Rio do Acampamento ♠Local Público Oficial♠

Why does it rain, rain, rain down on utopia?

Why does it have to kill the ideal of who we are?

Havia uma certeza que havia crescido dentro de mim desde que tinha chegado ao Acampamento Meio-Sangue: o sentimento de estranheza era recíproco. Era deveras estranho estar em um local onde olhares com múltiplas intensões e sentimentos recaiam sobre você. Ao mesmo tempo era ainda mais estranho permanecer em um lugar como este, sem saber que tipo de comportamento ter perante estímulos latentes de desgosto e desconforto. Esperava esse tipo de reação provinda dos outros semideuses, mas era inesperado o meu próprio desconforto com a situação. Restava-me apenas uma saída, ao menos até que pudesse compreender a minha nova personalidade. Passei a me isolar um pouco, procurando ficar em locais pouco povoados em horários onde sabia previamente que não estaria movimentado.

Por esse motivo estava ali, passeando pela floresta sendo acompanhada por um animal de pelos brancos e fisionomia de um lobo, porém com asas discretas nascidas da conjunção de suas patas. Killian não era como um lobo comum, era grande, extremamente rápido e com algumas propriedades de fogo. Apesar de outrora preferir estar quase sempre sozinha, agora as coisas pareciam mudar drasticamente, virando o mundo que eu conhecia e lembrava de cabeça para baixo. O lobo alado não poderia ser a um humano, mas sua inteligência já me provara que me entendia com uma perfeição mística. Mesmo que não houvesse comunicação compreensível, a presença dele ali caminhando a passos elegantes e suaves ao meu lado dava-me uma sensação de companhia.

Meus passos sem rumos levaram-me até o rio, o córrego limpo e aparentemente refrescante reproduzia um som de água corrente que era relaxante. Lancei um olhar para Killian e ele apenas abanou um pouco o rabo, seguindo na frente enquanto ia em direção ao rio. O segui parando ao seu lado, sentei sem medo de sujar minha roupa nas margens do rio, retirando apenas a minha sandália e dobrando para cima a minha calça. Assim pude por minhas pernas dentro da água e senti-la envolvendo minha pele com um frescor levemente gélido. Sorri um pouco enquanto levava minha mão para acariciar o pelo branco de Killian, ele estava completamente relaxado enquanto inclinava um pouco seu dorso para beber da água fresca do rio. Se ele estava assim, permite-me igual postura, relaxando meus ombros e deixando-me envolver pelo ambiente da natureza.

Porque com os meio-humanos as coisas não poderiam ser tão simples como aquele momento?

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Why does it have to kill the ideal of who we are?

Não sei quanto tempo passei ali, apenas curtindo o raro momento de paz em que nada parecia forte o suficiente para quebra-lo. Estava consideravelmente longe do acampamento, com meu lobo do lado e um momento em que não precisava me preocupar em atacar ou defender, seja de um ataque físico, metal ou psíquico. Suspirei e inclinei levemente meu corpo, passando a ver meu reflexo na água. Meu fenótipo continuava o mesmo, o tom de cabelo escuro, os olhos azuis claros, a pele alva... Mas porque parecia que eu havia mudado tanto? Fechei os olhos por alguns segundos, deixando minha mente divagar por essa questão que tanto me afligia.

Foi que um movimento ao meu lado chamou minha atenção. Killian havia erguido sua cabeça em um ato rápido, suas orelhas mexeram-se denunciando ter captado algo. Apurei minha audição, mas ainda assim pouco poderia escutar além do barulho do córrego e das folhas que se mexiam impulsionado pelas correntes de ar. Porém o lobo branco ficou em pé, parecia curioso com algo e lançou um olhar rápido para mim, como se dissesse que iria averiguar o que estava acontecendo. Não querendo ficar sozinha, respirei fundo e também levantei, calçando rapidamente as minhas sandálias mesmo com os pés molhados e passei a segui-lo. Killian caminhava calmamente, o que me dava um pouco mais de segurança, afinal se ele estivesse realmente em alerta estaria rosnando baixo e com os ombros tensos. Mas tudo o que o lobo fazia era farejar o chão e mexer a orelha seguindo a origem de algum som.

Não demorou muito para que finalmente entendesse o que procedia. Havia uma criança com um ar de quem estava perdido, não muito distante do lugar onde estávamos, apenas mais adentro da floresta. A olhei um pouco surpresa, afinal eram raras as crianças dentro do acampamento. Geralmente seus poderes só se manifestavam na puberdade, como se fosse um meio de confirmação de que eram semideuses. Até lá até mesmo alguns monstros tinham dúvidas, já que muitos semideuses podem crescer sem desenvolver a sua parte divina. Abençoados eram esses.

-Hey garoto – chamei e pigarrei lembrando que não tinha de assustá-lo – Está bem? Machucou-se?

Aproximei calmamente, Killian ao meu lado seguindo apenas um pouco atrás. Parecia que o lobo era esperto o suficiente para saber que poderia assustar a criança, mas ao mesmo tempo estava curioso demais para permanecer no lugar.

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A reação do garoto ao ver Killian me fez sorrir involuntariamente. O enorme lobo era uma bela criatura, talvez sendo inefável em sua descrição. Porém assim como o sorriso surgiu inesperadamente, o leve franzir de cenho surgiu como uma resposta ao jeito retraído que o garoto ficou alguns segundos depois de sua animação. Aproximei em passos calmos, sendo acompanhada por Killian.

-Alguns dizem que ele é um Okami, outros que é apenas um lobo alado – expliquei até ficar próxima o suficiente, agachei para ficar na altura do garoto e fitar-lhe os olhos. Apesar de ser pequeno, com qualquer ser eu gostava de olhar para suas orbes, uma mania que adquiri com o tempo – O nome dele é Killian, e apesar dessas asas ele não voa sabia? Ele apenas corre bastante rápido.

Estiquei a mão para o lado e em uma compreensão muda, Killian aproximou-se até tocar seu focinho levemente gélido na palma de minha mão. Fiz uma pequena carícia em sua cabeça e abaixo de sua orelha. O lobo branco sentou sobre suas patas e tombou a cabeça para o lado em demonstração de estar adorando o mimo que recebia.

-Pode tocá-lo – falei olhando para o garoto e sorrindo novamente – Ele é manso quando eu quero que ele seja. Aliás, meu nome é Alexia e o seu garoto? Se estiver perdido posso leva-lo para o acampamento novamente.

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