Rio do Acampamento ♠Local Público Oficial♠

▬ Nossa, fodeu. Tô perdida. ▬ girava o corpo repetidas vezes, e ainda não sei como isso ajudaria a me localizar, olhando por alto o meu redor.

Não sabia como chegara ali. Mentira, sabia. Ao me ver finalmente livre de Camden, surgiu a brilhante ideia de dar uma voltinha. Seria ótimo se eu ao menos lembrasse de meu primeiro dia no acampamento, quando Maverick, o bode irritante mas nem tanto, dispôs-se a fazer um tour comigo.

Maldito dia.

Desarmada, a sensação de total vulnerabilidade em meio a tantas árvores crescia a ponto de se tornar incômoda. Bufei e, sem rumo, tomei qualquer direção. Talvez eu não deveria ter girado tantas vezes, já que a sensação de ver o mundo girar fazia com que esbarrasse nos troncos ásperos. Até que caí sentada na água.

Bela merda, agora meus shorts brancos estavam ferrados.

Levantei e olhei para onde caira. Um pequeno riacho. Sem mais opções, me vi obrigada usá-lo como orientador. Lembrava vagamente da imagem de um rio ou de alguma fonte de água. Talvez uma cachoeira ou lagoa. Sendo lugares mais “conhecidos” seria fácil encontrar alguém.



O riacho deu fim no rio, que estava vazio caso você não considere as azuis da água que pareciam extremamente irritantes e, por isso, recusei-me a ir dar oi. Ou pedir para me tirarem daquele lugar.

Assim, sem nada para fazer e sem vontade de prosseguir, além de estar com as pernas imundas e encharcadas e shorts não muito diferentes graças à lama que beirava o riacho, não importei em sentar na beira do rio, tirar os sapatos e molhar os pés. De qualquer forma, seria só mais uma parte molhada do meu corpo.

Eu me lembro (8)

 E pela quinta vez naquele dia, Thiago esbarrou o seu braço acidentalmente em um dos frascos que estavam espalhados sobre a mesma e o objeto caiu, despejando o conteúdo guardado em seu interior sobre o chão, sujando o piso de sua enfermaria com um líquido cor de abóbora. Ao ver isso, o curandeiro semicerrou seus olhos e deixou um suspiro escapar de seus lábios ao mesmo tempo em que xingava aleatoriamente palavrões que nem ele sabia seus significados. Então, após os seus protestos, pegou um pano umedecido e cuidadosamente absorveu com ele toda a sujeira do chão de sua Enfermaria.

Com o local estando limpo, Thiago coçou o seu queixo lentamente e decidiu que era hora de passear um pouco, após reabrir a sua enfermaria o seu tempo voltava a se tornar escasso, irritando-o ligeiramente. Era hora de descansar um pouco, não? Arrumou com cuidado todos os ingredientes, livros e frascos em um armário ao lado de sua mesa de alquimia e então cerrou a porta de seu estabelecimento com uma pequena chave metálica - que sempre ficava guardada no bolso esquerdo de sua calça.

Decidiu também não levar armas, pois só iria dar uma volta pelos arredores do acampamento e aquilo não poderia representar muito perigo e caso algo resolvesse surpreende-lo, teria consigo alguns pequenos poderes que poderiam dar conta do recado, ou auxilia-lo em sua fuga. Após caminhar por cerca de trinta minutos, o líder dos curandeiros chegou ao famoso rio que havia no acampamento, um lugar lindo e tranquilo, perfeito para aqueles que desejavam esquecer um pouco dos problemas do mundo e por a cabeça no lugar, ou seja, era simplesmente perfeito para Thiago, que ficou admirando o fundo do rio e notou pelo seu reflexo na água, que ainda utilizava as roupas de seu trabalho, calça jeans, uma camisa simples de coloração preta e sobre esta ultima, um jaleco de cor branca com o simbolo de Asclépio costurado nos dois ombros. Logo, a sua imagem começou a se tornar trêmula, fazendo com que o semideus levantasse sua cabeça e estudasse o seu redor e visse que não muito longe de si havia uma garota - que não ligava muito para a lama formada ali na região - com seus pés na água.

Sem muito o que fazer, Thiago se aproximou da pessoa e acenou com a mão.

Oi! - Falou, de forma animada. Não havia visto aquela garota pelo acampamento ainda e mesmo sendo novata ou veterana não saberia do mesmo jeito, pois passava a maior parte do seu tempo ajudando aos outros campistas.

Ouvi uma voz a meu lado, um  simples Oi. Que voz grossa. Um sorriso delineou-se em meus lábios antes mesmo de ver quem estava ali. Afinal, obviamente era um garoto e já sabia não ser Camden. Passado o momento feliz, veio o desespero assim que voltei o olhar para ele e o analisei. Não, definitivamente não era feio. Não empunhava uma espada apontada para o meu coração. Não empunhava uma espada apontada para qualquer outro lugar do meu corpo. Não estava, não de maneira visível, querendo me matar.

O problema era seu jaleco. A peça não parecia algo que todos os semideuses usariam, parecia restrita à determinado grupo. Eu não sabia qual o nome semideusicamente correto, mas aquilo parecia algo destinado à médicos. Médicos.

Levantei em um pulo, recuando alguns passos ainda na margem do rio. ▬ Eu não sei quem te mandou aqui e nem como me achou, mas eu não sou louca! Não preciso de tratamento! ▬ gritei, o que talvez não ajudasse muito na parte de eu ser normal. Tenta não ser a miss problema agora. Seja amigável uma vez.

Com minha própria voz ecoando na minha mente, sorri o sorriso menos irritado possível e estendi a minha mão, em forma de cumprimento. ▬ Ah, oi. Lexis, antes que pergunte. Sim, nova aqui. Não, não quero tour. ▬ ser amigável nunca foi meu forte, posso fazer nada. ▬ Quem é você?

O monstro do jaleco

 Quando a garota começou a falar que não era louca e que não sabia quem Thiago era, o garoto arqueou suas sobrancelhas e recuou alguns passos, enquanto levantava suas mãos levemente para o alto, querendo mostrar que também era inocente. Por algum motivo, aquela garota estava fugindo ou tinha medo de algo e achava que o filho de Apolo era aquele que levaria ela para a origem de seu medo, porém, em poucos segundos a garota ficou em silêncio e um sorriso formou-se em seus lábios, enquanto ela estendia suas mãos para o curandeiro - que respondia ao cumprimento da mesma forma, balançando a sua mão levemente por poucos segundos.

- Ah... Eu sou o Thiago. - Falou, enquanto ainda estranhava aquela mudança repentina de comportamento por parte da garota. - Acho que quem aqui merece um tour sou eu. - Sorriu de forma simpática. - Mas de qualquer forma, bem-vinda... Lexis.

Após a ultima palavra fugir de seus lábios, o garoto soltou a mão dela e coçou a sua cabeça por alguns segundos, ainda estava sem jeito por tê-la assustado e também não tinha nenhum outro assunto para falar, virou-se então para o riacho e ficou observando-o por alguns segundos e após cerrar suas mãos e abri-las, voltou-se para a garota e falou.

- Poderia me dizer por que se assustou? - Questionou.

Thiago. Guardaria o nome na minha mente. Ao menos, tentaria. Ele parecia ser legal, fazendo-me sentir extremamente culpada por tê-lo atacado verbalmente de maneira tão bruta. Era vísivel o desconforto dele com a situação, com o meu surto. Deuses, o que eu fiz?

▬ Olha, Thiago ▬ enfatizei o nome dele. Não esqueceria. ▬, me desculpa por isso. É que... As poucas pessoas que eu conheço aqui me acham louca por eu ser meio bipolar, sei lá. Pensei que tinham te mandado aqui para me levar para algum tratmento, tipo, seu jaleco ▬ apontei para peça que ele levava ▬ e tudo. Aliás, eu não conheço quase ninguém. Só um sátiro e um garoto que é meu guia, tutor, enfim. Maverick lidava super bem comigo, ou chegava bem próximo disso. Eu sinto falta dos meus amigos humanos, Kiera e Logan. Não me sinto querida aqui, me sinto sozinha. Não é como se alguém realmente me quisesse por perto.

Já estava chorando. Afundei o rosto nas minhas mãos não muito limpas por causa da lama. Mal percebi que falara um pouco em excesso, exagerando em algumas partes, contando o ponto de vista dramático. Foi sem querer.

▬ A propósito, o que você é? Jaleco... ▬ perguntei, a fim de desviar do assunto. Limpei a área abaixo dos olhos com a manga da camisa, vendo a mesma sujar de marrom. ▬ Porra. ▬ murmurei e ajoelhei na margem, fazendo uma concha com ambas as mãos e lavando o rosto. Levantei novamente, colocando-me na frente de Thiago. ▬ Oi, voltei.

Não vou te sequestrar

 A garota começou a desabafar sobre a vida dela e a reação de Thiago foi olhar para a mesma e escutar tudo com extrema atenção, tal como um médico atento faria com o seu paciente que está falando os sintomas que está sentindo sobre uma doença. A garota meio que era mal vista pelos outros campistas devido a sua bipolaridade, porém isso, no ramo da medicina, era algo normal e fácil de ser lidado. Aguardou Lexis terminar de falar tudo que tinha para falar e quando percebeu que era o seu momento, balançou sua cabeça e quando foi movimentar seus lábios para falar, notou que a mesma foi lavar o seu rosto com a água do riacho, pois estava chorando e quando foi limpar suas lágrimas, sujou-o com o barro preso nas mangas da camisa.

Assim que ela estava de volta, o mesmo fitou o céu por alguns segundos e em seguida mirou a água com seus olhos azulados.

- Eu sou um curandeiro... Sirvo Asclépio, meu meio-irmão divino e deus da cura, e como qualquer médico, fico aqui no acampamento para auxiliar os feridos, simplesmente assim.- Ele buscava colocar bem suas palavras na frase e enquanto falava, coçava o seu queixo de forma pensativa. - Enfim, também sou filho de Apolo. - Sorriu de forma simpática e fitou-a com seriedade no momento seguinte. - E você, foi abençoada com os poderes de qual divindade? Aliás, eu não irei sequestrar ninguém para um tratamento especial, ok? É contra o código de boa conduta dos médicos. - Brincou.

Logo, ele terminou de falar e ficou pensativo por alguns segundos. A garota havia se assustado com ele e tinha bons motivos para isso. Não ser aceito num local onde você é obrigado a ficar por boa parte de sua vida. Thiago já teve a sensação de ter passado por isso em algum momento de sua vida que fugiu junto com boa parte de suas memórias.

▬ O fato de você ser meio-irmão de um deus não faz com que você tenha que dividir chalé com ele, faz? ▬ certo, era uma pergunta meio idiota, mas, perdida nos olhos azuis de Thiago, era o máximo que conseguira pensar. Ele estava pedindo para ser agarrado? ▬ E, bom, sou filha de Afrodite e dizem que sigo Dionísio, minha certeza quanto a isso é zero. Também dizem que sou uma vadia bêbada, mas com isso tenho que concordar. ▬ falei com o máximo de seriedade possível. Não era mentira.

Analisei rapidamente meu estado. Imunda. Imunda e com shorts que guardavam essa imundice. Imunda, não completamente, mas imunda.

Já sentira, há não muito tempo, a temperatura congelante da água assim que toquei-a para limpar o rosto. Ter um curandeiro, como o próprio dissera, ali seria bem útil. Fitei o rio com um misto de descaso e curiosidade. Como essa mistura foi possível? Foda-se, não é importante. ▬ O que tomar um banho nesse rio poderia causar em mim? Tipo, tem a temperatura e tudo. ▬ sorri e voltei a encará-lo, focando em seus lábios, deixando explícito o interesse. ▬ Ah, quais as condições para uma respiração boca-a-boca? E não me venha com “magias dispensam esse método”.

Ér... Kawaii Desu

 - Não, não. - Respondeu rapidamente Thiago, negando com sua cabeça e fechando os olhos por alguns segundos. - Asclépio não vem muito ao Acampamento, acho que passa a maior parte do seu tempo abençoando os médicos mortais e suas cirurgias extremamente perigosas. - Agora ele já falava com seriedade, e após reabrir seus olhos, fitou atentamente o riacho. -Ah... - Continuou falando, após terminar de ouvir as primeiras frases da garota. - Já conheci algumas filhas de Afrodite e até pouco tempo atrás era amigo de um dos devotos de Dionísio, mas ele sumiu. - Suspirou, ficando meio sem jeito por ela ter "assumido" ser vadia.

Após falar, Thiago pensou por alguns instantes onde estavam os seus amigos perdidos, já fizera muitos, porém boa parte havia deixado o acampamento ou sumido misteriosamente, sem deixar sinais ou algum recado a ele, de todos, ele e mais alguns eram os unicos que ainda continuavam habitando o Acampamento e se tudo desse certo, aquele filho de Apolo não iria abandonar aquele local tão cedo, por se sentir bem ali.

Quando a garota fitou os seus lábios, o Líder dos Curandeiros de Asclépio sentiu um pequeno rubor tomar conta de suas bochechas e mesmo sendo quase imperceptível, teve certeza de que a filha de Afrodite havia notado aquele estado de "timidez" que ele havia entrado. - Ah... Er... Além de causar uma gripe tensa e te deixar muito tempo de cama, impossibilitada de fazer absolutamente nada? É, apenas isso. - Disse, enquanto coçava o seu queixo calmamente e se surpreendia com a próxima pergunta vindo dela. - Apenas se ocorrer um afogamento. A distância daqui até onde meus ingredientes e utensilios de Enfermaria poderiam te levar ao óbito. - Agora, ele começou a brincar, utilizando algumas palavras "estranhas" do vocabulário médico.

- Eu sou um curandeiro... Sirvo Asclépio, meu meio-irmão divino e deus da cura, e como qualquer médico, fico aqui no acampamento para auxiliar os feridos, simplesmente assim.- Ele buscava colocar bem suas palavras na frase e enquanto falava, coçava o seu queixo de forma pensativa. - Enfim, também sou filho de Apolo. - Sorriu de forma simpática e fitou-a com seriedade no momento seguinte. - E você, foi abençoada com os poderes de qual divindade? Aliás, eu não irei sequestrar ninguém para um tratamento especial, ok? É contra o código de boa conduta dos médicos. - Brincou.

Logo, ele terminou de falar e ficou pensativo por alguns segundos. A garota havia se assustado com ele e tinha bons motivos para isso. Não ser aceito num local onde você é obrigado a ficar por boa parte de sua vida. Thiago já teve a sensação de ter passado por isso em algum momento de sua vida que fugiu junto com boa parte de suas memórias.

Então ele conhecera algumas das minhas meias-irmãs. Devo admitir que estava curiosa para saber o que rolou nesses encontros, e realmente esperava que elas tivessem representado a mãe que tínhamos. Ou não, né. Pelo o pouco que observara no chalé, muitas eram românticas e fofinhas. Desperdício de beleza e sensualidade.

Enfim. Como Thiago era fofo quando envergonhado.

Uma leve coloração vermelha instalou-se em suas bochechas antes que respondesse às minhas perguntas. Tive que sorrir mediante ao estado em que ele se encontrara. Ouvir as possíveis consequências provocou em mim uma vontade ainda maior de mergulhar no gelado rio. Gripada, não resfriada, realmente gripada, já ficara algumas vezes antes. Felizmente, não morri. Ter motivos para ficar na cama era um ótimo incentivo.

Apesar de não entender metade do que ele dissera, uma coisa ficara clara: um afogamento seria o suficiente para obrigar Thiago, que seguia o código de boa conduta dos médicos, a realizar uma respiração boca-a-boca. Este seria, de longe, um dos principais motivos para eu querer entrar na água. Precisava apenas da profundidade perfeita.  Momento feliz do dia.

Sem inibições, tirei shorts e camisa, fazendo-o sem pressa alguma, deixando a mostra todas as curvas de meu corpo. ▬ Afogamento, certo? ▬ pedi por confirmação, apesar de que a resposta fora dada segundos antes. Respirei fundo e, em um súbito de pura falta de juízo, me atirei na água. Deixei ser levada por esta, prendendo a respiração.

Menos de um minuto depois, a simulação começou. Soltava gradativamente o ar e batia freneticamente braços e pernas. A encenação estava perto da perfeição.

Simulações... Why?

Thiago já estava desconfiado desde o princípio que Lexis estava planejando se afogar naquele gélido riacho propositalmente, para que fosse resgatada por ele, porém o rapaz não ligava muito para isso - achando que a filha de Afrodite não seria louca o suficiente para arriscar sua saúde por por pouca coisa - e respondia os questionamentos dela com seriedade.

E não tardou muito para que a semideusa começasse a retirar as peças de cima de roupa, mostrando detalhadamente o corpo que estas escondiam. E seguindo as tradições do chalé de Afrodite, Lexis tinha um belo corpo, fazendo com que Thiago fitasse disfarçadamente as curvas quase que perfeitas da garota. Por fim, o filho de Apolo ouviu as palavras da garota e quando se deu conta de que ela realmente faria aquilo, levantou-se assustado e correu em sua direção, dizendo com certo tom de desespero em sua voz.

- Lexis, você não vai... - Antes mesmo que sua frase fosse terminada, o barulho da água sendo atingida por um corpo humano ecoou pelo local. - Fazer isso... - E mesmo sabendo que ela não ouviria seus protestos, terminou sua fala de maneira desanimadora.

Thiago ainda ficou olhando o rio por cerca de um minuto, pensando que tudo aquilo não se passasse de uma brincadeira e logo a mesma estaria ali de volta, porém, seus medos realmente foram confirmados quando Lexis começou a se debater no rio. Ela estava realmente se afogando e ele precisava fazer algo. Após suspirar, retirou o jaleco branco que utilizava e jogou-o em algum lugar que não sujasse de lama e deu alguns passos em direção ao rio, jogando o seu corpo dentro do mesmo. Não era um bom nadador como os filhos de Poseidon, porém o pouco que aprendera seria mais que o suficiente para salvar a vida da filha de Afrodite.

Poucos segundos depois, lá estava Thiago, com o seu corpo e roupas completamente umedecidos por causa da água do rio, com Lexis sendo carregada em seus braços. Levou-a até um lugar limpo e seguro e deitou o seu corpo. Fitou-a então nos olhos e tocou com a ponta de seus dedos a sua bochecha diversas vezes.

- Lexis...? Está ai/ - Perguntou, com certo tom de preocupação em sua voz.

Ao ver que não obtinha resposta, mediu o seu pulso e viu que a mesma ainda tinha sinal de vida. Então, após rir de si mesmo, começou a simular uma respiração boca-a-boca na garota.  Abriu a sua boca e verificou se nada bloqueava a garganta dela, após ver que não teria problemas, inspirou o máximo de ar possível e aproximou seus lábios dos dela, deixando-os mais próximos possíveis - mas não tocou os mesmos em nenhum momento - e soltou o ar. Repetiu esse processo por cerca de um minuto e em seguida voltou a rir, falando próximo ao ouvido dela.

- Você sabia que em caso de afogamento, o recomendado é uma massagem nas costas, não é mesmo? - Soltou uma nova risada, dessa vez soltando o ar quente próximo ao pescoço umedecido da mesma.

Ainda de baixo d’água, senti braços fortes envolvendo-me e carregando-me para fora do rio. Thiago, que agora estava com o corpo molhado, levara-me até um espaço seco, onde colocou-me deitada. Não fazia a menor ideia de como tinha certeza quanto a isso, mas sabia que a preocupação nele era real.

Depois de checar meu pulso, ouvi uma risada. Teria ele percebido que não passava de uma encenação? A pergunta dominava minha mente, até que ele começou a fazer a bendita boca-a-boca.

Filho da mãe.

O curandeiro estava realmente simulando? Sim! E pagaria por isso? Obviamente. Permaneci imóvel, sentindo sua respiração escapar por sua boca que nem chegava a tocar a minha. Segurei toda a vontade de agarrá-lo ali mesmo, esperando que ele desistisse. Seguiria com o papel até onde pudesse.

Um arrepio leve percorreu meu corpo e o mais discreto dos sorrisos delineou-se nos meus lábios assim que Thiago soltou a fala próxima ao meu ouvido, seguida de uma risada e, por fim, seu ar.

Filho da mãe. De novo.

Deixei a cabeça pender para a direita, fazendo meus olhos entreabrirem, buscando a face dele. ▬ Thiago... ▬ chamei em um sussurro quase inaudível e sem força alguma. ▬ Thiago... me ajuda. Por favor. Eu não 'tô bem. ▬ continuei no mesmo tom. Não era de parar um show no meio.

Vish... Morreu?

A princípio, Thiago supôs que tudo não se passasse de uma brincadeira vinda por parte de Lexis, porém a mesma, após entreabrir seus olhos e dizer ao curandeiro que realmente não estava se sentindo bem, preocupou-o. Fazendo com que sua mão fosse levada a seus cabelos molhados na testa e afastasse-os do local, ao mesmo tempo que um preocupante suspiro escapava de seus lábios. Se aquilo fosse apenas um teatro da garota, Thiago estava caindo muito bem.

- Ok! Ok! - Dizia, ainda mantendo o tom calmo em sua voz - ele já havia acostumado a manter a calma nessas situações, ajudava para não deixar mais preocupado o seu paciente. - Irei fazer uma massagem nas suas costas para que a água saia de seu pulmão, definitivamente e depois, vamos ver o que acontece. - Falou, deixando brotar em seus lábios um pequeno sorriso confiante.

Voltou a pegar a garota em seus braços e com velocidade - porém ainda fazendo tudo com extrema atenção - virou-a e a pôs com cuidado de barriga para baixo - e logo em seguida, começou a massagear as costas da filha de Afrodite com extrema pressa, para que a mesma jogasse fora toda a água que havia se acumulado no interior de seu pulmão, e em poucos segundos, viu a garota injetando algo para fora de si. Talvez fosse uma nova simulação ou talvez o primeiro procedimento havia dado certo e ele poderia dar continuidade aos primeiros socorros em caso de atendimento, resolveu acreditar que a segunda opção dada era a verdadeira. Então, novamente, virou o corpo da garota para cima e voltou a fazer a respiração boca-a-boca, porém, nessa nova ocasião, deixava que os seus lábios tocassem levemente os delas, sem fazer muita pressão entre ambos e quando isso acontecia, assoprava todo o ar respirado por seus pulmões para dentro da garota. Repetiu tal procedimento por cerca de vinte vezes durante o minuto que se passou e por fim, fitou-a. Esperando resposta da mesma.

▬ Irei fazer uma massagem nas suas costas para que a água saia de seu pulmão, definitivamente e depois, vamos ver o que acontece. ▬ Tá, ok. Teria que fazer alguma coisa sair da minha garganta. Saliva? Seria fácil de notar. Mas não importava mais, aquele seria a cena final.

Os braços de Thiago voltaram a envolver-me e fui colocada de barriga para baixo. Senti suas fortes mãos seguirem para a massagem com uma rapidez incrível de quem sabe o que está fazendo. Ou de quem atua perfeitamente. Enfim notei que chegara a hora de vomitar algo no chão. Nada além de saliva escorreu pela minha boca e esperava que ele não notasse isso.

Finalmente, virou-me para ele e, surprise, respiração boca-a-boca! Ainda fingia de desmaiada quando seus lábios quentes foram de encontro aos meus, tocando-os levemente e expelindo ar para dentro dos meus pulmões. Depois do que pareceram dez horas, Thiago parou e voltou a fitar-me, como se procurasse sinal de vida.

Minha resposta foi uma longa gargalhada acompanhada de pausas para retomar o fôlego. Mal dei tempo para que ele se manifestasse quando, aproveitando a curta distância entre nós, puxei-o pela nuca, beijando-o como quem pede calma.

▬ Ah, mocinho, cuidado com vadias, elas gostam de brincar. ▬ pisquei, levantando e pegando as minhas roupas. Vesti sem pressa as peças e fiquei de frente para ele. ▬ Para onde é o chalé dez? ▬ perguntei, com sutileza na voz, como se os momentos anteriores nem sequer existissem.