[RP-FECHADA] Oh, we are not on the same place

As águas batiam levemente por meu corpo, eu me unia a elas, movimentava-me conforme elas se movimentavam, a calmaria fazia com que pudesse pensar. Meus olhos observavam o  céu límpido e estrelado, cada nuvem que passava, o som da natureza em harmonia tornava-me mais plena. Movimentava meus braços e cauda, sentindo cada parte de mim se fundir com o líquido cristalino, era disso, dessa sensação que eu precisava. Minha voz saia calma, mostrando meu estado de espírito. A canção não possuía palavras, apenas o som saia naturalmente, cada nota parece enfeitiçar-me e quem sabe faria isso com quem pudesse ouvi-la.

A noite começava a cair, o luar convidava-me até a beira do rio e assim foi feito. Conforme nadava para beira, a cauda já não era cauda e sim dividia-se, tornando-se um belo par de pernas, particularmente não gostava daquela forma humana, minha pele deixava o brilho perolado, me tornando em uma forma simples, porém alguns detalhes podiam me destacar e diferenciar dos humanos, minhas orelhas ainda mostravam que eu não era igual a eles e por hora aquilo era suficiente.

Sentei-me confortavelmente, procurando meu pente enfeitado por conchas, mantinha o objeto amarrado por uma corda dourada, preso a minha cintura, penteei meus cabelos, que mudam de coloração assim que assumia a forma estranha, calmamente passava o pente de “dentes” largos, em seguida meus dedos ajudam a desembaraçar os fios, que caiam cobrindo meus seios. Minha voz podia ser ouvida, era natural para mim, eu apenas cantava distraidamente, aproveitando a solidão daquele lugar. Minhas irmãs me julgavam, diziam-me que eu procuraria até finalmente morrer pelas mãos dos humanos ou semi-deuses, mas verdade seja dita, quase não se via eles por aqui, eu mesma, nunca havia visto um.

Eu tinha bom senso, a água sempre seria o lugar mais seguro para mim, mas como se o luar me enfeitiçasse, sempre que anoitecia eu precisava ir até a beira e observá-lo, havia se tornado um hábito. Ali sentada, contemplava a vida, minha existência e do porque sentir que havia algo a mais me esperando, provavelmente era tolice, mas conforme as noites chegavam, eu pensava mais sobre isso, era como se um comichão crescesse a cada noite, algo me tirava da água, apesar de não gostar da forma humana em que me transformava.

Fui puxada de volta  a realidade quando ouvi gravetos se quebrando e passos em minha direção, meus sentidos entraram em alerta porém não me movi bruscamente, calmamente continuei a cantarolar uma canção calma, levantando-me e virando meu corpo de frente a silhueta que surgia cada vez mais perto. Talvez minhas irmãs estivessem certas, mas não seria errado eu ao menos conhecer o humano, nesse caso, semideus.

— Olá — disse, em tom baixo. — O que um semideus faz aqui? Perdido talvez? — observava o homem, sabia por algum motivo que ele não era somente um humano. Era difícil saber como se portar diante dele, seus olhos eram enigmáticos, seria pela falta de roupas? Ele como um semideus deveria saber que nós, náiades não possuíamos vestes, principalmente quando essa náiade que vos fala, deveria estar nas águas mais profundas, sem qualquer tipo de contato com ele.

Estava curiosa e não podia negar, semideuses eram um tanto quanto interessantes e aquele ali havia despertado em mim uma curiosidade que eu não conhecia até então. Como nunca havia visto um tão de perto, necessitava saber mais sobre ele. Sabia muito  bem que não deveria, mas era impossível. Passava meus olhos por cada centímetro do rosto dele, descendo para o pescoço, tronco e cada vez mais ao sul, descrição não era necessária, ele parecia mais curioso ainda ao meu respeito. — Não está incomodando...— maneei a cabeça para o lado, estava fascinada em como aquela forma era semelhante a um humano mas a energia emitida não era nem de longe a mesma. — Realmente veio ao lugar certo — sorri, enquanto minha voz saia o mais tranquila possível. — Venha se sentar comigo, Huggo — ergui a destra em direção a ele, para que assim à pegasse. — Me chame de Emeline.

Caminhei novamente até as pedras que estava sentada, pensava em como responderia às minhas irmãs caso alguma delas visse o semideus ali, nem se quer havia pensado em alguma desculpa, sentia elas  ao longe observando meus passos e os dele. — Diga-me Huggo... — sentei-me sobre as pedras, voltando a pentear algumas mechas de cabelo — Porque sente-se perdido?— não teria como negar a curiosidade, sabe se lá quando teria oportunidade de conversar com outro como ele — Nós, náiades sempre entramos em contato com a natureza quando precisamos de direcionamento...—  disse, um sorriso doce nascendo no cantos dos meus lábios. — Quem sabe isso possa te ajudar! — dei de ombros —  Vamos lá, ao menos tente, Huggo —  encostei levemente meu ombro no dele, como se encoraja-se-o.

— Feche os olhos, ouça minha voz enquanto sente o ar fresco —  cheguei mais perto do rapaz — Prometo não morde-lo — brinquei, deixando meus lábios perto da orelha dele —  Respire fundo e solte vagarosamente — sutilmente me afastei, olhando para frente e fazendo o mesmo. Fechei os olhos e respirei fundo —  Escute a natureza e absorva a paz que ela emana, Huggo — gostava de como o nome dele enrolava em minha língua. —  Quem sabe assim consiga se reencontrar — instintivamente levei minha destra à dele, segurando calmamente —   Pelo menos esta noite — me calei finalmente, as vezes me tornava tagarela demais, já estava acostumada com os seres da natureza saindo de fininho quando eu desandava a falar.