Fireflies — {RP -fechada de Alexander Doverhood e Veronika Stowe}

Veronika era intensa. Foi por isso que ao chamarem-na para uma reunião junto com outros mentalistas desencadeou uma crise de ansiedade imensa. Iria ser expulsa? Conhecer um novo integrante? Conhecer quem sabe a líder? Perguntas demais... Ideais para que sua mente só conseguisse focar nisso por mais tempo do que devia. E quando reparou, Estava atrasada, acertando seu delineado e procurando incessantemente por seu par de armas. Bufou aborrecida.

Tivera a manhã toda para resolver as pendências, afinal, faltara a aula, ao treino e ao seu turno nos campos de morango para se arrumar para a maldita reunião a qual foi avisada por meio de borboletas azuis demais para uma madrugada entediante como aquela. Nada havia lhe acontecido desde que voltara.

Mas o chamado não era agradável. Longe disso.

Sim, a líder estava lá. Outro mentalista, logo ao seu lado, segurava sua mão e pelos seus olhos pode ver que o que quer que estivessem fazendo ali, não era bom. Era péssimo. Foram feitas introduções longas demais. Sua mente parecia distante. A de Katherine Villeneuve, confusa. E quando chegou ao assunto, sabia o que ouviria.

— Há seis meses fomos avisados da morte de Kali Verona. — Começou a garota de cabelos escuros. — Estamos aqui apenas para dizer que o que quer que tenha a matado, está atrás de nós também. Tomem cuidado. Não se separem. Não andem sozinhos.

As instruções continuaram por quase uma hora. Quando viu, todos deixavam o anfiteatro, caminhando para locais distantes da morbidade do casal de líderes.

Seus passos logo a levaram para um local conhecido.

A praia estava vazia, exceto pela presença de um garoto quase familiar, quase. Kali saberia de quem se tratava; para Veronika, aquele era apenas um dos mentalistas.

Mas já era alguma coisa.

— Parece que alguém não ouviu a líder. Ficar sozinho não é mais uma boa coisa. — Sua voz quase sumiu conforme falava, um sussurro baixo arrastando as últimas palavras. E antes que fosse respondida, sentou, deixando a areia sujar seus jeans.

Armas, Poderes, Mascote e Observações Finais:

Não tive uma boa noite de sono, muito longe disso, foi extremamente agitada e sonhava com cenas confusas. Quando abri os olhos, encharcado de suor e com a maior bagunça possível dos lençóis, pude observar um fenômeno estranho no quarto: um número grande de borboletas azuladas sobrevoavam o cômodo, algumas pousando nos móveis. Por sorte, o quarto estava praticamente vazio, o chalé, afinal, não era assim o mais habitado. Tratava-se, sem dúvidas, de um aviso para os mentalistas, uma reunião de caráter não ordinario. Nada de bom poderia sair dali. E tal aviso foi suficiente para fazer meu coração acelerar.

As horas passavam e, antes mesmo da carruagem solar apontar no céu, já estava tomando banho, já matutando qual seria meu café da manhã. Vesti-me com vestes comuns e preparei um suco de laranja, deixando o abrigo para trás e me direcionando até o anfiteatro, onde nos encontraríamos. Tamanha era minha ansiedade que nem mesmo o suco foi bem aceito pelo meu estômago, parecia que um monstro ia sair pela minha garganta e tomar forma.

Não tomei qualquer local que chamasse a atenção para mim, na verdade, quase me escondia nas sombras dos outros mentalistas. Ser o centro não combinava comigo — nenhum pouco. Foi então que Katherine começou a falar, conhecia-a do grupo e sabia dos seus grandes feitos, mas sua voz estava diferente, sem a confiança habitual. As notícias desenrolaram-se como marteladas em meu abdômen, podia jurar que a qualquer momento precisaria correr para encontrar um sanitário e colocar para fora toda aquela ansiedade.

Já com os pensamentos tumultuados, escutei as orientações, que pareciam severas, deixando nua a gravidade da situação. Tentava concentrar em suas palavras, mas meu cérebro logo me levava para outros lugares, deixando-me numa situação delicada ali dentro. Esperava impacientemente que aquele discurso se encerrasse. Quando finalmente a semideusa acabou de falar, fui um dos primeiros a sair, tragado ainda mais em pensamentos do que entrei.


