Início[RP Fechada] — Páramo; Skylar W. Krøhonen & Veronika Stowe
[RP Fechada] — Páramo; Skylar W. Krøhonen & Veronika Stowe
por Skylar W. Krøhonen Sáb 18 Abr 2020, 16:40
A RP se passa no Acampamento Meio-Sangue, na área da Clareira Florestal. É primavera no hemisfério norte, portanto torna-se comum a presença de pequenos roedores como esquilos e camundongos selvagens pelas gramíneas. As árvores voltaram a dar doces frutos, e o florescer dos arbustos conta com roseiras, margaridas, petúnias e tulipas. O canto dos pássaros ecoa, e uma ou outra dríade contente pode ser vista passeando à distância. De qualquer maneira, é como um pedaço de céu — um espólio do Éden. Sem possibilidades de chuvas e o trânsito de outros semideuses é praticamente nulo.
️ DFRabelo
Re: [RP Fechada] — Páramo; Skylar W. Krøhonen & Veronika Stowe
por Skylar W. Krøhonen Sáb 18 Abr 2020, 17:41
o que foram aqueles olhos de capitu.
chegou dizendo que não tinha visto nada, mas me pedia pra te olhar dos olhos pra dentro.A amplidão era sua única certeza.
Ela e o folgo que lhe escapava dos pulmões — mas até esse lhe parecia, em alguns momentos de confusão e latência, uma mentira. Ultimamente, buscando unicamente a solidez da realidade para que pudesse firmar a si própria nela de uma vez por todas, incitara uma busca frenética e imediata por qualquer artifício que pudesse chamar de âncora: qualquer coisa capaz de mantê-la na lucidez.
Quando não podia pensar ou olhar a abóbada celeste, todavia, concentrava-se na dor, na agonia e na ânsia. Sensações torpes, percebeu, eram tão eficazes quando os efeitos lúdicos do firmamento sobre sua cabeça. Mesmo assim, era ele o responsável por acender a antiga chama da contemplação e dos pensamentos subjetivos pelos quais era reconhecida — era na imensidão de Urano que deixava a mente brincar de modelar formas brancas nas nuvens: dinossauros, lírios e obras dadaístas. E quando anoitecia, as servas de Astéria promoviam um enigma para a garota conectar os pontos e reconhecer as constelações.
Naquele momento, porém, não via nada.
Sobre sua cabeça, o fardo de Atlas era nada mais que uma mistura de turquesa e algodão disperso. Fazia-a pensar se seu olhar era retribuído por qualquer deidade helenística que ocupasse as esferas superiores do existir; mas uma diminuta porção sua sabia que olhava unicamente para o vazio. Tinha-o olhando-a de volta não como um ser sinistro, mas um amigo íntimo.
“É nada mais que um devaneio”, pensou Petit. Apoiou o corpo no banco retrátil que trouxera após fincar os pés do cavalete no chão de grama. A tela branca mediante si era tão enigmática — e intimidadora — quanto a imensidão celeste muito acima.
E como todo enigma, demoraria a ser resolvido.
Por isso, não teve pressa.
O máximo que fez foi coletar diferentes tonalidades de tinta: do vermelho ao azul, dentre muitos espectros dos tons primários e secundários, tornando variado o arsenal de seu godê. Mesmo com o pincel a brincar entre os dedos da destra, não atrevia-se a sujar sua ponta em nenhuma daquelas possibilidades; muito menos macular a pureza alva da tela. Pensou em retratar o firmamento celestial, mas não encontrou nele a inspiração necessária para dedicar-se ao trabalho de eternizá-lo sob sua perspectiva. Também não encontrava uma musa na grama ou nos coelhos, tampouco em um curioso esquilo e nos carvalhos mais próximos.
Deixou que um suspiro longo lhe escapasse, frustrado.
Colocou o godê cuidadosamente sobre as coxas expostas pelos shorts curtos, equilibrando a paleta. Em um espaço próprio, repouso o pincel. Somente então levou as mãos aos cabelos pretos, para que pudesse correr os dedos por ali não em carícias, mas em um movimento ordenado para que o prendesse com a fita de cetim azulado que trazia no pulso. Fazia-o de maneira quase ritualística sempre que precisava de exímia concentração — como se prender os fios em um rabo de cavalo ostentasse capacidades místicas de fazê-la bem sucedida em tarefas como aquela.
Poderia pintar algo fruto de suas memórias, ponderou. Mas se fosse fazê-lo, não pintaria nada de bom.
Re: [RP Fechada] — Páramo; Skylar W. Krøhonen & Veronika Stowe
por Veronika Stowe Seg 20 Abr 2020, 15:50
sentia, a cada passo que dava nos últimos meses, que voltar ao Acampamento tinha sido um erro. não gostava do cheiro, do lugar, das pessoas. sequer gostava da semi mundanidade. veronika não tinha apreço pelos poderes, por sua patrona, nem mesmo por sua progenitora.
e principalmente, sentia falta de casa. de louise, john e kali. de harvard, dos seus colegas de turma e da sua equipe. e se odiava por fazê-lo, porque nada daquilo voltaria.
nunca, nunca mais.
então, enquanto desviava de troncos com precisão, se via rezando no processo, para que todos eles estivesse esperando por ela do outro lado.
seu mantra foi interrompido quando os olhos se grudaram na figura logo à frente. tinha a visto por ali, passeando de um lado para o outro, participando de forma assídua demais de tudo o que o acampamento oferecia. a garota bonita pertencia ao seu chalé e tinha toda a pompa de um lider.
não se deixou acanhar. aproximou-se, sorriso nos lábios enquanto o fazia, antes de chegar perto o suficiente para poder ser ouvida.
— espero não estar incomodando.
Re: [RP Fechada] — Páramo; Skylar W. Krøhonen & Veronika Stowe
por Skylar W. Krøhonen Seg 20 Abr 2020, 16:56
o que foram aqueles olhos de capitu.
chegou dizendo que não tinha visto nada, mas me pedia pra te olhar dos olhos pra dentro.Ouviu-a antes de vê-la.
Os sons dos galhos se partindo e o suave esmagar da grama eram como a anunciação da nova presença, seguida por uma aura densa que era característica daqueles que levavam a noite em seu nome.
Naquele pensamento conceitual — o da familiaridade —, deixou que seus olhos fossem desviados da tela branca onde não havia um traço sequer. Percorreu um caminho ameno pela paisagem abarcada por sua óptica até que repousasse as íris sobre as de outro alguém.
Era parecida consigo própria.
Talvez os genes de Nyx não fossem os mais diversos, imaginou. Ainda assim, deixar de admirá-la seria um pecado para alguém tão aficionada por obras de arte e pinturas consagradas: pois assim era a descrição da invasora. Trazia um pedaço do manto da mãe de ambas usando-o como uma cascata de cabelos longos, e os lábios de flor-de-lis ostentavam um sorriso de quintessência luminoso, adocicado.
Vertia uma beleza fluida, mundana. Diferente da de Skylar — plácida —, a da interlocutora tinha um quê de dinamismo mortalmente intrigante.
— Não está. — A garantia partiu em um timbre comedido, carregado pelo sotaque característico da jovem Weiz. Ergueu uma sobrancelha: — Na verdade, você chegou no momento certo.
Referia-se ao godê de madeira entre os dedos.
Somente após minutos de uma espera lancinante, mergulhou o pincel no negrume da tinta. Levou-o ao quadro, deslizando com suavidade para baixo: começava a replicar-lhe a cabeleira que emoldurava seu rosto.
— Veronika, sim? — Embora não afastasse os olhos do que fazia, conseguia conciliar o diálogo com o ofício. — Não fomos oficialmente apresentadas. Sou Skylar. — Pausou.
Analisou-a por breves instantes; não unicamente para captar seus detalhes, mas para vê-la melhor com precisão. Não eram apenas irmãs de sangue, mas também de séquito. Particularmente, Krøhonen não conhecia muitos de seus parentes que fossem interessados em Ordens além de suas afiliações no acampamento.
— Não a vejo sempre por aqui. — Petit arriscou. — É uma viajante?
Re: [RP Fechada] — Páramo; Skylar W. Krøhonen & Veronika Stowe
por Veronika Stowe Qua 22 Abr 2020, 16:13
seus olhos estavam presos na irmã, atentas a movimentação sutil que pregava contra a tela. não dava atenção às outras coisas – mas bem que deveria. se o fizesse, teria percebido o pequeno esquilo que passou a não muitos metros de si, a borboleta que as sobrevoava como uma maldita auréola.
— vai me pintar, skylar? — questionou, inocente, ainda que o sorriso ladino inundasse seu rosto. veronika queria acreditar que era um anjo, no fim das contas.
mas... não era assim tão simples.
por isso, quando skylar falou novamente, sentiu que era sua deixa para desviar seus olhos em direção ao farfalhar distante, como se procurasse algo. alguém.
nada ao mesmo tempo.
— acho que estou mais para uma moradora fixa, no fim das contas. faz muito tempo que não passo por aquele portal. — desabafou, sentindo o peso sair de suas costas. pensou em atlas, involuntariamente. ele se sentiria daquela forma em algum momento? — e você? qual sua história?
estava brincando, mas tinha uma gota de verdade em suas palavras. estava genuinamente curiosa, pois não conhecia muitos irmãos, sequer tinha chance de conversar com eles.
Re: [RP Fechada] — Páramo; Skylar W. Krøhonen & Veronika Stowe
por Skylar W. Krøhonen Qua 22 Abr 2020, 18:20
o que foram aqueles olhos de capitu.
chegou dizendo que não tinha visto nada, mas me pedia pra te olhar dos olhos pra dentro.Ela tinha um comportamento inusitado.
Ainda assim, entrava em concordância com a plasticidade do momento. Parecia ter sido, de algum modo ainda não decifrado por Krøhonen, esculpida não somente àquele como qualquer cenário onde estivesse. Era uma característica única, refletiu; colocava em pleno funcionamento as difusões e perspectivas artísticas da mais nova.
Era o momento de pintar-lhe os olhos, pois fizera as sobrancelhas da mesma tonalidade escura dos cabelos compridos. Então limpou o pincel e selecionou um tom novo, díspar daquele que era a ausência de cores — por sua vez, roubou do godê doses de três diferentes tonalidades glaucas para mimetizar os olhos de Veronika.
Viu-se em face ao dilema de algumas telas.
Nunca passavam, de fato, o que queria que fosse transmitido.
Por breves segundos, pensou em como dar ênfase aos olhos oblíquos e penetrantes de Stowe. Foi retirada de seu ateliê mental quando a voz da interlocutora chegou-lhe aos ouvidos atentos em um questionamento cínico.
— Ah, eu faço o meu melhor. — Deu de ombros, vide que seu talento para a pintura fora uma descoberta muito recente. Os retratos que fazia nada mais eram que obras abstratas de si e de como enxergava a natureza.
Aquela era a primeira vez que, de fato, pintava algo sólido o suficiente como Veronika.
Se é que poderia descrevê-la com aquela palavra.
— É apenas um ensaio. — Proclamou, permitindo que o pincel fizesse delicadas circunferências para promover olhos entusiastas na pintura.
Questionada sobre si, sua história, Weiz fez quase nada. Apenas remexeu-se como se quisesse consertar a postura de anteriormente, incomodada por algo. Curiosidade, ao que parecia, era uma característica comum entre aqueles que compartilhavam seu sangue.
Petit suspirou:
— “Qual a sua história?”, você disse. Não acha curioso como apontamos apenas eventos passados como resposta para uma pergunta dessas quando, na verdade, nossa história está constantemente acontecendo e se alterando? — Skylar, toda de jeitos inteligentes e delicados, tinha aquela fala mansa que era acompanhada por um olhar tranquilo como os céus daquele momento. Pois era daquela forma: uma mente em expansão em um corpo que ainda descobria por infelizes destinos o fardo do sangue dourado diluído em suas artérias.
Riu baixinho, sem deixar que o pensamento sobre seu pragmatismo inato sumisse. Penitenciou-se.
— Perdão. — Pausou a pintura. Olhou para a irmã não somente para captar seus detalhes para voltar ao trabalho, como também para tentar decifrar sua expressão. — Cheguei há poucos meses, da Irlanda do Norte. Morava em um condado campestre próximo à capital, Belfast, sempre evitando centros urbanos ou multidões para não atrair… Você sabe.
Um toque aqui, acolá — não mais replicava seus olhos, e sim os traços de seu rosto.
— Fui trazida ao continente americano e, bom… — Conseguiu abrir um sorrisinho. — Cá estou eu, vivendo como posso.
Fora sucinta, prática. Talvez em detrimento de não gostar de remoer todas as lembranças até aquele momento, Skylar falava pouco ou quase nada sobre sua vida antes da reclamação de Nyx.
Era como se não conseguisse acessar aquelas memórias sem sentir dor.
— E você? — Perguntou com cuidado, apenas pelo bem estar do diálogo. Digo, não era como se não se importasse, apenas não queria ser invasiva. Melhor que ninguém, Weiz sabia como o passado podia ser difícil de ser confrontado e exposto. — Tem alguma história para me contar? Não precisa, se não quiser.
Re: [RP Fechada] — Páramo; Skylar W. Krøhonen & Veronika Stowe
por Veronika Stowe Qua 06 maio 2020, 15:32
porque queria comentar muitas coisas naquele momento. queria lhe dizer que adorava o jeito com que as folhas batiam uma contra as outras, as casualidades, os encontros descompromissados e os clichês.
deus, como amava os clichês. era impossível não fazê-lo, tinha sido criada em uma bela casa no sul do país, banhada pelos trezentos e sessenta dias de sol que clearwater prometia, ainda que tivesse nascido numa pequena cidade da frança. frequentara os melhores colégios, tinha entrado em harvard – quem diria? – e se casado com o aluno mais popular da turma de medicina.
veronika era um clichê ambulante até... até o inferno começar. decidiu que não falaria sobre nada daquilo.
sorriu, deixando que sua cabeça meneasse em sinal de concordância.
— minha vida é um saco, sempre foi. já fui casada e até consegui um diploma bonito mas... — o mundo semidivino me alcançou — mas deixei tudo para trás para vir pra cá.
Re: [RP Fechada] — Páramo; Skylar W. Krøhonen & Veronika Stowe
por Skylar W. Krøhonen Qui 14 maio 2020, 17:12
o que foram aqueles olhos de capitu.
chegou dizendo que não tinha visto nada, mas me pedia pra te olhar dos olhos pra dentro.Perdurou um silêncio incólume.
Foi inevitável o movimento corrediço dos olhos estelares de Skylar rumo ao semblante de Veronika.
Apesar do mínimo sorriso que havia surgido nos lábios fartos de outrem, a expressão de apatia contrariava as intenções do primeiro ato. Fez com que — de maneira involuntária —, Sky liberasse um suspiro lastimoso que aqueceu o ar de primavera.
No lume de suas íris, a mais profunda e genuína compreensão.
— Sinto muito. — A falácia foi inevitável, pois não sabia o que dizer, de fato. Restou a si um espaçamento breve entre as ações até que recuperou a firmeza nas falanges para que, daquele modo, pudesse finalizar o esboço de um desenho de contornos tão quiméricos quanto os da garota consigo.
Na tardança dos atos seus, Weiz permitiu que seu próprio timbre novamente ganhasse o lugar:
— Acho que temos destinos incertos que, infelizmente, nos levam a caminhos inimagináveis. — Era um discurso tolo que havia absorvido há algum tempo, mas lhe pareceu verdade naquele espaçamento de sentimentos. — Não que isso seja totalmente ruim; talvez você encontre um poço de positividade ou uma explicação para as suas perguntas mais lá na frente.
Era como preferia pensar, porém. Senão, sabia que sua sanidade correria entre seus dedos tal qual água.
— Sei que… sente saudades de casa. — Krøhonen usava mais que a percepção do espaço físico naquele átimo de tempo. Trabalhava a ideia por trás. — Mas nada a impede de firmar raízes em outro lugar, de uma forma totalmente nova.
Terminou.
Os ombros ligeiramente se curvaram para a frente quando, de propósito, perdeu a postura anterior. Afastou alguns fios rebeldes da face para que tivesse-a totalmente livre quando virou para Stowe com os olhos grandes brilhando com as possibilidades que surgiram.
Skylar, sempre tão sonhadora…
Talvez esse fosse seu maior defeito.
— Quer ver como ficou? — perguntou em um murmúrio tímido. — O desenho, digo.
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