projetou suas voz pela última vez antes de desaparecer: Cada um cava seu próprio abismo. Fico feliz que já tenha feito as pazes com o seu.

Frio.

Era uma impressão um pouco vaga, mas inquestionavelmente violenta. Cada sopro gélido era impiedoso, cortante, arranhava sua pele despertando tremores que antes conhecia apenas quando refém de suas angústias. angústias que sabia nomear. Aquela sensação, contudo, era disforme; só poderia nomeá-la como vazia.

Um abismo. Não o precipício que acreditava enxergar no seu reflexo projetado no ferro estígio, não havia familiaridade alguma naquela escuridão opaca e soturna, só... o nada.

Nada ao seu redor, nada que pudesse tocar, nada que parecesse real. Uma vulto ou outro desconhecido, a brisa gélida, o eco de seus pensamentos guiados pelo compasso lento de seu miocárdio contra o peito. "Por que não consegue parar?" haviam perguntado. Resolveu se perguntar também. Por quê?

A lua tinha um brilho pálido que fazia com que o suor reluzisse contra a pele da garota, destacando a trilha de sangue ainda morna em seu rosto. Pôs uma das mãos no flanco, pressionando o corte ali até que parasse de sentir o carmesim escapar entre seus dedos, até que doesse.

Porque fim, soube que, mesmo que não estivesse bem, por bem ou mal, ao menos estava viva.

Escapar do abraço de tânatos era o bastante para Ayla, mas aquele ciclo interminável de fugas sôfregas não deveria alcançar tantos outros. Não deveria alcançar ela.

Brooklyn?

Falou baixinho ao ver os cabelos dourados da outra, como se temesse ao mesmo tempo tornar aquela presença real e a possibilidade de afugentá-la. Não devia estar ali, mas se estivesse, a queria perto de si.

Era um pensamento, no mínimo, atrasado. Patético, especialmente naquela imagem com uma coroa que não lhe cabia, num cinturão que anunciava uma bravura inútil, numa moeda de sorte que tinha acabado de presenciar apenas infortúnios em um tempo inoportuno. Sentiu-se nauseada e o sabor da bile alcançou sua língua assim que considerou todas as coisas que a outra tinha visto por ali e o quão perto de padecer poderia ter ficado. No quão impotente tinha sido na tarefa de proteger a colombiana.

Não que a outra precisasse ser protegida. Nunca era sobre necessidade

O que tinham não era nenhum tipo de remake das melhores cenas de "Uma Linda Mulher" onde ela, como a persona de Gere, tinha poder e influência o bastante para que pudesse apresentar qualquer coisa diferente daquela realidade amarga. Ela só queria oferecer algo diferente, algo que Santiago já não tivesse – qualquer coisa além daquele inferno particular em tons de icor.

E lá estavam de mãos vazias, o peso dos fatos sob ambas costas como o fardo de Atlas. Se olhavam diretamente, uma distância de meia dúzia de passos entre as duas. Ayla abriu e fechou a boca algumas vezes, permanecendo em silêncio no fim das contas.

O que tinha para dar? De que servia se era incapaz de entregar uma única frase que fizesse sentido?

Duviu seu nome, deleitando-se com um suspiro ao perceber o sotaque que dançava entre as palavras da cria de apolo que tentava se explicar. Uma melodia que nem mesmo o próprio deus do sol seria capaz de adornar com aquela calidez que parecia o acender de um isqueiro antes de um trago.

No mesmo ímpeto de proteger a chama com as palmas da mão, quando menos percebeu, tinha os braços ao redor da outra. inspirava fundo, puxando mais pra perto de si o aroma de nicotina em pleno outono. Ayla beijou com ternura o espaço entre as sobrancelhas da semideusa, afastando-se só o bastante para encontrar aquelas íris castanhas.

Não precisa me dizer nada, eu sinto muito. Não queria que você acabasse no meio disso tudo, que visse as escolhas que vi ou passasse pelo que passei. — Praticamente sussurrou antes de entrelaçar seus dedos com os de Brooklyn. — Eu não sei como começar a acertar as coisas então... só... só me deixe te levar embora daqui.

De todas as coisas que podia fazer, aquela talvez fosse a mais certa. O que tinha para dar? Nenhuma promessa, nenhum milagre – porque sabia que nem mesmo as graças do divino haveriam de alcançar as duas. O que tinha para dar? Seus olhos cinzentos pediam por permissão para que fizesse o que estava a seu alcance, ainda que não fosse o ideal. Bastava que fosse melhor.

Tinha esse hábito quando estava com ela, de pôr em uma bandeja de prata o que tinha de melhor.

Mesmo que seu melhor não significasse quase nada.
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Re: — Ruína e Ascensão: encerramento

Mensagem por Brooklyn S. Palmer Qui 30 Jul 2020, 23:23




Aqui os olhos não brilham
Neste vale de estrelas tíbias
Neste vale desvalido
Esta mandíbula em ruínas de nossos reinos perdidos.

[T. S. Eliot]


Escancarou as pálpebras novamente e tudo o que havia para ser encontrado era a palidez doentia da lua, a escuridão sem fim de um poço e um exército derrotado. Sobreviventes. Todos encontrando as consequências por seus próprios atos, os flagelos deixados pela guerra.

Conviver com a perda doía mais do que poderia imaginar, embora não soubesse exatamente de onde vinha tamanho sofrimento. Talvez do gosto de fracasso que sentia na boca que se encontrava com o sangue e a terra já presentes, ou até cicatrizes novas que se formariam sobre as antigas. Podia somente confirmar o quão difícil era executar a mais simples das ações e não compreendia exatamente se era algo físico ou psicológico.

Àquele ponto, já não importava muito.

O mundo estava calado ali, exceto por sua própria mente, e ela poderia ficar deitada pelo tempo que fosse. Apodrecer às beiras de um abismo eterno não seria tão ruim se pudesse permanecer a encarar o céu e não precisasse levantar para descobrir coisas que não queria.

— Está feito. Vocês cumpriram com a parte devida no chamado que enviei, e é por isso que os trouxe até aqui.

A quebra repentina do silêncio fez com que a moça erguesse a cabeça para encontrar quem falava. Éris segurava o próprio corpo de pé a poucos metros de distância, nem um pouco similar à imagem loquaz que a hispânica tinha construído dela no fim dos eventos da Névoa. Permanecia forte, apesar do fim trágico daquele capítulo e vê-la tão desassombrada lhe dizia que não era o fim.

Independente da dificuldade e dos protestos do próprio corpo, pôs-se de pé para ouvir a senhora da discórdia. Cada pequena palavra do discurso ecoava dentro da cria de Apolo, a ponto de ter a impressão que estavam sendo escritas sobre ela com o icor dourado que manchava a armadura da deusa. Até mesmo a desordem possui seus motivos.

Se as intenções da divindade eram genuínas ou não, Brooklyn nunca saberia dizer. Permaneceria de seu lado enquanto concordasse com as atitudes tomadas por ela e jogaria por suas próprias regras. Não se tornaria um peão, não se tornaria uma peça a ser manejada.

Recusar a proposta de Éris foi mais difícil que gostaria de admitir, porém era uma questão de honra, de cumprir o que disse no posto de gasolina meses antes.

Acredito que sabia quando me recrutou que não sou leal a nenhum deus. — Não chegou a tocar na maçã, as digitais permanecendo a apertar as fendas deixadas em sua pele. — Pretendo manter esse valor até o fim, por mais desvantajoso que seja. Quero manter a liberdade de fazer minhas próprias escolhas enquanto ainda é possível.

E a deusa não disse mais nada, continuando sua incumbência como quem já sabia o que esperar.

Quando levantou a cabeça, avistou Max. O filho de Ares estava parado, distante dela e carregava no semblante uma desolação. Por alguma razão desconhecida, Palmer já sabia o que vinha antes mesmo dele murmurar na lentidão necessária para seus lábios serem lidos.

”Aisha está morta.”

Já tinha lido em algum lugar sobre décadas em que nada acontecem e semanas em que décadas acontecem, contudo passar a vida dentro de um constante método de sobrevivência nunca a fez assimilar aquelas palavras corretamente. Compreendeu naquela noite ao sangrar no campo de batalha, ao assistir Éris parecer tão forte mesmo em tamanha posição de fragilidade, ao notar quão facilmente as Moiras poderiam cortar o fio de sua vida e das pessoas que se importava. Permanecer no tabuleiro era inevitável se quisesse que os conceitos abstratos que seguia pudessem deixar de ser apenas isso. Abstratos.

Paz. Segurança. Liberdade. Nada vem do marasmo, não há força em um corpo sem movimento e ter esse conhecimento escorrendo por suas palmas lhe fornecia uma nova visão dos fatos. Uma visão dura, sufocante, mas inevitável. Se quisesse a vida que desejava desde seus dezessete anos, teria que primeiro sangrar para obtê-la. Por mais injusto que fosse.

O líquido vital sobre suas mãos queimava e parecia existir algo obstruindo sua garganta, mas ela temia que fosse apenas a mais crua sensação de impotência. Porque não sabia como cumpriria tudo o que desejava quando nem mesmo conseguiu salvar Aisha, quando sequer sabia o que tinha acontecido com aquele mar de rosas após o clarão. Acreditar que poderia construir um bom futuro para quem amava se tornava uma ideia distante após uma notícia como aquela.

Assistiu Max partir e não possuía nem mesmo a energia para impedir ou buscar algo que fizesse o ardor em sua língua parar. Caso existissem mesmo semanas em que décadas aconteciam, naquele dia a filha do Sol assistiu incontáveis anos de sua vida passarem diante de seus olhos e escorrerem junto ao seu suor. Puxou os próprios cabelos e encolheu os ombros, um gesto simples para expressar o tamanho da angústia dentro de si. Tinha a impressão que poderia se desintegrar a qualquer hora.

Não foi necessário muito para colocar seus pés no chão, entretanto.

— Brooklyn?

Um sussurro tão baixo que talvez a semidivina não tivesse escutado caso seu pulso não tivesse falhado naquele exato instante. Conhecia aquele timbre melhor que qualquer outro e virou-se com a urgência de uma criança perdida encontrando alguém com a promessa de levá-la a um lugar melhor. Apenas as curtas sílabas de sua alcunha foram o bastante para fazer com que toda a linearidade de seus pensamentos desaparecessem porque, no fim, ela estava ali. Ayla estava viva e ela preferia se apegar àquela vitória.

De todos os temores já vividos, nenhum havia sido capaz de lhe paralisar completamente como a possibilidade de perder a lupina. Nunca revelaria, porém a culpa de não tê-la salvado havia de perseguir a cria de Apolo pelo resto dos anos de suas vidas.

Ayla.

O nome escapou falho pelos lábios, as mãos trêmulas e repletas de incertezas finalmente tocando-a. Temia segurar nos lugares errados e machucá-la ainda mais, ao mesmo tempo que algo dentro de si dizia que ela desapareceria se não a mantesse perto o suficiente. Esperava poder mantê-la junto a si pelo tempo que fosse, tornar-se o sal para o oceano que era Lennox.

Pôs ambas as mãos no rosto da outra, o medo de tudo ser uma mentira ainda fervendo dentro de si. Todavia, a morena sempre foi a mais forte entre elas e era óbvio que ficaria bem. Não precisava de alguém como Brooklyn para resgatá-la. Muito pelo contrário, a colombiana que sempre acabava sendo acolhida sob as asas dela.

Sei que pode parecer clichê, mas eu tive tanto medo. — Não sabia se sua voz transmitia tudo o que havia trancado dentro de si, apenas sabia que a verdade era a única coisa que podia lhe entregar. — Achei que…

Permitiu que as palavras sucumbissem perante a surpresa da cálida sensação do beijo deixado pela outra. Ao erguer os olhos para encontrar com os dela, recebeu a confirmação do quão fútil era a linguagem quando se tratava de Ayla. Tinham aprendido a se comunicar muito melhor pelo silêncio, pelos intervalos gentis entre suas frases e pelos olhares sutis que entregavam o necessário.

A única resposta que forneceu ao pedido da semideusa foi um aperto leve nas palmas sobre as suas. Me leve para casa, a frase permaneceu um tolo pensamento abandonado no ar entre as duas. Encostou sua testa na da mais alta brevemente antes de partirem, uma promessa silenciosa sendo feito pela colombiana.

Não de que iria salvar a lupina da próxima vez ou em todas as outras — por mais que quisesse —, pois reconhecia sua incapacidade quanto ao cumprimento disso.

Fez uma promessa que, se tivesse de cair, cairia com ela.

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Re: — Ruína e Ascensão: encerramento

Mensagem por Garrett Bardrick Seg 03 Ago 2020, 03:57

Ruína e Ascensão,

Após aquela mensagem em sua mente e proteger fortemente os seus olhos, o garoto permaneceu intacto naquela posição. Ele não fazia ideia do que havia acontecido e nem para onde estava indo. Por mais que quisesse relaxar, o garoto ficou em alerta. Aquele sufoco, o sentimento de medo e o sonho com o seu pai eram muita coisa para digerir de forma tão rápida.

Poucas horas depois o garoto sentiu uma leve inclinação, como se o autômato tivesse subindo alguma coisa. Por mais que não quisesse abrir os olhos, a curiosidade acabou falando mais alto. Levantou um pouco sua cabeça e antes de abrir suas pálpebras, sentiu uma leve brisa percorrer sobre o seu rosto e então abriu os seus olhos. Rapidamente aquele local, era a colina do acampamento.

O filho de Macária olhou para os lados e avistou outros autômatos e semideuses montados em cima. “Sobreviventes. Graças aos deuses!” afirmou em sua mente e então atravessou o pinheiro de Thalia e o dragão Peleu. Não demorou muito para chegar ao centro do acampamento e então todos os autômatos foram parando aos poucos. Garrett desceu e olhou ao seu redor atentamente.

Haviam alguns semideuses inconsciente, outros levemente feridos e outros gravemente feridos. Alguns semideuses que não estavam no caos que estava aquela cidade, estava olhando atentamente. Curandeiros que estavam ali presentes corriam de um lado para o outro. O acampamento estava a mesma coisa de sempre, mas o caos pós batalha havia chegado. A última vez que Garrett vivenciou aquilo, foi quando houve a sua reclamação.