Vagava entre os ambientes do acampamento, ora no chalé número três, dedicado a Poseidon, ora no refeitório, passando pela loja de armas para namorar um tridente que, no fundo, eu sabia que não compraria. Já possuía, comigo, as duas armas oriundas dos mentalistas e, para mim, estava de bom tamanho. Sim, eu me contentava com pouco.

Encontrava-me sem rumo, não só na questão física, mas também sem saber quem eu realmente era, afinal, não me envolvia em grandes eventos e cabia a mim uma missão ou outra; estava periférico a tudo o que acontecia e não havia demonstrado o meu valor: nem para mim mesmo. Às vezes perguntava-me se eu era realmente o Alexander certo, eles poderiam ter me confundido, não? A resposta veio automática em minha mente — impossível.

Toda aquela nova questão com os mentalistas faziam-me indagar diversas coisas, algumas plausíveis, outras um tremendo absurdo para qualquer um que as escutasse. Eu praticamente não saía do acampamento, estaria seguro? Ou será que, quem quer que fosse que estava atrás de nós, daria qualquer importância para alguém como eu? Talvez a mensagem de Katherine foi direcionada para campistas mais experientes e mais importantes, não para novatos.

Respirei fundo e decidi ir para o local que sempre me abraçava quando estava com pensamentos bagunçados. Enquanto rumava para a praia, aquecia-me com memórias de minha infância, da pacata vila de pescadores que cresci e que aprendi sobre a vida, ou parte dela, já que desconhecia a metade mais importância, aquela que diz respeito a minha herança divina.

Ao chegar perto da areia, retirei meus calçados, amarrando seus cadarços um ao outro e pendurando-os ao redor do meu pescoço. Sem pudores, sentei na areia, um pouco longe da água, mas suficientemente perto para sentir a brisa tocando meu rosto. Meus olhos fitavam o horizonte, focando nas ondas e iam e vinham. O balanço do mar acalentava-me e logo meus pensamentos vagavam por minha cabeça, quase que seguindo o movimento das ondas.

Pensei estar sozinho, talvez tão imerso no oceano que não percebi outra pessoa se aproximar. Sua figura fez companhia à minha, sentados um ao lado do outro, mas não sem antes chamar minha atenção sobre estar sozinho. Tentei responder, mas não havia qualquer desculpa a ser dada, fui inconsequente em minhas ações e nem ao menos passara-se  um dia que recebemos as instruções. ┌ É… Bem... ┘ Encarei a areia sujando meus pés. ┌ Força do hábito. ┘Dei de ombros e agora olhava para a menina, tratava-se de outra mentalista, obviamente, seu nome parecia vapor em minha cabeça, não conseguia lembrar muito claramente.

┌ Alexander. ┘Estiquei a mão mais próxima da menina, cumprimentando-a. Eu tinha certeza que ela não sabia meu nome, afinal, eu passava despercebido nas situações com os mentalistas, então, seria uma maneira de refrescar o nome de minha companhia naquele momento. Esbocei um sorriso para ela, esperando ser caloroso o suficiente para transpassar normalidade.

Arsenal:

Não se lembraria de seu nome nem se tentasse muito, sequer acreditava que ele tinha se apresentado anteriormente. Suspirou, puxando as pernas para perto do corpo para abraçá-las antes de deixar a têmpora tocar o joelho para encará-lo.

— Não é uma bronca, fique tranquilo. — Sorriu, alcançando a destra para apertar a mão livre do rapaz. — Veronika. Nyx. — Murmurou, o nome da mãe soando azedo por seus lábios. Nem mesmo havia a conhecido e já sabia o quão odiosa poderia ser a dama da noite. Seus olhos se prenderam no mar logo à frente e voltou a falar, quase inconscientemente — Você vem sempre aqui?

Soaria como uma cantada barata, tinha certeza. Deixou que o pensamento – no entanto – tomasse distância de sua mente ocupada, enquanto esperava que o garoto a respondesse.

Armas, Poderes, Mascote e Observações Finais:

Veronika era seu nome. E não me ative a ascendência divina da garota, apesar de ter mencionado ser filha da noite. Eis uma característica que realmente não me importava, saber quem era o deus ou deusa responsável por bagunçar a existência das pessoas.

Mais uma vez, esbocei um riso, porém ainda tímido; poderia responder-lhe que passava mais tempo naquela praia do que em qualquer outro lugar. No entanto, vi a oportunidade de recompensá-la falando sobre meu pai divino e, ao mesmo, fazer minhas típicas gracinhas para quebrar um pouco o gelo e moldar um Alexander mais sociável. ┌ Digamos que frequento bastante essa praia. Um grande clichê para um filho de Poseidon, não acha? ┘ A brisa ainda insistia em tocar meu rosto e aproveitei aquela sensação para tentar relaxar; não estava mais sozinho, afinal.

arsenal:

Queria comentar muitas coisas naquele momento.

Queria lhe dizer que adorava o mar, as casualidades, os encontros descompromissados e os clichês.

Deus, como amava os clichês. Era impossível não fazê-lo, tinha sido criada em uma bela casa no sul do país, banhada pelos trezentos e sessenta dias de sol que Clearwater prometia, ainda que tivesse nascido numa pequena cidade da França. Frequentara os melhores colégios, tinha entrado em Harvard – quem diria? – e se casado com o aluno mais popular da turma de Medicina.

Veronika era um clichê ambulante até... até o inferno começar. Decidiu que não falaria sobre nada daquilo.

Sorriu, deixando que sua cabeça meneasse em sinal de concordância.

— Bom, pelo menos o seu local de conforto é de fácil acesso. Eu sou um clichê com mommy issues e o castelo de Psiquê está muito longe. Quando chegou aqui?

Armas, Poderes, Mascote e Observações Finais:

Deixei que a garota mergulhasse em seus pensamentos, não tinha pressa para encerrar aquele encontro, até porque, de certa maneira, sentia-me confortável com sua presença. Há tempos não tinha assuntos banais com outros semideuses, sempre que conversava era sobre monstros, lendas, deuses, enfim, parecia que estava cada vez menos conectado ao mundo comum.

Não sabia responder-lhe com precisão sobre o tempo que estava ali. Eu sabia que fazia meses, mas não sabia quantificá-los. Repensei alguns eventos, a fim de tentar obter uma data específica, mas sem sucesso. ┌ Faz alguns meses, na verdade. Permaneci como indefinido por um tempo tempo, até que, bem, todos passamos pelo processo de reclamação, não? ┘Lembrei-me da minha própria e sabia muito bem que esse tipo de reconhecimento só acontecia em casos… Estranhos.

┌ Você conhece o castelo? ┘Sabia da história do Castelo de Psiquê, até por ser um mentalista e ter conhecimento que existia uma espécie de “base” ou “sede” para nós, mas nunca tive oportunidade de realmente conhecê-lo. ┌ Imagino como ele deve ser... ┘

arsenal:

Sorriu, concordando.

— A primeira vez que usei meus poderes foi uma loucura. Demorei muito para vir para cá, no entanto. Eu e Kali... nós eramos garotas perdidas em Nova Iorque antes disso.

Pensou em contar que antes de Kali havia John, um casamento perfeito e um filho recém nascido. Decidiu, porém, que havia coisas que eram melhores enterradas no fundo do baú, para o bem de todos ali.

— O castelo dela é incrível. Fica perto de onde nasci, na tríplice entre França, Alemanha e Suíça. Faz anos que o visitei pela última vez. Como a maioria de nós está nos Estados Unidos, costumam fazer os encontros por aqui mesmo. Coisa da líder.

Deu de ombros, como se nem concordasse nem rejeitasse a ideia. Não é como se Psiquê fosse muito presente em sua vida. Estava entre eles apenas pelas vantagens que ganhara.

Armas, Poderes, Mascote e Observações Finais:

Enquanto escutava a localização do Castelo, imaginei-o imponente rompendo o horizonte, com uma arquitetura similar aos castelos medievais que seriam como fortificação para os senhores feudais. No instante seguinte, era como se recebe uma reforma renascentista, assemelhando-se a os palácios que recebiam toda uma corte, onde as tramas abastadas desenrolavam-se livremente. Eu não fazia ideia de qual das duas imagens agradavam-se mais.

Perdi-me, também, na praticidade das reunião. Indaguei, em meu íntimo, como seria precisar viajar para a europa toda vez que tivéssemos assuntos a tratar e, bem, apesar de ser o sonho de muitos, a mim, parecia trabalhoso demais. ┌ É, acho que não conseguiria bancar tantas passagens aéreas assim. ┘Tentei fazer com que soasse como uma piada, mas eu mesmo não ri.

