Ficha de Reclamação

O que dizer sobre esse momento tão especial na vida de uma pessoa, e da qual ela não lembra nada? Apenas que foi um nascimento sem intercorrências, do jeitinho que deveria ser, apenas Doug, sua amada mãe, 2 Médicos Obstetras, 1 Cirurgião Generalista e 4 Enfermeiras. Sem pai, obviamente, mas essa sina era apenas o começo e o garoto logo se acostumaria.

Viver é uma arte. Para alguns, uma festa. Este era o caso para Doug. Desde que começou a andar foi um pequeno estorvo na vida de sua amada mãe. Aos 4 anos ingressou na pré escola e falava mais que a boca. Tinha a necessidade de interagir com cada criancinha que o cercava. Falava com as professoras, as tias que servem lanche e as tias que limpas a cozinha, ninguém escapava.

Aos 7 anos  ingressou o ensino fundamental e nada mudou. Aliás, só piorou. Teve seu primeiro contato com bebidas nessa época, enquanto conversava com o zelador da escola. A intenção dele era, ao observar a reação do garoto cuspindo tudo e fazendo coisas-que-crianças-fazem, rir histericamente e ensinar a ele uma lição de moral, de como beber é errado e que ele não deveria fazê-lo. Mas o que aconteceu não estava bem planejado. Doug pegou o copo e tomou todo o conteúdo, como se fosse... Seu toddynho do café da manha. Depois disso, devolveu ao zelador com um sorriso no rosto e lhe deu um abraço. Não sei o quanto já foi explicado, mas Douglas é um garoto inglês, nascido e criado em Liverpool. Lá, as pessoas não saem por ai distribuindo abraços a estranhos, mas é assim que ele é.

Até os 10 anos, sua vida foi bem pacata. Sua primeira série foi um ano de descobrimentos. Descobriu as divertidas aulas de matemática e as aterrorizantes aulas de literatura inglesa. Fez vários amigos e amigas, alguns inclusive de outras salas. Além disso, continuou a falar com o zelador. É claro que ele não ofereceu mais bebida alguma para o garoto, mesmo esse pedindo toda vez que se encontravam. Sua segunda e terceira série passaram mais tranquilas ainda. Em sua quarta série descobriu um sentimento bem confuso denominado por sua mãe como amor. Ela explicou que o amor é quando você gosta muito de uma pessoa e faz de tudo para que ela possa ser feliz. Daquele dia em diante Douglas estava convicto que amava Louis e faria o que pudesse para que ele fosse feliz, assim como lhe ensinara sua mãe.
Aos 11 anos, depois de um passeio para o museu de Londres, Douglas deu seu primeiro beijo e foi uma das sensações que ele mais se recorda. Foi no pátio de sua casa, quando se despedia de sua primeira paixão. Esse foi o último ano no qual teve paz.

Aos 12 anos, sua vida estava no ápice: Seu desempenho escolar era maravilhoso. Era o segundo ano seguido que ganhara o prêmio Shakespeare mirim como melhor desempenho no teatro escolar. Aprendeu a roubar liquores caseiros e esconde-los muito bem em sua casa na árvore, na qual passava horas com seu namorado, até aquele dia. Um dia que o marcou profundamente. Enquanto subia as escadas para encontrar com Louis onde sempre o encontrava, o zelador surgiu correndo em seu gramado, o desespero estampado em seu rosto. Pela primeira vez Douglas pode perceber que o zelador mancava. Na verdade, ele galopava, pois no fim de suas pernas, dois cascos lustrosos substituíam o que normalmente são sapatos pretos sociais bem lustrados. Depois disso tudo aconteceu muito rápido. Tudo que o Zelador disse foi “Corra. Para longe, agora!”Obviamente o garoto não obedeceu. Quase que para puni-lo, uma mulher com pernas de passarinho passou voado em um rasante fazendo um corte no ombro de Douglas e pousando no topo da casa da árvore. O garoto soltou um grito histérico que chamou não só a atenção de sua mãe, que se encontrava do lado de dentro de casa, mas de Louis que ainda estava dentro da casa da árvore, aguardando seu par.

Sua mãe veio a seu socorro empunhando uma faca antiga e acobreada que ficava perto do pegador de salada, punho erguido e cenho furioso. Louis, no entanto, não foi tão pro ativo assim e simplesmente colocou a cabeça para fora da janela indagando o que estava acontecendo. Com lágrimas nos olhos Doug conseguiu apenas pronunciar “Fuja Lou” antes de presenciar o primeiro amor de sua vida sendo agarrado pelo pescoço e arremessado ao chão. Só agora Douglas percebia que a mulher pássaro não estava sozinha. Mais outras duas a acompanhavam e como se tivessem sido ligadas no momento em que ele as viu, começaram a dilacerar o corpo de Louis com suas garras e comer sua carne. Presenciar aquilo trouxe vários sentimentos ao garoto. Douglas jogou o corpo para frente e se sentiu enjoado. Largou sua ferida e levou as mãos ao rosto, se sujando de sangue. Tentou conter a sensação, porém cedeu ao mal estar e vomitou, não uma mas duas vezes, as lágrimas correndo seu rosto. Depois se sentiu irado. Um calor tomou conta de seu corpo e soube que era o que deveria fazer, deveria mata-las. E mesmo que não devesse era o que gostaria de fazer. Queria desmembra-las e separa-las em pedaços tão pequenos que não saberiam diferenciar a perna do braço. Quando finalmente levantou a cabeça percebeu o que estava acontecendo enquanto se lamentava. Sua mãe havia partido para cima das mulheres pássaro, juntamente com o zelador, que agora empunhava uma lança dourada e brilhante com mais agilidade do que deveria para sua idade. Um pouco depois de investirem contra elas um grito e uma mulher pássaro se transformou em poeira no meio do ar. Sua mãe estava se mostrando uma adversária feroz e ágil, manejando sua faca brilhante com uma destreza desconhecida. Já o zelador, mesmo tendo surpreendido pela velocidade na qual desferia os golpes estava ficando para trás. Não demorou muito para ser atingido, de maneira profunda no peito, derrubando a lança para trás e deixando escorrer uma torrente de sangue. Desta vez não houve hesitação. Doug levantou em um sobressalto, deixando a dor de seu ombro de lado e agarrou a lança caída próxima ao corpo do zelador e em uma estocada furiosa trespassou o meio da cabeça da mulher pássaro mais próxima, que caminhava para terminar o seu trabalho explodindo no ar deixando um monte de poeira no jardim. Virou para encarar a última mulher pássaro que tentava arrancar a faca da mão de sua mãe, mas sempre recebia um novo corte quando tentava. Investiu ferozmente contra ela também errando por pouco e chegando à árvore onde guardava seus liquores. Lembrou-se então da sensação de tinha quando bebia, de que poderia fazer o que quisesse e tudo era possível. Investiu contra o chão de sua casa na árvore e derrubou algumas garrafas. Agarrou a mais próxima e virou todo seu conteúdo, sentido aquele fervor invadindo seu corpo inteiro e aquela fúria tomando conta. Correu em direção a sua mãe na maior velocidade que conseguiu e investiu novamente sua lança contra a Mulher Pássaro, novamente sem sucesso. Empurrou sua mãe para trás, derrubando-a no chão e enfiou a ponta da lança na ferida em seu ombro, sem sentir dor por estar inebriado devido ao álcool. Tiro bruscamente movimentando em direção a mulher pássaro acertando-a com sangue e cegando-a temporariamente. Aproveitou o momento de desleixo dela para acertar com o corpo da lança em sua barriga e derruba-la no chão. Caminhou em sua direção e perfurou ambas as asas, fazendo vários buracos, pequenos para mata-la, porém suficientes para impedi-la de voar. Perfurou-a várias vezes, evitando os locais mais importantes e apreciou cada urro que arrancava. Finalmente, após uma estocada um pouco mais violenta ela se desfez em pó.

A data era seu aniversário de 14 anos, mas a vontade de celebrar lhe faltava. Sentado em sua casa da árvore, mirava o chão remendado com um grande pesar e se encolhia em um canto, entornando garrafa após garrafa. Sua mãe se esforçava e não era realmente sua falta. Seu pai... Nem sabia quem era e isso o irritava bastante. Desde a morte do zelador isso o tem incomodado. E não por acaso. As últimas instruções que recebera, antes de vê-lo juntar-se ao seu gramado e criar uma singela flor em seu lugar, foi a de encontrar seu pai em Long Island. Encontrar seu pai... Porque aquele inútil não poderia simplesmente encontrar o caminho pra casa! Resolveu entrar e se enterrar nas cobertas. Sua mãe entenderia seu mal humor, tinha certeza disso. E o dia se seguiu como qualquer dia poderia seguir. Até aquele sonho estranho lhe invadir. Sonho no qual um gigante de um olho só invadia sua casa, comia a cabeça de sua mãe e depois o matava com um soco que separaria seu tronco de suas pernas. Definitivamente, não era o que queria. Antes de acordar em um sobressalto repentino, ficou admirando a cena de fora, como um observador que assistia a sua própria morte. Então um sussurro tomou seus ouvidos. Ele deixava bem claro, esse é seu futuro caso se recuse a ir para Long Island. O ciclope inclusive já estava a caminho e deveria partir hoje. Como negar a um pedido tão amável como este?

Fitou o teto por alguns minutos e se levantou relutante. Juntou algumas roupas e enfiou em um saco. Um par de calças e umas três camisetas seriam suficiente. Calçou seu tênis preferido e foi à cozinha recolher a adaga acobreada de sua mãe. Enfiou no cós da jeans e saiu pesaroso, porta a fora. Passou um, dois, três dias sentado no centro da cidade e resolveu que tinha fome. Andou sem rumo pelo centro e percebeu que chamava a atenção das pessoas que passavam. Mas não de uma maneira ruim. Não se dera conta do quanto realmente era bonito Aproveitou que a noite viria logo e se encaminhou em direção a moças de aparência bem liberais. Não foi difícil conseguir o que queria. O centro era podre. Naquela mesma noite conseguiu a comida que precisava, um banho e roupas novas. Depois continuou a procurar por mais comida e encontrou uma casa que o acolhesse. Homens e mulheres cobiçavam seu corpo por ali e ele apenas concordou. Ficou nisso por alguns dias, não sabia quantos na verdade. Alimentou-se, comprou roupas e até se divertiu. Mas as malditas mulheres pássaro pareciam não gostar dele. Chegaram quebrando a porta e fazendo muito barulho. Desta vez não perdeu tempo. Sacou sua adaga acobreada e saltou ferozmente sobre a mulher pássaro maldita mais próxima, esfaqueando seu peito e provocando uma tempestade de poeira. Aquela sensação de dor o invadia novamente e logo percebeu que algo estava rasgando suas costas. Ao mesmo tempo, a terceira mulher pássaro avançava ferozmente em seu braço, garras amostra. Parecia ser seu fim mas, de repente vários móveis começaram a ser arremessados em sua direção, acertando ambas as mulheres pássaro remanescentes em cheio. Isso deu tempo para respirar e avançar em seu agressor mais próximo, esfarelando-o no chão em uma explosão de poeira. A última atacante finalmente se recuperava e partiu para o ataque novamente, fincando algumas de suas garras na barriga do garoto. Agarrando-se a pata dela, um puxão repentino e uma esfaqueada rápida, provocando uma explosão em pó. Não estava seguro e nunca esteve. Precisava com certeza ir a Long Island.

Quanto tempo já não conversava com alguém? Ou melhor, a quanto tempo já não via alguém? Pulando de contêiner em contêiner por cerca de uma semana, vem procurando o navio que iria leva-lo como presente de carga para os Estados Unidos. Finalmente tinha certeza de que esse navio iria até seu destino. Adentrou seu novo “contêiner – casa” e caminhou lentamente até seu fundo, cabeça baixa. Foi quando percebeu que o chão possuía um rastro de sangue e alguns restos de frutas espalhadas. A simples idéia de poder encontrar um ser vivo, qualquer que fosse sua índole, o encheu novamente de esperança. Retirou sua lanterna que recebera de presente de um mestre de obras que não tinha como paga-lo e apontou para o fundo do recinto. Iluminou brevemente o que parecia uma menina, acuada e aturdida, parecia pouco nutrida e sangrava devido a um ferimento no ombro esquerdo. Doug avançou sem pensar duas vezes em direção a ela. Enquanto caminhava, pegou em sua bolsa de viagem uma pequena garrafa de pinga e um pouco de esparadrapo que havia conseguido com uma enfermeira que conhecera pouco antes de partir em viagem. Chegando bem próximo a ela, ajoelhou-se a sua frente e começou o discurso do “Não tenha medo, não vou te machucar e etc”, mas foi interrompido por um pedaço que vidro que fora enfiado sem aviso em seu braço. Obviamente, o garoto não gostou de tal atitude, ninguém gosta de ser perfurado por objetos estranhos de procedência duvidosa. Tomado por um momento de ira fitou demoradamente o rosto de sua agressora e não conseguiu prosseguir com tal atitude. Sua postura era toda retraída, sua anatomia frágil, seus olhos sofridos. Tremia e chorava enquanto sangue escapava da bandagem vagabunda que havia utilizado, com uma tentativa medíocre de conter o sangramento. Ao invés de sentenciá-la digna de sua fúria, ofereceu-lhe sua compaixão e a abraçou, beijando sua testa e balançando para frente e para trás até que ambos caíram no sono.

Quando despertaram já não eram mais desconhecidos. Dividiram algumas frutas roubadas e se divertiram concertando um ao outro. Passaram uma agradável viagem conversando e discutindo quem era mais azarado ou quem tinha os pais mais cretinos ou até mesmo quantas vezes já haviam comido pizza na vida. Afinal eram apenas crianças. Doug no auge de seus 16 anos, um homem de feições invejáveis, corpo esculpido, cabelos enrolados e bem cuidados e uma barba a fazer que o tornava irresistível. Diane com sua composição mais delicada, longos cabelos sujos e loiros, olhos claros como um dia ensolarado. Tez Alba como a neve e um corpo invejável para uma menina em seus 15 anos. Conversaram por horas que se tornaram dias, dias que se tornaram semanas e semanas que pareciam não ter fim. Por fim, três semanas depois de se conhecerem desembarcaram no porto de Miami, sorriso estampado no rosto e almas entrelaçadas.

Acordar todo dias às 7 da manhã para uma corrida na orla da praia, muito bem acompanhado. Perder de 30 a 40 minutos fazendo barra, flexões, abdominais, levantamento de peso, também muito bem acompanhado. Beijar sua companhia duas ou três vezes enquanto se exercita. Essa era a rotina que estava acostumado, todas as manhãs desde que se estabilizaram nessa cidade quente e bonita que é Miami. Nem sempre foi assim, claro. Dois adolescentes sozinhos em uma cidade grande e caótica como essa poderia resultar em desgraça, muita dor e até em morte. Talvez para dois adolescentes normais, porém há muito tempo já haviam percebido que eles não eram normais. Douglas era capaz de enganar qualquer um com quem encontrasse, fazendo-o acreditar que era filho de alguém muito importante e que receberiam uma recompensa caso o ajudassem, ou até mesmo que ele era alguém muito importante que precisava de um trocado, ou um pouco de comida. Enquanto isso, Diane nunca recebia um não como resposta. Ela só precisava de 5 minutos para dobrar qualquer um a fazer o que queria, ou para conseguir o que queria. Isso começou a garantir uma certa estabilidade financeira para ambos. Podiam comer três vezes todos os dias, tinham mais do que apenas uma peça de roupa, podiam inclusive tomar banhos! Mas todo poder vem com seu preço. Vez ou outra eram perseguidos e atacados por mulheres pássaro nervosas, cachorros do tamanho de vacas, homens gigantes de um olho só. Doug ainda possuía a faca dourada de sua mãe e Diane aparentemente possuía um par de pequenas lâminas que empunhava com certa destreza. Ainda assim, cada encontro era permeado pela incerteza da vitória, a chance infortuna de ceder aos inúmeros ferimentos e ao cansaço e de trocarem de lugar com os monstros que derrotavam. Por isso, ficou acordado que começariam a treinar entre si. Todos os dias fariam atividades físicas. Após o almoço treinariam em uma academia para aprender a lutar e se manterem em forma. Ao fim do dia conseguiriam algum dinheiro com algum truque ou jogatina e antes de dormir um pouco de treinamento prático usando as armas que possuíam. Esse esquema funcionou por cerca de um ano e meio, até que falhou.

Um dia como outro qualquer, Doug e Diane se divertiam na praia e, enquanto construíam um castelo de areia perceberam a aproximação de uma senhora. Trajava um longo vestido rendado cor de rosa que se arrastava pelo chão, com um chale vermelho de tricô nas costas e um grande chapéu amarelo para proteger-se do sol. Provavelmente passaria despercebida não fosse o fato de mancar, ser corcunda e estar vestida assim na praia. Veio se aproximando vagarosamente até que chegou a uma distancia de cerca de dois metros do casal e ali estagnou, como se esperando por algum sinal. Como se atendendo a alguma oração silenciosa dois sinais se fizeram presente na cabeça do casal em cores roxo e rosa. Em um sobressalto quase que ninja, a senhora se aproximou dos dois e agarrou-lhes o braço, dizendo que precisavam ir com ela e que não estavam seguros. E como se para provar que ela estava certa, a distância eles puderam avistar dois homens – boi gigante com dois machados não – tão – amigáveis. Como ninguém conseguia ver essas coisas também sempre foi um mistério para o rapaz, mas o que interessava é que esses bichos também não se interessavam muito pelas outras pessoas. Parecia que eram guiados até eles como se atraídos por alguma coisa. Desenterraram suas armas e se colocaram em prontidão para o que iria acontecer. A senhorinha entrou em desespero e começou a mancar sem rumo fazendo movimentos bruscos e balbuciando coisas ininteligíveis. Atacaram coordenadamente, sincronia perfeita de movimentos resultado de quase dois anos de convivência. Cortavam de um lado ao outro dos monstros sem serem atingidos, deixando-os mais bravos ainda.

Percebendo que era muito difícil acertá-los, os dois homens bois se voltaram para a senhora – louca – e – manca. Uma breve troca de olhares e ambos já sabiam o que deveriam fazer: Cada um foi atrás de um homem boi. Doug pulou nas costas do inimigo mais próximo e começou a esfaqueá-lo na altura do pescoço. Diane, porém, não foi tão bem sucedida. Ao chegar próximo de seu inimigo, esse virou violentamente e a acertou na altura do estômago, arremessando-a violentamente contra um coqueiro. Sangue começou a escorrer vagarosamente por dois cortes que se abriram lateralmente em sua barriga. Levantou-se e caminhou vagarosamente para terminar o que havia começado. Douglas, ao perceber a gravidade da situação tratou de se livrar logo do que estava fazendo ficando-lhe sua faca direto no crânio do monstro em que estava montado, fazendo-o se reduzir a uma pilha de pó. Depois, começou a correr para interceptar o outro monstro, antes que este pudesse se aproximar de Diane. Em um salto, montou em seu novo inimigo e tentou repetir sua façanha. Porém, ao encostar sua lâmina no homem touro foi surpreendido com um giro brusco que o levou de forma dolorosa ao chão. Antes de perceber o que estava acontecendo levou um coice que o fez rolar 3 metros pela areia. Tudo parecia estar em seu fim e suas chances de vitória esvaiam, assim como o seu sangue o fazia agora. Não havia percebido o quão machucado realmente estava até aquele momento, mas isso para ele não fazia diferença, pois iriam todos morrer, ele, Diane e a senhorinha estranha. Por falar nisso, por onde andaria a senhorinha? Parou para procurá-la e a encontrou facilmente parada, olhos fechados e mãos juntas, como em oração. De repente o chão se revoltou. Ventos violentos junto a rajadas inexplicáveis de água começaram a punir o homem touro por tudo que ele fez até agora. A areia parecia querer engoli-lo e o vento parecia querer apagá-lo de sua existência. Por fim, três cortes precisos foram aplicados no rosto, pescoço e tórax do monstro, o que o tornou pó instantaneamente.

Diane havia terminado o serviço e se arrastou em direção ao garoto, sangue escorrendo pela lateral de seu corpo. Deitaram ambos, lado a lado e compartilharam um beijo. Um beijo que fazia todo sacrifício valer a pena, que dava sentido à luta. Ficaram alguns segundos assim, até que foram interrompidos pela senhora corcunda, que começou a despejar informação atrás de informação. Aparentemente essa senhorinha se chamava Gaiade e era um Driade bem bem antiga. Além disso, eram filhos de deuses do olimpo. Tudo parecia uma enorme loucura sem sentido, mas explicava porque a vida deles era tão ridiculamente diferente das pessoas normais. A última coisa que ela disse foi que ambos iriam morrer, mas ela conseguiria salvar um dos dois, devido à gravidade dos ferimentos. Um silencio súbito se seguiu, até que Diane resolveu fazer o primeiro movimento. Com lágrimas nos olhos, deu seu último beijo no rapaz enquanto sussurrava um doido “Eu te amo”. Depois disso, simplesmente juntou toda força que tinha e começou a sufoca-lo. Obviamente Doug não esperava por isso e nem tinha forças para lutar. Mas pensou que assim seria melhor. Ele a amava e se amá-la significa morrer sufocado para que ela tenha a chance de sobreviver, porque não?

Abriu os olhos com um grito e tentou se levantar, sem sucesso. Seu corpo parecia não responder a seus comandos. Virou levemente a cabeça para tentar descobrir onde estava. Várias camas com pessoas feridas estavam a seu redor e algumas pessoas passavam de cama em cama checando-os. Seu grito repentino parece ter mudado um pouco a rotina. Três pessoas vinham agitadas em sua direção enquanto um quarto integrante saia correndo e gritando porta a fora. Quando finalmente percebeu que estava vivo, fechou os olhos e chorou silenciosamente, sabendo o destino de Diane.

Não sentia vontade de existir. Agora tudo fazia sentido para o rapaz. Algumas horas depois que recuperou o movimento de seu corpo, lhe contaram tudo que precisava saber. Primeiramente explicaram onde estava e o que era. Depois, lhe disseram como fora parar ali. A aventura da dríade Gaiade até Long Island, como Diane o havia deixado desacordado, assim não poderia contestar em sobreviver e que ele estava desacordado já ha um mês. Por fim, o encaminharam a sua nova casa, o chalé 12, onde conviveria com seus irmãos e irmãs filhos de Dionísio.