— anger, mne para joel hunter

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O chão frio e úmido foi a primeira coisa que senti quando acordei em um lugar onde rapidamente constatei que não era a minha cama. Logo depois, a cabeça latejando, uma dor na têmpora acompanhada de uma voz que, com certeza, não era da minha consciência. Vamos jogar um jogo, meio-sangue? Siga seu reflexo. Eu não fazia a mínima ideia do que aquilo significava, mas dada as minhas recentes experiências como semideus, sabia que não iria gostar de descobrir.

Não demorou muito para que meus olhos pudessem se acostumar com o ambiente de iluminação fraca e prateada, revelando um cenário misterioso e incrivelmente bizarro. Apesar da névoa espessa, pude identificar os corredores formados pela vegetação densa do local. As plantas pareciam formar uma espécie de parede viva com algumas partes cobertas por espelhos (ou, pelo menos, pedaços deles), com os corredores indo em diferentes direções. Apesar de estarmos no verão, a temperatura do local era tão baixa que eu conseguia ver minha respiração. Por sorte, eu trajava minha velha jaqueta jeans, juntamente com uma calça preta velha e rasgada e os vans surrados. A camisa laranja do Acampamento Meio-Sangue parecia mais desbotada que o normal.

Ótimo. Mais um dia acordando em um lugar desconhecido onde provavelmente vou ter que lutar para não morrer. Eu nem me surpreendo mais, pensava comigo mesmo antes de perceber que eu não estava sozinho. Mais duas ou três pessoas se encontravam no mesmo lugar que eu. Por causa da neblina, não consegui identificar nenhuma característica física deles, apenas pareciam estar tão confusos quanto eu, o que de modo algum significava que eu estava em segurança. Instintivamente, levei minha mão até as costas e percebi que Bergkross estava lá, assim como a adaga presa a minha cintura.

Não sabia onde estava nem como havia chegado ali, mas talvez os outros que se encontravam em meio e neblina branca e fria pudessem me oferecer algumas respostas. Me dirigi até um deles, que se encontrava a pouco mais de uns três metros de mim, enquanto cada fibra do meu corpo gritava que era perigoso até mesmo andar por aquele local, porém eu não tinha escolha. A voz continuava a ecoar na minha cabeça, porém ficava mais fraca a medida que me aproximava da outra criatura.

— Hey, tem alguma ideia de onde nós estamos? — Indaguei, ainda sem conseguir identificar o rosto com quem eu iniciava a conversa.

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Ainda de costas, o garoto confirmou que sabia tanto quanto eu sobre a situação na qual nos encontrávamos. Mas eu sei que tenho de seguir meu próprio reflexo. Não é isso que estão pedindo?, ele disse. Estremeci com a voz, que soava de modo infantil, triste e distante, quase como se fosse o eco de um lamento reverberando por uma caverna vazia. O rapaz então se virou, revelando a face lisa e vazia. Sem boca, olhos ou nariz. Dei um leve passo para trás, horrorizado com a cena, porém a criatura não pareceu se importar.

Logo depois, o lugar começou a estremecer. Os corredores e suas paredes se mexiam, criavam novas curvas, se retorciam e mudavam de sentido. O chão tremia e parecia, lentamente, rodar em torno do seu eixo central, enquanto os espelhos nas paredes se movimentavam de forma a formar algum tipo de sinalização na parede, indicando o caminho por um dos corredores. Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, o Garoto Sem Rosto seguiu pela rota indicada.

Dadas as circunstâncias, resolvi segui-lo. Não que eu tivesse muitas opções, porém ficar sozinho naquele lugar não me parecia ideia. E apesar da aparência bizarra do rapaz, ele não parecia ser perigoso. Pelo menos, não até aquele momento. A medida que seguíamos pelo corredor sinuoso, em completo silêncio, eu tentava descobrir o que poderia significar "seguir o próprio reflexo". Obviamente não era o que eu estava fazendo, pois aquele quem eu seguia não era reflexo de ninguém. O caminho escuro deu, enfim, em um pequeno bosque com poucas árvores cercando o lugar gramado.

— Para alguém que não faz a mínima ideia de onde está... —Eu disse, me aproximando com cuidado do garoto enquanto avaliava o local, com a mão direita perto do cabo de Bergkross, que permanecia presa as minhas costas. — Você parece estar bem tranquilo com tudo isso. O que está acontecendo? — Tentei soar firme. Não estava gostando do rumo que aquela situação estava tomando.

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— Engraçado, eu ia te fazer a mesma pergun... — Ao olhar meu reflexo no espelho que o rapaz apontava, fiquei horrorizado. — Mas que merda? Roubaram a minha cara também?

Antes que eu pudesse continuar meu chilique, o lugar começou a se mover novamente, mas dessa vez os corredores pareciam se fechar, prendendo eu e meu novo amigo do Clube dos Sem Cara na clareira. Parecia que se eu quisesse recuperar minha face, deveria começar a pensar em um plano para descobrir o que estava acontecendo ali e quem (ou o que) estava por trás disso. E talvez a maneira mais eficiente de conseguir fazer isso era jogando o jogo que nos era proposto.

— Hey, seja lá qual for seu nome. — Falei para o rapaz, tentando permanecer calmo. — Não sei o que está rolando aqui, mas eu acho que você quer seu rosto de volta tanto quanto eu. Vamos tentar sair dessa merda juntos, o que me diz? —  Estendi a mão para ele, enquanto os corredores se fechavam. Se quiséssemos voltar para casa, deveríamos trabalhar em equipe. Afinal, não sabíamos o que esperar nos próximos instantes.

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Antes que a possível aliança pudesse ser firmada com um aperto de mãos, o barulho dos galhos secos seguidos do grito gutural e furioso vindo de uma das árvores desviou minha atenção. A vegetação, que antes era só mais um elemento do ambiente, agora era o primeiro perigo real que se apresentava desde que estávamos ali. O passeio só melhorava.

Ao menos toda essa agitação serviu para atiçar meus instintos de batalha, pois enquanto os troncos e galhos das outras árvores se curvavam e tentavam engaiolar a mim e ao meu amigo sem rosto, saquei Bergkross das costas. O plano era simples, mas se desse certo seria ao menos eficaz no primeiro momento: com movimentos semicirculares com a espada, eu tentaria afastar os galhos mais próximo enquanto saía o mais rápido possível do alcance da armadilha do ente. Torcia para que o rapaz que me acompanhava no labirinto soubesse se virar sozinho, mas por via das dúvidas o arrastaria comigo para fora do raio de ataque da besta, agarrando-o pela gola da camisa.

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Missão cancelada por falta de postagem.