Não pude deixar de perceber um terceiro nome sendo citado em sua narração, mas não me ative a ele; outro detalhe chamava minha atenção: o uso de anos para referir ao período em que estivera no Castelo pela última vez. ┌ Então você deve ser uma semideusa muito experiente. Anos? Há quanto tempo você realmente convive com essa loucura de mitologia? ┘Não quis parecer evasivo, muito menos perguntar sua idade, mas para mim, um semideus inexperiente, conversar com alguém como Veronika era, digamos, incomum e novas perguntas começavam a borbulhar em minha cabeça — todas elas relacionadas com heroísmo e missões.

arsenal:

Franziu o cenho, como se aquele dado fosse muito estranho para ela.

— Bom, dinheiro não é um problema para nós. Você pode sempre ir ao banco ou ao cassino e manipular as máquinas. Tem muito a aprender, querido.

Sorriu, assentindo quando ele lhe fez mais perguntas. Seu passado era um grande compilado de desventuras, e não exatamente um assunto fácil de se lidar, no entanto, viu-se disposta a contar meias verdades para manter o assunto correndo.

— Bem, considerando que hoje eu tenho trinta e dois... — Pensou um pouco, analisando as datas importantes pelas quais passava todos os anos — Faz uns oito, nove anos.

Girou a aliança na ponta de seu indicador, antes de empurrá-la pelo dedo, ainda que fosse no errado. Não utilizava a joia no anelar há quase tanto tempo quanto.

— E qual é a sua história? Como veio parar aqui

Armas, Poderes, Mascote e Observações Finais:

Como assim dinheiro não era problema? Pensei em todas as possibilidades que aquela informação me trazia e indagava como ninguém a compartilhado antes. Por um momento, passou pela minha cabeça que talvez não fosse assim tão querido pelos outros campistas. ┌ Talvez você precise mesmo me ensinar alguns truques. ┘  

Tentei de todas as formas não parecer surpreso com a idade da semideusa ao meu lado, jamais imaginaria que ultrapasse os trinta anos. E, até onde eu soube, era um idade avançada para pessoas como nós. Quase uma década sendo atacada e fugindo de monstros, envolvida em tramas de seres capazes de dizimar só com o olhar.

Sua pergunta, no entanto, pegou-me desprevenido. Demorei alguns instantes até que lhe respondesse. As ondas tomaram para si minha concentração e, de repente, estava mergulhado em memórias. ┌ Sabe quando você não sabe mais se era um sonho ou se realmente era um evento do passado? ┘  Maldição, não conseguia focar. As palavras esvoejavam em minha mente. Vencido, dei de ombros, tecendo uma história qualquer. ┌ Sátiros e coisas mais, por sorte não foi nenhum monstro quem me encontrou primeiro. É, minha vida é parada demais. Até que eu gosto... ┘

arsenal:

Sorriu, acenando positivamente.

Gostaria que sua vida tivesse sido tranquila. Que o inferno não tivesse irrompido do dia pra noite, que o caos não tivesse se instaurado em sua vida como um vírus. No entanto, tudo tinha acontecido – e rápido como um tiro.

Afastou a imagem da sua família de sua mente, quase que fisicamente negando o ocorrido, e se pôs de pé, afastando a areia de seus jeans surrados.

— Amanhã sairemos em uma missão. Esteja pronto às nove. — Acenou com a destra afastando-se não sem antes de completar sua frase. — Sua vida é parada demais para um meio-sangue.

Armas, Poderes, Mascote e Observações Finais:

Levantei num só movimento tentando digerir as palavras soltas por Veronika. ┌ Missão? Assim? Sem mais nem menos? ┘  Meus olhos piscavam atônicos esperando alguma reação da mulher, que já se preparava para partir. Queria impedí-la, mas meus pensamentos novamente pregavam peças. Não gostava de receber informações assim sem preparo, afinal, eu sempre projetava muitas coisas no que ainda estava por vir. E a insegurança quase sempre batia na porta.

Queria mais respostas, mas algo me dizia que não as conseguiria. Fiquei a observar minha companhia afastando-se com a leve sensação de incapacidade de impedi-la. Tentei chamá-la, mas apenas um grunhido saiu de meus lábios. ┌ Veronika? ┘ Não queria ficar sozinho. Não agora.

arsenal: