[rp fechada] - kaleidoscope

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[rp fechada] - kaleidoscope

Mensagem por Joel Hunter Qui 26 Dez 2019, 20:50

KALEIDOSCOPE
A rp se passa alguns dias após as missões Hellfire Club e Fazendo o que os outros não fazem. Enquanto Joel se questiona sobre suas ações na última missão, Skylar está apenas satisfeita por ter saído vitoriosa.

◊◊◊

A interação acontece no Riacho Zéfiro, Acampamento Meio-Sangue. São 17:00h, e como de costume na época de comemorações natalinas, está nevando no Acampamento, apesar do clima controlado.


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Re: [rp fechada] - kaleidoscope

Mensagem por Joel Hunter Qui 26 Dez 2019, 21:28



KALEIDOSCOPE
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A caminhada até o riacho havia sido tranquila. Devidamente agasalhado com um moletom cinza velho da NYPD que pertencia a meu pai e uma jaqueta, andar pela floresta com a temperatura incrivelmente baixa não era um problema. O vans surrado e tão inseparável que quase era um membro do meu corpo afundava alguns milímetros a cada passo dado sob o tapete branco que dezembro havia deixado no chão. Em minhas mãos, apenas uma garrafa térmica com um líquido tão valioso quanto o néctar dos deuses: chocolate quente.

O turbilhão de indagações que ocupava minha cabeça quase me distraiu da chegada ao meu destino. Tratei logo de tirar um pouco da neve que estava em um dos troncos caídos próximos ao riacho e me sentar. Retirei o capuz da cabeça e coloquei a garrafa ao meu lado, admirando por alguns instantes a paisagem. O tecido alvo do inverno cobria as rochas e árvores, já quase sem folhas, que beiravam o riacho. Era uma visão bem distante do local em outras épocas do ano, onde o musgo e a grama ditavam os tons do ambiente e a todo momento era possível ouvir o barulho de ninfas e outras criaturas brincando ou cochichando. Agora, apenas o som da correnteza discursava na imensidão do lugar.

Coloquei um pouco de chocolate quente na tampa da garrafa e observei o vapor do líquido dançar no topo do recipiente. Como em um ato ritualístico, apreciei o aroma doce antes de dar o primeiro gole, me permitindo soltar um pequeno suspiro de satisfação enquanto o conteúdo da garrafa esquentava minha garganta. O céu começava a adquirir tons alaranjados e vivos, indicando o fim do dia. Apoiei os cotovelos nos joelhos, segurando a bebida com as duas mãos. Por mais que meu encontro com Têmis não saísse da minha cabeça, tentei aproveitar a paz daquele raro momento de solitude.

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Re: [rp fechada] - kaleidoscope

Mensagem por Skylar W. Krøhonen Sex 27 Dez 2019, 10:43



001. let me stay


“Não há em mim nada que remeta ao passado; nem o rosto, nem essas mãos que hoje conhecem novas texturas. É como renascer, não tornando-me isenta  das agonias e dores do parto. Quando o novo surge, é próprio que o de outrora morra. Caso não o faça por natureza, então que seja destruído”.

— Skylar.



Nem mesmo Alighiere poderia pensar na perspicácia que era o inferno pessoal de Sky. Tão profundo nos recônditos daquela tão sofrível alma, mostrava-se como uma peça metamorfa — capaz de alcançar qualquer formato para atingi-la em seus pontos vitais. Sucumbir gradativamente aos anseios da própria mente não era um fato, mas um processo; gradativo, diferente de qualquer outra sensação, paciente e tão letal quanto uma espada. Perder para si própria em uma batalha predestinada à derrota.

Em sua terra natal — nos confins frios e mais remotos da Irlanda do Norte —, aquele período sacro ao final de um ciclo era devidamente comemorado. Abrangendo o Solstício de Inverno, os pagãos comemoravam Yule. Ela, como descendente direta daqueles cuja mentalidade era ligada ao folclore irlandês, não faria diferente. Pensava naquilo ao fechar a porta do quarto, onde uma decorada guirlanda fora pendurada.

Nas dependências externas, nada havia além dos esmaecidos tons alvos. Surpreender-se-ia quem a visse ali, ainda com o astro rei em suas últimas horas antes da transição — o ocaso —, ao período noturno. Ela, de características notívagas, era usualmente vista quando o manto de sua mãe recobria o mundo. Não naquele dia, contudo. Precisava sentir-se ancorada, sensação essa que apenas os raios solares do poente podiam fornecer à sua alma.

E era ela a tocada por eles.

Aqueles últimos resquícios de fótons alaranjados, ora amarelados, resvalavam em sua pele. Nem ébano, nem mármore — mas sim a mais pura porcelana, macia como seda chinesa. Iluminavam-na, um toque ébrio e cálido que ordenava seus pensamentos de uma forma estranhamente reconfortante.

Retornara de Nova York há pouco; ainda tinha em si as marcas dos conflitos travados. Na sombra das pálpebras, as imagens por ela presenciadas não desapareciam. Gravadas profundamente na memória, as abominações advindas dos seios secretos da cidade — perversões, tortura, sadismo. Era demais para alguém como ela, já tendo sua bagagem de traumas, suportar. Infelizmente, não podia fazer nada agora… ou pelo menos era isso que pensava.

“Não se possui o que não se compreende”, ela rememorou. A frase de Goethe pareceu oportuna àquela linha de raciocínio, conforme Skylar lembrava do quão apática sentira-se ao deparar-se com sua própria fraqueza. Nenhum dos semideuses — nem os lendários, como Heráclito e Perseu —, nasceram em suma sabedoria de seus dons. Ainda assim, sentia-se parcamente convicta do que era capaz. Presa àquela carne limítrofe, sem saber designar com propriedade a ascensão dos próprios poderes em profusão, sentia-se inútil. Não sabia, aliás, até onde poderia chegar com seus dons divinos… e o quão perigosos poderiam ser.



[...]




— Espero não estar atrapalhando.

A voz dela surgiu. Mediante os olhos obscuros, o branco fundia-se aos tons de madeira escurecida dos troncos das árvores e, mais além, a água claríssima e vítrea do córrego. Em um tronco que há muito havia quedado-se na relva, o corpo masculino sentado mostrava-se despreocupado e, talvez, alheio à sua chegada. Enfiou as mãos enluvadas nos bolsos do sobretudo negro, avançando mais alguns passos.

O evento começara: outrora azul, o céu próximo à linha do horizonte era colorido em paletas quentes de laranja e vermelho. Lentamente, anoitecia. Hematomas púrpuras e violáceos tomavam as nuvens mais distantes, anteriormente pálidas, colorindo-as como uma magnum opus.

A noturna limitou-se a observá-lo — seu interlocutor. Era jovem, agraciado com uma aura tão vívida que era quase bonita de ser sentida. Agitava sutilmente o substrato místico, fazendo Krøhonen perceber que aquele perante si não era um semideus iniciante. Agitou os cabelos escuros, tão semelhantes aos dele, embora suas similaridades físicas morressem por aí.

— Há momentos no anoitecer em que os astros brilham com maior intensidade. — citou, sem mesmo ter sido perguntada daquilo. — As primeiras estrelas que virão quando a noite cair podem ou não ser estrelas... Em geral são cometas perdidos, satélites desconhecidos ou galáxias inteiras, a milhões de anos luz daqui. — olhou-o com o canto dos olhos.

Ah, aqueles olhos…

Alternavam-se, na luz do poente, do negro opala para um lilás como uma ametista, ou sutilmente vermelhos feito labaredas, ora azuis como a água do riacho. Olhos brilhantes, vivos, demoníacos… um caleidoscópio vivo.



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Re: [rp fechada] - kaleidoscope

Mensagem por Joel Hunter Sex 27 Dez 2019, 14:50



KALEIDOSCOPE
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Não havia percebido a presença da garota até ouvir a sua voz, melodiosa, suave e carregando um sotaque de muitos quilômetros de distância. Por instinto, recuei o corpo alguns centímetros para trás, quase me desequilibrando do tronco aonde estava sentado. Voltei minha atenção para a visitante, agradecendo por não ter caído no chão ou derramado chocolate na minha roupa.

Os cabelos e as roupas contrastavam com a pele, quase tão alva quanto a neve que nos cercava. A postura, praticamente perfeita, fez com que eu tentasse ajeitar meus ombros assimétricos e coluna curvada. Aproximou-se alguns metros e, subitamente, parou, voltando sua atenção para o fenômeno de transição diário e, ainda assim, fantástico. A dança de cores do firmamento parecia refletir seus olhos, voltados de relance para mim enquanto discursava sobre o primeiro brilho noturno dos astros e corpos celestes.

Sorri, admirado. Admito, em outras ocasiões, eu estaria incomodado por ter companhia naquele momento, mas a semideusa emitia uma aura misteriosa e intrigante, quase como se sua presença fosse um chamado para a aventura. A acompanhei na contemplação, me lembrando em como costumava ficar maravilhado com a abóboda celeste quando criança. Após outro gole de bebida quente, limpei a garganta, me apressando a dizer algo antes que o silêncio se tornasse constrangedor.

— Então os perdidos, desconhecidos e distantes iniciam o espetáculo da noite antes das estrelas? Não sei você, mas acho isso um pouco reconfortante. — Uma risada tímida, outro gole para me aquecer. Eu queria ter algo mais inteligente para continuar a conversa, mas convenhamos que nunca fui o mais sábio dos semideuses. — Mas me pergunto se existe alguma maneira de diferenciá-los, senão, nos olhos leigos de quem as observa, serão sempre só estrelas.

O sobretudo e as luvas vestiam a semideusa de forma elegante. Comparada com as vestimentas dela, as minhas poderiam facilmente terem sido roubadas de um mendigo qualquer de Nova Iorque, mas por algum motivo aquilo não me constrangia. Ela permanecia em pé, com ambas as mãos no bolso. O céu, lentamente aceitando sua cor definitiva até o próximo amanhecer, parecia transmitir um certo conforto à garota.

— Aceita um pouco? Não é um Starbucks, mas dei o meu melhor fazendo. — Perguntei, estendendo a mão que segurava a garrafa térmica em direção a ela. — A propósito, me chamo Joel.


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Re: [rp fechada] - kaleidoscope

Mensagem por Skylar W. Krøhonen Sex 27 Dez 2019, 15:39



002. yule!


Não era mais azul, seja turquesa ou celeste — era violeta, aquela cor que despontava muito além. Tinha em si um minuto de mistério entre seu degradê, ora anil ou lilás, implicando em tons densos. Krøhonen achava incrível e, por questão de instantes, quase podia sentir sua força sendo renovada com a chegada daquele ciclo.

“Perdidos, desconhecidos, distantes…”

Pensou nas palavras que ele dissera. Pareciam adjetivos cabíveis a ela própria; alternou as íris da aquarela celestial ao corpo esbelto que a observava.

— Sim, os renegados antecedem o maior dos espetáculos. — conseguiu sorrir, ainda que fracamente, com aquele proferir. Nunca havia visto por aquela perspectiva, e era interessante analisá-la daquela forma. Delicadamente, tomou o assento ao lado do outro. — Diferenciá-los não é difícil. Cada um emite uma energia própria, uma vibração particular. São forças antigas, criaturas sem nome, talvez deuses de tempos primordiais que perderam-se no cosmos.

Havia, mesmo naquela suposição fantasiosa que havia dito, um fundo de verdade. Os conhecimentos da Weiz iam até o Manto de Nyx, sendo a principal esfera de abrangência de sua mãe. Conhecia também um pouco do que existia além, isto é, o vácuo dos domínios do deus esquecido, Érebo. Aqueles reinos intergalácticos, vastos e ancestrais, eram tão ou mais abismais que o oceano. E, como este último, era pouquíssimo compreendido.

— Perdoe-me. — retratou-se, o ar escapando do seu nariz em uma suposição de riso. — Talvez não os sinta como eu; um telescópio, nesse caso, o ajudaria melhor que toda essa conversa sobre energias sinistras e vagantes.

Finalmente, pôde recair sobre ele seus olhos contemplativos. Jovem, absorto em si mesmo antes da chegada da noturna, gentil. Percebeu que ele detinha uma curiosa tranquilidade que, somada às simplicidade com a qual exibia na condição de ser, criava uma atmosfera particular de comodidade à irlandesa.

— Ah, apropriadamente. — aceitou cuidadosamente o recipiente. Morno, o material infundia um calor aprazível no tecido coriáceo da vestimenta que revestia a mão. Um gole e apresentou o líquido fumegante ao paladar, e sentiu-se aquecida por dentro quando engoliu. — Obrigada, Joel. — testou o nome nos lábios pela primeira vez. Articulou-o com aquele sotaque nortenho, quase puxado à fala britânica, ainda que menos aberto como seus conterrâneos do Reino Unido.

— Chamo-me Skylar. — introduziu, o que era um prelúdio à frase seguinte: — Filha de Nyx. — aprendera a usar aquele título não com orgulho, mas como um complemento ao nome. Como se sua ascendência também lhe identificasse; e de fato o fazia. Pois, graças ao icor dourado misturado ao sangue humano em suas veias, estava ali. — Espero não estar sendo incoveniente…

Oh, céus divinos, lá vinha ela — aquela Skylar curiosa de sempre!

— … Mas poderia saber o porquê de você, Joel, estar aqui sozinho? — ergueu uma sobrancelha. Na face, o semblante ameno de uma dúvida fútil. — Digo, é comum ver os demais sempre acompanhados, seja na arena ou no pavilhão. E aqui está você, sentado na neve, observando o anoitecer. Parece-me, no mínimo, curioso.


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Re: [rp fechada] - kaleidoscope

Mensagem por Joel Hunter Sex 27 Dez 2019, 18:01



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A garota falava sobre as energias e vibrações dos corpos celestes, forças ancestrais e criaturas perdidas na imensidão do universo, mas o que mais me impressionou foi como ela discorreu sobre tudo aquilo sem que parecesse bobagem esotérica para vender cristais e DVDs de meditação.  Deuses de tempos primordiais, ela disse. Me perguntava se eles seriam tão humanamente complicados quanto os olimpianos.

Acompanhei enquanto a moça se acomodava ao meu lado e bebericava da garrafa que havia lhe dado. Agradeceu e, ao falar meu nome, não pude deixar de notar em como ela experimentou dizê-lo em seu sotaque europeu e me diverti com o som das sílabas que saíam da sua boca. Sua fala era culta e educada sem deixar de ser sincera. Provavelmente, havia sido criada em um ambiente erudito e se expressava naturalmente daquela forma, e não o fazia com ar de superioridade.

Skylar era seu nome e, apenas depois dela se apresentar, percebi que não havia identificado de quem eu era filho. Aquele era um costume extremamente comum entre os semideuses, porém não era difícil eu me esquecer de fazê-lo em conversas. Achava que, talvez, por um momento, esse pudesse ser um assunto que naturalmente surgiria na conversa, como a “Qual a sua banda favorita?” ou “Com quantos anos seu primeiro monstro tentou te matar”.

— Nêmesis. Sou filho de Nêmesis. — Complementei em um tom bem menos firme que a semideusa após a sua apresentação, enquanto coçava minha nuca. Ser filho da deusa da vingança não era exatamente como ser o capitão do time de basquete da escola. Muitas pessoas tinham uma certa aversão à esfera de poder da minha mãe, mas eu já estava acostumado com isso.

Agora, mais de perto, podia observar como suas íris transitavam de uma cor a outra enquanto conversava comigo. Sua voz, ao perguntar o que eu fazia sozinho ali, era de uma curiosidade casual e descontraída, sem segundas intenções, o que era bem raro de se encontrar nas minhas últimas conversas e me deixou ainda mais relaxado. Skylar era, sem dúvidas, misteriosa e eu tinha a impressão de que ela poderia chutar minha bunda a qualquer momento se quisesse, mas ainda assim aquele breve momento que passava com ela era livre de qualquer tensão que me deixasse desconfortável ou na defensiva.

— Os últimos dias foram... Difíceis, eu acho. — Dei de ombros e voltei a encarar o céu de fim de dia, agora quase cedendo completamente ao manto da progenitora de Skylar. — Eu amo o Acampamento, mas ele é muito barulhento algumas vezes. Eu gosto do caos dos chalés, da algazarra, dos sons, mas às vezes... — Pausei, enquanto suspirava e sentia meus ombros relaxarem. — Ás vezes a gente precisa colocar os pensamentos em ordem e prestigiar o papel dos renegados celestes no primeiro ato da noite. — Voltei meus olhos para a semideusa, com um sorriso divertido no rosto. — Acho que você me entende, né?


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Re: [rp fechada] - kaleidoscope

Mensagem por Skylar W. Krøhonen Sex 27 Dez 2019, 20:13



003. i'm staying


Vingança.

Uma palavra de sonoridade bela, pronúncia saborosa. Era um de seus temas preferidos a ser pensado — a ânsia pela retribuição, um sentimento amargo. Veemente acreditava que nada benéfico provinha da vingança, senão a saciedade de uma alma inquieta e quebrada, fadada à queda. Como um mantra, algo surgiu no fundo de sua mente:

“A obsessão por uma única pessoa é corrosiva e, se duradoura, leva-nos diretamente ao suicídio indireto”. A frase de M. M. Bellucci fez sentido naquele instante. Não via nos olhos de Joel, contudo, algo que remetesse ao lado sombrio da vingança. Reconhecer aquilo não somente em sua imagem quanto em sua aura causou, por breves segundos, um alívio em Sky.

— Parece interessante. — murmurou, conferindo as possibilidades. — Espero que ela não seja tão ausente ou incomunicável quanto minha mãe. — o que era aquilo em sua fala? Melancolia, tristeza, raiva? Não se poderia discernir, uma vez que nem a própria autora da frase era capaz de identificar aquele elemento secreto.

Um suspiro sinalizou como findo o pensamento. Não gostava de mentalizar Nyx mais do que deveria; sabia que se o fizesse — concentrar-se em demasia nela —, atrairia sonhos ruins. Weiz ainda tentava entender o motivo daquilo. Não demorou-se no raciocínio, uma vez que os dizeres de Joel levavam-na a outro pensamento simplório ainda longe de fazer menção em deixá-la.

Oh, sim. Os últimos dias foram difíceis.

Ainda carregava os hematomas de uma luta contra um semideus mais poderoso, tão bestial quanto os monstros que predavam os da sua própria espécie. Rememorar aqueles acontecimentos levavam-na ao momento magno onde, no desespero e na necessidade, fora obrigada a pôr fim a uma vida. Ainda que detestável fosse o homem, Skylar não sabia digerir a informação mesmo após dias. Lembrava-se da sensação extremamente fácil de tirar uma vida. Como o gume da espada alheia — de tão afiada e mortífera que era —, rápido penetrou a carne e os músculos, furando os órgãos e espalhando sangue pelo carpete.

O pior fora o posterior: a terrível sensação de empoderamento e força que advinha. Havia brincado de ser tão divina quanto os olimpianos, no direito de remover uma vida mediante seu próprio julgamento. Nêmesis, a mãe do rapaz ao seu lado, consideraria Skylar culpada naquele ato?

Ficou tentada a perguntar. Não o fez.

— Sim. Às vezes, em momentos como este, precisamos lembrar daqueles que foram esquecidos. — ela concordou. O sorriso estampado na face de outrem fê-la imitá-lo, prestigiando-o com fileiras de dentes brancos e alinhados entre os lábios rosados pelo frio. — Entendo. A calmaria é boa, serve para colocar os pensamentos em ordem. — comentou.

O suprassumo de sua curiosidade aflorou em sequência:

— Você acha que… — sussurrava, como se não quisesse que as árvores e Zéfiro os ouvissem. — Talvez eles estejam olhando para cá em retribuição? Os renegados. — questionou. Aquela sua imaginação fértil mostrava-se então, mas era uma pergunta até mesmo passível de análise.

Óbvio que o cosmos não a olhava de volta, nem a ela quanto ao homem consigo. Mas estariam os deuses — aqueles em seus tronos, esperando o momento de atormentar suas crias —, espreitando sua conversa? Ela esperava que não. Não queria mais interlocutores por ali, além do moreno que consigo estava. A placidez dele, somada às paisagem, era suficiente para fazê-la sentir-se bem.

— Espero que não me ache louca. — riu baixo. — Mas com todos esses deuses vingativos e criaturas esquecidas, renegadas, eu me sentiria bem em saber se existe pelo menos alguém que olha para nós, semidivinos, com piedade.



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Re: [rp fechada] - kaleidoscope

Mensagem por Joel Hunter Sex 27 Dez 2019, 21:30



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Podia sentir o pesar na voz da garota ao designar os adjetivos ausente e incomunicável à sua progenitora. Apesar de ter visto Nêmesis algumas vezes, a deusa da vingança estava longe de ganhar o prêmio de Mãe do Ano. As ocasiões dos encontros não eram exatamente um piquenique em família, para começar. Além do mais, eu via muito pouco dela em mim mesmo, com exceção da raiva que por vezes via nos olhos da olimpiana e escondida em alguns cantos escuros do meu peito, mas nem isso fazia com que eu me sentisse mais próximo de minha mãe.

A julgar pelo semblante reflexivo de Skylar, seus dias não pareciam ter sido melhores que os meus. Não sabia o que havia acontecido com a semideusa, mas se fosse para arriscar um palpite, diria que por baixa do elegante sobretudo preto estariam alguns ferimentos e hematomas ainda em recuperação, o que não é muito incomum para pessoas como nós. Levei a mão até o peito, ainda dolorido devido à queimadura sofrida na última missão, cortesia de um meio-sangue completamente insano. Se eu fechasse os olhos, ainda podia sentir tudo. O cheiro de carne queimada, a dor excruciante, e logo depois, o a vida se esvaindo do corpo do meu algoz através da lâmina da minha adaga.

Não havia dúvida que matá-lo era uma retribuição aos seus atos, porém me questionava o motivo de ter feito aquilo. Seria para vingar a vida das vítimas ou apenas como uma satisfação pessoal em ver alguém que eu considerava ser ruim (e que de fato, era) perecer em minhas mãos? Não havia como negar que tomar a vida daquele assassino havia me agradado. Ser sincero comigo mesmo era, por vezes, difícil, então apenas bebi outro gole do líquido quente para afastar meus pensamentos.

A pergunta de Skylar me pegou de surpresa. Passando por tantas merdas e tendo que se virar por tanto tempo sozinho, parecia até bobo se perguntar se alguma potestade haveria de olhar por qualquer um de nós. Mas era um pergunta pertinente, afinal, se deuses podem descer de seus tronos para nos pedir para realizarmos o trabalho sujo dos mesmos, não seria loucura pensar que pudéssemos alcançar favor e misericórdia em alguns deles. Talvez fosse de uma ingenuidade extraordinária, mas não uma loucura. Sorri mais uma vez enquanto a semideusa sussurrava seus devaneios extraordinários.

— Bem, Skylar... —  Respondi, com uma caricata imitação do sotaque da europeia. — Existem infindáveis panteões, cada um deles com diversos deuses e seres poderosos, maléficos e benevolentes, e você certamente sabe disso, talvez com até mais propriedade que eu. —  Falei, apontando para o céu, com um pequeno sorriso no canto da boca. — Talvez alguns deles tenham poder suficiente para destruir nosso mundo e recriá-lo da mesma forma, sem que nós sequer possamos perceber. Não acho difícil que ao menos um deles olhe para nós com piedade, mas prefiro não contar com isso. Não é algo que possamos controlar, e talvez seja difícil até influenciar. Acho mais seguro contarmos com nós mesmos. —  Voltei, novamente, meus olhos para a meio-sangue. Eu não conseguia ler seus pensamentos, mas sabia muito bem que no coração de cada filho de um deus olimpiano repousavam o medo, o vazio e o fardo de vivermos em um mundo no qual estávamos enfiados até o pescoço, mas que nunca seria de fato nosso. — O que esses seres ridiculamente poderosos sabem da nossa dor? Dos nossos receios? Muito pouco, eu acredito. Mas nós... Só nós, que compartilhamos do medo de sermos devorados a qualquer instante, entendemos como é viver assim.


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Re: [rp fechada] - kaleidoscope

Mensagem por Skylar W. Krøhonen Sáb 28 Dez 2019, 13:49



004.


Fê-la ouvir com atenção. Skylar sabia como era viver à sombra do medo, da angústia e do pânico. O terror de sentir-se perseguida e ameaçada, enquanto sua vida entre os mundanos em nada contribuía para afastar os seus inimigos naturais. Talvez por isso tivesse um apreço pelo Acampamento — a ideia de total segurança imposta pelas barreiras invisíveis faziam-na dormir melhor.

Pelo menos, era nisso em que se prendia a maior parte do tempo.

“Contar comigo mesma…”, pensou por alguns instantes sobre o que ele dissera. Sim, era uma ideia que a agradava, ainda que nem a própria irlandesa soubesse em quais decisões ela poderia ou não ter firmamento. Skylar temia, como sempre, caminhar de volta ao próprio passado; nada era tão direto àquele caminho que as escolhas pelas quais poderia optar. Servir aos deuses era como condenar uma parte de si ao controle olimpiano — não fazê-lo, praticamente uma sentença de morte.

Inexorável; de uma forma ou de outra, cedo ou tarde, precisaria da benção e do auxílio divino.

Ora, ainda tinha em si a parte humana. Era algo que não poderia libertar-se ou, na melhor das hipóteses, fingir que não existia. Era essa parte — a frágil, terrena, quebradiça — que a mantinha inteira. Sensível ao mundo, capaz de julgamento, senhora de suas próprias ações. Um paradoxo curioso, singelo: sua fraqueza era, ao mesmo tempo, fonte de seu poder. Um poder que ela, enquanto amálgama entre deuses e homens, detinha e que até mesmo superava o dos olimpianos:

Livre arbítrio, poder de ação. Liberdade.

— Eles não sabem nada sobre nós. — disse, embora aquilo fosse um pensamento destinado a ser guardado no fundo da cabeça. — Nem o que somos, nem o que seremos. Acho, Joel, que nos temem.

Aquilo parecia mais fantasioso que o assunto anterior, de renegados perdidos na Via Láctea. Mas para ela, naquele momento, fez sentido. Como uma epifania, soube no fundo de sua alma que era uma verdade também.

— Podemos andar por essa terra, dominá-la e moldá-la. Somos fruto tanto do terreno quanto do transcendental; herdamos absolutamente tudo. — olhou-o. Naqueles olhos místicos, conhecedores de segredos, havia certeza. — Por isso é conveniente para eles que nossas vidas lhes sejam apenas como ferramentas, ou melhor, peões de seus trabalhos. Uma vez reduzidos a isso, não somos nada. Se livres, nosso poder é tudo. — conseguiu, mesmo que por uma centelha, sorrir.

Quíron ficaria horrorizado ao vê-la proferindo aquilo. Era um discurso válido, todavia.

— Espero que não pense que sou uma anarquista. — havia divertimento no timbre.



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Re: [rp fechada] - kaleidoscope

Mensagem por Joel Hunter Sáb 28 Dez 2019, 21:02



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Após a semideusa proferir as suas palavras, um espinho correu minha espinha e me vi torcendo para que nenhum deus ou criatura leal ao Olimpo ouvisse nossa conversa naquele momento. Só então percebi como essa atitude era apenas consequência do que Skylar atestava: reduzir-nos a mero gado, subordinados e amedrontados, nada mais era do que uma estratégia para nos controlar. Se ditadores humanos eram capazes de utilizar essa técnica, o que esperar dos imortais seres que regem o universo? Talvez ter os dois pés em ambos os mundos, mortal e o olimpiano, nos concedesse o direito de domínio sobre ambos; talvez apenas nos amaldiçoasse a sermos escravos de dois senhores.

— Provavelmente poderíamos sim andar por essa terra e moldá-la conforme o nosso bel-prazer, mas... Pra que? — Deixei o ar escapar pelo nariz, achando meu questionamento engraçado. —Desde os tempos mais remotos, o controle do mundo tem sido passado por diferentes mãos, e apesar das mudanças, sempre há algo de ruim. Cronos tomou o domínio de Urano, Zeus o tomou de Cronos. Em alguns séculos, talvez os semideuses o tirem de Zeus, mas o que virá depois? É inútil sempre continuar o ciclo e esperar que isso te leve a algum lugar diferente.

Olhei para o firmamento outra vez. O manto da deusa da noite finalmente tomava se apoderava do firmamento, com os infinitos pontos prateados espalhados pela sua imensidão. Os renegados já haviam feito seu papel, cedendo seu lugar as verdadeiras estrelas. Abrir o caminho para outro dominar parecia uma tarefa ingrata, ver alguém sendo coroado com os louros da vitória do caminho que você abriu poderia ser doloroso, mas não deixava de ser nobre. E se esse fosse meu papel, eu o aceitaria de bom grado. Tinha certeza de que não era o meu papel dominar tanto quanto não era meu papel me deixar ser usada como um mero peão.

Prefiero morir de pie que vivir de rodillas. —  Eu não sou alguém com muitas citações guardadas na cabeça, mas balbuciei a frase de Zapata quase que imediatamente. — Prefiro morrer de pé que viver ajoelhado. Meu pai sempre dizia isso pra mim, desde quando me entendo por gente. Viver de pé não quer dizer ter poder para mudar pela força, pelo menos não para mim, Skylar. —  Os olhos da filha da Noite ainda passeavam entre os diversos espectros colorais, e tê-los voltados para mim me dava um frio na barriga, como se pequenos universos me observassem em silêncio. —  Mas não me ajoelharei a nenhuma coroa banhada em sangue e lágrimas de inocentes. Ajudarei quem eu puder, principalmente os que dividem da nossa dor. Mas eu... —  Deixei o sorriso se apossar do meu rosto, sabendo da fala boba, e ainda assim verdadeira, que viria a seguir. —  Eu sou Imperador do Nada, Soberano de Lugar Algum.


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Re: [rp fechada] - kaleidoscope

Mensagem por Skylar W. Krøhonen Dom 29 Dez 2019, 14:22



005.


Nas espirais da mente da jovem Krøhonen, havia uma gama de pensamentos que sequer ela conseguiria ordenar. Contudo, naquele momento um era sobressalente: o sentimento externalizado nas palavras alheias eram, em suma, verdadeiros. Skylar reconhecia algo humilde naquela fala — uma sabedoria humana, simples, o que fazia dela muito valiosa.

Notou que o homem mediante si era dono de credos apreciáveis. Naquele mundo de deuses e monstros, uma mentalidade como aquela era como uma ilha rodeada de insanidade e perigo.

— É ótimo que pense assim. — comentou, um sorriso sincero ganhando os lábios avermelhados pelo frio. — Faz com que eu não perca a esperança em todos nós.

Nós.

Sky não confiava mais nos semideuses que em seus parentes olimpianos. Para ela — após as cruéis experiências que obtivera quando encontrara os demais meio-sangues até ali —, as crias meio humanas do panteão eram tão suscetíveis às atrocidades quanto seus pais. Perguntava-se quais seriam os fatores que fariam daqueles semideuses criaturas ruins.

Pois ninguém era totalmente bom ou mau; e esses ainda eram conceitos explorados e estudados por ela.

Mas a dúvida restava: quais seriam suas motivações a criar caos? Destruir, tirar vidas? Havia, sequer, uma razão para tal? Preferia suspeitar que sim. Era essa preferência que a fazia divagar que, em um mundo de livre arbítrio, poder esse que os homens detinham como outrora ela pensou, as escolhas eram suficientes para designar a penitência de alguém. Seriam, de fato?

Não. Ela própria já havia ceifado uma vida semidivina anteriormente. Isso não a fazia alguém necessariamente ruim, a depender do ponto de vista. Fechou os olhos momentaneamente, como se tentasse agarrar-se àquele raciocínio necessário. Escolhas como aquela levariam-na aonde?

À glória? À destruição?

Silêncio.

— O seu reino, M'Lorde… — entrou na brincadeira dele no momento seguinte. Inevitável fora o riso infantil deixado de seus lábios, as íris escuras como ametistas fitando-o. — É o melhor de todos. Primeiro, inexpugnável. Segundo, o mais cobiçado.

Sim, seria bom reinar sobre o Nada. Ser rainha de Lugar Algum. Aqueles títulos soavam como a mais pura liberdade — sensação essa garantida à sua essência.

— Certamente, também seria melhor que reinar sobre esse mundo caótico. — enfiou as mãos enluvadas por couro negro de volta ao sobretudo veludoso, morno. — Se você fosse um deles, digo, um dos deuses… Qual seria?




“Tão pobres somos que as mesmas palavras nos servem para exprimir a mentira e a verdade”.
— Florbela Espanca.


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Re: [rp fechada] - kaleidoscope

Mensagem por Joel Hunter Ter 31 Dez 2019, 12:42



KALEIDOSCOPE
If I fail I know I tried
Julgando pela fala da Filha da Noite, ela mesma já havia tido experiências não muito empolgantes com outros semideuses, e eu entendia muito bem aquilo. No ano anterior, eu havia enfrentado outro filho de Nêmesis que decidiu seguir a Éris, a deusa da Discórdia, e quase morri. Na minha última missão, dada por Têmis, dei fim a um serial killer filho de Phobos. Eu não sabia com que Skylar havia encontrado em seu caminho, mas duvido muito que tenha sido uma reunião mais agradável do que as que eu havia enfrentado. Levando isso em conta, era bom saber que a garota não havia perdido a esperança em todos os outros meio-sangues.

Não pude deixar de rir ao ver que Skylar havia compactuado com a brincadeira. A semideusa sorria, e por um momento não parecíamos mais sermos semideuses lutando por uma chance de sobreviver, nos abrigando em um acampamento para fugir de monstros e lidando com os aspectos mais repugnantes de seres divinos e tão antigos quanto à própria terra. Éramos apenas dois adolescentes, falando besteiras e se divertindo com elas. Era bom se sentir daquele jeito. Talvez a vida fosse feita para ser vivida dessa forma, mas eu não podia me apegar aquilo. Sabia que momentos como esse eram raros, então me concentrei apenas em saboreá-los.

— Obrigado, M’lady. — Levei uma de minha mão até a barriga e, em uma espécie de saudação medieval, curvei meu tronco em direção à moça. — E o melhor de tudo é que, no meu reino, qualquer súdito também é rei.

E então, logo depois, a semideusa me questionou acerca de algo que eu nunca havia pensado. Qual deus eu seria? Eu não fazia a mínima ideia. Vi minha mente visitar as esferas de poder do panteão grego, em busca de alguma divindade para admirar, no entanto não encontrei nada que me satisfizesse. O pensamento de alcançar imortalidade e grande poder parecia apenas um fardo aos meus olhos. Me tornar um deus sem deixar para trás o medo, a cobiça, a inveja e outros milhares de sentimentos obscuramente humanos seria um pesadelo. Balancei a cabeça em negação à medida que esses pensamentos passaram pela minha mente.

— Eu realmente não sei o que te responder. —  Disse a garota, enquanto coçava o queixo em um claro sinal de dúvida. — Não me vejo na pele de nenhum deus e, para falar a verdade, não gostaria de ser um. Quero dizer, a imortalidade, o poder, tudo isso deve ser bom... Mas deve te corromper muito fácil. E ser adorado por mortais? Deuses, eu nem sei como lidar com um elogio, imagina um culto em meu nome? — Ri, mais uma vez, ao pensar nessa possibilidade. Soava tão ridículo quanto parecia em meus pensamentos. — Mas enquanto a você? Qual deus você seria, jovem Skylar?


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Re: [rp fechada] - kaleidoscope

Mensagem por Skylar W. Krøhonen Qua 01 Jan 2020, 09:05



006.


Os olhos fixavam-se nos acrônicos, captando a essência de seu brilho como milhões de diamantes particulares. Intrínsecos ao Véu de Nyx, organizavam-se em padrões estelares de tal modo a formar desenhos quase abstratos a quem não prestasse a devida atenção: constelações.

Observá-las fazia uma parte de Sky pensar em quem as teria colocado ali. Quem as comandava, ou se haveria alguém capaz de suprimi-las por completo. Sua mãe talvez obtivesse todas aquelas respostas e o poder necessário para torná-las realidade. Por vezes, a filha invejava a gama de capacidades obtidas pela primordial — ter uma parte, mínima que fosse, poderia dar fim a todos os seus problemas.

Mas havia algo corrosivo no poder.

A tentação, por si só, já era um fardo pesado em demasia. Fazia-a relembrar que nem mesmos deuses — sendo esses os seres mais poderosos existentes —, eram capaz de resistir à ela. Sendo Skylar apenas metade de uma divindade, sabia que se obtivesse poder naquela magnitude, sua parte humana seria a primeira a colapsar.

“Não há bondade enquanto a ganância se sobressair. O que resta é egoísmo”.

— Eu não gostaria de ser uma deusa, tampouco. — a norte-irlandesa percebeu, deixando-se murmurar aquilo como se não controlasse os próprios pensamentos e falas. Os olhos, que agora acompanhavam uma tonalidade obscurecida tal qual aquela do céu notívago, percorreram a forma masculina até que encontrasse os dele como firmamento. — Ultimamente, percebi que há alguma coisa na fragilidade humana que me traz conforto. O destino limitado que temos, a iminência da morte; são fatos que tornam nossa estadia aqui mais interessante.

“Eu não saberia lidar com a imortalidade — soa como a pior das maldições”.

— Além do mais, a vida dos Olimpianos é cheia de altos e baixos. — embora o sorriso fosse ausente naquele instante, havia algo irônico em sua voz. Uma pontada inócua de sarcasmo. — Nem eles próprios conseguem manter seus companheiros nas rédeas; passamos pela Guerra de Tróia, duas Guerras Mundiais, sempre há alguém tramando para derrubá-los…

“Doze deuses do Panteão Grego, e nenhum deles consegue impedir tragédias. Soa-me como deuses inúteis”.

— Não gostaria de carregar essa responsabilidade pela eternidade.


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Re: [rp fechada] - kaleidoscope

Mensagem por Joel Hunter Qua 01 Jan 2020, 19:37



KALEIDOSCOPE
If I fail I know I tried
Meus pensamentos e palavras convergiam de forma bastante confortável com os de Skylar. Não senti nenhum vestígio de falsidade vinda de seus dizeres, e percebi que o desinteresse em poder e domínio era algo que nos aproximava. Encontrar aliados com esse tipo de pensamento era, além de raro, uma benção. A filha da noite se mostrava, ao longo da conversa, cada vez mais sincera e confiável, características que eu valorizava muito nas pessoas ao meu redor. Assenti com a cabeça após a fala da garota, em sinal de concordância.

—  Eu não poderia concordar mais. —  Respondi, fazendo com que meus olhos encontrassem os dela. — Nossa parte mortal, apesar de mais frágil, sempre possuíra tesouros que os deuses, com todo o seu poder, jamais obterão. Uma delas é o sacrifício. O real sacrifício. — Olhei para a palma de minha mão, perdendo-me por alguns segundos em devaneios. — Dar a sua própria vida por um ideal, por um lugar, por outra pessoa. Só há real valor no sacrifício daquilo que pode nos ser tirado de forma definitiva. É isso que faz os homens nobres, os amigos leais e os amores verdadeiros. E talvez seja essa lacuna que não possa ser preenchida nos corações imortais.

A queimadura no meu peito ainda doía, mas um dia iria passar. Eu não podia dizer o mesmo da enorme cicatriz que marcaria meu peito perpetuamente. Ainda assim, de certa forma, eu a carregaria com orgulho, pois seria um lembrete constante que vi a dor e a morte de perto e não me acovardei ante as duas. E talvez fosse nisso que repousasse a significância dos meus atos.

— Toda a luta é por enquanto, Skylar. Essa é a dádiva de uma vida finita. Nós passamos tanto tempo com medo da morte que nos esquecemos do descanso que ela oferece, se fizermos por onde, claro. — Finalmente, me levantei do tronco. Já estava ficando tarde e, se demorássemos mais ali, logo teríamos problemas com as Harpias, o que eu definitivamente estava tentando evitar. Me posicionei na frente da semideusa, a mão estendida para um aperto. — No entanto, enquanto a luta não acaba, não precisamos passar por ela sozinhos. — Abri um sorriso, tentando passar confiança nas minhas palavras.



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Re: [rp fechada] - kaleidoscope

Mensagem por Skylar W. Krøhonen Qua 01 Jan 2020, 21:51



007.


O vento ali era um sussurro quase constante, um leviano toque de brisa que rodopiava entre os galhos nus das árvores. A água cristalina do riacho, com pedaços brancos de gelo aqui e ali, corria veloz pelo leito lodoso. Conforme a abóbada celestial era enfim dominada — não somente pelo azul escuro quanto pelos tons de preto que se seguiam —, Sky sentia algo mudando no ar.

Talvez sua sina, a qual era cuidadosamente tecida pelas Parcas, estivesse alterada. Os sons advindos das árvores talvez fossem, na verdade, ecos das engrenagens do destino movimentando-se pouco a pouco; e tudo aquilo a fazia voltar os olhos diretamente para os de Joel. Eram profundos, fitá-los era como encarar um par de abismos gêmeos. Neles, via seu próprio reflexo.

As barreiras translúcidas do acampamento eram as reguladoras do clima ali, e ainda assim, uma neve sutil caía. Os flocos por eles moviam-se como em uma dança, aglomerando-se nos cabelos e roupas dela e derretendo com o calor emitido pelo corpo magro.

Tá gá le híobairtí. — “sacrifícios são necessários”. Aquele fora mais um de seus pensamentos indevidamente externalizados. Seguindo a lógica do filho de Nêmesis, talvez a estadia humana naquele plano também fosse repleta de incompreensíveis trívias. Sacrificar algo ou alguém era um dos processos mais difíceis e dolorosos a serem sentidos; perguntava-se se os deuses sentiam-no tal qual os mortais.

Se não, os invejaria por isso.

Somente ao proferir suas últimas palavras, Joel estendeu a mão para ela. Skylar não saberia dizer se o encarou por um segundo ou vários, e ao terminá-lo, limitou-se a puxar o couro que recobria seus dedos. Primeiro um, depois outro, então mais um… até que removesse a peça por completo da mão direita, expondo a palidez dos dígitos finos e delicados. Com estes, apertou a mão de outrem.

— Não, não precisamos passar por isso sozinhos. — concordou. Imaginava se em algum lugar as Parcas estariam olhando-a. A trama que teciam parecia ainda mais obscura agora, e quase podia ouvir a risada de seu irmão, Moros, o destino. Fosse aquele arrepio de ansiedade ou frio, não saberia distinguir, mas a certeza no olhar do semideus mediante a garota era mais que suficiente para ela.

“Olhos justos, olhos simples”.

Em seu íntimo, sentia que Joel desempenharia um papel fundamental em seu futuro. Skylar só não sabia atestar a veracidade daquele sentimento; entretanto, era bom saber que poderia contar com ele.

— Vamos! — a norte-irlandesa puxou-o pela mão. — O jantar será servido em pouco tempo. — as bochechas estavam vermelhas em função do frio, assim como os lábios. Neles, um sorriso.

— Ei, Joey… — o apelido fluiu fácil, tranquilo. — Gostei de você. — confessou Sky; aquela Sky tão reclusa e desconfiada, contemplativa, única. — Eu sinto que nos veremos de novo… muito em breve. Quando isso acontecer, você me dá a receita desse achocolatado divino.

Lançou a luva para ele — aquela que havia removido anteriormente —, de couro preto ornamentado. Por mais banal que fosse o presente, decidiu entregá-lo mesmo assim.

— Precisamos voltar. — por fim, falou. — Sabe, o céu noturno esconde seus renegados… mas também esconde muitas outras coisas. Não estou ansiosa para descobrir o quê, ainda. — riu. Virou, direcionando o corpo ao caminho pelo qual viera. A mão encoberta jazia ao seu lado enquanto caminhava, mas a outra, exposta, fora enfiada no calor contido do bolso do sobretudo.

Ao abandonar a área, o que restou de si foi seu rastro: pegadas das botas na neve. Fora isso, mais nada.


“Certo, muitas ilusões dançaram - mas eu me recuso a descrer absolutamente de tudo, eu faço força para manter algumas esperanças acesas, como velas”.
— Caio Fernando Abreu.

snow:


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Re: [rp fechada] - kaleidoscope

Mensagem por Joel Hunter Sex 03 Jan 2020, 16:18



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O aperto de mãos parecia selar uma promessa, mesmo sem nenhum de nós ter feito abertamente uma. O vento parecia trazer novos caminhos tanto para mim quanto para Skylar, caminhos esses que se cruzariam muitas vezes. O toque macio da semideusa contrastava com a minha mão calejada de tanto empunhar espadas e adagas durante as lutas. Eu tinha que admitir: estava curioso para saber o que as Parcas planejavam ao tecer meu encontro com a filha de Nyx, mas como não sabia quanto tempo deveria esperar para satisfazer meu questionamento, me contentei em adquirir a simpatia da garota, o que já era mais que suficiente.

Ainda havia muito sobre mim que eu não havia descoberto. Muitas palavras ditas ao meu respeito ainda flutuavam ao meu redor, sem destino ou encaixe em minha existência. Era irritante ter sempre a impressão de que alguém sabia mais sobre eu do que eu mesmo, e a falta de respostas me tirava o sono a noite. Por um breve momento, imaginei de Skylar poderia, de alguma forma, seria um dos caminhos para as mesmas. Independente da resposta, sabia que assim como havíamos confirmado, não precisávamos passar por isso sozinhos, e o pensamento me confortou.

— Eu também gostei de você, Sky. — Respondi enquanto a garota me puxava, retribuindo o apelido. — Nem pensar! Esse chocolate é receita de família. Se eu te der, vou ter que te matar. — Não segurei a risada. Momentos leves, cara. Todo mundo precisa disso de vez em quando.

A garota me jogou uma de suas luvas, e em um movimento rápido a peguei no ar. Talvez não fosse o presente mais elaborado do mundo, mas entendi que aquela seria uma lembrança daquele momento simples, mas tão puramente bom. Guardei o item no bolso da calça, imaginando que tipos de pensamentos me viriam quando olhasse o mesmo em algumas semanas, meses ou anos.

— É, eu também não. — Respondi, enquanto seguia Sky até o refeitório. — Não hoje.


obs:
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