♦ Forja ▬ The Last Flame ♦

~até a noite farei todos os pedidos~

Um barulho incessante crescia no interior das forjas enquanto um garoto entrava na mesma. Eu me desconcentrei mais uma vez no conserto de meu skate mecânico, mas fora obviamente por uma causa boa. A voz grave ecoando na frente da forja informou para mim que clientes me esperavam, por isto parei de trabalhar, descansando o martelo em uma bancada, e vesti uma camisa azul. O calor era especialmente o melhor para mim, naquele momento, mas receber um homem com peitoral despido não me deixava confortavelmente bem. Cheguei ao balcão e o observei delicadamente enquanto limpava minhas mãos cheias de óleo e molho tabasco em uma cesta completa de algodões. O garoto que me chamava era definido e seus traços asiáticos eram bem marcantes. Seu cabelo enegrecido detalhava bem como os seres de lá tinham um belo cabelo. Mas seu rosto estava confuso, como se ainda não tivesse acostumado com o mundo dos meios-sangues.

— Se posso fazer um Arco Grande de Bronze Sagrado para você? Eu tenho um pronto, trago em poucos minutos. — falei sorridentemente, lembrando-me da primeira vez que procurei um armamento no Acampamento Meio-Sangue; eu não tivera a mesma sorte do garoto.

A arma estava de prontidão em uma bancada, reluzindo e demonstrando que material era feita: bronze sagrado. O reluzir do material era perceptível para qualquer semideus que reconhecesse o material, estudasse ou já tivesse tempo com tal. Peguei ele e o levei até a bancada novamente, com um sorriso demonstrando afeto.

— São apenas 25 drácmas. — entreguei-o e esperei que me entregasse as moedas d'ouro da antiga Grécia, hoje, a moeda usava pelos meios-sangues.

Por um tempo fiquei paralisado em cima da bancada, apenas observando o céu por brechas da forja que resfriavam-na. Há muito tinha chegado no local, estava ficando velho e não aguentaria mais viver ali. Faltavam apenas dois anos para que começasse minha vida nova em uma faculdade e logo deixaria aquela vida repleta de agitações e perigos. Meu maior querer era simplesmente mascarar-me como um simplório humano e ter minhaa família em segurança, até que morresse. Até lá não faltava muito tempo, mas eu sabia que não seria tudo como eu pensava; eu nunca parecerei um humano.

Área ADM:

Um som estranho. O abrir da porta metálica com o mecanismo touch avisou-me mentalmente. Fiquei mais atento, é claro, aos ruídos - precisava apreciar todos os sentidos enquanto estivesse no acampamento, o dia de deixá-lo chegaria. O clima ficou pesado momentaneamente e uma ventania fria passou pelo meu corpo sem hesitar, anunciando a chegada do filho de Quione. Estranhei não estar acompanhado de seus irmãos para zombar-me ou atrapalhar-me nas forjas, os filhos de Quione geralmente gostavam de um "fogo" para inibi-los. Quando passou por mim, senti sua frieza pessoal tornar-se evidente: seu semblante era inexpressivo, observador. Pegou a ficha, anotando-a calmamente enquanto pensava e olhava para o teto como se fitasse o céu azulado. Virou-se para mim; fitou-me com seus gélidos olhos azuis que penetraram o meu ser, deixando-me preocupado; não consegui exibir fraqueza alguma, meu semblante continua o mesmo, forte e superior.

— Se quiser espere nos sofás. — apontei-lhe os sofás de estofamento de couro, acompanhados de almofadas quentes. — Mas sugiro que o picolé esfrie lá fora, iria ser constrangedor derreter-se na minha forja! - ri com o garoto, pegando sua ficha, adentrando mais profundamente a forja.

Garoto malicioso! Seus pensamentos minuciosos explodiram naquela ficha, de modo ambicioso. Quando a li, entendi o porquê de ser uma faca. Portava-se sem muito peso, com velocidade e sem que o inimigo percebesse - ainda mais, era de fácil manejo de poder. Compreendi perfeitamente o pedido e o deixei voar lentamente, enquanto minhas mãos moviam-se como se tivessem vida própria. Joguei prata no forno quente, observando sua temperatura e aumentando-a para a necessária. O calor subiria, mas para a prata e o pouco tempo que tinha estimado pelo garoto, tinha que ser naquela. Aos poucos vi o material sólido tornar-se um líquido que borbulhava. E quando perdia-se em meus assobios musicais, a prata ficou pronta para o começo da arma.

O ar estava muito quente, suor já escorria pelo meu rosto descomunalmente. Abaixei o fogo abruptamente, pegando a luva e uma pinça para retirar o material e despejá-lo em um molde. Claro, ele não estava perfeito, mas eu iria fazê-lo perfeito do meu modo; o melhor de mim. Já acostumado com o martelo, meu mais fiel armamento e confiável para forjas, apenas bati algumas vezes para que o material se adequasse ao molde e tornasse reto, liso e resistente. Retirei o molde depois de torná-lo liso, e bati mais vezes para deixar o material bem resistente à grandes pancadas. Mesmo pequena, a faca de caça, seria uma ótima arma para manejar em uma luta.

Parei as batidas incessantes; parei de deixá-la resistência, recuperando os movimentos comunais de meus braços. Estava tão repetido, aquele ato, que meus braços ainda moviam-se de frente para trás. Deixei a arma em uma superfície metálica imperfeita, com vários buracos quase inexistentes, perfeitos para afiamento da arma. Enquanto raspava, batia com meu martelo na parte chata para alongar o fio da espada e fazê-lo mais vulnerável a raspar-se, o que traria um ótimo afiamento da lâmina. Eu não sabia de onde aquele conhecimento via para minha mente, nem mesmo como as contas tridimensionalmente eram resolvidas em minha mente, eram simplesmente resolvidas - se eu tentasse entender, não as resolvia. Eu nascera assim, com o talento perfeito com peças metálicas e forja.

Estava pronta. Mas ainda estava quente, tão quente que mesmo com a luva ainda causava calor em meus dedos - a região mais longe do coração, portanto, era a mais sensível de agitação de moléculas. Caminhei em direção de um container cheio de água fria e despejei a faca de caça. Deveras quente, fumegando calmamente enquanto o som das bolhas estourando velozmente fora acalmando, a fumaça sumiu, deixando o ambiente normal.


— 15 drácmas, companheiro! — gritei para ele no sofá, levemente desconfortado com o clima e rudemente chato pelo meu jeito de conversar com ele; extrovertido, legal e animado, tudo o que um meio-sangue de Quione raramente tinha. Ele me entregou como se fosse uma alma, um espectro, ou uma de suas criações de gelo. — Muito obrigado! — ri.

Área ADM:

— Um escudo, ahn? — falei. — Vou ver o que faço por você...
Não tardei a ler o desenho que ele me entregou, deliciei-me com as curvas do escudo d’um formato suíço bem estilizado. Adentrei a fornalha de minha forja, indo em direção do forno, sem desconforto algum. Já estava acostumado com o calor da forja, quanto ao fogo que controlava; era bom tê-los comigo. Derramei bronze sagrado no forno, já esquecendo-o temporariamente em busca de um molde para escudos suíços. Na bancada de moldes, vários escudos, não foi fácil achá-lo; entre os variados tipos de escudos, avistei o que queria.
O bronze sagrado já estava derretido, espalhando-se na forma do forno. Levei minhas mãos para perto do forno e ergui um dos dedos, girando-o como se estivesse fazendo uma espiral. O bronze sagrado levantou-se em redemoinho, facilitando sua entrada no molde; espalhou-se calmamente. Esperei apenas alguns minutos e retirei o metal do mode, dividindo este em dois e retirando assim o material bem moldado, exceto por algumas partes; não muito problema para mim.
Minhas marteladas davam um molde de perfeição no escudo, consertando as extremidades, sua forma, o que o molde havia deixado escapar em alguns pontos; as batidas também serviam para deixá-lo mais resistente. Retirei o da bancada com uma pinça, já em bom estado e despejei-o no container para esfriar.
Demoraram poucos minutos, a água ali era concentradamente fria e esfriou o metal. Quando de lá retirei-o, apenas coloquei algumas fivelas de couro, tiras que serviam para o manejo do semideus. Coloquei em mim mesmo, firmando as fivelas no braço, e testei-o. De ótima mobilidade, pois era leve e as batidas que recebia não passavam para o usuário, pois era resistente. Então segui para o fundo das forjas.
O ambiente escuro e úmido quase me assustou. As paredes estavam velhas e do teto pingava um líquido estranho cinzento. Sentei-me no chão, erguendo o escudo em direção de uma estátua à minha frente. Não tinha corpo, era apenas o busto, olhos penetrantes e tortos, barba malfeita e demasiadas cicatrizes. Orei calmamente para o meu pai, deus das forjas e senti um arrepio crescente.
Uma luz invadiu o cômodo. Necessariamente parecia vir de lá mesmo, mas não tinha nenhum foco, parecia descer dos céus. Ela banhou o escudo vagarosamente, dobrando-o infinitamente até parecer um escudo comunal que qualquer playboy rico tem. A benção encerrou-se com o relógio caindo em minhas mãos e o quarto ficando escuro novamente, apenas o som dos pingos do líquido cinzento tornando o ambiente mais vivo. Levantei-me e olhei para trás, apenas para assegurar que nenhum ser infernal estava a me apunhalar.
O garoto não me estranhou quando viu o relógio em minhas mãos. Entreguei-no e olhei para o fundo da minha forja, mas logo voltei-me para ele.
— Fica me devendo alguns quebrados, mas paga só 50. — ri, pedindo para que ele depositasse o dinheiro em minha palma estendida.

ADM’S:

Poderes Usados: