Enfermaria Central

Kurt LeBeau – DDD

Deixei aquela casa tão de repente quanto apareci no Demigods Disaster Days, pelo menos dessa vez não estava acorrentado ou vendado. Embora a gente não tenha se ferido de verdade, a bebedeira e as discussões foram bastante desgastantes.

Mesmo quando eu não era um aprendiz de Asclépio, eu poderia facilmente dizer que não estava na minha melhor condição naquele momento. Podia sentir a fadiga pesando nos diferentes músculos do meu corpo.

Aquela pequena visita à enfermaria central do acampamento tinha segundas intenções, sim. Iria prestar meus serviços junto a meus colegas, mas queria estar na minha melhor forma para tal. Deixei Serpensórtia bem à vista e adentrei o recinto cumprimentando os curandeiros presentes e seus pacientes enquanto me dirigia à sala dos fundos. Era uma sensação estranha ser ampla e facilmente reconhecido, mas agora é algo que eu vou precisar me acostumar.

Algumas poções repousavam no balcão, teriam sido uma solução fácil para os meus problemas, mas aquelas já tinham um destino. Coloquei minha bolsa apoiada no balcão e retirei dela os ingredientes para produzir uma poção para mim. Realizei uma pequena oração ao meu patrono, agradecendo pelos dons concedidos e reforçando minha diligência à nossa missão.

Retirei o pó de amora dos saquinhos e os pesei, quando atingi a medida correta deixei separado um instante enquanto colocava duas xícaras de suco de maçã num copo e só então acrescentei o pó de amora e comecei a misturar o composto até que atingisse a tonalidade púrpura da amora.

Finalizei a poção colocando duas folhas de hortelã no copo e outra embaixo da língua. Particularmente, aquela bebida parecia mais um drink de bar do que uma poção mágica mas tinha certeza que seria melhor que beber algo com fluidos e partes de criaturas mágicas.

Terminei o copo em um gole, saboreando seu gosto adocicado, e guardei minhas coisas. Tirei um jaleco do armário e segui para a sala de atendimentos, pronto para cumprir com meu dever enquanto deixava que a poção fizesse efeito.

Kurt:

Hellena tinha finalmente descansado depois de noites em claro, então, acordou ao som do berrante. A primeira coisa que fez foi olhar para a janela ao lado, o nascer do sol costumava ser uma das coisas mais belas que ela já tinha visto em toda sua vida.

Agora, não era nada.

Ela não demonstrava sentimento algum, carregava um olhar vazio contra os primeiros raios de luz. Contudo, a meio-sangue sabia que não poderia continuar daquela forma – seu corpo doía em resposta ao mínimo movimento, devido a luta de quatro dias atrás.

Hel aproveitou o fato de ter sido a primeira a despertar e arrumou-se como sempre fizera. A diferença era que não tinha se dado o trabalho de esconder os próprios machucados com maquiagem, afinal, pretendia ser atendida na enfermaria geral.

Não era o verdadeiro nome da ala mas era como os campistas tinham se acostumado a chamar, por ser uma das mais antigas do acampamento. Nunca pensou que precisaria de socorro, até então, achava que poderia levar uma vida comum.

Às sete da manhã, o pronto-socorro estava quase vazio, não fosse por um menino e uma menina na recepção. Não se vestiam como enfermeiros ou médicos, pelo contrário, detinham a camiseta do acampamento e uma couraça cobrindo o abdome e máscaras protegendo boca e nariz.

O rapaz era bronzeado e loiro, sendo o primeiro a tentar atendê-la. Gutierriz negou copiosamente, ainda que de forma educada, até ser recebida pela garota de feições orientais.

— Oi, sou a Sun, filha de Eos e vou te atender por hoje. — A curandeira tinha um sorriso simpático, passando a tranquilidade que a ruiva precisava.

— Sou a Hel, do chalé dez... me desculpe quanto ao...

— Jackson? Não se preocupe, é bem comum de acontecer. Mulheres unidas, certo? — Indagou a outra como se soubesse o que se passava na mente da paciente.

Então, sem mais delongas, foi encaminhada a uma maca livre e longe dos demais pacientes. Sun borrifou álcool nas mãos antes de vesti-las com luvas e analisou as feridas por todo o corpo de Hellena.

— Você atravessou uma janela? Devia ter vindo antes. — Ao dizer aquilo, usou uma pinça para tirar os pequenos cacos de vidro grudados nas escoriações e, logo depois, passou um algodão banhado em álcool em cada uma delas.

Hellena sentiu arder mas nada se comparava à dor em seu nariz, mal conseguia respirar devido ao ferimento. Além do mais, a mancha roxa ao redor do mesmo era algo que a incomodava bastante ao se olhar no espelho.

— As pequenas vão sumir com o tempo. Já essa...

Aqueles olhos asiáticos encararam o rosto de Gutierriz por alguns segundos antes do diagnóstico. A mão direita repousou sobre o nariz danificado, Sun fechou os olhos e concentrou-se no melhor que poderia fazer. Então, o machucado que teria demorada uma semana até cicatrizar, fechou-se ao toque da curandeira.

Hel suspirou aliviada, odiaria carregar uma cicatriz tão profunda no rosto pelo resto da vida. A curandeira pediu que a menina se deitasse esticada na maca e, educadamente, suspendeu as mãos em cima de seu abdome.

— Asclépio, deus da medicina, rezo para que minha cura seja eficaz e restaure a energia dessa heroína.

Uma luz prateada emanou das mãos da filha de Eos e espalhou-se pelo corpo de Gutierriz. A sensação de revigor foi instantânea, quase imediata, devolvendo à herdeira do amor a animosidade que precisava para seguir em frente.

— Geralmente, pedimos que aguardem de meia hora a duas antes de saírem — Sun murmurava enquanto buscava algo em uma prateleira próxima. Ela retornou com um frasco de líquido carmesim e uma colher. — No seu caso, isso será o suficiente.

— Obrigada, Sun.

Hellena bebeu a dose de xarope em uma só golada, ignorando o gosto amargo na garganta. Logo, retirou-se da enfermaria sem mais delongas.

poderes npc:

Jessie murmurou algumas palavras quando chegou na ala de atendimento médico. Seu corpo não respondia mais á seus comandos e sua voz era fraca, como um brinquedo velho sem pilhas. Os hematomas eram suportáveis já que a dor a quase fizera desmaiar nos braços do filho de Ares. O rapaz empurrou a semideusa sobre uma das macas disponíveis no salão da enfermaria, pedindo ajuda para qualquer um que estivesse por perto. Detrás do balcão um curandeiro surgiu com um estetoscópio em mãos. Pousou as mãos sobre a testa da semideusa desacordada enquanto pedia mais informações sobre o estado da garota. Sem mais detalhes, o garoto indicou que Cox havia sido ferida em um combate na arena.

O responsável empurrou a maca pelo corredor até um dos quartos compartilhados. Puxou a cortina esbranquiçada para ganhar privacidade e trabalhar nos arranhões e marcas de combate pelo corpo. Ingeriu uma quantidade razoável de néctar na em sua boca, tratando de mantê-la acordada para iniciar o procedimento. Afastou partes da blusa laranja do acampamento com um bisturi, observando dois cortes profundos no abdome. Com as mãos iluminadas, rezou a Asclépio em busca de sua benção. A pele da semideusa queimou ao toque iluminado, fechando as feridas enquanto ela se contorcia. Mantendo a firmeza, pressionou o máximo que pode antes de pedir a colaboração da garota que voltava a reagir.

— Ei. Tudo bem, você está bem. Sei que está doendo, porém, precisa ser forte. Mais um pouco, ok? — disse o rapaz preparando mais uma prece.

— Devagar... não... — Jessie grunhiu, segurando o lençol entre os dedos.

A pressão da energia irrompeu pelas feridas, exigindo concentração e esforço do curandeiro que lutava uma batalha contra o sistema da filha de Hipnos. A ardência da bebida achocolatada queimava suas entranhas, agindo lentamente por cada centímetro. Quando ele terminou a última prece, a dor latejante diminuiu fazendo com que ela finalmente pudesse relaxar. O garoto seguiu o procedimento padrão, enxugando os arranhões com um pano umedecido em uma mistura herbal morna. Tocava as partes arranhadas com joelhos e antebraços, pedindo cuidadosamente á semideusa para que lhe ajudasse nos movimentos. Indicou um segundo líquido restaurador de energia, agitando o conteúdo de um pequeno frasco púrpura nas mãos. Receosa, Jessie engoliu a bebida espessa fazendo uma careta. O sabor âmago a enojou, recuperando parte de sua força vital lentamente.

— Você precisa descansar. Não se esforce tanto e se precisar, toque a campainha ao lado da maca. Volto em algumas horas.

— Obrigada... — murmurou antes de relaxar completamente. Não deveria enfrentar criaturas mitológicas sem o treinamento apropriado e as cicatrizes seriam um ótimo lembrete disso.

ENFERMARIA

CURA EU

SÓ UM DODOIZIM

CURA NOIZ TIO