Rapidamente saiu do caminho, ele conseguia andar e estava um pouco bem. Os seguidores de Asclépio tinham outras prioridades. Por mais que não fosse mais curandeiro, o garoto sabia que tinha condições para ser atendido depois. Enquanto caminhava rumo ao seu chalé, Garrett pôde ouvir um grito feminino chamando seu nome. Olhou levemente em direção a voz e então reconheceu a garota. Tratava-se de Nikki, sua meia irmã. A garota acabou agradecendo aos deuses pelo irmão ter sobrevivo e acabou falando que alguns semideuses estavam se reunindo no pavilhão. O filho de Macária acompanhou a semideusa e então sentaram-se na mesa. Não demorou muito para Quíron e uma jovem moça aparecerem ali.

“Héstia!” afirmou em sua mente. Não conhecia muitos deuses, mas aquela moça o garoto reconheceu. Não demorou muito e ela começou a falar. A batalha em Manhattan foi um sucesso graças aos semideuses envolvidos que lutaram bravamente. Em seguida discursou sobre estar reunindo seguidores e então o pensamento do garoto voltou ao campo de batalha. Percebeu que Hera o havia lhe abandonado naquele momento tão importante. Por mais quisesse culpar a deusa, Garrett tinha certa culpa por a deusa ter decidido fazer aquilo com o garoto.

A chega no acampamento fez parte dos pensamentos, pois lembrou do tempo que era curandeiro e ele não sabia o que fazer. Poderia ter virado as costas naquela batalha em Manhattan. Por mais que tenha saído por vontade própria dos curandeiros, ser abandonado por Hera era demais. Por mais que quisesse sentir raiva, o garoto permanecia pleno. A voz de Héstia o deixava de certa forma calmo. Seguiu a deusa no momento mais difícil de sua vida até aquele momento. Garrett gostava do seu lar e por mais sentisse raiva de alguns deuses. Ele protegeria com sua vida. Por mais que tivesse mágoas por acontecimentos recentes, o garoto decidiu permanecer naquele local e então fazer parte dos seguidores de Héstia.



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Re: — Ruína e Ascensão: encerramento

Mensagem por Lana Storm Seg 03 Ago 2020, 12:47

Lana Storm

A dor ainda era sentida, a pancada havia afetado um pouco mais do que deveria a pequena cria de Selene. Embora não conseguisse ver, ou presenciar o ocorrido no restante da batalha, a certeza de que sua vida ainda não havia sido esvaída do corpo. Afinal, a dor estava presente e quando se conseguia sentir a dor, significava que ainda era possível lutar.


Mas porque lutar? A guerra havia acabado, nada além da incerteza do que faria a partir daquele momento afetavam a pequena garota. Sem um lugar para onde voltar, sem uma família para ir atrás, e sem amigos. Aliás a única pessoa que podia denominar uma amizade, havia perecido em combate pelas suas mãos. As trevas assolavam a criança, que a partir daquele dia, tomaria uma postura completamente diferente de tudo que havia vivido até ali.


Lana não era mais a garota medrosa, que fazia tudo que pediam. A garota tempestade, que explodia sempre na mesma época do mês, o temperamento inconfundível da menina de hábitos noturnos. Agora, ela tinha um proposito, servir aos comandos de Éris.


Ao conseguir recobrar a consciência, pode perceber que não mais estava no campo de batalha, mas sim em um local isolado, acompanhada de alguns semideuses que, aparentemente estavam como aliados. Pode ver a figura da Lupina, que tanto lhe impressionara fazia-se presente no recinto. A admiração da garota pela irmã mais velha, ainda que tivessem um breve encontro em batalha, onde a poderosa Ayla demonstrou sua bravura e incrível conjuntura de habilidades e conhecimento.


Rostos não familiares estavam concentrados, enquanto um familiar era buscado por Lana. A amiga que lhe trouxera para o lado adverso ao domínio olimpiano, a pequena Sitsong não estava ali. Sabendo enfim o resultado da batalha, a certeza de que nunca mais encontraria a amiga atingiu o peito. Eve teve um encontro breve, mentiu, enganou e levou a pequena Lana para a morte certa, e mesmo conseguindo escapar com vida. O único sentimento sobre a filha de Éris, era a saudade.


-- Não pude te ajudar Eve, me desculpe.


A voz baixinha, inaudível da semidivina pareceu inexistir no ambiente, não conseguindo ser de fato ouvida. Limitou-se apenas a escutar. A voz da deusa, as palavras de coragem, de reconhecimento pelos serviços prestados. Embora não tenhamos conseguido obter o sucesso na batalha, aquele brilho dourado trazia esperança e desordem ao seleto grupo.


O pedido para novamente continuar servindo as forças das trevas, era mais do que o suficiente para que a garota adquirisse um novo objetivo. Iria se tornar mais forte, para novamente se entregar em batalha, conseguiria destronar os poderosos deuses do olimpo, ou morreria com honras em uma batalha, afim de conseguir o seu lugar ao sol.


Por alguns instantes, a visão de Lana se prendeu ao fruto. Não possuía conhecimento do que aquilo lhe traria, mas a admiração pelos presentes e a inspiração de que um dia poderia se tornar tão poderosa e imponente quando Lennox, fazia com que a pequena se motivasse a aprimorar seus conhecimentos e habilidades. Deveria começar com um treinamento, não sabia se poderia acompanhar a mais velha, afinal ainda não possuía experiencia o suficiente para enfrentar maiores desafios.


Durante todo o diálogo, a pequena limitou-se a escutar, e apenas isso, admirava os mais experientes que ali estavam, procurava um lugar para se encaixar. Sabendo que nunca conseguiria fazer anda sozinha, apenas aguardou que todos terminassem a suas manifestações, e timidamente quando tudo parecia estar terminado, se dirigiu a deusa, ainda cabisbaixa.


-- Olha, eu preciso de orientação. – Uma breve pausa enquanto refletia uma última vez, e tornava a encarar a divindade. – Eu ofereço minha vida, para a causa. Farei o que puder para ajudar a trazer Érebo.


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Re: — Ruína e Ascensão: encerramento

Mensagem por Aileen Skarsgard Seg 03 Ago 2020, 19:25


ruína & ascenção
a morte é apenas uma aventura seguinte


"A melhor sensação do mundo é saber que existem infinitas possibilidades." — Autor desconhecido


A viagem até o acampamento havia sido mais rápida do que imaginava. O antílope mecânico enviado pelos deuses cavalgou em alta velocidade, abandonando a cidade minutos antes da verdadeira forma das entidades encerrar a batalha. A cápsula se abriu, permitindo que desembarcássemos depois de alguns minutos junto de outros heróis na colônia de férias mais famosa do mundo divino. Era tudo como antes, porém, diferente.

A colina erguia-se a distância, protegendo cada membro da família olimpiana. A floresta verdejante, os chalés organizados e até mesmo o complexo de escalada. Tudo estava exatamente como no fatídico dia em que havia deixado tudo pra trás. O clima não era o melhor de todos. Pude ver feridos, aliados exaustos sendo carregados rumo as enfermarias onde curandeiros trabalhavam. Ajudei o rapaz que havia resgatado, posicionando-o sobre umas das macas improvisadas por um filho de Apolo.

No fim, tudo ficaria bem. Havia cumprido meu dever com Circe, mas Carmen ainda estava livre. A magnata me queria morta e tinha as ferramentas pra isso — uma mãe traída não desistiria facilmente. Ajeitei a armadura debaixo das vestes rasgadas, arfando ao encontrar um grupo de semideuses qual reconhecia da batalha — praguejei, afinal, amizade não era o meu forte. Um dos rapazes interrompeu meus pensamentos, tocando meu ombro. Era alto, forte e tinha uma expressão séria. Seus olhos tempestuosos eram tão conflitantes quanto seus sentimentos explícitos como um livro aberto.

— Megan. Você está bem? Sua aura... — respondi sua pergunta, observando-o clinicamente. Outra garota entrou na conversa: era mais baixa, nova e morena. Seu cabelo estava armado e algumas madeixas queimadas — Vocês estavam lá, certo? Estava atacando a distância. Acham que conseguimos?

Não queria se envolver novamente com os aliados, mas quando me dei conta já era tarde demais. Os pensamentos ruins e preocupações futuras foram substituídos por comentários como “você viu aquilo?” e outros atos da guerra. Mason era o filho de Ares mais ousado que havia conhecido e sua relação com Sypha me fez repensar meus laços. Como eu sentia falta de Perfur e de minha família. A fogueira anunciou a presença da deusa familiar com o crepitar das chamas. O fogo ganhou forma, assumindo a aparência jovial da donzela divina. Héstia observou cada semideus presente, sorrindo para os sobreviventes.

— Semideuses, estou aqui para reconhecer a bravura de todos aqueles que resolveram oferecer forças em favor daquilo que julgam como certo. — O tom imbuído em sua voz acalmou todos os campistas que se reuniam ao redor, como um aconchego espiritual — Acredito que hoje, todos puderam perceber que os dias são maus, e o perigo já não se esconde mais nos abismos. O porvir é incerto e o equilíbrio entre os dois mundos nunca esteve tão frágil.

Estava certa. Nossos maiores medos e inimigos não eram mais monstros e criaturas ocultas. Estavam presentes em nosso cotidiano, prontas para atacar. Carmen estava inclusa.

— O mundo vem convivendo com os males das chamas de Prometeu há muito tempo. Chamas que vieram da ganância e seguem queimando no peito de muitos, trazendo cada vez mais ódio e destruição. — com palavras firmes, Héstia continuou o discurso — Eu, contudo, venho apresentá-los a uma flama diferente. A da renúncia. Assim como renunciei meu lugar em meio aos olimpianos pela harmonia, venho em busca dos que se julguem dignos e dispostos a alimentar esses desejos de paz dentro do que conhecem como lar e em todo lugar que nosso poder possa porventura alcançar.

Mesmo com o futuro incerto, ainda havia esperança. Aqueles que desejavam prosseguir com a deusa poderiam se dispor a uma aliança, mas meu destino não era ao lado de Héstia. Tinha uma nova família para proteger e um passado a resolver. Carmen atacaria em breve e precisava estar pronta para qualquer coisa. A guerra havia me ensinado uma virtude qual jamais imaginei: resiliência. Não era por mim, muito menos pelo fim dos Nesbitt que lutava, mas sim pela independência e liberdade para escolher novos laços sem uma influência tóxica.

Mason se aproximou novamente. O mentalista sorriu, encarando-me fixamente por alguns segundos antes de dizer exatamente o que estava pensando — um abuso, diga-se de passagem.

— Então você pode ler mentes? Um avanço para os filhos de Ares. Fascinante. — Riu, tocando o próprio anel. A herança familiar do garoto estava quente, sabendo de sua presença — Quais são seus planos agora?

Encarei o chão, ouvindo cada palavra da prole da guerra antes de me permitir novamente.

— Eu? Não vou fazer nada. Vamos fazer nada juntos?



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Re: — Ruína e Ascensão: encerramento

Mensagem por Kalled C. Almeida Seg 03 Ago 2020, 19:30



Ruínas e Ascenção

 
O leão corria em uma velocidade impressionante, como se fosse um veículo automotor. Em determinado momento, Kalled ousou abrir os olhos para averiguar o que estava acontecendo. Percebeu então que já estava saindo de Nova Iorque e indo para a área mais rural, reconhecia a estrada tomada; o caminho do seu velho lar: o Acampamento Meio Sangue.

Cavaliére agradeceu por estar em segurança, sabia que os deuses deveriam estar dando o máximo de suas forças para derrotar a monstruosidade criada pelos tenentes de Éris. Pegou-se pensando em como seu pai estaria naquele momento, a relação do garoto com seu pai era boa e sadia; mesmo que o velho ferreiro não fosse muito presente.

Finalmente o felino mecânico atravessou a área delimitada pela magia do grande pinheiro, pelo visto aquelas criaturas automatizadas tinham livre acesso ao refúgio dos semidivinos. O leão desceu a colina até o pavilhão central e ronronou, aquilo foi um sinal ao menestrel que a missão de resgate chegara ao fim.

Estar no Acampamento depois de tantos anos era inusitado e ao mesmo tempo aconchegante. O lugar pouco mudara desde a última vez que Kalled o vira, porém o fluxo de adolescente e jovens, já em idade adulta, era intenso. Sátiros e curandeiros corriam resgatando os feridos e realizando os primeiros socorros nos casos mais graves. Filhos de Hefesto e de Ares corriam carregando mortalhas para os corpos inanimados que haviam chegado ali, não pareciam ser muitos, talvez porque os mortos tivessem sido absorvidos pelo monstro em Manhattan ou nem tivessem sido levados ao Acampamento.

O maestro pensou em disponibilizar sua ajuda com as mortalhas, porém foi interrompido por alguém que agarrou o seu ombro e o puxou para perto.

— Então você sobreviveu, não é? — Gerald estava sujo e com alguns hematomas visíveis em seu rosto, mas nada grave. — Muitos dos soldados do Olimpo não tiveram a mesma sorte.

— Eu sei, eu estava na linha de frente.

— As chamas consumindo aquela criatura disforme... elas queimavam vinhas. Era você, não era?

Kalled ousou responder, porém hesitou. Um questionamento rondava sua mente incansavelmente. Será que tinha feito alguma diferença durante a batalha? Será que seus esforços tinham sido satisfatórios? E se, no final de tudo, tivessem perdido a batalha e fugido como covardes?

— Sim, era eu. Conheci um outro semideus no conflito, ele nos liderou e nos conduziu no embate final. Não sei se tivemos algum sucesso, Hermes nos tirou de lá enquanto meu pai e Atena partiam para a batalha.

— Também não sei afirmar, mas sinto que tenho que informar; afinal você é o nosso maestro.

As palavras de Gerald serviram como um baque no filho de Hefesto, ninguém falava de tal maneira sem trazer notícias trágicas. Cavaliére suspeitava do que viria a seguir, estivera em uma batalha intensa e sabia exatamente o resultado de conflitos como esses.

— Quantos?

— Dois. — Disse o subordinado. — Mike e Jasper, temos pelo menos mais cinco feridos. Trouxemos todos para cá, as enfermarias em Nova Iorque estão sem funcionar. Flora Greenwood está morta, pelo menos é o que dizem.

Aquele nome era familiar. Algumas semanas antes Kalled fizera um trabalho simples para a curandeira e pouco tempo depois a visitara em sua enfermaria para um tratamento intensivo. Não conhecia a menina bem, mas sabia de sua fama e não imaginava que ela pudesse falecer tão prematuramente.

— Ok, trate de seus ferimentos por agora. Conversaremos mais depois, eu preciso resolver algumas pendências. 

O menestrel mais jovem assentiu para Kalled. O líder sentia orgulho pelo desempenho do seu subordinado, acima de tudo sentia alívio por sua sobrevivência. 

— Gerald, — disse antes que o garoto fosse embora. — bom trabalho. Estou orgulhoso de você e Orfeu também estaria.

Gerald sorriu, como se aquele ato de afirmação o satisfizesse.

O forjador virou-se de encontro aos semideuses que cuidavam das mortalhas, porém mais uma vez foi surpreendido por uma interrupção. Peter Lost estava ali também.

Kall. — Exclamou o jovem chamando o menestrel por um apelido, antes de dar um leve soco em seu braço. — Acho que nunca nos apresentamos formalmente, sou Peter Lost, filho de Zeus.

— Prazer, Peter. Meu nome é Kalled Cavaliére Almeida, filho de Hefesto e maestro dos menestréis. Foi um prazer poder lutar ao seu lado. — Falou enquanto estendia a mão para o filho de Zeus na tentativa de um cumprimento.

— Tenho certeza que se não fosse por você, eu não estaria aqui. — Comentou enquanto retribuía o gesto com um aperto de mão caloroso — Estou te devendo uma bebida, moro nas ruas de Nova Iorque. Por que não me manda uma mensagem de Íris quando estiver por lá e acertamos isso em algum bar?

— Tenho certeza que você teria dado conta. — Kalled esboçou um sorriso ao proferir tais palavras, Lost havia conquistado o afeto do menestrel. — Seus atos heroicos foram louváveis, o Olimpo tem sorte de tê-lo no time. Sobre a bebida estou sempre à disposição, moro em um teatro em Nova York e quando quiser passar por lá basta me avisar com antecedência. O que pretende fazer assim que sair daqui?

— Kall, nós dois sabemos que o grande protagonista da noite foi você. — Comentou deixando o filho de Hefesto um pouco corado. — Tenho me preparado para ir ao submundo, talvez seja meu próximo passo. —Disse com um certo receio. — E você?

— Não tenho muita certeza sobre isso — Respondeu o forjador — Eu pretendo voltar a Nova Iorque e resolver algumas pendências. Caso preciso de ajuda pode entrar em contato, ficarei contente em poder emprestar meu machado para você mais uma vez.

— Vou cobrar a ajuda! — Falou com um sorriso em seu rosto. E então partiu.

Assim que Peter se afastou, uma reflexão tomou conta da mente de Cavaliére. Tinha que resolver um assunto antigo, uma informação vinda do Cavalo de Tróia falava sobre um deus asteca vivendo em Los Angeles, um deus bem violento. Kalled tinha planos e esperava poder fazer um acordo com esse deus, ter um aliado como Mictlantecuhtli seria algo útil.

Uma fogueira localizada no centro do pavilhão queimava com chamas dançantes. As chamas se intensificaram dando forma a uma silhueta feminina, uma jovem mulher trajando vestes gregas saiu das intensas labaredas. Héstia, a deusa da família, retornara ao Acampamento.

A deusa da lareira sorriu.

— Semideuses, estou aqui para reconhecer a bravura de todos aqueles que resolveram oferecer forças em favor daquilo que julgam como certo. — Falou em tom sereno e orgulhoso, quase maternal. — Acredito que hoje, todos puderam perceber que os dias são maus, e o perigo já não se esconde mais nos abismos. O porvir é incerto e o equilíbrio entre os dois mundos nunca esteve tão frágil.

Um silêncio breve se fez e Kalled entendeu o significado daquilo. A deusa casta estava tentando poupar aqueles jovens da dura verdade, aquela guerra estava no início e muitas perdas ainda seriam sentidas. No fim das contas, todos teriam que sacrificar tudo e tomar um partido, ou seriam tratados como meros efeitos colaterais.

— O mundo vem convivendo com os males das chamas de Prometeu há muito tempo. Chamas que vieram da ganância e seguem queimando no peito de muitos, trazendo cada vez mais ódio e destruição. — seu tom era sereno, mas as palavras saíam cada vez mais firmes. — Eu, contudo, venho apresentá-los a uma flama diferente. A da renúncia. Assim como renunciei meu lugar em meio aos olimpianos pela harmonia, venho em busca dos que se julguem dignos e dispostos a alimentar esses desejos de paz dentro do que conhecem como lar e em todo lugar que nosso poder possa porventura alcançar.

Almeida sentia um chamado, porém imaginava que não devia atendê-lo, não naquele momento. Alguns semideuses ergueram suas mãos aceitando a oferta da virgem imortal, mas não Kalled. Ele ainda seria o maestro daquele músicos andarilhos.

O garoto esperou que todos se afastassem um pouco da deusa e se aproximou. 

— Eu quero agradecer. — Disse em um tom muito baixo, ainda sim audível.

— E por que, meu jovem? Você e seus similares enfrentaram grandes desafios, ainda assim é grato?

— Você tem razão, mas o nosso encontro naquela noite me fez entender... — girava o anel, que Héstia lhe devolvera, pelo seu dedo. O símbolo de sua família e de seu legado. — ... me fez entender que ainda há muito pelo que lutar e perseverar.

— Você vai recusar minha oferta, não é? — Perguntou a deusa em um tom calmo e gentil.


— Eu aceitaria de bom grado, mas Orfeu me acolheu e sinto que ainda tenho muito a desempenhar entre os menestréis. — A cada palavra proferida, tomava cuidado com o tom, não queria soar ingrato. — Quando precisar, em qualquer momento, você pode contar com minha espada e meu machado. Estarei a sua disposição, Lady Héstia.

A deusa da lareira sorriu e por fim disse.

— Você ainda tem muito pelo que lutar, Kalled. Acima de tudo, espero que você encontre a paz que tanto almeja. 

A deusa se virou e deixou Almeida sozinho em seus pensamentos. Agora sabia o que fazer, voltaria para Nova Iorque e resolveria suas pendências pessoais, depois partiria em busca de poder. Poder esse que não serviria para si mesmo, mas para proteger aqueles que amava. Ninguém mais seria tirado dele, nem que tivesse que lutar contra os inimigos do Olimpo em um combate direto.

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Re: — Ruína e Ascensão: encerramento

Mensagem por Sypha Salazar Seg 03 Ago 2020, 19:43


Ruína e Ascensão
Com a velocidade surpreendente do autônomo, Sypha chegou no Acampamento extremamente rápido saindo em segurança da guerra. Ela desceu do tigre colocando por fim seus pés em terra protegida, mas por mais que soubesse que estava segura neste lugar, seu corpo ainda tremia, os seus olhos continuavam vigilantes, como se a qualquer momento fosse sofrer mais um ataque surpresa.

Olhou ao redor e cada vez mais semideuses apareciam, no entanto, a filha do deus da guerra notou que a quantidade era inferior quando comparada a quantos estavam presentes antes de saírem para a luta. Seu coração gelou, ainda não viu Christopher e sua última visão era dele indo de frente aquela coisa. Abraçou o próprio corpo tentando evitar o calafrio que sentiu só de lembrar da imagem do ser. Esse dia jamais seria esquecido.

Começou a andar conforme observava as pessoas ao redor, alguns choravam por perdas, outros agradecia aos deuses por estar vivo. Entre todos presentes a semideusa conseguiu avistar uma pessoa conhecida, uma que sem saber foi um dos motivos de ela ainda estar presente nesse mundo. Automaticamente começou a andar de forma lenta até ele enquanto o via conversar sozinho. No momento em que Joel a viu, o rapaz sorriu e começou a tagarelar ainda mais.

Pela primeira vez, Sypha não ligou que a sua voz enjoada e irritante ecoasse pelo local, na realidade agradeceu profundamente por ele ainda estar vivo. Parecia ter passado um século desde a última vez que se viram, e ela se tocou só agora que se ele estivesse morto as últimas palavras que trocaram foram ofensas. Agora, cara a cara, enquanto ele continuava a falar como um papagaio ao ponto dela sequer conseguir acompanhar, Sypha simplesmente falou.

― Cala a boca seu idiota! ― Rapidamente envolveu-o em um abraço apertado, sentindo seu coração aquecer e as tremedeiras irem embora finalmente. Rever um rosto conhecido, saber que finalmente todo aquele pesadelo acabou a deixou tão fora de si que, mesmo odiando contato físico, lá estava ela abraçando a única pessoa no mundo com quem em hipótese alguma faria isso. Ele nunca saberia que seu humor fora de hora foi justamente o que a tirou do seu pior pesadelo.

Recompondo a consciência que perdeu e sem dar qualquer explicação, a semideusa se afastou e deu um soco forte no ombro de Joel. Uma forma que encontrou para evitar que seus olhos lacrimejarem.
― Vejo que estão bem até demais. ― A voz de Chris apareceu, fazendo com que a semideusa vira-se para vê-lo e, sem pensar duas vezes, correu até o seu mestre ajudando-o a se apoiar nela. Apesar de suas diferenças de tamanho dificultar as coisas, ainda foi útil. Joel, recompondo-se, logo se juntou a dupla ajudando o filho de Ares ao apoiar o outro braço em seu corpo.

Assim, o trio ouviu a deusa da lareira e seu belo discurso indicando que essa guerra tinha chegado ao fim, conseguiram impedir que a névoa caísse. Héstia deixou bem claro que muitas outras batalhas vão surgir, que era somente o começo. Sypha não pode deixar de olhar para a deusa enquanto relembrava o estado de Manhattan, como tudo estava destruído, acabado e não pode deixar de imaginar não somente o Acampamento dessa forma, mas o mundo todo. Olhou para o Chris que estava todo ensanguentado e a maior parte disso devido a ter salvado-a em várias ocasiões e depois para Joel que, mesmo que ela não tenha acompanhado-o não estava em uma condição melhor.

―  Assim como renunciei meu lugar em meio aos olimpianos pela harmonia, venho em busca dos que se julguem dignos e dispostos a alimentar esses desejos de paz dentro do que conhecem como lar e em todo lugar que nosso poder possa porventura alcançar.

Sendo tocada pelas palavras de Hestia, compreendendo mais que nunca o que suas palavras queriam dizer. A semideusa, sendo tomada pela vontade de evitar que tudo aquilo ocorra novamente, um sentimento que jamais sentiu antes, de fazer o possível para manter a harmonia existente falou com seriedade.

― Eu aceito o seu chamado.

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Re: — Ruína e Ascensão: encerramento

Mensagem por Kathryn Sawyer Seg 03 Ago 2020, 19:47


Unfortunate Royalty
Encerramento do Evento

Suas madeixas balançavam sobre os ombros enquanto o suor escorria pela testa, tão rápido quanto o próprio corpo em disparada. A rua alastrada pelo ataque ficava para trás, mas Sawyer sabia que logo mais tudo não passaria de uma breve lembrança. O dia em que abandonou seus ideais para lutar em uma guerra de gigantes. Ao seu lado, Maddie acompanhava em passos curtos. A engenhoca metálica faiscava, emitindo um leve som estridente quando as peças roçavam.

A dupla se aproximava do transporte mecânico em uma esquina quando uma explosão chacoalhou tudo. As janelas dos edifícios se partiram, expelindo fragmentos sobre carros na calçada e heróis que batiam em retirada. A distância, a monstruosidade cinzenta perdia força perante a presença de seres imortais. Deuses. Kathryn empurrou uma carcaça metálica para auxiliar uma garota que havia caído. Seus braços estavam ensanguentados por debaixo de um moletom laranja, botas cano-alto e armadura de couro. Deduziu ser uma campista jovem, julgando pelos traços e vestes.

— Aguenta firme. Maddie, cobertura — ordenou ao carcaju que abria caminho entre o caos. A filha de Zeus segurou a parceira sobre os ombros, pedindo para que segurasse antes de correr.

— Meus braços estão doendo! — Berrou. O líquido carmesim manchava a capa da devota que se esforçava ao máximo para ignorar os empecilhos no caminho.

— Só mais um pouco. Ei! — Sawyer impôs o máximo de força em sua voz quando se aproximou do autônomo alado — Tenho uma ferida!

De cima da cabine um rapaz se dispôs a ajudar. Era magricela, com cabelos castanhos e marcas de batalha sobre um moletom cinzento. Ele agarrou a semideusa, puxando-a com toda força. Kathryn subiu em seguida, abraçando sua mascote que se desativou ao tocar o chão da máquina — seus braços e cabeça se comprimiram, virando um pacote metálico. Cambaleou, encarando o semideus que pressionava os ferimentos da garota com outra curandeira.

— Obrigada. Quem é você? — perguntou, mas não teve tempo de ouvir a resposta. Os deuses logo revelariam a forma final e uma súplica pode ser ouvida como uma melodia no ar — melhor abaixarem.

Kathryn abraçou a mascote, encostando a cabeça sobre a superfície quente da parceira. Um estrondo abalou a aeronave que já havia partido, chacoalhando antes de ser coberta por uma explosão luminosa.



[...]



Finalmente pode respirar aliviada.
Era como todos seus pecados tivessem ficado para trás. Não sabia como, mas havia finalizado um ciclo. Por anos havia buscado vingança por Zeus ter utilizado o poder para incrimina-la, reduzi-la a nada. Havia perdido sua única família e jurado vingança contra o rei do Olimpo. A rainha jamais daria às costas para o marido, independente de suas traições, então de que adiantaria? Foram anos de remorso diluídos em uma única noite. Quanto mais feria aquelas criaturas, mais dor sentia. Sawyer sabia da resposta para seus problemas no instante em que tocou o acampamento novamente.

Era hora de mudar.
Encaminhou junto de Joel, o filho de Nêmesis que ajudou no resgate da garota ferida até a enfermaria. Segurou ao máximo a dor que sentia para dar chance aos mais necessitados — no fim das contas, era muito mais forte que aquilo. Seu olhar encontrou o do filho da justiça por um instante, encaminhando uma conversa desajeitada.

— Então... você mora no acampamento? Estou pensando em voltar para o chalé de Zeus. Faz alguns anos desde que saí daqui.

A distância, Quíron reunia os heróis em um clima fúnebre. Não haviam respostas, muito menos comemorações sobre os eventos históricos daquela madrugada e com razão. A rasante flamejante chamou a atenção da prole de Zeus que tocou o ombro de seu mais novo conhecido. Héstia se manifestava, enquanto os semideuses se entreolhavam nervosos.

— Acho que teremos um anúncio. Vamos, Hunter.

Ao redor da fogueira, campistas se reuniam perante a presença da deusa familiar. Héstia surgiu entre das chamas dançantes, sorrindo para os membros que conseguiram retornar ao acampamento para contar a história. Seu breve discurso alertava sobre o futuro: o caos e as forças do mal não descansariam, pelo contrário. Agora se ergueriam muito mais fortes. Apesar de seu tom ser preocupante, a entidade conseguiu mobilizar boa parte dos semideuses que preservavam a esperança de um futuro melhor.  Kathryn suspirou. Por mais tentador que fosse, não seria o momento.

Seu novo propósito era com outra rainha.



[...]



Kathryn esperou todos os meios-irmãos partirem. Estava sozinha no chalé de seu pai quando tocou o pingente em seu pescoço. A lágrima da deusa brilhou entre seus dedos, criando uma imagem brilhante em sua frente. Em um gesto respeitoso, ajoelhou-se perante a figura feminina que se formava. A projeção de Hera iluminou todo o cômodo fechado, como um planetário exibindo um astro.

— Olá, minha senhora.


— Sawyer. Espero ter uma boa razão para me convocar. Já lhe disse várias vezes que não podemos atacar Zeus e...

— Não quero vingança contra seu esposo. Sinto muito por isso. Percebi uma coisa nessa guerra: preciso de um novo propósito. Esse não é o fim de Éris: você e eu sabemos disso.

— Prossiga... — a deusa arqueou uma das sobrancelhas, surpresa com sua devota.

— Não sou mais uma criança e tenho certeza de que Zeus vai pagar por seus crimes de outro forma. Como um colega sempre disse: o tempo é oportuno. Até para nossos inimigos, infelizmente — ergueu a cabeça, encontrando os olhos penetrantes da entidade — torne-me sua capitã. Promova-me a seu braço direito e lhe darei prestígio. Não faço isso por ele, mas sim por você. Juntas, poderemos construir um exército devoto a senhora.

— Por que eu faria isso, criança?

— Nossa relação sempre foi estritamente profissional, como sempre disse. Não basta. Preciso de um motivo, uma razão para lutar. Protegi sua vontade como ninguém nessa guerra e provei meu valor.

— Vejo que não errei em abraça-la como uma de minhas devotas, Sawyer. Você cresceu e abraçou seus demônios. Estou realmente orgulhosa. Obrigada — Hera sorriu, fazendo Kathryn corar instantaneamente.

— Disponha. Temos um acordo?

— Não vejo razão para não. O que tem a perder?

— Nada. Já perdi tudo.

— Muito bem, Kathryn Sawyer, líder dos devotos. Temos muito trabalho a fazer.




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Re: — Ruína e Ascensão: encerramento

Mensagem por Jimmy Maddox Seg 03 Ago 2020, 21:01



RUÍNA E ASCENSÃO


O retorno ao Meio-Sangue não foi uma das melhores experiências do mentalista, nem de longe teria sido. Ele estava cavalgando em uma criatura metálica, lembrou-se de ter montado em um hipogrifo momentos após seu último ataque, entretanto, à medida em que alçava voo, seus sentidos diminuíram lentamente. A habilidade de resistir a dor durou tempo o suficiente para que agisse na batalha de Manhattan, entretanto, os sinais de fraqueza e perda de sangue voltaram a prejudicá-lo no ar. Dali pra frente, tudo o que enxergou foi um grande borrão azul escuro no lugar do céu e placas de metal ao tocar o autômato que o carregava.

A garoa molhou o corpo do nova-iorquino mas não foi a condição climática que o incomodou, era acostumado a suportar o frio mesmo naquelas circunstâncias. No entanto, durante toda a viagem, o corpo do meio-sangue escorreu um suor cada vez mais congelante.

Ele abriu um sorriso enfraquecido no rosto ao pensar em seus devaneios. Estava prestes a morrer não em um fervor de batalha, mas sim na incerteza de uma vitória. Os dedos do mentalista perderam a força entre as rédeas, as costas penderam para frente e os olhos pesaram.

A última coisa que escutou foi alguém chamar seu nome e uma criatura disforme voando ao lado.


Christopher acordou deitado em uma maca, sentindo a maresia invadir o nariz junto de um aroma floral do ambiente. Era um lugar completamente novo e, até então, nunca tinha estado ali antes da batalha. Ele piscou inúmeras vezes enquanto compreendia lentamente estar em uma enfermaria, apesar de... não ter paredes? Ao menos, a maior parte do lugar era um espaço aberto, de forma que o que, de fato, o fez despertar foi a brisa fina tocando seu braço.

— Bem-vindo de volta — uma garota no fundo do quarto cortou o silêncio, atraindo a atenção do moreno para si. Ela não aparentava ter mais de doze anos, o cabelo castanho preso em duas tranças enquanto ostentava um livro de poções nas mãos. — Como se sente?

Estranho... e você é? — O meio-sangue tossiu entre as palavras, encontrando ao lado da cama uma pequena mesa e um copo de água.

— Chloe. Chloe Khalil, curandeira.

Ele passou o pulso no queixo, limpando a água que escorria pelo canto da boca enquanto olhava para o céu do lado de fora. Ainda era noite, a lua despontava no céu entre nuvens carregadas, iluminando os pinheiros ao redor do acampamento. Ele pensou em perguntar que dia era, mas assim que voltou o olhar para a pequena, a mesma estava ocupada vestindo uma jaqueta e a adaga na cintura antes de seguir até a saída. Ela olhou para trás uma última vez, com um sorriso afrontoso desenhado nos lábios.

— Eles vão acender a fogueira, e pelo o que me disseram, você precisa estar lá! Vamos, cuido da sua retaguarda.

Ainda desnorteado, o filho de Ares se deixou levar pela curiosidade e logo estava sentado sobre o colchão, procurando por algo que pudesse vestir no lugar da couraça desgastada. Os olhos do bastardo foram de encontro a Ying Yang embainhada ao lado, com a ponta da espada equilibrada entre o chão e a cabeceira da cama – junto havia uma camiseta laranja com estampa de pégaso, a qual vestiu prontamente a fim de alcançar os passos de Khalil. Ele, muito maior que a menina, sentia-se um mero escoteiro seguindo as ordens de um instrutor entre as trilhas até finalmente avistar um ponto luminoso de chama não muito longe de onde estava.

Continuou a seguir os passos da pequena curandeira até perdê-la no mar de semideuses que preenchia o refeitório do acampamento. Enquanto uns choravam por companheiros que haviam perecido em batalha, outros gargalhavam e festejavam com seus irmãos o simples fato de terem sobrevivido. A dicotomia sentimental que regia o ambiente era quase palpável, o que fez o mentalista permanecer no mesmo lugar por alguns segundos, até avistar uma dupla mais que familiar. E conhecendo-os da maneira como conhecia, podia apostar que já estavam trocando se insultando, como sempre faziam quando se encontravam no mesmo ambiente.

— Vejo que estão bem até demais. — Disse aos pupilos, que desviaram o olhar em sua direção. Sypha prontamente ajudou o meio-irmão a caminhar, oferecendo o ombro como apoio, tendo seu exemplo seguido por Joel, que repetia o gesto no lado oposto do corpo do monitor de Ares. Mason até tentou dispensar a ajuda, mas os membros sobrecarregados da batalha não recusaram o auxílio vindo dos companheiros.

— Noite difícil, chefe? — O filho de Nêmesis questionou, brincalhão, despertando um olhar furioso da outra aprendiz, o que fez com que o mentalista desse um sorriso, talvez o primeiro genuíno naquela noite. — Você me parece um pouco quebrado.

— Sério? — Christopher arqueou as sobrancelhas, em um gesto sarcástico de surpresa. — Bom, isso é porque você não viu o outro cara. Aliás, por onde caralhos você estava, Hunter?

— Cheguei atrasado pra festa. — O mais novo deu de ombros, enquanto Salazar revirava os olhos ante a justificativa do garoto. — Acabei ajudando nas áreas próximas das barricadas. — Os aprendizes encostaram o corpo de Mason em uma das pilastras espalhadas pelo local, se afastando um pouco do filho de Ares. — De qualquer forma, parece que estamos todos bem, na medida do possível.

O mais velho assentiu perante a afirmação do garoto. Não podia negar que era um alívio ver que Sypha e Joel estavam a salvo. Ainda que seu próprio estado não fosse dos melhores, o sentimento de satisfação por ver seus amigos depois de todo o banho de sangue que havia presenciado. Voltando os olhos à multidão, reconheceu outra figura: Megan. Apesar de parecer bem fisicamente, a energia que emanava da garota deixava o mentalista preocupado, afinal, guerras não costumam deixar cicatrizes apenas em corpos. As almas também estavam sujeitas às mazelas dos domínios de Ares.

— Megan. Você está bem? Sua aura... — O filho da guerra indagou, sem completar propriamente a frase. Sabia o que queria dizer e a loira havia entendido, fornecendo uma resposta mais do que suficiente apenas com o olhar e assentindo com a cabeça. Christopher não era o semideus mais inteligente, mas era sábio o suficiente para saber quando era a hora de deixar alguma coisa pra lá. Além disso, antes que pudesse sequer continuar a conversa, a deusa dos lares começou seu discurso.

A fala de Héstia era carregada de entusiasmo e orgulho, mas ainda assim respeitoso e realista. Tanto ela quanto Chris sabiam que aquilo não era o fim de uma guerra, mas a vitória em uma batalha. Os campistas poderiam, por fim, respirar um pouco até que a próxima peleja viesse até eles. Além disso, a própria imortal concedia um convite para aqueles que desejassem renunciar a si mesmos em prol de uma paz nobre, porém ainda utópica. O monitor respeitava aqueles que optassem por aquilo, mas sabia que seu caminho era outro.

As palavras da deusa se misturavam aos pensamentos da garota perto de si. Não quis ler as ponderações da garota propositalmente, mas ainda estava aprendendo a se acostumar com as bênçãos de Psiquê. Não pode deixar de sorrir ao entender o que se passava na cabeça da semideusa: era uma garota interessante em muitos sentidos.

— É uma causa nobre pra se lutar, Nesbitt. — O rapaz comentou, em tom divertido. — Novos laços sem influências tóxicas. — Parafraseou os pensamentos da moça, levando a mão ao queixo. — Eu gosto disso. Posso ajudar, se você permitir.


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Re: — Ruína e Ascensão: encerramento

Mensagem por Kurt LeBeau Seg 03 Ago 2020, 21:28




Kurt LeBeau — New Beginnings




Caminhava a passos largos em direção às enfermarias, onde procurava me ocupar para distrair a mente dos eventos recentes, mesmo sabendo isso não seria possível. Não custa tentar.

Não pretendia ser desrespeitoso com a deusa da lareira ao não ficar para ouvir seu discurso, mas reconhecia tinha obrigações a cumprir. Por fim, cheguei ao meu destino. Minha enfermaria e lar, que agora encontrava-se alinhada às demais. Notei uma nova logo adesivada à porta e uma presença no interior do consultório, não ficando surpreso ao reconhecê-la.

— O deixei esperando muito tempo, mestre Asclépio? — Perguntei, fechando a porta de correr atrás de mim.

— Na verdade não. Inclusive esperava que fosse demorar mais. — O deus tinha o mesmo tom sereno de sempre. — Achei que fosse ficar para a cerimônia de queima das mortalhas.

Estava colocando as coisas do consultório enquanto ele falava, parando e apoiando-me na pequena bancada de trabalho, suspirando fundo ao ouvir sobre a solenidade. Para o deus, isto bastou.

— Eu entendo, mas não podemos salvar a todos. Acredite, eu gostaria que sim. — De fato, eu subestimava a empatia do meu patrono. — Acredito que, a essa altura, já esteja ciente da perda tivemos.

Greenwood. E pensar que havia parado a enfermaria em frente à Miraculous no início daquela noite. Queria estar participando da homenagem, não só a ela, mas aos outros colegas e irmãos que pereceram. Mas não era assim que eu preferia lidar com as coisas.

— Sim, é realmente uma pena. — Havia quase terminado de organizar o local para atender os feridos.

— Eu prestei atenção em vocês durante todo o cerco. Suas atitudes foram notáveis, LeBeau.

— Veja, senhor. Não quero faltar com o respeito, mas consigo sentir o rumo que esta conversa está tomando. — Agora encarava o deus, que permanecia de pé no centro do cômodo. — E preciso dizer que recuso o convite. Não tenho interesse em assumir esse cargo.

Asclépio não parecia sequer surpreso com a recusa. Na verdade, tinha um sorriso no rosto.

— Imaginei que não, mas entenda que eu precisava de uma confirmação. Será trabalhoso achar alguém à altura da função. Contudo, eu tenho uma proposta que possa ser do seu interesse. Venha. — Disse abrindo a porta da enfermaria.

Parei ao seu lado, observando os demais colegas trabalhando.

— Ali, vê o rapaz de cabelos castanhos ajudando com as bandagens? — Disse apontando com o caduceu.

O garoto tinha um topete que era difícil não notar. Desajeitadamente, fazia curativos e auxiliava uma das curandeiras, pela sua técnica — ou falta dela – era fácil afirmar que não era um curandeiro.

— Ele vem tentando chamar minha atenção há algum tempo. Cooper Daniels, estou considerando aceitá-lo.

— Potencial existe, mas o que exatamente quer que eu faça?

— Que o treine, horas. Ele me lembra bastante você.

— Mas mestre, eu...

— Sim, você está pronto. — Recebi uns tapinhas no ombro. — Vou te avisar quando for a hora. A propósito, espero que tenha gostado da nova marca. — Disse apontando para a porta.

Assenti com a cabeça e um pequeno sorriso, a nova marca era realmente bonita. Observei o Daniels por alguns segundos, pensando em como treinaria o rapaz e viajaria ao mesmo tempo. Mas isso eram problemas futuros. Abri as portas de enfermaria e comecei a direcionar pacientes para dentro.

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